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Capítulo 6

Marina..

Deus, hoje acordei com uma sensação estranha, não sei explicar, mas parece que não será um dia normal, quero dizer, nem todos os dias são normais na minha vida. No entanto, estou acordada e o sol nem nasceu totalmente, existe apenas um pequeno risco de luz iluminando a parede do meu quarto, estou tão desperta que sinto que posso correr mil maratonas, sei que tenho mais a agradecer do que reclamar, a empresa está prosperando e tenho um ótimo namorado. Mas, estranhamente os sonhos com ele novamente retornaram, e junto com eles o sentimento de dúvida, será que Samuel está mesmo morto? Hoje parecia tão real quando estávamos dançando juntos. Não posso deixar de me sentir culpada por carregar essa dúvida e ter esses sonhos depois de tantos anos, parece que estou traindo meu namorado mesmo que involuntariamente. Não quero viver toda dor que senti quando ainda carregava a esperança dele estar vivo, Dylan sofreu por me ver daquela forma, cada homem de cabelo comprido e barba que eu via passar, acreditava que era o Samuel, e o pior, cada vez que me dava conta que era só minha mente me sabotando, de novo, e de novo! Me sentia péssima e frustrada. Tudo começou depois que dancei com aquele homem mascarado, lembro-me de já estar subindo para dormir e tive um pressentimento que por trás daquela mascara era o Samuel, e me bateu um desespero. Retornei correndo e o procurei por todo o jardim e ele havia desaparecido, foi a primeira vez que tive um ataque de choro como se o chão tivesse saído dos meus pés e vivenciado novamente sua morte. Depois, como senhor bem sabe, ver o Samuel em outros homens se tornaram frequentes e comecei a trabalhar duro para não pensar nele. Quando dei por mim, estava totalmente desorientada e perdida dentro da minha própria mente e depois de um desmaio causado por estresse. Passei a tomar remédios e fazer terapia quando descobri que acabei adquirindo depressão pós-parto. Demorou, para finalmente entender e aceitar que não vou encontra-lo. Samuel morreu, e por isso não faz sentindo esses sonhos retornarem para me assombrar novamente. Então peço ao Senhor que os tire de mim definitivamente.

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Fechei meu caderno de anotações, falar com Deus através de um diário tem me feito bem e colocado meus sentimentos em ordem.  Apesar que isso não substituía minhas orações de joelhos dobrados, minha psicóloga disse que seria bom. Espreguicei relaxadamente e me virei para o lado na cama, olhei para cama da Jade que estava vazia, vozes soaram no andar de baixo e pela gargalhada alta da minha filha, sabia quem era nossa visita de honra.

Muita coisa mudou de três anos para cá e uma delas, foi que eu finalmente dei uma chance ao Dylan, estamos juntos faz um ano. Com o tempo fui aprendendo a admira-lo e consequentemente ama-lo. Quero dizer, amor não é somente aquilo que  sentia pelo Sam, eu sei que nunca vou amar ninguém como o amei, não foi fácil aceitar sua morte, mas eu finalmente o superei! É, ele foi morar com nosso Deus, com certeza Deus queria alguém destemido e forte para trabalhar no céu. As vezes não entendemos seus planos, mas escolhi confiar.

Respirei fundo e fui tomar um banho, meus cabelos tinham crescido bastante depois que tive a Jade e já faz uns três anos que não corto, também deixei ele natural de um jeito selvagem. Dylan prefere ele arrumado e liso, quando vou para empresa uso como deseja para agrada-lo.

Coloquei um vestido estampado e alaranjado que tinha uma touca, o tempo estava fresco e parecia que iria chover. Pus uma sapatilha confortável vesti minhas pulseiras coloridas e desci para cozinha.  

__Good morning! - Acenei caminhando para dar um beijo estalado na bochecha da minha filha que estava sentada no colo do Dylan comendo cereal.  

__Bom dia mamãe! - Respondeu sorridente.

__Ah, que coisa linda! Dá vontade de apertar - Apertei suas bochechas.

__E enquanto a mim? Não mereço um beijo de bom dia?

__ Claro - Inclinei sorrindo, sou impedida com uma tossida do meu pai. Dylan e eu viramos o rosto lentamente em direção aos meus país, suas expressoês não são das melhores.

__Marina, sente-se agora - Minha mãe ordenou.

__Sim, mãe. Ora, ora por que essas expressões serias? Estão me assustando - Puxei a cadeira me sentando.

__Querida, você sabe o quanto eu e seu pai apoiamos seu namoro com o Sr. Dylan. Ele é um ótimo rapaz e fez muito por essa família.

