Capítulo 4
Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males.
Tiago 3:16
Gregório.
O passado é uma das coisas que muitas pessoas por aí deseja esquecer, inclusive eu por muitas vezes devo ter almejado isso, afinal de contas quem não gostaria de poder começar do zero sem culpas, sem erros e sem lembranças? Certo? Não, errado. Eu daria qualquer coisa para me olhar no espelho agora e reconhecer quem eu sou, quem são essas pessoas que vivem comigo e dizem que me amam, eu devo ama-las também, porém não me lembro de basicamente nada.
Tudo que eu sei é que sofri um acidente de carro. Fiquei em coma quase um ano e acordei assim, sem memória, sem reconhecer meu próprio rosto refletido no espelho. Todavia devo ser grato por pelo menos estar vivo. Mesmo que viver não seja algo que esteja fazendo no momento, diria que estou apenas existindo.
Havia dias que era difícil até para levantar, porque sabia que seria mais um dia sentado na mesa com pessoas totalmente estranhas para mim, e sei que deve ser difícil para elas minha indiferença, mas de alguma forma não conseguia evitar. Mas especificamente hoje algo diferente aconteceu, o que sei de mim é que sou um fotografo profissional, faço fotos de modelos para empresas e jornalísticos, fui convidado para fotografar em uma festa em uma mansão de luxo de um playboy qualquer. Nem estava afim de ir, inclusive quando recebi a proposta por telefone eu recusei na frente do meu amigo Stefan, mas no final das contas acabei mudando de ideia.
E nessa festa houve um acontecimento estranho, não costumo me atentar a algo fora do meu trabalho, minha missão era apenas fotografar a decoração e os empresário importantes que estavam no evento. Entretanto, meus olhos foram totalmente ofuscados pela mulher mais bela que vi em toda minha vida, talvez eu pudesse estar exagerando e de fato possa ter conhecido várias mulheres lindas, mas me arrisco a dizer que com uma singularidade sem tamanho só exista ela. Só que não parou por aí, quando todos já não a notavam tanto foi quando descobri sua melhor versão, a gravei roubando comida de sua própria festa de aniversário, inclusive foi uma das cenas mais engraçadas que já vi.
O estranho de tudo era a sensação que sentia dentro de mim enquanto a fotografava. Seu sorriso iluminado a forma como degustava a comida fechando os olhos. Seu jeito meiga e ao mesmo tempo maluca me dava uma sensação familiar, e tudo piorou após dançar com ela, e sentir seu aroma doce e inebriante. Era tão familiar para mim como se já houvesse sentido antes por muito tempo em algum lugar.
“Ela é casada Gregório. Casada! “
Eram as palavras que repetia a mim mesmo, enquanto retornava para o carro depois do seu marido a chamar para dentro.
Cheguei em casa exausto e apaguei, tentando focar em outra coisa que não fosse a imagem angelical daquela bela mulher.
__Bom dia querido! - Escuto batidas na porta e esfrego o rosto. Me espreguiço olhando para o despertador. Ela nunca ia se cansar de fazer isso.
_Pode entrar mãe. A porta está aberta - Ela abre e se aproxima sorridente com a bandeja de café da manhã.
_Trouxe seu café. Está quentinho e tem até torradas - Sorri agradecido.
_Deve estar muito bom mesmo. Mas não precisava tanto esforço, eu posso muito bem me levantar e fazer o meu próprio café - Seguro suas mãos carinhosamente.
__Antes você sempre gostava que eu fizesse isso. Por favor, me deixe ser sua mãe?! Deixa eu te mimar como sempre fazia - Ela olha para nossas mãos com a voz embargada - Eu sinto tanto sua falta gregório, meu filho! - Começa a chorar e eu a abraço imediatamente.
__Me desculpe, está bem? Estou aqui mãe. Sei que vai demorar para ser o filho que era antes, talvez eu nunca volte a ser, mas ainda sou seu filho, não sou? - Ergo seu rosto limpando suas lágrimas enquanto me encara parecendo perdida.
__Sim, você é meu filho - Me olha por um segundo e se afasta ajeitando a roupa e saindo rapidamente do quarto. Solto um longo suspiro.
Enquanto saboreava meu café da manhã pensando no longo dia que teria, olhei de rabo de olho para câmera no criado mudo. Por que raios meus pensamentos estão indo para caminhos perigosos novamente? Como se minha mão tivesse vida própria me apoderei do aparelho. Apertei o botão ligar e instantaneamente sua foto apareceu.
