Capítulo 3
O homem ama porque o amor é a essência da sua alma. Por isso, não pode deixar de amar.
Leon Tolstoi
Marina.
Hoje à noite o Senhor Dylan daria a melhor festa de máscara de todos os tempos, de acordo com ele é claro, porque eu certamente não vou estar presente. Tenho uma bebê para cuidar, entretanto isso não me impediria de ajudar dona Valentina na cozinha, depois de fazer Jade dormir como um anjinho aproximei-me sorrateiramente da cozinha, Dona Valentina estava cozinhando com as demais empregadas e apenas me inclinei no balcão olhando tudo admirada.
__A senhora parece ser uma boa confeiteira - Comentei olhando para o enorme bolo e quão belo e apetitoso estava.
__Anos de prática querida. Quer ajudar? - Perguntou oferecendo o pote de Chantily.
__Eu posso? Acho que devo colocar um avental primeiro - Olho em volta procurando e quando encontro me apodero dele imediatamente. Passo pelo pescoço e por azar, o avental enrosca na minha correntinha.
__Ai não! O que eu faço dona Valentina? - Digo toda torta tentando desenroscar.
__Espera, eu te ajudo - A voz do Dylan surgiu atrás de mim. Senti seus dedos frios tocarem minha nuca, ele desabotoou minha correntinha e ficou de frente para mim com ela a mostra.
__Aqui está, é melhor guardar ou vai acabar perdendo - Me fitou com doçura.
__Obrigada! - Peguei da sua mão rapidamente guardando no bolso da minha calça jeans.
Depois de ajudar a Valentina com os deliciosos doces - realmente essa mulher tinha mãos de fadas - de forma automática tirei o colar do meu bolso e o anel. Fui tomar banho, vesti uma roupa confortável e fui dar leite para Jade no quarto, Dylan entrou segurando uma caixa enorme com um laço vermelho.
__O que significa isso? - Perguntei curiosa.
__Aqui está o vestido para a festa de hoje à noite. Fiz especialmente para você - Curvou os lábios em um sorriso.
__Achei que tinha dito que não iria ir à festa - O olhei seria.
__Sim, porém essa não é qualquer festa, é um baile de máscaras, você disse que era seu sonho de infância participar de um, não lembra? - Tocou meu braço me encarando.
__Sim, mas isso era antes Dylan. Não tenho ânimo para isso agora - Desvio o olhar sem graça.
__Corta essa Marina! Está na hora de você voltar a viver, não acha? Não importa onde Samuel esteja, duvido que ficaria feliz vendo você assim. Você vai a essa festa, porque além de ser um baile elegante é importante para empresa, e você como minha secretaria tem que me apoiar. Não vou aceitar um não como resposta, está entendido? - Segurou meu queixo me olhando firme e acabei cedendo.
Depois de abrir a caixa com certeza é, sem sombra de dúvidas, o vestido mais caro que usei em toda minha vida, apenas pelas pedras de brilhantes que estava implantada neles, Dylan era totalmente insano no quesito gastar. O vestido era inteiramente amarelo e rodado, e tinha pedras transparentes ao redor como se fosse um cinto, a máscara também tinha o mesmo detalhe que o vestido, porém era branca. Dylan informou que esse baile de máscaras é para uma campanha importante da nossa empresa, e não satisfeito ele chamou cabeleiras e maquiadores para me arrumar.
Quando olhei meu reflexo no espelho fiquei encantada com o que vi, meu cabelo estava grande e volumoso bem cacheado, a maquiagem não muito forte, porém a sombra tinha brilho que era algo que eu amava. Fazia tempo que não me via tão arrumada, acho que a última vez foi no dia do meu casamento, balancei a cabeça tentando despistar esses pensamentos ou iria acabar ficando deprimida novamente.
A festa já tinha começado no salão, quando a porta do quarto se abriu e Dylan entrou.
__Acho que você já sabe, mas está exuberante - Dei um sorriso tímido olhando seu reflexo no espelho.
__Você também não está nada mau, senhor Dylan - Girei instantaneamente o elogiando. E de fato ele não estava mesmo ruim, Dylan era um homem e tanto sua beleza era quase surreal.
__Eu sei, certamente seremos o casal mais belo dessa festa - Ele pega a mascará que está em cima da cama e dá alguns passos, vindo até mim, me olhando daquela forma penetrante como sempre.
