Quatro
Stephany Miller
Trabalho no ramo de relacionamentos há mais de quinze anos.
Possuímos mais de cem contratados e uma lista vasta de clientes ao redor do mundo.
Somos uma empresa séria e só fica conosco quem passa por um longo e intenso teste, e preparo árduo para não só atender, mas também para negociar com os clientes.
Nossa sociedade é puramente de imagem e sempre precisam de pessoas como nós para certos trabalhos que requerem perfeição.
Minha mãe começou com esse negócio e, hoje, ela teria orgulho de como nos tornamos renomados. Só temos tal status porque exijo perfeição e discrição, e nunca sabem quem são as contratadas.
Não somos uma empresa física, mas online, que possui domínio privado com apenas um questionário que nos ajuda a selecionar a candidata ideal para o trabalho.
Sempre que temos um cliente difícil, entro em cena e o ajudo a explorar tudo que podemos fazer para que nossa encenação seja convincente e perfeita.
Recebi um pedido inusitado de uma noiva, admito que já tive muitos pedidos, inclusive alguns estranhos e até incomuns.
Mas nunca pediram uma noiva.
Ainda mais que seria algo que requer um longo tempo antes do término, tendo em vista que precisa existir algo físico para comprovar.
O prazo estipulado por ele é relativamente pequeno e minha equipe precisa ser precisa.
Sei que ele irá ao encontro e fechará o negócio comigo, pois, além de ser a melhor, ele possui pouco tempo para escolher, o que me torna sua escolha prática.
Quando Roger, um antigo cliente e amigo, me ligou após meu primeiro contato com o cliente, entendi que o mesmo, além de rico, é um homem desconfiado.
Será aquele tipo de cliente que não posso mandar qualquer menina, e é nessas horas que entro, mesmo tendo cinco meninas que estou treinando para serem minhas substitutas.
Estou me aposentando dos trabalhos em campo, prefiro ultimamente apenas comandar.
A única coisa que o cliente precisa é sair comigo à tarde, escolher as roupas e, consequentemente, o anel.
Tudo está planejado.
Meus homens irão tirar fotos, criar eventos e montagens para que sejamos um casal real. Temos hackers que cuidarão das mídias e irão inserir nas redes sociais, colunas sociais e mídias incontáveis. Tudo para que a história criada seja a mais real possível.
Antes de ir ao seu encontro, coloco o ponto no ouvido, ele é transparente e com boa captação. Tudo que falarmos será ouvido e assimilado por minha equipe, para que no final da noite sejamos um casal apaixonado.
— Rapazes, ouçam cada detalhe e nos sigam para que registrem os momentos. Criem histórias e nem preciso dizer que tudo precisa ser real — oriento minha equipe sobre os detalhes que precisam saber para que nada dê errado. — Esse cliente é daqueles difíceis, então foco!
— Sim, chefe, estaremos a uma distância segura e imperceptível. Nada pode, nem dará errado! — diz Eliza que é a gerente desse setor.
Tudo que envolve tecnologia e photoshop passa pelos olhos críticos de Eliza.
— Obrigada, Eliza, agora foco que iremos começar! — Saio da picape preta e caminho em direção ao hotel.
Assim que entro, me apresento e, após receber a chave, espero pacientemente sua chegada.
Como cheguei mais cedo no hotel, fiquei esperando que ele chegasse e quando entrou no quarto, tive uma bela surpresa.
Mas o homem que conheci no telefone em nada se parece com o homem que pensei que era.
Ele é um homem muito bonito, que pode ter qualquer mulher e ser casado pela idade que aparenta, ainda mais possuindo um belo patrimônio.
Descobri que ele tem uma filha de treze anos que mora com a mãe, uma amiga do tempo da escola. A menina se parece muito com o pai pela foto que vi e sei que eles são bem próximos. Pelo que li, ele ama a filha e faz tudo por ela.
Ele é convencido, intenso e um homem difícil de lidar, mas gosto de um bom desafio.
Ao longo do almoço conversamos e posso conhecê-lo melhor, ver suas inseguranças e o que precisa.
Já no final do almoço decidimos nossa história e agora minha equipe só precisa fazê-la se tornar real.
Mas em meio a assinatura do contrato e o fim da negociação ele quer provar que é profissional, segura minha cintura e prova meu beijo, assim como provo o seu.
E seu beijo é saboroso tanto que gemo baixinho em meio a ele.
Não deveria acontecer, mas o que tem de mal em um beijo?
Aliso seu pescoço enquanto sinto suas mãos subirem e descerem em minhas costas. Sua língua acaricia a minha e nosso beijo é um tanto quanto urgente.
Nossos lábios se movem com sincronia, nossas cabeças se movem junto as bocas e ele me faz andar para trás.
Percebo o perigo eminente em cair na cama e acabar cedendo.
