1.2
— Este é seu quarto.
Entrei e avaliei o espaço. Pequeno, mas confortável. Havia uma cama de solteiro, um guarda-roupa embutido e uma pequena escrivaninha encostada na parede. Uma janela estreita dava vista para os jardins laterais da propriedade.
— As babás anteriores ficavam no quarto ao lado — Teresa comentou, apoiando-se no batente da porta. — Mas, como você vai morar aqui por tempo indeterminado, achei melhor te dar um pouco mais de privacidade.
— Agradeço. — Coloquei minha mala ao lado da cama e deslizei a mão pelo cobertor de linho. O quarto era modesto se comparado ao resto da casa, mas era bem melhor do que muitos lugares onde já dormi na vida.
Teresa me observou por um instante antes de cruzar os braços.
— Agora que você conheceu Giorgia, vamos falar sobre o pai dela.
Eu me endireitei, mantendo minha expressão neutra.
— Matteo Bianchi tem uma rotina extremamente regrada. Acorda cedo, sai para trabalhar e geralmente volta tarde. Durante o dia, raramente o verá por aqui. Ele não gosta que perturbem sua rotina, então sua obrigação é simples: cuide de Giorgia e não o incomode.
Dei um leve aceno de cabeça.
— Entendido.
— O café da manhã é servido às oito. Giorgia tem aula com um tutor particular três vezes por semana, e nos outros dias ela pode brincar no jardim ou na sala de piano. O almoço é ao meio-dia, e à tarde você pode levá-la para passear dentro da propriedade. Mas nunca saia com ela sem avisar.
Ela fez uma pausa, estreitando os olhos para mim.
— Matteo é um homem meticuloso. Ele confia em poucas pessoas. Se você quer ficar aqui por um tempo, sugiro que não dê motivos para ele duvidar de você.
Tentei segurar um sorriso irônico. Se ele soubesse a verdade, não haveria qualquer espaço para confiança.
— Não será um problema — garanti.
Teresa me observou por mais alguns segundos antes de soltar um suspiro.
— O jantar é às sete. Giorgia dorme às nove. Depois disso, o resto do seu tempo é livre. Mas uma última coisa…
Ela se inclinou ligeiramente para frente.
— Nunca, sob nenhuma circunstância, entre no escritório de Matteo.
Se havia uma regra tão rígida sobre isso, então aquele era exatamente o lugar que eu deveria investigar.
Fiz um aceno de cabeça, fingindo não dar importância.
— Certo. Vou respeitar as regras.
Teresa me lançou um olhar carregado de desconfiança, mas não disse mais nada.
— Ótimo. Você começa agora.
E, com isso, ela se virou e saiu do quarto, me deixando sozinha para absorver tudo.
Respirei fundo, sentindo o peso da missão se instalar ainda mais nos meus ombros. Eu tinha conseguido entrar na mansão Bianchi. Agora, só precisava descobrir como sair viva dali quando tudo terminasse.
Esperei até ouvir os passos de Teresa sumirem pelo corredor antes de me mover.
A primeira coisa que fiz foi me sentar na cama, soltando um suspiro longo. Finalmente estava dentro da mansão. Isso era um passo crucial para minha missão, mas, por algum motivo, a sensação de alívio não veio.
Talvez fosse o peso da mentira. Ou talvez fosse porque, agora que eu estava aqui, a parte difícil realmente começava.
Levantei-me e abri a mala. Minhas roupas estavam dobradas de maneira impecável, exatamente como Damian havia organizado antes de me entregar essa nova identidade. Simples, discretas. Nenhuma peça chamaria atenção. Camisetas neutras, calças confortáveis, um ou outro vestido para ocasiões mais formais. Tudo pensado para me fazer parecer apenas uma babá comum.
Peguei a pilha de roupas e comecei a guardá-las no pequeno guarda-roupa embutido. Enquanto pendurava algumas blusas, senti o peso frio da faca presa no fundo da mala.
Minha mão parou por um instante.
Puxei o objeto lentamente, sentindo a familiaridade do cabo contra minha palma. Uma lâmina pequena, afiada. Uma lembrança do que eu realmente estava fazendo aqui.