__Posso? - Perguntou educado.
__Sim - Virei-me consequentemente para o espelho enquanto o senhor Dylan amarrava a máscara em mim.
__Incrível, nem a máscara consegue ofuscar sua beleza - Reviro os olhos - Vamos? - Estende o braço e eu concordo - A propósito, feliz aniversário - Sussurrou no meu ouvido e olhei para ele chocada.
Descemos as escadas indo em direção ao salão e não conseguia parar de olhar para homem que me conduzia, por isso sua insistência em que viesse a essa viagem, inclusive a essa festa.
__Não me olha assim, isso é uma festa de negócios, mas também é seu aniversário. Sabíamos que você não aceitaria comemorar sem o Samuel aqui, então resolvi usar o útil e o agradável. Mantem sua postura intacta olhando para frente como se nada pudesse o atingi-lo.
Ao abrirmos as enormes portas do salão, eu abri a boca chocada, o local estava lotado, a decoração perfeita, e nenhum rosto conhecido das pessoas a quais eu amava passou despercebido por mim.
Me pergunto onde elas estavam escondidas todo esse tempo. Pude vislumbrar os mais belos lustres, as mesas alinhadas perfeitamente com toalhas vermelhas, talheres, taças, a iluminação impecável, realmente uma festa dos sonhos, claro que era bem mais que um aniversario, até porque tinha fotógrafos para todos os lados.
__Então? Está feliz? - Perguntou casualmente.
__Sim, estou realmente feliz Dylan - O abracei empolgada e retribuiu o abraço apertado.
__Era essa Marina que queria ver, esse sorriso nos seus lábios - Desenhou sorrindo e o fitei alegremente.
__Meu Deus! Isso está tão lindo - Olhei tudo maravilhada e fui cumprimentar as pessoas da empresa, meus amigos e parentes.
Os convidados chiques começaram a chegar, enquanto Dylan os recebiam eu me encarregava de passear pelo salão e comer todos os doces das mesas escondidos, afinal, o aniversário é meu, não é?! Quando alguém olhava eu disfarçava acenando . Fui até a cozinha e abri a geladeira pegando o enorme bolo que a Valentina fez, vai lá se saber que horas vão servir. Peguei a espátula e tirei um pedaço comendo no escuro mesmo que não é para ninguém saber. Foi então que meus olhos quase foram cegados por flashs vindo do outro lado da porta, meus olhos esbugalharam quando deparam com uma sombra de quase dois metros que me fotografava comendo os doces escondidos.
__Você aí, grandão - Bradei apontando para ele que tirou a câmera e me olhou rapidamente correndo para o salão. Estava disposta a segui-lo e obrigá-lo a apagar as minhas fotos constrangedoras. Quando, atravessando o salão, alguém segurou meu braço me impedindo.
__Marina, dança comigo? - Dylan me convidou e as luzes se apagaram imediatamente, fazendo assim o fotografo desaparecer do meu campo de visão.
__Certo, mas vou deixar bem claro, que eu vou encontrar o fotografo que tirou fotos minhas comendo um pouquinho de nada - Bradei alto para todos ouvirem.
__Marina, o que está dizendo? Dylan colocou meu braço em seu ombro.
__Você não viu? Um fotografo estava tirando fotos minha comendo escondido - Apertei os olhos - Não tão escondido, eu comi só um pouquinho só, não se preocupe. E aquele buraco no bolo, ninguém vai reparar - Dylan riu jogando a cabeça para trás.
__Você é única mesmo, agora foca em mim e na nossa dança, isso é para campanha - Acenei concordando. Comecei a dançar ao som da música romântica, enquanto Dylan me olhava intensamente me deixando desconcertada, sorri sentindo minhas bochechas esquentarem, seu rosto foi se inclinando gradativamente e tive a impressão de que estava prestes a me beijar, por instinto recuei dando um passo para trás e tirei a mão do seu ombro e toquei meu pescoço, foi aí que notei, cadê meu colar?
__Meu colar - Murmurei olhando para ele preocupada. Franziu o cenho confuso e antes de perguntar novamente o deixei no salão e corri para cozinha a procura do meu colar com meu coração a mil, nele estava minha aliança de casamento - Tem que estar aqui - Acendo as luzes e começo a procurar em todos os lugares desesperada, abrindo as gavetas rapidamente. Eu o tirei aqui na verdade, quem tirou foi o Dylan e ele me entregou, onde eu coloquei? No bolso da calça jeans! Imediatamente corri subindo as escadas e fui direto para o banheiro procurar dentro do cesto de roupa suja, encontrei a calça revirei os bolsos e nada do colocar. Meu coração começou a bater descompensado, como extinto meus olhos foram para perto da porta, e avistei no canto direito algo reluzente.