Ele está convencido de que me levará para cama de graça, mas antes que isso possa vir a acontecer, separo nossos lábios bruscamente e me afasto sem demostrar que estou afetada pelo beijo.
Mas ele está, posso ver que está duro e não consigo deixar de observar bem o volume em suas calças, do tipo que toda mulher deseja.
— Acredito que já provou que temos química, mas temos que nos apressar, senhor Willian.
Ele ajeita o terno e a gravata, me afasto e vou ao banheiro ajeitar meu vestido e cabelo.
Quando retorno, ele está na porta à minha espera.
— Temos uma química convincente, até senti que desejava que a deitasse na cama.
Respiro fundo com seu comentário inapropriado.
— Eu também senti a química.
Seus olhos acompanham o caminho dos meus e ele sorri de forma maliciosa.
— Devemos sair de mãos dadas? — Tenta desviar o assunto e nego balançando a cabeça. — Por que não? — indaga curioso.
— Porque é clichê demais, pareceria que estamos fingindo... Coloque a mão em minha cintura e me conduza. — Pego minha bolsa e guardo a pasta e o cheque.
Ele faz o que digo quando me aproximo e saímos do quarto como um casal.
Ele me guia até o elevador, e rapidamente descemos. Quando passamos pela recepção entregamos a chave a recepcionista que nos olha intensamente.
Saímos do hotel e após atravessar a rua, ele me conduz até seu carro, uma Lamborghini preta muito bonita. Como um cavalheiro, abre a porta e depois a fecha.
Devo confessar que ele possui charme, elegância, dinheiro, sedução e tudo que qualquer mulher se apaixonaria ou até mesmo fingiria.
— Seu nome é realmente Stephany? — Dirige com cuidado pela estrada.
Confesso que sua pergunta me chama atenção, afinal os clientes não ligam para tal detalhe.
— Sim, nunca uso nomes falsos. Como já disse, sou uma mulher peculiar que só aceita trabalhos difíceis. Não preciso fingir outra identidade, tendo em vista que sou eu, na maioria das vezes, atrás das ações das meninas e dos meninos, é claro.
Ele parece concentrado, mas ouve o que digo.
Logo coloca uma música romântica e calma para disfarçar seu nervosismo eminente, embora saiba esconder bem.
— Que loja iremos primeiro, meu amor?
Sorrio com sua fraca encenação, faltou sentimento na frase e precisamos mudar isso.
— Vamos na Tiffany, lá tem o que procuramos para pôr no meu dedo. Antes de comprar roupas, devemos parecer noivos.
Ele fica nervoso com o lugar que escolhi, posso perceber isso através da veia saltada em seu pescoço.
— Por que este lugar? — indaga um tanto nervoso.
— Porque lá as alianças femininas têm beleza e esplendor. Também para mostrar as mulheres que lá trabalham que agora você é um homem comprometido e, como sei que elas são fofoqueiras, imagino que em algumas horas toda Nova York saberá.
Ele concorda e seguimos para a loja mais próxima.
Ele dirige bem e sabe ser cuidadoso tanto que em pouco tempo estamos estacionando na frente da loja.
Willian como um bom cavalheiro abre a porta para mim e segura minha mão para me ajudar a sair do carro.
Nem todos os homens sabem como uma mulher aprecia isso.
Quando segura minha cintura e me leva para dentro da loja, percebo que as moças o conhecem, o que me faz entender que ele não paga por sexo, mas dá presentes caros a elas. Isso explica o motivo aparente da sua recusa em vir aqui.
— Sejam bem-vindos a Tiffany, sou a Rachel e serei sua atendente.
Posso notar como ela olha para Willian e resolvo cortar as asinhas dela.
— Obrigada, meu noivo e eu viemos escolher uma aliança.
As meninas que estão tagarelando, ao ouvirem a palavra noivo, olham para nós, surpresas.
— Está noivo, senhor Blackwell? — pergunta Rachel como se duvidasse da minha palavra.
Admito que tenho uma certa repulsa em tais atitudes.
— Estou bem aqui, senhorita, e a meu ver, não me ouviu dizer a palavra amigos, namorados, nem nada do gênero. — Faço uma pausa, observo as meninas e há uma só que parece alheia a tudo. — Como aquela moça se chama? — pergunto e a vendedora parece olhar como se ela fosse um ser inanimado.
— Aquela é a Suzanny — diz com nojo.
Quando a moça ouve seu nome, me encara e a chamo.
— Senhorita Rachel, dispenso seu atendimento. Senhorita Suzanny, uma pergunta crucial.
Willian segura minha cintura, me puxando mais para si e estranho seu gesto.
Respiro fundo e percebo que a atenção na loja está focada em nós duas.
Gosto de vendedores que saibam atender os clientes, se atendo os meus com toda a atenção e sem discriminar, todos deveriam agir assim.
