Cinco

Stephany Miller

Confesso que adoro comprar roupa, mas ter um homem me analisando de cima a baixo e babando por mim, é impagável.

Sentir seu olhar desejoso é o mesmo que fazer uma mulher se sentir especial.

Visitamos ao todo cinco lojas e a última foi a de lingerie e, mesmo tentando persuadi-lo a não desejar o que não poderá tocar, ele quis.

Compramos uma lingerie para cada roupa que ele escolheu, oito ao todo.

Foram oito looks montados para quatro dias, e todos escolhidos por Willian.

Confesso que ele tem bom gosto.

O vestido que usarei amanhã é um longo na cor creme, sem mangas e com um decote avantajado que não permite o uso de sutiã. Acompanha um xale que usarei nos pulsos de um lado a outro, dando elegância ao vestido, que é magnífico e de puro cetim.

Observei que as mulheres parecem abelhas atraídas pelo mel, suspirando por ele.

Conversamos todos os detalhes que ele precisa saber e como procederemos em cada momento. Willian me apresentou sua família e amigos por fotos durante o jantar, me contou que sua mãe deseja uma nora há anos e que se ela me ver, pode acalmar um pouco.

No final da noite, ele me leva a suíte do hotel que está hospedado. Assim que entramos no quarto, ele pede um risoto de palmito com um coquetel de frutos do mar e dois sucos de laranja para podermos nos concentrar no roteiro que iremos explorar.

— São todos meus amigos e familiares.

Ele está inquieto e não sei o motivo, afinal passamos a tarde toda juntos e não há motivo para dúvidas.

— O que o aflige?

— Qual desculpa daremos para não te apresentar aos meus amigos e familiares? Não há fotos, nem momentos nossos em lugar nenhum.

Sorrio, pego o telefone, abro nosso perfil de casal no Instagram e entrego a ele.

Seu olhar curioso observa as fotos perfeitas que datam de dois anos até recentemente e ele não entende.

— Mas como?

— Hoje foi o momento de captar imagens nossas. Fotos de momentos do casal que parecem reais e antigos. Uma das minhas associadas é perita em photoshop e outro é um hacker muito bom. Ambos usaram o dia de hoje e uma conta antiga para fazer os detalhes se tornarem reais.

Ele devolve o celular.

— Confesso, estou impressionado!

Abro algumas páginas que minha equipe mandou link e mostro as notícias com fotos nossas em inúmeros eventos sociais, comprovando nosso relacionamento.

— Vocês são bons, espero que seja tão boa e impressione a todos como estou agora.

Reviro os olhos e bebo o último gole do suco.

— Seremos, meu caro, basta que entre no personagem para impressionar e não se vingar da sua ex.

Ele me observa intensamente como se não tivesse gostado do comentário e não ligo.

— Você me contratou e serei sua noiva, mas profissionalismo requer perfeição e só teremos com a sintonia correta.

— Entendo, passamos o dia juntos e a conheço bem, assim como você a mim. Embora, tenha a sensação de que é um doce mistério. — Cruza os braços e pergunta: — Por que entrou nesse ramo?

— Minha mãe, ela criou suas duas filhas para serem acompanhantes e bom... Minha irmã mais nova cometeu o único erro inadmissível por ela, se apaixonou por um cliente... Sou rígida quanto as regras, Will, não sou amadora. Eu me empenhei e me dediquei muito para chegar até aqui. Mamãe se aposentou e cresci os negócios, fazendo a minha carreira. — Jamais contei essa história antes e mal converso com ela há anos.

Faço uma pausa, levanto, retiro o ponto do ouvido e o desligo.

Will vira a cadeira para mim e me sento em seu colo. O vestido se eleva, sinto suas mãos quentes tocarem minhas pernas e subirem.

— Por que não deseja intimidade com seu cliente?

Sua pergunta tola me faz rir.

— Porque não quero que um dos dois se apaixone ou se machuque no processo. Poderia facilmente tirar minha roupa e deixá-lo me foder em cima dessa mesa, mas não seria profissional da minha parte. — Aliso seu cabelo entre os dedos. — Vai haver sedução, toque, beijo e ainda assim não será real. Não o suficiente. Cobro caro pelo sexo, unicamente para que não tenha que fazer. Tanto eu como você, podemos conseguir o que quisermos, mas não será nem eu, nem você. — Beijo docemente seus lábios antes de me levantar.