__Imagina, senhora. Fiz porque amo sua filha - Comenta sério e dou um leve sorriso.

__Você sabe que mudamos para esse novo condômino para se livrar das fofocas da nossa vizinhança, sabemos o quanto isso te machucou - Assenti engolindo seco. Depois que aceitei namorar com o Dylan surgiu rumores de todos os lados, que eu estava com ele por interesse, como um primo morreu e Alex está comprometido fiquei com outro para me destacar na empresa. Como se eu precisasse de algo do Dylan para ter uma vida descente, posso muito bem trabalhar e ganhar meu próprio dinheiro e Samuel também me deixou uma parte da sua herança, não que isso compensasse a falta dele aqui. Somente aceitei por causa da nossa filha.

__Sim papai.

__Infelizmente voltaram a falar de novo de vocês. Agora são algumas pessoas da igreja que estão duvidando da seriedade do compromisso de vocês.

__Eles não acreditam muito na minha mudança, algumas coisas do meu passado sempre vão vir à tona Marina - Apertei os lábios encarando seus olhos claros cintilantes.  

__Eu não me importo com o que dizem. Acredito em você - Segurei sua mão.

__Vocês deveriam se casar logo.

_Mãe!- A reprendo seriamente - Mãe, o que o Dylan vai pensar?

__Não estou brincando, Marina. Você tem uma filha e é mãe solteira, esses rumores só iram acabar ou pelo menos diminuir se vocês se casassem.  

__Ela está brincando, não se sinta pressionado. Mãe! não vamos nos casar é muito cedo como pode colocá-lo sobe tamanha pressão - Semicerrei os olhos.

__Na realidade seus país tem razão Marina - Girei o pescoço em 360 graus.

__O que?!

__Minha fama de garanhão só vai acabar quando assumir uma mulher de verdade, e o casamento é a única solução cabível. Sem contar, que não existe nada nesse mundo que me faria mais feliz  do que ser seu marido - Pegou minhas mãos levando aos lábios, depositando um beijo.  

__Eu não sei o que dizer... -  Balancei a cabeça nervosa.

__Comece aceitando o pedido desse belo homem filha. Somos uma família honrada, não vamos dar motivos para sermos calúniados - Minha mãe me incentivou. Encarei seus olhos azuis que brilhavam esperando uma reposta.

__ Como vou aceitar o pedido, se o Dylan ainda nem o fez mamãe? Nem comprou o anel de noivado, nem nada.  

__Se esse é o único empecilho, então iremos imediatamente compra-lo - Se levantou afrouxando a gravata, esbugalhei os olhos surpresa.

__Está falando sério?

__Nunca falei tão sério na minha vida Marina. Quero que seja minha mulher -Me levantou da cadeira puxando minha cintura me olhando intensamente.

__Vocês ouviram isso? É ele que está dizendo. Não sou eu que o estou pressionando - Gesticulei para os meus pais sorridente.

__Sim filha!

__Nesse caso, vou ir correndo buscar minha bolsa antes que mude de ideia! Bom café da manhã a todos - Dou um selinho em seus lábios e subo as escadas rapidamente. 

Entrei no meu quarto, e sentei na cama ainda com o coração palpitando por ser pega de surpresa. O Dylan vai me pedir em casamento? Eu vou me casar novamente?  Não posso acreditar! Vou me casar pela segunda vez.  Sempre soube que nasci para ser a luz do mundo, não a vela. Não tenho dúvidas que ele é o homem certo para mim, mas nunca imaginei que algo assim aconteceria tão rápido. Fechei os olhos e resolvo fazer uma oração.

"Meu Deus! se não for da sua vontade esse casamento me mande um sinal "

A porta bateu com força me fazendo dar um sobressalto. Esbugalhei os olhos.

"Ah para!  Isso é só o vento, é claro que é da vontade de Deus" Gesticulei sorrindo. As luzes do quarto começaram a piscar incansavelmente, ergui os olhos lentamente.

__É você né inimigo?! Está querendo atrapalhar meu casamento?! Pois, não vai adiantar - Comecei a cantarolar.

O inimigo tenta me derrubar, ele tenta me seduzir, ele tenta me alcançar, mas em nome de Jesus não vai conseguir! 

Peguei minha bolsa e bati a porta com força descendo as escadas correndo.

__Pai tem algo estranho com a instalação do meu quarto - Choraminguei ao chegar na cozinha. 

__ Depois vou dar uma olhada, não se preocupe filha.

Entramos no carro juntos e Jade ficou com os avós, fiquei olhando para fora reflexiva, será que se o Samuel estivesse nos vendo apoiaria nossa união?