__Quem é você? - Fiquei mudando as fotos enquanto ela parecia ter algum tipo de feitiço sobre mim.
__Gregório, seu amigo está esperando para vocês irem trabalhar - Tinha esse detalhe, eu trabalhava de meio período na oficina de carros importados do meu amigo Estefan. Uma das coisas a quais descobri sobre mim é que eu amo carros, principalmente velozes.
_Estou indo - Vesti uma camisa branca e um casaco social por cima e uma calça combinando. Coloquei meus óculos escuros e meu relógio, alinhei meus cabelos para trás ajeitando.
Desci as escadas rapidamente e me deparei com um Estefan impaciente na sala.
__Até que fim Cinderela, podemos ir? - Debocha e semicerro os olhos.
__Veja só, mal começou a fazer sucesso na oficina e está se achando - O provoco.
__Muito engraçado, agora vamos irmão - Passa o braço sobre meu ombro sorridente.
Seguimos e entramos no seu carro importado, automaticamente peguei a câmera e comecei a checar as fotos.
__E como foi ontem na festa? Alguma novidade? Sua mãe me disse que resolveu ir de última hora.
__Na verdade. sim. Olha isso... - Mostrei para ele a foto da mulher misteriosa.
__Quem é? Parece gata - Comenta interessado.
__Também gostaria de saber. O único problema é que ela é casada.
__E daí? Se tem interesse vai para cima - EStefan aconselha descaradamente .
__Não faça com os outros o que não gostaria que fizesse com você.
___Está bem. Então desencana Gregório. É só mais uma mulher e no mundo tem várias de sobra para você escolher.
__Essa é diferente - Solto um suspiro - Não sei explicar, seu cheiro me é familiar. Não apenas isso, quando a vi tive a sensação que já a conhecia de algum lugar. Estou ficando louco, não é?! - O encaro sério e percebo seu corpo ficar rígido.
__Não sei, com essa mascara não dá para ver muita coisa. Como é o nome do empresário que organizou a festa?
__Dylan Muller. O conhece? - O fito desconfiado e noto apertar o volante com força.
__Não, nunca ouvi falar - Me olha de relance e estreito os olhos. Stefan era meu melhor amigo, mas estranhamente tinha a sensação que me escondia algo, talvez por medo de me machucar?
__Um conselho de amigo, seja qual for dessa mulher, se afaste dela. Como você mesmo disse ela é casada, então não vale a pena - Me olha seriamente.
__Você tem razão meu caro. Agora você tem razão - Dou tapinhas em seu peito.
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Chegamos na oficina de carros, que também era uma loja de carros importados, Stefan teve a grande ideia de fazer duas coisas em uma só. Fui vestir meu macacão e me trocar para concertar alguns motores, coloquei o óculos de proteção e fui fazer meu trabalho nos fundos. Estava fazendo alguns ajustes no carro quando escutei vozes no fundo, uma das vozes era feminina e não me parecia estranha. Tirei as luvas cheias de graxa rapidamente e caminhei até a porta para ver de quem se tratava. Avistei uma mulher loira elegante o cumprimentando.
___Nem acredito que te encontrei aqui, resolveu deixar a vida do mato de vez? - Ergui os óculos por cima da testa sorrindo.
___Vida do mato? Essa é nova, do que ela está falando Stefan? - Questiono cruzando os braços e a mulher me olha parecendo que viu um fantasma.
__Você? Não posso acreditar, você não está morto? - Ela começa a chorar e quase cai de joelhos se meu amigo não a segurasse no braços.
__Gregório não morreu Fernanda.
__Gregório? Parece confusa e resolvo ir até ela.
__Sim, sei que deve estar muito chocada, muita gente pensou que eu estava morto depois do acidente de carro. Eu felizmente sobrevivi, mas como pode ver, não me lembro de você. De onde me conhece? - Coloco as mãos no bolso a interrogando. Ela troca olhares entre mim e meu amigo.
__ Como não pode se lembrar? Me solta eu me levanto sozinha. Sabe quem eu sou? Eu sou sua noiva, a mulher com quem você iria se casar - Ela vem até mim e segura meu rosto me olhando nos olhos.
Anos depois.
