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1.1

O portão imponente da mansão Bianchi se abriu lentamente, como se me desse tempo suficiente para reconsiderar tudo e simplesmente dar meia-volta. Mas esse não era um luxo que eu podia me permitir.

Ajustei a alça da bolsa no ombro e segurei firme a mala de rodinhas. O vento frio da Toscana bateu contra minha pele, e respirei fundo antes de dar os primeiros passos para dentro da propriedade.

Isabella Carter.

Esse era meu nome agora. A identidade que Damian providenciou. Eu deveria ser apenas uma babá, mais uma funcionária da casa, invisível o suficiente para passar despercebida.

Mas esse era o problema. Ninguém passa despercebido aos olhos de Matteo Bianchi.

O homem que eu deveria matar.

A porta da frente se abriu antes mesmo que eu pudesse tocar a campainha, revelando uma mulher de meia-idade com expressão fechada e olhar avaliador.

— Você deve ser Isabella. — A voz dela era firme, e seus olhos percorreram cada detalhe meu, como se estivessem tentando encontrar algo errado.

Teresa Mancini. Governanta da casa e, pelo visto, uma mulher que não confiava em estranhos.

— Sim. — Sorri, mantendo o tom profissional. — É um prazer conhecê-la.

Ela não pareceu convencida, mas deu um passo para o lado para que eu entrasse.

A mansão era ainda maior do que eu imaginava, com pé-direito alto, decoração luxuosa e um silêncio quase intimidador. Cada detalhe gritava poder e perigo.

— Giorgia está no quarto dela. Você começará hoje mesmo. — Teresa fechou a porta atrás de mim e cruzou os braços. — Mas saiba de uma coisa: essa menina é tudo para Matteo. Se você machucá-la, se tentar qualquer coisa suspeita…

Ela não terminou a frase, mas o aviso estava claro.

— Entendido. — Respondi sem hesitar.

Teresa não disse mais nada, apenas fez um gesto para que eu a seguisse. Suas passadas eram firmes, o som dos saltos ecoando pelo chão de mármore enquanto atravessávamos um longo corredor.

Entramos na cozinha, um ambiente grande e moderno, mas sem perder o toque clássico que combinava com o restante da mansão. Havia um aroma de café fresco no ar, e uma panela de ferro repousava sobre o fogão, ainda quente.

Teresa pegou um caderno de capa de couro sobre a bancada e o abriu. Seu olhar voltou para mim com a mesma seriedade de antes.

— Vou deixar algumas coisas claras, Isabella. — Ela se apoiou na bancada, cruzando os braços. — Sua principal responsabilidade é Giorgia. Matteo pode ser o dono dessa casa, mas a vida dele gira em torno daquela menina.

Assenti, ouvindo atentamente.

— Ela tem seis anos, é esperta e observadora, mas um pouco… difícil, às vezes. — A governanta folheou o caderno até encontrar a página que queria. — Acorda às sete e meia. Café da manhã às oito. Depois, tem aulas particulares até o meio-dia.

Ela virou o caderno para mim, onde uma rotina detalhada estava anotada em uma caligrafia impecável.

— Depois do almoço, ela tem uma hora livre para brincar. Matteo gosta que ela passe esse tempo no jardim, se o tempo permitir. Às duas, tem aula de piano. Às quatro, outra hora livre. Jantar às sete. Banho e cama às oito e meia.

Os olhos dela voltaram para mim com um peso a mais.

— Matteo pode ser um homem ocupado, mas sempre janta com ela. Ele nunca falha nisso.

A informação ficou registrada na minha mente.

— Se precisar de algo, eu estarei por perto. Mas não me faça perder tempo com perguntas óbvias. — Ela fechou o caderno com um som seco. — Acha que consegue lidar com isso?

Havia um desafio nas palavras dela, como se estivesse esperando por qualquer sinal de hesitação.

Sorri, mantendo minha expressão tranquila.

— Sim. Eu consigo.

Teresa me avaliou por mais alguns segundos, como se ainda não estivesse convencida, mas por fim deu um aceno curto.

— Ótimo. Agora vou te levar até Giorgia.

Ela saiu da cozinha sem esperar por mim, e eu a segui. Meu coração acelerou um pouco.

Essa era a parte mais importante.