__Graças a Deus, eu o encontrei! - Abaixei e o peguei. Foi quando percebi que minha aliança não estava nele - Não, eu o perdi, perdi a única coisa que me ligava ao Samuel depois da nossa filha. Como eu pude ser tão desatenta? E se eu o deixei no quarto? Se o guardei? Se alguém pegou? - Comecei a pensar em várias coisas sem sentidos e fui para o quarto procurar.
Comecei a revirar todas as cochas, gavetas e nada da bendita aliança. Tirei as sandálias dos meus pés - E se eu deixei no salão? E se ele enroscou na minha roupa e caiu por lá? - Descalça mesmo fui para o salão, entrei disfarçadamente e sem ninguém perceber por que a essa hora todos estavam dançando, me enfiei debaixo das mesas o procurando pelo chão. Se o colar estava na porta do banheiro ele pode muito bem ter sido arrastado para cá, isso é possível? Alguém me diz que é, por favor. Aproveitando a ocasião vejo alguns Cupcakes na mesa, roubo um e começo a comer escondida, quando novamente flashs ofuscam meus olhos quase me cegando. Levanto a toalha da mesa e dou de topo com uma câmera.
__Você de novo! Seu... - Ele abaixa a toalha da mesa e se levanta, se retirando apressadamente. -Não tão fácil seu filhote de Nabucodonosor... - O vejo sair fora do salão indo para o jardim e saiu correndo debaixo da mesa indo na sua direção, escuto barulhos de taças sendo quebradas.
__Me desculpe, prometo que vou recompensar - Olho para os convidados que parecem horrorizados. Aperto os olhos com força, amanhã Dylan vai me esganar viva, de qualquer forma ignoro e sigo atrás do fotografo atribulado. Atravesso o salão indo para fora, quando meus pés tocam a grama áspera, e a brisa fria bate contra meu rosto fazendo meus pelos arrepiarem, mais flashs são disparados contra mim.
__Hei, me dá isso - Grito correndo até ele.
__Apenas se a senhorita vier pegar - Bradou alto. Algo na sua voz parecia familiar, acho que perder o anel está me fazendo ter alucinações auditivas. Sem pensar duas vezes corri rapidamente em sua direção, ele não fugiu pelo contrário, ficou parado brincando com a câmera esperando.
__Me dê isso agora!- Estiquei a mão para rouba-lhe a câmera e ele ergueu para o alto. Como estava de máscara não dava para ver seu rosto, exceto seus olhos castanhos que me fitava como se quisesse ler minha alma, e um singelo sorriso nos lábios. Ele parecia ser elegante pois estava de terno, e seus cabelos eram lisos penteados para trás, não era nem muito curto nem comprido, parecia médio. Sua barba era rala por fazer, o fotografo atrevido ergueu a câmera para o alto, enquanto eu pulava igual canguru tentando alcançá-la.
__Você é tão esquisita - Comentou sorrindo.
__Sério? Eu sou esquisita? Você que tira foto minha sem minha permissão. E eu sou a esquisita? - Falei ofegante tentando alcançá-lo.
__Cuidado! - Meu pé derrapou, e teria caído para trás se não fosse dois braços fortes me abraçarem impedindo minha queda. Fiquei deitada sentindo meu coração disparado enquanto o fotografo me olhava quase como paralisado. Por algum motivo também não conseguia despregar meus olhos dos seus, tinha algo em seu olhar que...Não Marina, Samuel está morto, para de ver ele em qualquer homem que aparece na sua frente.
__Já pode me soltar - Dou tapas no seu braço tentando me mover para sair.
__Claro madame - Sua voz sai grave, consecutivamente minhas costas se chocam no chão e bato minha cabeça na grama. O escuto rir, inclino o corpo para frente e o fuzilo com o olhar - Foi você quem pediu - Se agacha perto de mim com as mãos erguidas na defensiva.
__Que obediente você é... Então se eu pedir para você se jogar daquele monte, você se joga?
__Sou obediente, não burro - Retruca, apoiando o cotovelo no joelho - Me dê sua mão, eu te ajudo levantar. Estende a mão e miro meio hesitante, mas acabo rendendo.
__Obrigada - Sorrio pegando sua mão e quando a seguro, sinto como se tivesse recebido um choque elétrico e a solto imediatamente. Limpo meu vestido tirando os matos disfarçando.