__Marina, está tudo bem? - Dylan beijou minha mão e sorri fraco.

__Sim - avisto um balanço no parquinho ao lado __ Posso esperar você ali? Preciso ficar um pouco sozinha me conectando com Deus, se importa?

__Não, como quiser. É bom que assim não verá o anel que vou escolher - Concordei sorrindo.

Dylan estacionou o carro me deixando sozinha no parquinho,  olhei em volta com sentimento o qual não conseguia definir, vou caminhando em direção ao balanço e me sentei fechando os olhos. Comecei a cantarolar um hino baixinho, querendo ou não, isso é um grande passo o qual estou tomando na minha vida, eu realmente gosto do Dylan, estou fazendo a escolha certa, não preciso temer a nada, dessa vez vai dar tudo certo.

Não demorou muito Dylan retornou, ele me chamou e percebi que estava agachado com a mão no calcanhar.

__Dylan! você está bem? - Perguntei preocupada.

__Não, está doendo.

__Doendo? Seu calcanhar? - Olhei para onde está tocando - Vamos ao médico agora! - Puxei sua mão tentando arrasta-lo.

__ Não, aqui dói - Colocou a mão no peito - Meu coração dói de tanto amor que sinto por você Marina. Percebi tirar algo do bolso da calça.

___Aceita terminar com esse sofrimento de uma vez por todas e curar o coração desse pobre rapaz de olhos azuis? Casa comigo? - Abriu um sorriso de lado e coloquei a mão na boca sorrindo.

__Aceito! - Respondi e Dylan segurou minha mão deslizando o anel. Em seguida se levantou me abraçando apertado. Retribuo o abraço sorrindo satisfeita,  quando do outro lado avistei um corpo másculo atravessando a rua quase correndo, meus olhos ficaram paralisados o vendo atravessar a rua sem acreditar que fosse real, meu coração começou a palpitar descontrolado. Será Meu Deus!? Poderia ser uma das milhares visões que já tive antes, sem contar que ele estava de costas e não dava para ver seu rosto, porém, tinham ombros largos e usava cabelo presos exatamente como o meu Sam! O vi entrar na loja do outro lado da rua.

__Samuel?!

__ O que disse? - Dylan se afastou segurando meu rosto confuso.

__Samuel, ele com certeza daria sua benção a nós dois - Disfarcei tentando conter minhas emoções.

___Tomara que sim. - respondeu sorrindo fraco.

___ Eu preciso ir até a loja do outro lado da rua, não precisa me esperar! - Sem dizer mais nada sai correndo para o outro lado, que seja ele! E que ele esteja vivo.

Entrei na loja rapidamente o procurando por toda parte com os olhos, o lugar era enorme e não seria fácil de encontra-lo, comecei a perguntar as pessoas se tinham visto um homem alto e forte, algumas negaram e outras me davam repostas vagas que não me levaram há lugar nenhum.

__Sim moça, eu o vi, ele comprou um casaco de couro agora pouco e foi embora por aquela porta - Apontou para porta de vidro nos fundos.

__Muito obrigada! De verdade mesmo. - Sai correndo em direção a porta a fora. Gotas grossas de chuva começaram cair sobre meu rosto junto com uma brisa gelada, fazendo meu corpo estremecer, tampei a cabeça com a touca e respirei fundo atravessando a rua o procurando em todos os lugares, a chuva começou a crescer progressivamente e não havía nenhum sinal dele. Cansada de andar em vão,  percebi que estou em frente ao antigo cinema, então resolvi correr para dentro para me esconder. Me aproximei do atendente da bilheteria.

__Estamos fechando senhorita - Avisou sem me olhar.

__Pode me deixar ver qualquer filme? Só alguns minutos até que a chuva passe, prometo pagar em dobro - Comentei esperançosa. Ele olhou para mim alguns segundos.

__Está bem, pode entrar.

__Espera! vou pegar o dinheiro na minha bolsa - Puxei minha bolsa de pano de forma desajeitada passando pelo meu pescoço, minha touca caiu da minha cabeça junto com ela e arrumei meus cabelos que estava grudados nos meus ombros.

___Aqui está, muito obrigada! - Falei empolgada.

Entrei no  corredor, quando meus pés pisaram no enorme carpete vermelho, uma nostalgia tomou conta do meu interior. Aqui dentro, foi exatamente nesse lugar, que vivenciei um dos momentos mais felizes da minha vida, meus dedos deslizaram sobre as cadeiras macias e me sentei em uma delas, encarei o telão a minha frente quase que hipnotizada. Um filme se passava agora pela minha mente, eu não poderia negar que vivi um conto de fadas, mesmo por pouco tempo, eu tive isso.

Me permiti fechar os olhos sorrindo enquanto recordava desse dia maravilhoso, meu sorriso foi se desvaindo aos poucos dando lugar as lágrimas que começaram a cair sem permissão.

