Capítulo 5
O difícil é te esquecer sendo que os melhores momentos foram com você.
Guilherme Lourenzo
Samuel narrando.
Fernanda crispou os olhos assustada, em seguida voltou a olhar para porta onde minha mão segurava, percebendo que não tinha escapatória respirou fundo e me encarou dando por vencida.
___Está bem, se é a verdade que você quer, vamos conversar.
__Ótimo - Gesticulo apontando para o sofá. Fernanda dá um sorriso falso e passa na minha frente confiante. Espero que ela se acomode e me sento ao seu lado.
__ Vou preparar um suco para vocês - A mulher desconhecida para mim pronuncia e se retira com o marido nos deixando a sós.
___Pode começar - Entrelaço minhas mãos sobre as coxas.
__ Sem nem um beijo antes? Ou se esqueceu de tudo que vivemos - Se inclina tentando tocar minha barba e seguro seu pulso.
__ Estou confuso, não louco. Não tivemos nada Fernanda.
__Como pode ter tanta certeza que não temos um relacionamento? Você não se lembra de nada - Curva os lábios.
__Realmente não me lembro de nada, mas existe uma coisa que sei sobre mim. Só existe uma mulher que amei em toda minha vida. E jurei fidelidade a ela diante de Deus e dos homens e mesmo sem memória sei que jamais a trairia.
__Inacreditável, como você é brega - Ela ri debochada.
__ Tem razão, mesmo sem memória seu coração foi fiel a Marina. Você me afastava todas as vezes, e eu descobri por acaso que estava vivo e claro que não contei a ninguém. E sabe porque fiz isso? Por que eu te amo e não queria que sofresse, engraçado que enquanto você passava todos esses anos me afastando, a mulher cujo você disse que jurou fidelidade estava nos braços de outro homem.
__Você está mentindo - Balanço a cabeça convicto para os lados - Marina não pode estar com outro - Murmuro não tão seguro de mim.
__ Tem certeza? Mesmo sabendo que você estava morto? Olha, eu até entenderia ela, afinal, o trato é até que morte os separe. Agora levando em conta a pessoa que ela escolheu para te substituir.
__Alex? - Questiono confuso.
__ Não, seu primo, Dylan.
Apenas permaneci a olhando sem dizer nada, eu sabia que o Dylan era apaixonado pela Marina, mas nunca imaginei que ela corresponderia tal sentimento. Não depois de tudo que ele fez, de tantos problemas que nos causou. Abaixei a cabeça encarando o chão tentando assimilar tudo que tinha acabado de escutar, embora sei que Fernanda possa estar mentindo, não seria boba de fazer isso sabendo que mais cedo ou tarde descobriria toda a verdade.
__Samuel, você está bem? - Indaga segurando minha mão.
__Estou ótimo! Melhor impossível, saiba que não vou cair nesse papinho seu Fernanda. Sei que está me escondendo mais coisas e eu vou descobrir - Afastei minha mão friamente me levantando.
__Aonde vai?
___Eu vou voltar para o Brasil, vou contar a verdade aos meus país que estou vivo. E claro, vou recuperar a mulher que eu amo. Só queria te avisar que seu esforço não valeu de nada. Eu não te quis sem memória e vou te querer menos ainda agora que sei o tipo de mulher que você é.
__ Como pode ir atrás dela depois de tudo? Ela está namorando outro! - Parece perplexa.
__Não por muito tempo! - Falei veemente e me retirei da sala.
Imediatamente subi as escadas e comecei a fazer minhas malas, eu não queria questionar a Deus o por que ele está permitindo tudo isso, mas era inevitável não perguntar, não pensar que em um momento eu estava vivendo o melhor momento da minha vida e, como se fosse um sonho, acordei anos depois. Alguns anos que para mim aconteceu em um piscar de olhos, três anos vivendo um filme que eu nem se quer me recordo. Agora tudo parece um pesadelo, o qual parece longe de acabar.
Enquanto guardava as minhas roupas avistei uma câmera profissional no meio do armário, não hesitei em pega-la e jogar na mala, pelo menos assim terei uma ideia do que foi minha vida aqui.
Fechei as malas pegando o passaporte e desci as escadas como um foguete.
__Filho não vá embora! Eu imploro - A mulher abraçou minha cintura visivelmente abalada.
__Senhora, eu sinto muito, mas eu não sou seu filho. Eu não pertenço a esse lugar e é muito pouco provável que vou retornar, peço que compreenda - A afasto com delicadeza e seu marido me ajuda.