Abri meus olhos e percebi que estava em um lugar totalmente diferente para mim. Ainda meio atordoado levanto sentindo uma dor quase insuportável na cabeça. Respiro fundo e caminho as passos tortos até a porta do quarto, passo os corredores como se estivesse bêbado e desço as escadas segurando o corrimão para não cair. Tudo parecia estar literalmente girando.
__Marina! Meu amor, cadê você? - Bradei a procurando ao meu redor. Quase me desequilibro caindo escada abaixo.
__Meu Deus! Meu filho o que você tem? - Olho para mulher baixa de olhos claros verdeados e cabelo feito em um coque.
__Filho? Você não é minha mãe! - A afasto imediatamente. Tenho a visão da enorme sala e vejo duas empregadas limpando - Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? Cadê minha mulher? Alex? Minha mãe? - Abro os braços no meio da sala e as empregadas me olham espantados, um senhor de idade também parece no meu campo de visão.
__Calma rapaz. Querida pare de chorar, sabemos que isso poderia acontecer - Ele tenta tranquilizar a Senhora.
__O que ia acontecer? Que raios estão falando.
__Ao que parece sua memória retornou, depois da pancada de ontem. Então me diga rapaz, qual é o seu verdadeiro nome?
__Samuel, eu me chamo Samuel Muller.
__Samuel, sente-se por favor. Aposto que deve estar muito confuso agora - Balanço a cabeça e o obedeço.
O senhor a qual desconheço me conta toda história, eles foram fazer uma trilha no meio das montanhas, quando encontrou meu corpo flutuando sobe as águas. Eu estava de colete e eles acreditavam que estava morto, porém ao verificar notaram que eu estava respirando, eles ligaram para a ambulância e imediatamente fui internado, como não sabiam meu nome disseram que me chamava Gregório o nome do filho dele que faleceu pouco tempo antes do meu acidente. Eu fiquei em coma por um ano e quando acordei não me lembrava de absolutamente nada. E com medo de serem presos eles não foram buscar saber minha verdadeira identidade.
___Minha mulher estava com depressão pela perda do nosso filho e você foi como um escape. Ela o cuidou por todos esses anos como um filho. Por favor, não nos mande para cadeia - Implora desesperado.
__Fiquem tranquilos, não vou fazer isso. Por mais errados que estão eu lhe devo a minha vida e isso não tem preço - O mirei sincero - Agora peço que entendam, eu tenho uma família eu sou casado e amo minha mulher. Preciso voltar para ela urgentemente - Seguro a mão da senhora em prantos ao meu lado.
_Tem outra coisa - Ela me olha um segundo e se levanta saindo rapidamente, depois retorna com uma pequena maleta - Quando te encontramos você estava segurando essa maleta. De alguma forma você se agarrou a ela como se fosse sua vida. Eu nunca ousei abri-la.
___Isso é a minha vida - Silabei então abri a maleta revelando assim a minha Bíblia praticamente intacta e o lenço da mulher que eu amo. O segurei com força nas mãos e aspirei seu perfume enchendo meus pulmões - Eu senti falta disso - Os olhei sorrindo triste - Quanto tempo estou aqui? Digo, morando com vocês?
__Já se passaram mais de quatro anos querido.
__ Tudo isso? - Meu peito se aperta imediatamente. Quanto tempo eu perdi? Como Marina passou todos esses anos longe de mim. Tudo que eu queria agora era correr imediatamente para seus braços, e exatamente o que estou prestes a fazer. Pego minha maleta e uma voz interrompe meu ato.
__ Gregório cadê você meu amorzinho! - Girei o pescoço em câmera lenta me deparando com quem eu menos esperava. Isso só pode ser uma piada.
__Fernanda? O que faz aqui? - Franzi a testa olhando para suspeita desconfiado. - Ela cessou os passos estática no lugar.
_Droga! - Praguejou baixo. __Eu conheço esse olhar. Com licença, acabei de lembrar que esqueci algo no carro - Gira os calcanhares pensando em fugir mais sou mais rápido e com um pulo por cima do sofá chego a tempo de fechar a porta antes dela abrir.
___De jeito nenhum você vai fugir! Desembucha, e pode começando a me falar, o que está fazendo aqui? E a quanto tempo está se fazendo de sonsa e fingindo que não sabe de nada? - Travo a mandíbula e engole seco.