Capítulo 6
Capítulo 6
O vento da desesperança soprava para todos ali de várias formas, em várias intensidades, para uns mais, para outros menos... isso dependia da idade, do tamanho e da coragem de cada um, como também da personalidade que cada criança carregava em si. Elas tinham que fortalecer suas mãos para não serem derrotadas e perderem suas mentes no meio de tantas dificuldades, as quais tinham que passar e enfrentar todos os dias. Por isso elas tinham que se tornar ou do time dos valentões ou do time dos fracotes.
Era uma situação horrível de se pensar, mas, diante umas das outras, as crianças disputavam entre si, e tentavam ver quem era a maior ou a menor para comandar as demais. O orfanato era o lugar onde esses jovens aprendiam a se fortalecerem, formando os grupos dos mais fortes e o grupo dos mais fracos. Mas Kate nunca foi o tipo de menina forte ou muito esperta.
Dessa forma, ela sofreu de várias maneiras, assim como as crianças mais fracas sofriam nas mãos das valentonas, como também na mão dos funcionários, revoltados com o diretor corrupto da instituição. Era muito sofrimento para todos os lados. Não havia um coração ali sequer que não havia sido machucado por essa série de situações ruins e desfavoráveis... como cada uma das pessoas que foram colocadas no mundo e logo depois abandonadas sem a menor consideração.
Todos ali de alguma forma não tiveram nenhum tipo de apoio, nem de amor. Eram apenas pequenas pessoas que não tiveram amparo de uma família e nem de um amigo, e que agora teriam que lutar para sobreviver dentro do Orfanato. Lutar pela comida, lutar pelas provisões, lutar para se tornarem as mais fortes e não apanharem dos mais velhos, que eram bem mais fortes do que elas.
Aqueles órfãos teriam que se tornar as crianças mais valentes para poder sobreviverem, se transformando antes do tempo, em adultos, em meio ao caos e desastre anunciando que existia naquele lugar, mas sabendo que as coisas só seriam piores... muito piores quando fossem encarar a vida do lado de fora da instituição. Principalmente crianças como elas, que sairiam do orfanato como uns ninguéns, sem instrução, sem saber o que fazer no mundo exterior. A luta lá fora seria muito maior para elas. E Kate sabia que isso servia muito bem para ela também.
Cada um teria que se esforçar e fazer um trabalho muito maior, um esforço dobrado para poder superar as crianças que tiveram um alicerce, que tiveram um bom apoio e uma base familiar que as auxiliasse e as acompanhasse de perto. Ou seja, teriam que superar pessoas que tiveram o mínimo, e o básico como um teto sobre as cabeças delas, tendo educação, saúde, comida e... amor. Um dos princípios básicos para poder sobreviver e seguir adiante dia após dia, com dignidade e autoconfiança para se tornarem alguém na vida.
Nenhum deles teve alguém que lhes tivesse transmitido confiança e esperança para um futuro muito melhor. Coisa que eles provavelmente nunca teriam em todas as suas vidas infelizes e tristes, as quais já estavam destinadas a serem assim desde que haviam nascido. Era problema atrás de problema, dor atrás de dor, e nenhuma esperança na mente e no coração de cada criança indefesa e inocente, que, com o passar do tempo estavam se transformando em pessoas irreconhecíveis. Elas não nasceram daquele jeito, mas foram transformadas e moldadas com o passar do tempo, e o meio em que estavam vivendo. Um meio cheio de calamidades, de faltas, com disputas, coisas que eles não deveriam estar aprendendo com tão pouca idade.
Era uma carga muito difícil e pesada para um pequeno órfão carregar sozinho, mas cada um fazia o que podia, da forma que podia. Eles se esforçavam para tentar se superarem, para tentar viver e ficar de pé no dia seguinte. Os pequenos jovens faziam coisas ruins, é verdade. Coisas erradas, mas tudo porque aprenderam isso de uma forma distorcida, não porque eram daquele jeito. Nenhuma daquelas crianças eram más, na realidade. Porém, aprenderam a ser malvadas com o exemplo ruim dos adultos, que lhes tiravam todos os direitos e lhes maltratavam de várias formas.
Formas que não deveriam existir ali, num lugar como aquele, em que as crianças deveriam buscar paz, segurança e um abrigo para repousarem, logo após terem o destino de suas vidas drasticamente mudados, por terem sido abandonadas por seus responsáveis. O que era uma situação difícil, mas que precisava ser mudada. Entretanto, que não seria mudada por pessoas que não tinham a mínima vontade de fazer algo bom no mundo por aquelas pobres criaturas desamparadas.
O orfanato se chamava “Lar para crianças felizes”, mas que nada tinha de lar e muito menos onde havia crianças felizes naquele lugar. Tudo o que havia ali eram crianças cansadas de sofrer, fatigadas de viver daquela forma e, ao que parecia, careciam de tudo, como os suprimentos mais básicos, como comida, carinho, afeto, educação e respeito das pessoas que cuidavam delas naquele local.
Mas a verdade é que os funcionários, as pessoas que vigiavam esses jovens, pois cuidar era uma palavra muito forte para ser usada por aquelas pessoas que trabalhavam ali, somente se limitavam a tomar conta das crianças por um curto período de tempo em troca de dinheiro... em troca de um salário que deveriam receber no final do mês, mas que o diretor sempre roubava um pouco, e isso os fazia ficar com bastante raiva e tratarem mal as crianças, enquanto trabalhavam todos os dias na instituição que estava quase caindo aos pedaços.
Era uma situação complicada para todos, desde as crianças que eram as maiores vítimas, e as que mais sofriam naquele lugar sem futuro, sem afeto e sem recursos, quanto para os demais. O orfanato parecia mais como um jardim no inverno, onde havia várias árvores que estavam murchando, secando pouco a pouco, e o pior, sofrendo castigos físicos, repreensões e sendo privadas das coisas mais básicas, as quais todas elas deveriam ter direito durante o dia a dia. Era uma situação de cortar o coração de qualquer pessoa que visse a situação daquelas criancinhas, que estavam crescendo pouco a pouco, em meio a um terreno arenoso e tão difícil, que era o orfanato, mas o qual deveria ser um lugar para as crianças serem felizes até conseguirem ser adotadas.
Porém, aquele era um lugar muito difícil de se viver... na verdade, de sobreviver durante a vida.
Em dias de chuva o lugar era terrível. Chovia mais dentro do que fora do Orfanato. Não havia estrutura ali para proteger a todos adequadamente. Estava tudo desgastado e caindo aos pedaços, com rachaduras em diversas partes, e com isso entrava bastante água, o que gerava bastante goteiras por todos os lados, e isso causava muito mofo e infiltração em todas as dependências da instituição que pertencia ao estado.
O orfanato era um lugar decadente, precário e perigoso para a vida humana. Um verdadeiro risco à segurança das crianças, pois, a qualquer instante poderia cair alguma coisa sobre a cabeça delas, e isso era um tremendo risco o qual elas estavam correndo o tempo todo.