__Mulher, entenda.
Ao olhar ao meu redor suspirei aliviado, mesmo estando em outro país, finalmente pude sentir a sensação da verdadeira liberdade. Itália nem eu mesmo fazia ideia de como sobrevivi tanto tempo aqui, era um sentimento estranho, parecia ser familiar e ao mesmo tempo indiferente para mim.
Peguei um taxi e fui direto para aeroporto, peguei o voo mais próximo, enquanto sobrevoava não podia deixar de sentir temor pelo que estava por vir. Abri a maleta onde estava a bíblia e comecei a esfolhear buscando uma possível explicação para tudo que estava acontecendo. Inspirei o lenço com o perfume que Marina tinha feito para mim, apertei os olhos com o coração corroído de saudades.
(...)
__Sam!! Me solta Sam eu vou cair - Marina brada batendo nas minhas costas enquanto dou risada.
__ Fica tranquila. Não te deixei cair quando te tirei daquela festa, muito menos agora que estamos casados. Cadê as chaves? - Com a outra mão elevo no bolso do terno procurando.
__Claro. Vou ficar aqui a noite toda esperando como um saco de batatas - Ela apoia o cotovelo nas minhas costas e balanças as pernas.
__Espere amorzinho, só um segundo. Aqui, pronto achei - Comemoro e tiro abrindo a porta. Entro com a Marina em meu ombro e a jogo na cama deitada - Pode ficar confortável. Vou tirar essa roupa molhada e tomar um banho. Comento desabotoando o terno.
__Ha é? Que tipo de ogro selvagem você é? Como ousa me tirar da festa sem me deixar comer todas as comidas de lá? Você vai me pagar! - Ela pula em cima das minhas costas abraçando meu pescoço - Pede desculpa Sam - Brada furiosa na minha orelha.
__ Está chateada porque te fiz parar de comer tudo que tinha por lá? Eu fiz isso pro seu bem.
__Meu bem? Como deixar de comer pode me ajudar?
__Gula também é pecado.
___Eu não sou gulosa Samuel! Eu como o necessário para sobreviver.
__Até á outra década? Calminha. Se acalma, está parecendo um touro descontrolado.
__Você ainda não viu nada! - Recuo dois passos para trás, seguro seus braços a desprendendo com uma facilidade enorme e me curvo para trás a soltando na cama. Ela cai de costas ofegante.
___Isso não acabou Samuel - Me ameaça com as pernas ainda na minha cintura se recusando a me soltar. Giro o pescoço para trás.
___Não acabou? Pois eu acho que venci essa luta fria - Dou meia volta e inclino meu corpo sobre o colchão apoiando com o braço e afastando os fios de cabelo do seu rosto.
__Pois eu acho que é uma luta quente - Murmura fechando os olhos sorrindo lindamente. Não consigo parar de sorrir enquanto toco seu rosto como se quisesse guardar cada detalhe...
__Eu acho que teremos muitas guerras quentes como essa - Murmuro tocando seus lábios com o polegar ela abre os olhos sorrindo - Inclusive, esse vestido de noiva e cabelo molhado caiu muito bem em você - Digo - Água acostuma combinar muito com você e tudo mais... - Gesticulo analisando coçando a barba
__ Você gostou do meu perfume? - Pergunta corando mudando de assunto - Sei que ficou chateado quando dei o outro ao Dylan - Fecho minha expressão.
__Posso te pedir um favor? Não toque no nome do meu primo. Estou tendo momento difíceis por causa dele.
__Tudo começou por culpa do meu perfumei eu sei...
__Seu perfume? Pois te digo que aquele era meu perfume.
__ Seu perfume? Por que seu perfume? - Ela desviou os olhos dando uma risadinha e em seguida voltou a me olhar.
__ Porque desde o dia que o senti pela primeira vez quando caiu sentada em cima de mim naquele ônibus, como um furacão prestes a desmoronar tudo, foi desse jeito que você voltou para minha vida. As vezes a tempestade é necessária para você dar valor a calmaria, você foi a tempestade mais necessária na minha vida Marina. E o seu perfume é minha calmaria e isso nunca vai mudar, nunca se esqueça disso - Aproximo meu rosto do seu prestes a beija-la.
__ Estou com amnesia agora - Murmura encarando meus lábios - Quero dizer, não vou esquecer. Está muito calor aqui, não acha? Vou ligar o ar condicionado - Desliza por baixo do meus braços e me levanto a deixando escorregar no chão fugindo de joelhos.
