Três
William Blackwell
Não sei ao certo o que me motivou aceitar a ideia absurda de Roger.
Como uma noiva de mentira arrumaria as mentiras que criei?
Não faço ideia da resposta para esse dilema.
Embora seja a melhor agência e todos que precisaram dos serviços elogiam tudo que vivenciaram, de forma intensa e verdadeira, ainda me sinto tentado a dar meia volta e ir para casa, esquecendo de tudo que conversamos nas últimas horas.
Deveria ligar para minha mãe e inventar uma desculpa, mas com certeza ela viria me buscar onde quer que estivesse.
Ela é persistente.
Mas as dúvidas lentamente foram se esvaindo quando a vi.
Ela é um lindo anjo delicado que parece estar aqui para me tirar do eixo.
Fecho a porta e quando ela ouve o clique, sibila:
— Aprecio imensamente a pontualidade.
Prendo o fôlego quando ela se vira, desligando o celular e posso então observá-la de cima a baixo e suspirar lentamente soltando o ar.
Ela é belíssima!
Um sorriso malicioso se forma em meus lábios e ela apenas sorri ao notar minha indiscrição.
— Também aprecio a pontualidade, mas até agora não me falou seu nome.
A mulher se aproxima sem cerimônia e seu andar é sem nenhum medo ou anseio. Ela sabe o que está fazendo e estende a mão.
— Stephany Miller!
Aperto sua mão gentilmente e sinto um calor descomunal. Encaro seus olhos castanhos com um tom caramelado e posso sentir uma forte conexão.
— Willian Blackwell, o prazer é todo meu. — Minha voz sai mais rouca que o normal. — Tomei a liberdade de pedir o prato do dia, logo irá subir e ser servido. — Vou até à mesa redonda que está ao lado da cama e me posiciono atrás da cadeira, esperando que ela sente.
Mas, para minha surpresa, ela se senta na minha frente com um ar de mistério, me analisando de cima a baixo.
Percebo que quando nosso olhar se encontra, ela morde o lábio inferior e isso é golpe baixo.
— Não sou uma boneca de porcelana que necessita de cuidados, o cliente aqui no caso, é o senhor. — Se ajeita na cadeira e aguarda que me sente, o que faço em seguida. — Sou a dona da agência, após conversar com o senhor, percebi que não importava quem mostrasse, acharia algum meio de dispensá-la. Mesmo com tão pouco tempo de busca, vejo que não confia totalmente na minha empresa.
Olho ao redor e vejo um quadro com um navio muito belo pintado, há embaixo alguns copos e algumas bebidas.
— Creio que possa ter certa razão, mas vamos aos negócios. Aceita uma bebida? — Levanto indo até às bebidas.
— Um uísque puro — pede e nos sirvo.
Volto para mesa e entrego a ela sua bebida.
— Gosto peculiar para uma mulher.
Maldita hora que falo isso, pois, parece que seus olhos brilham de indignação.
— Seu gosto também é peculiar e nem por isso tentei te minimizar. Agora vamos ao que realmente interessa... Li que precisa de uma noiva por quatro dias, está correto? — Vai direto ao assunto sem pestanejar.
— Sim, é o que preciso. Agora me diga, por que a dona da empresa fará esse trabalho, sendo que pode colocar qualquer uma?
Ela sorri bebendo.
Por um momento, meus olhos recaem em seu decote e bom, não dá para disfarçar que a curiosidade me atiça em saber como são seus seios sem essa roupa toda.
— Simples, senti sua insegurança e falta de confiança. Não iria mandar qualquer uma para estragar algum detalhe. Não pode ter falhas, nem indiscrição. — Faz uma pausa ao ouvir o tocar da campainha.
Ela se levanta e vai atender, em seguida o rapaz entra com um carrinho com nosso almoço e serve os pratos. Dispõe os talheres e guardanapos na mesa, e, após receber uma gorjeta, se retira agradecendo.
— Prezo demais minha agência e mesmo sabendo da competência de todos que trabalham comigo, você é um cliente diferenciado. Assim que desliguei o celular, seu amigo, Roger, um cliente antigo e importante, me contou alguns detalhes que me fizeram repensar quem mandaria no final. Agora me diga, qual será a nossa história?
Observo sua sinceridade e a aprecio, mas Roger não deveria ter falado nada.
— Onde nos conhecemos?
Ela balança a cabeça em afirmativa e retira a travessa que cobre a comida depois se ergue, retira a minha e volta a se sentar.
Não sei o que responder.
— Não pensei neste detalhe, fui pego completamente de surpresa. — Sou sincero e ela sensualiza ao levar o pedaço de carne a boca.
— Sou dona de uma agência de modelos, tendo em vista que preciso sempre estar com equipamentos e tecnologia de ponta é aí que você entra. Nos conhecemos há dois anos em um jantar de negócios entre nossas empresas, chamei sua atenção no primeiro momento e recusei seu convite para um lugar mais reservado.
Ela é muito boa no que faz, pois, não saberia o que inventar, e pior, improvisaria na hora.
— Após terminar de instalar os novos softwares da minha empresa e muita insistência da sua parte, saímos para um drink.
"Rimos, nos conhecemos mais intimamente, e, após alguns jantares, coquetéis e claro cinema, você conquistou meu coração.
"Quando fizemos amor pela primeira vez, percebi que era o homem da minha vida."
Faz uma pausa para comer um pouco do risoto de frutos do mar, que está delicioso.