Ela não desvia o olhar e sei que sabe se portar, é uma boa vendedora, conheço as pessoas só pela postura e olhar sincero.
— Se dissesse que meu noivo e eu viemos escolher uma aliança, o que diria?
— Diria, prefere prata ou ouro?
Sorrio com sua resposta.
— Queremos ver a prata com um brilho singular, algo que represente um pouco do nosso amor, não é mesmo, querido?
Ele está alheio a tudo isso e não sabe lidar com mulheres de atitude.
— Quero algo que combine com o olhar doce da minha amada noiva. — Se não soubesse que é fingimento, juro que acreditaria em suas palavras.
— Me acompanhem.
A mulher nos leva até o balcão e nos faz sentar.
— Querem um café, chá ou água?
Todo homem deve saber o que sua mulher gosta, vamos ver se ele acerta o que pediria.
— Um café para mim e um chá para meu amor.
Quando ela se afasta, sussurro:
— Como sabia?
— Todos temos reações com o que gostamos ou não e quando ela disse café, reparei em sua reação.
Ele é esperto e conhece as reações, será um problema.
— Aqui, senhores, espero que esteja bom de açúcar.
Após nos entregar as xícaras, ela se senta na nossa frente e pega o catálogo.
— Temos a coleção nova na página cinco e confesso que é apaixonante.
— Obrigada, irei escolher.
Após olhar todo o catálogo de novidade, um me chama a atenção e após olhar muito para ele, a vendedora diz:
— Uma bela escolha, senhorita, o Tiffany Three Stone combinaria muito com o amor de vocês. Ele possui dois diamantes com uma lapidação brilhante e emoldurados por um diamante central. O efeito dos diamantes refletidos na luz, dá um brilho maior. É como dizem, as pedras refletem um brilho tão belo e intenso quanto o amor que vejo no olhar de vocês. — Mede meu dedo e pede licença.
Eu me viro e pergunto:
— Gostou?
Ele segura minha mão e a beija, o que me faz sentir arrepios em meu corpo.
Quando a moça retorna, ele pega caixa e, segurando minha mão entre os dedos, coloca o anel que serve e é magnífico.
— Eu gostei, meu amor. Ele combina com sua beleza. Agora me diga se têm uma pulseira, colar e brincos para combinar. Me traga a coleção Firefly com água-marinha, combinará com os olhos da minha doce noiva.
Arregalo os olhos assim que ela se retira e pergunto:
— Por quê?
— É um presente, nenhum noivo vem a uma loja apenas para dar um anel.
Ele tem razão.
Quando a vendedora volta com os itens, confesso que são belíssimos.
— Um toque abstrato de pétalas de flores com um pingente na cor água-marinha. Temos o pendente que é parecido com um colar, um anel, um bracelete e brincos para deixarem sua noiva belíssima! — Coloca todos os itens predispostos na mesa e Willian afirma:
— Irei levar tudo, pode colocar em uma caixa de joias preta?
Ela confirma balançando a cabeça e vai buscar o item, voltando em seguida e guardando tudo na mesma caixa.
— Belíssima escolha e estimo felicidades ao casal!
Ele agradece e vai pagar a conta enquanto a moça entrega uma sacola da loja com os itens.
— Obrigada! — Levanto e vou ao seu encontro.
Ao chegar ao lado de Willian, a moça do caixa pergunta:
— A senhora foi bem atendida?
Sorrio e seguro a mão dele, agora temos uma aliança e não parece tão mentiroso o momento.
— Pela segunda atendente, sim, ela foi profissional. Gostei imensamente e quando precisar, volto aqui. Irei avisar para as minhas amigas que procurem a senhorita Suzanny.
Nos despedimos e ele me guia até o carro, abrindo a porta novamente.
Assim que entra, me pergunta sem rodeios.
— Por que trocou de atendente?
Eu me viro e elevo a mão ao seu rosto que me encara intensamente. Acaricio o local e o puxo para um beijo rápido.
— Simples, elas não iriam me respeitar, nem fazer nada direito pelo fato de que todas desejam estar na sua cama. Então escolhi a única alheia a tudo que não iria perguntar ao homem sobre o relacionamento e não a mim.
Ele se vira colocando o cinto e faço o mesmo.
— Entendo. Irei te levar em algumas lojas e quando comprar tudo que precisa, vamos jantar em um lugar reservado. Quero entender mais sobre como faremos amanhã. — Acelera o carro.
— Como iremos para o lugar do casamento?
— Te buscarei e vamos juntos ao hotel, lá teremos quatro dias de pura diversão.
Sinto ironia em sua voz e isso não é bom.
— Que horas? — pergunto curiosa.
— Às dezoito horas em ponto, em qual hotel está hospedada?
— Estou no Stewart Hotel, estarei pronta e te esperando no hall.
Ele começa a fazer perguntas pessoais assim como eu, precisamos estar em sintonia caso haja um interrogatório.