__Agora pode apagar minhas fotos - Digo sem olhá-lo.
__Porque? Se eu adorei elas. Acho que nunca vi alguém aproveitar tão bem as comidas das festas como você, geralmente essas festas são entediantes, mas hoje por sua causa foi divertida - Comenta sorrindo carismático.
__O que ótimo que te servi como espetáculo de circo - Cruzo os braços irritada.
__Na verdade não, o circo não é tão engraçado quanto você. Mas me diga, comer debaixo da mesa deve ser bem melhor do que comer em cima dela, não é? - Debocha da minha cara.
__Para sua informação, não estava comendo debaixo da mesa, estava procurando minha aliança de casamento que eu perdi - O olho seriamente apontado o dedo na sua direção.
__Qual aliança? Por acaso é essa que está no seu dedo? - Aponta para mim mão e meu olhar se direciona automaticamente para o objeto.
__Não pode ser, estava aqui o tempo todo. Minha aliança querida - Começo a beija-la freneticamente - Obrigada Deus!!! - Estendo as mãos para o alto e escuto sua risada, giro o rosto rapidamente e o fuzilo com o olhar.
__Desculpa - Ele arranha a garganta - Você quer suas fotos, não quer? - Assenti - Ótimo, eu lhe dou se aceitar dançar uma música comigo.
__Está falando sério? - Cruzo os braços desconfiada.
__Sim, uma dança em troca das suas fotos - Insiste.
__Está bem, não tenho nada a perder - Sem falar mais nada ele joga a câmera na grama ao lado, segura minha mão e me rodôpia me puxando para ele com firmeza, o encaro surpresa. A música melancólica começa a tocar, enquanto o homem desconhecido começa a me conduzir lentamente no ritmo da canção. Meu coração estranhamente palpita fora do ritmo e percebo que minhas mãos estão suadas, ele gira nossos corpos lentamente com um leve sorriso nos lábios.
__Sabe, é uma pena estar casada, mesmo por debaixo dessa máscara posso ver que é a mulher mais bela que já vi em toda minha vida, seu marido é um homem de muita sorte - Sussurrou no meu ouvido e um arrepio subiu pela minha espinha - Não apenas isso, seu cheiro... Esse cheiro especificamente está me deixando louco... - Ele aspira meu aroma próximo ao meu pescoço afastando o cabelo dos meus ombros como o Sam fazia e minha respiração para na garganta, ele gira o pescoço capturando meus olhos. Desvio o olhar alguns segundos, em seguida o olho novamente e encaro seus lábios e retorno a fitar o chão desconcertada. Meu Deus! Por que sinto como se não houvesse oxigênio nos meus pulmões? Seus dedos deslizam meu braço subindo e seguram meu queixo delicadamente, buscando meus olhos.
Era quase como se fosse um imã e não pudesse evitar de olha-lo, inclina a cabeça na minha direção como se estivesse a ponto de me beijar e imediatamente fecho os olhos em expectativa. Eu não sabia porque estava me rendendo facilmente, eu simplesmente desejava ardentemente que fosse o Samuel agora, que por trás dessa mascará fosse o homem que eu amava. No entanto o beijo não aconteceu, abri os olhos e um vestígio de arrependimento passou em seus olhos castanhos opacos, como se ele soubesse que precisava me soltar, porque passou dos limites.
- É uma pena mesmo que seja casada, porque diria que acabei de encontrar a mulher da minha vida...
Eu deveria dizer que não sou casada?
Se eu dissesse o que mudaria?
Ele é apenas um estranho, não é?
O que raios você está fazendo sua louca? Essas fotos são tão importantes? Ou você está se deixando ser seduzida por esse belo homem porque sua voz e a forma como te olha se parecem com a do Sam? Não esqueça que ele morreu e você disse que daria uma chance ao Dylan.
__Não! Agora não é hora, saia daqui!!! - Grito com minha voz interior.
__Calma, fiz algo de errado? - Segura meus ombros me afastando.
__Você nada, foi ela - Olho para cima da minha cabeça - Esquece, você não pode vê-la, me desculpe - Tento me justificar.
__Tudo bem, enquanto a você? Posso vê-la por trás dessa mascará ou não? - Ele abre um sorriso e fico hipnotizada. Abro a boca para responder quando a voz do Dylan surge.
__Marina, cadê você?!
__Desculpa, tenho que ir, estão me chamando lá dentro. Por favor, cumpra com o trato e apague todas as fotos - Sem dar a chance dele replicar me desvencilho dos seus braços e corro para dentro do salão com meu coração acelerado e a estranha sensação de ter deixado algo importante para trás.