__ Vou pegar o meu perfume no carro. Digo seu... nosso perfume na bolsa - Se levantada e sai correndo para fora do quarto.
__Okay. Vou ficar esperando aqui - Bato na perna curioso.
Minutos depois ela aparece segurando o vidro de perfume na mão. Se aproxima ficando joelhos na cama e me entrega.
__Esse é o mesmo perfume do lenço. Eu passei horas tentando fazer um diferente de tudo que já sentiu. Porém, ele faltava algo - Me olha cabisbaixa.
__E você conseguiu achar o que faltava?
__Sim, encontrei quando fui dar um mergulho no mar. Prefiro chamar de Lírio do mar, é como se fosse uma estrela e é rara porque se cultiva em lugares úmidos. Ela parece muito diferente por fora, a aparência não é tão delicada como as outras flores, mas ela é muito sensível quando a tocam, ela fica sempre escondida para que ninguém a veja. Mas tem vezes que ela aparece sozinha quando ela quer.
__Deixa eu sentir seu aroma então - Abro o vidro e afasto seu cabelo lentamente espirrando no seu pescoço. Marina fecha os olhos.
__Seu aroma é muito muito melhor que o perfume antigo eu garanto - Sua voz sai trêmula.
__Você a viu na beira do Mar? - Aproximo meu rosto aspirando seu perfume.
__Sim...eu a vi - Murmura.
__Você sentiu seu perfume? - Sussurro em seu ouvido.
__Senti... - Engole seco.
__Você notou que ela apareceu só para você? - A miro, encostando nossos lábios.
__Notei - Abre os olhos me olhando profundamente. Mantive nosso contato visual enquanto notava seu nervosismo.
__Eu amei - Sussurrei pairando meus lábios sobre os seus suavemente. Naquele momento eu sabia que nada nem ninguém poderia nos separar, porque Marina era tão rara quanto aquela flor e só aparecia para mim. Somente comigo ela sentia confiante o suficiente para ser ela mesma.
(...)
Ampliei meu sorriso confiante, e quando o avião pousou desci imediatamente e peguei um taxi indo em direção para minha casa, imagino o choque dela quando saber que não morri, que voltei para ficarmos juntos para sempre, fiquei olhando pela janela vendo os tráfegos de carros e os enormes prédios, tudo era tão familiar que parecia mentira que se passaram três anos. De repente meus olhos pausaram por um momento em um parquinho em uma avenida, e então eu a vi. Eu a conheceria mesmo que estivéssemos a quilômetros de distância.
___Motorista pode parar aqui - Aviso sem perde-la de vista. Ela estava sentada de olhos fechados no balanço como uma criança e imediatamente percebi que ela não mudou nada ao passar dos anos. Imediatamente desci do carro disposto a ir ao seu encontro. Puxei o ar dos pulmões tomando coragem, nem havia dado direito o primeiro passo, quando avistei Dylan do outro lado. Ele estava agachado no chão com a mão no sapato. Fiquei parado observando sem me mover, percebi o motor do taxi atrás de mim arrancar. Marina correu até ele preocupada, parecia ter se machucado
Dylan tirou algo do bolso da sua calça jeans, parecia ser uma caixinha preta, ele abriu diante dela que tampou a boca surpresa. Meu primo estava preste a pedir a minha mulher em casamento. E tudo que poderia fazer daqui, era torcer para ela dizer não.
" Não. Amor diga não, eu imploro. "
Porém, balançou a cabeça em afirmativo e segurando sua mão, Dylan deslizou a aliança. Era um sim. Ela havia aceitado eles se abraçaram felizes como um verdadeiro casal propaganda de margarina e ele a beijou. Apertei seu lenço com força guardando no bolso totalmente imóvel. Pela primeira vez de muitos anos nunca vi Dylan tão feliz e realizado. Por mais que eu quisesse negar, era claro o que meus olhos estavam vendo, Marina estava feliz, todos estavam felizes, todos seguiram em frente e fui o único que ficou paralisado no tempo.
Passei as mãos no fios soltos com os olhos marejados e me virei retornando meu caminho. Acho que não existe lugar para mim aqui. Samuel morreu mesmo naquele acidente, porque hoje eu acabei de mata-lo. Todavia, eu preciso descobrir quem sabotou aquele avião e encontrar a mulher do piloto, porque graças a ele estou vivo, se bem que a essa altura não sei se foi uma boa escolha ter me salvado.