Capítulo 5
Capítulo 5
|KATE|
O mundo era um lugar muito cruel, é o que Kate pensava todas às vezes assim que deitava a sua pequena cabecinha repleta de fios ruivos, e o rosto salpicado de pequenas manchinhas, suas sardas, as quais era sua característica mais marcante, e repousava sobre o travesseiro duro e fino, quando ia se deitar todas as noites para dormir um pouco, até o dia clarear. Então ela teria que enfrentar tudo de novo, vez após vez, um mundo frio, perdido e vazio, sem a companhia de amigos, família, e sem com quem contar. Sua vida era um mar de tristeza e incerteza.
Seu coração doía só de pensar que não podia mais piorar dali em diante, mas, estava completamente enganada. Sim, tinha sim como as coisas piorarem para ela. O mundo podia ser um lugar sombrio, sem segurança e sem qualquer tipo de esperança para um futuro melhor ou promissor, para qualquer pobre criatura que estava naquele lugar: o orfanato. O orfanato parecia um lugar assombrado, cheio de problemas, onde faltava de tudo, e era principalmente, um local frio... tenebroso, que causava medo aos mais pobres e inocentes corações, que se tornavam cada vez mais ruins e cheios de desesperança, ao longo dos dias que iam se passando... e dos meses e anos que iam correndo e nada mudava para nenhum deles.
Nada de bom aconteceria enquanto a instituição estivesse nas mãos daqueles funcionários ruins e insensíveis, e pior ainda, na chefia de um diretor corruptor, ganancioso e ladrão, que roubava quase tudo, senão grande parte dos recursos que deveriam ser destinados para manter o orfanato funcionando e realizar melhorias. Mas ninguém verificava isso, então as coisas iam de mal a pior, só ladeira abaixo, sem perspectivas de mudar ou de diminuir o mal-estar, em algum momento, ou em alguns anos dali em diante.
A sensação era de que algo poderia cair sobre sua cabecinha durante o sono era muito grande... Era tudo sem estrutura, sem organização, sem a mínima vigilância e acompanhamento. Então o diretor corrupto fazia de tudo, exatamente como queria, segunda sua vontade egoísta e conforme a sua grande ganância por dinheiro. Ele não ligava se prejudicava a todos os funcionários, os quais não recebiam bem, e nem pela falta das provisões que deveriam ter no orfanato, mas não tinha, para fazer as coisas funcionarem adequadamente, de modo humano, mas nada disso se passava pela cabeça daquele cara.
Ninguém nunca olhava para aquele lugar abandonado, que era quase um inferno para as crianças que estavam aprendendo pouco a pouco o que era a maldade do ser humano, que foram abandonadas e por isso só havia tristeza, apesar de serem tão novinhas, vítimas rejeitadas pela sociedade, e por seus pais, que tiveram algum motivo, ou porque simplesmente foram egoístas para largarem seres indefesos naquele lugar ruim, sob os cuidados de pessoas que nem as conhecia, e que jamais poderia lhes oferecer afeto ou compaixão a nenhuma delas.
Então o orfanato tornou-se um lugar assombroso, cheio de breu e um labirinto sem saída para quem chegava ali.
O diretor dali era um homem mau. Dentro da cabeça de Kate, ele não passava de um homem velho e gordo, que não se importava com ninguém que estava ali no orfanato. Ele era um homem vazio por dentro que precisava de Deus no coração, e era somente por isso, que Kate ainda insistia em fazer suas preces por aquele tipo de homem todas as noites, para ver se Deus mudava a mente dele e seu coração malvado para o coração de uma pessoa boa. Para que ele se tornasse um ser mais solidário e que se importasse com aquelas crianças ali no orfanato. Kate pensava que só assim ele poderia proporcionar uma vida digna, decente para cada um deles.
Ela sofria muito com tudo que acontecia, como se estivesse perdida em um grande Jardim de espinhos. Sofria por si mesma e também pela tristeza de seus colegas, mesmo que eles não a considerassem como amiga. Mas ainda assim, ela tinha esperança de que eles pudessem algum dia conversar com ela, ou lhe darem o mínimo de atenção, como um ser humano, e parassem de lhe dar apelidos feios e malvados que machucavam o seu pobre coraçãozinho de criança, devido aos apelidos que recebia como cenoura murcha, Bruxa Malvada dos cabelos vermelhos, a Menina dos Cabelos de fogo, horrorosa, ferrugem, e manchadinha, em referência as sardas de seu rosto.
Kate só queria ser amada por alguém, ou no mínimo poder brincar com alguma daquelas crianças, mas, todas elas estavam chateadas e tristes com a situação ruim que viviam ali por causa daquele diretor malvado e corrupto, que roubava tudo das criancinhas. Ele era somente o cara que desviava o dinheiro que deveria servir para comprar a comida de todos, e também para a manutenção do Orfanato, assim como tinha que pagar o salário dos funcionários que deveriam cuidar deles, e por isso, viviam sempre de mau humor e estressados, constantemente descontando toda raiva e frustração nas crianças, por causa dos desvios financeiros, as quais elas não tinham nada a ver com tal problema do diretor.
A pequena ruivinha se sentia desnorteada, mas ainda assim sabia de algumas coisas, mesmo que os adultos tentassem esconder certos fatos das crianças. No fundo, a maior parte delas sabia de algumas informações, ou seja, todas elas, desde as pequenas até as maiores... todas sabiam o que acontecia ali, naquele orfanato. Desde o desvio de verbas aos maus tratos as crianças pelos funcionários. Era um lugar horrível se viver, porém, infelizmente, o único que havia para elas ficarem. Aquele era o único teto que existia onde elas poderiam se esconder debaixo da chuva ou durante os dias frios, apesar de ser um lugar bem ruim, fazer bastante frio no inverno, e muito calor durante o verão, pois não tinha as proteções necessárias e nenhuma estrutura para abrigar aqueles pequenos seres humanos.
Entretanto, ali estavam eles vivendo.... sobrevivendo, na verdade, em meio ao caos e diversas adversidades. As situações mais difíceis que poderiam ser enfrentadas por uma pessoa, elas sobreviviam a tudo isso como grandes resistentes, como verdadeiros soldados mirins, mesmo ainda sendo apenas crianças inocentes, às vezes desamparadas. Contudo, elas sobreviviam dia após dia, naquele lugar terrível e estranho, que nunca seria um lar de verdade para nenhuma delas.
O orfanato era só um abrigo menosprezado por muitos, onde um amontoado de pessoas tinha sido colocado juntas em um mesmo lugar, como se fossem apenas gatos abandonados dentro de uma caixa de sapatos velha e largada no parque, por qualquer pessoa. Como se o dono anterior não quisesse mais aqueles bichinhos sem valor, e os tivesse deixado para trás sem o mínimo de afeto ou remorso. A existência daqueles órfãos era simplesmente ignorada pelo resto do mundo, e isso se tornava como uma grande pedra no coração dessas crianças, a maior tristeza e dificuldade que todas elas teriam que tentar superar todos os dias, mês após mês, e ano após ano, pelo resto de suas vidas miseráveis.