Porque conquistar a confiança de uma criança não era apenas uma estratégia. Era o primeiro passo para me infiltrar de verdade nessa casa.

E, no fundo, uma parte de mim temia que essa parte fosse mais difícil do que qualquer assassinato.

Subimos uma escada larga e bem iluminada, os degraus de madeira polida rangendo suavemente sob nossos pés. Teresa não dizia nada, e eu também não tentava puxar conversa. Apenas absorvia cada detalhe ao meu redor: as obras de arte nas paredes, os corredores extensos, o silêncio quase opressor.

No final do corredor, Teresa parou diante de uma porta branca e bateu duas vezes antes de girar a maçaneta.

— Giorgia, querida, sua nova babá chegou.

Ela deu um passo para o lado, me dando passagem.

Respirei fundo antes de entrar.

O quarto era grande, decorado em tons suaves de azul e branco. Uma estante repleta de livros infantis ocupava uma parede inteira, e ao lado da enorme janela havia um piano pequeno. No centro do tapete felpudo, sentada com as pernas cruzadas e segurando um ursinho de pelúcia, estava Giorgia Bianchi.

Ela ergueu os olhos para mim e franziu a testa.

Não disse nada. Apenas me analisou, como se tentasse decidir se eu era digna da sua atenção ou não.

Me ajoelhei devagar, mantendo um leve sorriso no rosto.

— Oi, Giorgia. — Minha voz saiu suave, sem exageros infantis. — Meu nome é Isabella. Vou cuidar de você a partir de agora.

Ela apertou o ursinho contra o peito, sem tirar os olhos de mim.

— Eu não preciso de uma babá.

O tom era firme, mas havia uma insegurança por trás da bravata.

— Ah, então está me dizendo que já sabe cozinhar sozinha? E se vestir?

Ela mordeu o lábio, hesitante.

— Sei escolher minha roupa.

— Isso já é um bom começo. — Inclinei um pouco a cabeça. — Mas o que me disseram é que eu não estou aqui só pra cuidar de você. Estou aqui para ser sua amiga.

Ela franziu ainda mais a testa.

— Amiga?

— Sim. Alguém pra conversar, brincar… E, talvez, tocar piano junto. — Olhei para o instrumento ao lado da janela. — Você gosta de tocar?

Giorgia hesitou, mas acabou assentindo.

— Meu papai me ensinou.

A menção a Matteo fez algo no meu peito apertar por um segundo. Eu deveria ver aquele homem como um alvo, mas não conseguia ignorar que, para essa menina, ele era apenas um pai.

— Deve ser muito bom nisso. — Mantive meu tom tranquilo. — Quem sabe um dia você me ensina?

Ela ponderou a ideia por um instante, e então olhou para Teresa, como se esperasse algum tipo de aval.

A governanta não disse nada, mas cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha. Como se dissesse: “Você decide.”

Giorgia virou de volta para mim e soltou um pequeno suspiro.

— Tá bom… Mas só se você souber contar histórias legais.

Sorri.

— As melhores.

Pela primeira vez, ela pareceu relaxar um pouco. Não era uma vitória completa, mas era um começo.

— Certo, já foi o bastante por agora. — Teresa interveio. — Vamos deixar Isabella se instalar.

Giorgia apenas assentiu e voltou a abraçar seu ursinho. Me levantei, e Teresa me indicou a porta com um gesto.

Saímos do quarto, e quando a porta se fechou atrás de nós, Teresa me lançou um olhar avaliador.

— Não foi um desastre.

Teresa me guiou para fora do quarto de Giorgia, e descemos a escada principal em silêncio. O peso do primeiro encontro com a menina ainda pairava sobre mim. Ela era esperta, desconfiada e apegada ao pai – o que tornava minha missão ainda mais complicada.

Passamos pelo grande salão da mansão, onde um enorme lustre de cristal iluminava cada canto. Os móveis eram sofisticados, de tons sóbrios, e o silêncio no ambiente dava a sensação de que tudo ali estava sempre sob controle.

Seguimos por um corredor que se estendia até os fundos da propriedade. Diferente do restante da casa, essa ala era mais simples, com paredes brancas e portas de madeira. Teresa parou diante de uma delas e empurrou-a para dentro.

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