— Mas, infelizmente, minha empresa queria expandir e teria que me mudar. Então, você preparou um jantar à luz de velas em uma ilha paradisíaca, me pediu em namoro e me convenceu a ficar para dar uma chance ao nosso amor! — Após uma pausa e um gole no uísque, ela docemente pergunta: — Uma linda história de amor... Vamos aprimorá-la no voo até o casamento, que, até agora, não sei de quem se trata. Deve ser de alguém que não gosta, mas que um dia já gostou e ela deve tê-lo magoado imensamente. Algo me diz que é mais de uma pessoa.
Deveria odiá-la por me ler tão bem, pois, nenhuma outra pessoa o fez antes.
— Você deveria ser psicóloga.
Ela sorri tão intensamente como se a elogiasse que até esqueço o que iria dizer.
— Se trata da minha ex-noiva e do meu irmão.
Ela eleva a mão a boca e posso notar que está ruborizada.
— Mas o motivo maior é minha mãe. Ela não aceita que o filho mais novo se casará com a mulher que me trocou, então inventei uma namorada e ela entendeu que era uma noiva.
Seu sorriso doce me encanta.
Quando findo o almoço, ela leva o guardanapo à boca, sensualmente limpa os lábios e confesso que fico tentado a beijá-la.
— Meus clientes sempre perguntam o preço antes de negociar os termos, você não fez nem uma coisa, nem outra...
— Bom, até onde sei, não sou seu cliente ainda e nem sei se serei — digo interrompendo sua fala e posso notar um brilho genuíno em seu olhar.
Ela começa a rir e é uma risada doce e contagiante.
— Qual é a graça, senhorita Miller?
— Senhor Willian, já é meu cliente desde o momento que entrou por essa porta. Só está tentando ser o macho alfa para tentar me intimidar e confesso que não está dando certo. Agora vamos aos valores e termos. — Levanta da cadeira e nem sei o que responder.
Tenho pouco tempo, e se Roger diz que ela é a melhor, o que posso fazer?
Ela pega uma pasta preta em sua bolsa e me entrega em mãos.
— Aqui está o contrato com todos os termos do nosso acordo. A última página contém o valor do serviço e o que o pacote oferece. Tudo que precisar ou desejar que esteja fora do contrato será pago um adicional para cada item, dependendo do que seja, será cobrado por dia ou momento.
Ela está perto demais e agora posso sentir seu perfume adocicado.
— Vou ler agora mesmo, mas antes me responda; qual é o seu perfume?
Ela inclina seu corpo para frente e retira o cabelo do pescoço. Quando me aproximo, tenho desejo de tocá-la.
— Démon da Givenchy, meu preferido. — Senta na cama e começo a ler seus termos.
— Trezentos mil dólares por quatro dias completos e está incluso uma cláusula que se eu quiser escolher todas as roupas que ela vista que as banque. — Engulo em seco ao elevar o olhar, ver que ela está com as pernas cruzadas e o vestido subiu o suficiente para revelar o caminho da perdição.
— Sim, alguns homens são controladores, e, a meu ver, é essencial que esteja no padrão das mulheres com quem sai. Acho que podemos ir em algumas lojas e lá poderá escolher o que deseja.
Concordo balançando a cabeça, será uma tortura.
— Agora devo lembrá-lo que meus olhos ficam mais para cima. — Morde os lábios e a encaro. — Retomando, é extremamente importante que nos vejam juntos em várias situações. Precisamos agir com naturalidade e sincronia, como se fosse normal passarmos momentos agradáveis, intensos e românticos juntos. Mas no quarto ou sozinhos, poderemos ser nós mesmos, sem fingimentos.
Ela é realmente boa e sabe como usar as palavras.
— Concordo. Assim que discutirmos os termos, podemos sair. — Avalio os demais termos, retiro do paletó, a carteira, pego o talão de cheque e escrevo o valor solicitado. — Mas sobre o sexo, não há necessidade, nunca paguei por sexo e não será agora que farei. Se quiser me satisfazer, darei meu jeito. Retirando o sexo, toques, carícias, beijos e afins que fazem parte de um relacionamento, é permitido e está no pacote. — Suspiro aliviado.
Se não posso a levar para cama, posso ao menos subestimá-la e quem sabe a levar para cama através da sedução, mas não é o prato principal aqui.
— Alguma dúvida?
Nego balançando a cabeça, assino o contrato e me levanto entregando a ela, o cheque e o contrato.
— Tudo que deseja que faça e fale tem que me dizer. Irá precisar me mostrar fotos, dizer quem é cada parente na festa e o que posso esperar deste casamento.
— Claro, vamos conversando no caminho, temos a tarde toda para nos conhecermos.
Ela passa a língua pelos lábios e antes que dê por mim, seguro sua cintura, a puxando para mim.
Não há protesto.
Ela apenas entreabre os lábios e digo:
— Tudo que não quiser que faça, que não goste ou algo do gênero, me avise.
— Está pedindo permissão para me beijar, senhor Blackwell?
Sorrio para sua reação completamente diferente do que previ.
Ou ela é realmente muito boa, ou o jogo que jogamos está começando a ficar mais interessante.
— Não, apenas dando uma opção — sussurro roucamente.
Posso sentir a tensão que estamos sentindo, será difícil resistir a ela.
Poderia facilmente levá-la para cama, não procuro romance nem relacionamento, mas ela está mexendo comigo de uma forma inexplicável.
— Prove!
Ela não precisa pedir duas vezes, logo meus braços envolvem seu pescoço e busco seus lábios até os tomar em um beijo intenso.
Será uma longa semana!