A luz do telão acendeu de repente, e um trailer do filme A Bela e a Fera começou a ser emitido. Minhas lágrimas secaram e crispei os olhos sem acreditar, isso é apenas outra coincidência certo? De repente um pressentimento de estar sendo observada surgiu, e por impulso virei meu corpo olhando para trás, foi quando meus olhos capturaram em uma frequência de segundos uma sombra grande se levantando a poucos metros atrás de mim, seus cabelos estavam soltos e ele vestia um casaco de couro como a mulher da loja tinha me descrevido, meu coração acelerou imediatamente e então sua silhueta desapareceu pela porta fora. Meu peito se apertou fortemente pelo choque causado.

O  que eu tinha acabado de presenciar? Era real ou não? Virei-me  para frente com dificuldade de respirar.

__Eu o reconheci! Só pode ser ele - Meu coração estava acelerado e o ar parecia ter fugido totalmente dos meus pulmões.

O ar estava me sufocando e minha mente começou a ficar confusa e embaralhada, minhas mãos estavam tremulas, fechei os olhos e comecei a contar até dez imaginando números aleatórios tentando controlar minha respiração. Quando finalmente me vi um pouco mais calma, me levantei saindo para fora e disquei o número da única pessoa que me ouvia sem me julgar.

__ Alô, Mia?

__Oi, Marina?

__Eu o vi no teatro, ele está vivo, eu não estou ficando louca! - O caroço se formou na minha garganta.

__ O Samuel? Tem certeza?

__ Sim, quero dizer não sei, mas parecia ele, será que estou imaginando coisas de novo Mia?

__Calma Marina, o que você viu exatamente?

__ Dylan, ele me pediu em casamento no parque.

__Sério? Que ótima notícia Marina! - Exclamou animada.

__Ele estava lá, e viu tudo, e o segui e começou a chover, então entrei no cinema antigo para me esconder, e não sei como, ele também estava lá como uma sombra na escuridão. Um filme antigo passava, e como dejavú tudo voltou Mia. Mas por que ele fugiu quando me viu? Por que ele foi embora de novo? - Neguei com a cabeça prendendo as lágrimas.

__ Será que não foi só sua imaginação novamente?

__Mia você não! por favor, não me trate como louca também. Você disse que acreditava que ele poderia estar vivo lembra? Nunca me disse o por que acredita em mim.

__Eu conheci uma pessoa, e vi essa pessoa escapar da morte duas vezes. Como um milagre, e sei que nada é impossível para Deus.

__Então...

__Mas é diferente agora, você sempre teve esses enganos, o que faz acreditar que agora seja verdade? E outra, você mesma disse que Dylan te pediu em casamento, quer mesmo desenterrar o que sentia pelo Samuel? Justo agora que está aprendendo amar o Dylan? - Engoli seco.

__Você tem razão. Eu aceitei me casar com ele, não posso voltar atrás por uma ilusão.

__Isso Marina! Não troque a certeza de uma vida feliz, pela dúvida do passado. Você seguiu em frente, fez o que era certo.

__É, eu fiz...Samuel morreu e eu tive outra visão, é melhor assim do que pensar que ele esteve todo esse tempo fugindo de mim - Limpei uma lágrima que escorreu sem permissão.

__Sim. Seja feliz Marina, você merece.

__Eu serei, a propósito quando Dylan me pediu em casamento meu coração acelerou.

__Você estremeceu? Sentiu o tal sentimento?

__ Por um momento, eu estou começando a me apaixonar por ele. E como ele trata a Jade, é o que mais admiro, e você viu como ela está linda? Seus cabelos são loiros e selvagens como os do pai dela, mas seus olhos são claros como a avó, e as covinhas são muito bonitas, tão bonitas na sua bochecha que dá vontade de apertar toda vez que a vejo. Seremos uma família feliz, tenho certeza disso - Mordi meu lábio inferior.

__Então, por que está chorando querida? Tem certeza que está bem?

__Estou, apenas foram muitas emoções para um dia só. Por favor Mia, eu imploro não conte a ninguém dessa visão que tive, eu parei de tomar os remédios e minha mãe é capaz de me obrigar a toma-los.

__Tudo bem. Só se me prometer que vai ficar bem.

__Eu prometo, eu balancei quando achei que tinha visto ele. Faz tempo que isso não acontecia. Mas será a última vez.

__Ok, se cuide amiga.

__Não se preocupe. Até logo e obrigada por me ouvir.

__Imagina, até logo - Desliguei o celular tremula. Meu Deus! será que estou novamente perdendo a cabeça e imaginando coisas?

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