Guardei a faca na gaveta mais baixa do guarda-roupa, escondida entre algumas roupas. Por enquanto, minha única arma era o tempo.
Continuei organizando minhas coisas. Coloquei os poucos itens de higiene pessoal sobre a pequena escrivaninha, dobrei um moletom e o deixei sobre a cadeira. Quando terminei, a mala estava vazia.
Fechei o zíper e a empurrei para baixo da cama.
Agora, eu oficialmente fazia parte dessa casa.
Um arrepio percorreu minha espinha ao pensar nisso.
Antes que eu pudesse me perder nos próprios pensamentos, um som suave chamou minha atenção.
Uma risada infantil.
Meus ombros ficaram tensos. Giorgia.
Fechei os olhos por um instante. Eu precisava manter o foco. Essa menina não podia se tornar um problema para mim.
Mas, no fundo, algo me dizia que já era tarde demais para isso.
A porta do meu quarto se abriu lentamente, e uma pequena cabeça loira apareceu no limiar, os olhos curiosos e observadores. Giorgia estava ali, com um sorriso tímido, como se não tivesse certeza do que esperar de mim.
— Oi, Isabella. — Sua voz era doce, mas havia algo de reservado nela, como se estivesse me avaliando.
Parei de arrumar as roupas e a observei por um momento, um pouco surpresa com a visita, mas tentei manter a expressão amigável.
— Oi, Giorgia. Como você está? — Perguntei, sorrindo suavemente.
Ela deu um passo mais para dentro do quarto, fechando a porta com um estalo suave atrás de si.
— Eu estou bem. Hoje é domingo, então não tenho escola. — Ela se aproximou da janela e olhou para fora, como se observasse o jardim. — Posso ir brincar lá fora?
Fiquei em silêncio por um momento, pensando. Teresa havia me dito que eu deveria mantê-la ocupada, mas também me avisou sobre a importância de seguir a rotina. Ainda assim, era domingo, e o dia estava claro e ensolarado.
— Claro, você pode brincar no jardim, mas… — Fui interrompida pela expressão dela, que ficou radiante ao ouvir minha resposta.
— Vou pedir para o papai? — Ela perguntou com olhos esperançosos.
A pergunta me fez hesitar. Como funcionava a dinâmica entre ela e Matteo? De acordo com Teresa, Matteo era muito protetor, mas também estava distante, concentrado no trabalho. Ainda assim, seria arriscado ir contra as regras logo de cara.
— Eu posso perguntar para ele se você quiser — disse, tentando parecer natural.
Giorgia sorriu largamente, com os olhos brilhando de animação.
— Ele vai deixar, eu sei! — Ela correu para a porta e antes de sair, se virou. — Eu volto em um minutinho!
Eu observei enquanto ela desaparecia no corredor, um tanto surpresa com a energia dela. Talvez, apenas talvez, Giorgia não fosse tão difícil de lidar quanto eu pensava.
Fiquei ali por um momento, sozinha no quarto, refletindo sobre a situação. Minha missão estava apenas começando, e uma parte de mim sabia que me envolver com a menina não ajudaria. No entanto, não pude deixar de me sentir um pouco cativada pela sua pureza, por sua confiança inabalável, como se ela estivesse realmente tentando me fazer parte de sua vida.
Antes que eu pudesse pensar mais sobre isso, ouvi os passos de Giorgia voltando. Ela entrou no quarto, com uma expressão mais animada agora.
— Papai deixou! Ele disse que posso ir para o jardim, mas você tem que ir comigo. — Ela sorriu com tanta sinceridade que me fez parar por um momento, questionando se eu deveria realmente me envolver de forma tão rápida.
— Vamos lá, então — respondi, tentando manter a compostura.
Saímos do quarto e caminhamos pelo corredor em direção ao jardim, uma sensação estranha me invadindo. Eu tinha que manter minha missão em mente, mas, naquele instante, a presença de Giorgia parecia me puxar para longe dos meus pensamentos sombrios.