— Duvidei da sua competência, mas agora posso ver a profissional que é. Nos vemos amanhã, noiva!

Willian é um bom homem, magoado e ferido por uma mulher, que precisa após esse casamento, arrumar uma mulher de verdade.

— Boa noite, amor! — Sorri e me vê partir.

Desço até o hall e quando saio, minha equipe me espera em uma van preta.

— Boa noite, Stephany, teremos uma longa noite.

Sim, teremos, afinal eles precisam me passar detalhes da família de Willian que ele não relatou.

Como adoro jogos de gato e rato, será uma longa semana, intensa e divertida.

Diferente de todos os clientes que já conheci ao longo desses anos, ele estava receoso de dar continuidade e, ao mesmo tempo, parecia focado em continuar e não era por ele, mas pela ex-noiva. Pelo que pude pesquisar há de certa forma uma mágoa muito grande, afinal ser trocado pela ex não deve ter sido fácil ainda mais pelo irmão.

Que tipo de homem faz isso com alguém da família?

Uma pergunta que não terei resposta até conhecer Nicholas e a moça que partiu o coração de Willian.

Willian não parece estar aberto para relacionamentos sérios, talvez isso seja um problema que iremos enfrentar quando estivermos “atuando”. Embora ele pareceu muito confiante que vai me conquistar, havia um brilho malicioso em seu olhar que me fazia sentir arrepios pelo corpo.

— Que beijo foi aquele, chefinha? — pergunta Esteban todo animado e reviro os olhos saindo do meu devaneio, voltando a atenção a ele.

— Foi apenas um beijo como qualquer outro, como se beijasse um amigo.

Esteban não tem tempo de responder porque Suh chama minha atenção.

— Steh, qual será a próxima etapa?

— Bom, a primeira parte envolvia as mídias e já tornamos nosso relacionamento público. Agora é uma questão de tempo virar notícia, já que tornamos nossos perfis públicos.

Eliza pega minha mão e analisa a aliança.

— Uau, que belíssima escolha, a maioria dos clientes compra a mais barata... E ainda ganhou um presente delicado e belíssimo. Vimos pelas câmeras que ele possui um gosto refinado — diz animada.

— Sim, um tanto controlador demais. Ele escolheu cada peça de roupa minuciosamente como se pensasse na roupa que ele usaria e no que eu deveria usar.

Willian parece ser o tipo de homem que não aceita perder, que gosta de estar no controle e se perder, se sentirá fraco.

— As roupas são lindas, irei mandar a equipe colocar na sua mala — Lucca diz e me encara por longos segundos. — Devo providenciar algumas lingeries? Porque aquele homem estava babando por você, parecia que iria arrancar sua roupa e te foder naquela janela.

Sinto meu rosto esquentar.

— Ele deixou claro que não deseja relacionamento sexual pago, que prefere o jogo intenso da conquista. Uma forma de demonstrar que é o macho alfa e que se ele quiser, terá qualquer mulher aos seus pés.

A van para dentro da garagem, saímos e caminhamos em direção ao elevador.

Seguimos para a cobertura onde fazemos a mágica acontecer.

— E você, vai resistir ou se entregar à tentação? — Eliza pergunta enquanto as portas do elevador fecham.

— Vou fazer o mesmo jogo que ele, mas quem vai subir pelas paredes é ele enquanto implora para tocá-lo.

Lucca dá um tapinha em meu ombro.

— Malvada! Cuidado para o feitiço não virar contra o feiticeiro. — Pisca e reviro os olhos.

— Às vezes, sinto uma vontade enorme de te demitir.

Ele dá os ombros para mim.

— Tente, você sabe que não vive sem mim... Agora pare de fugir do assunto e nos conte detalhes do beijão que ele te deu? Foi bom? Ele tem pegada? Como foi duas mentes brilhantes duelarem maliciosamente em um jogo intenso de sedução? — Lucca começa um interrogatório e será interminável. — Você nunca aceitou pegar um cliente antes, mas por algum motivo resolveu ser a escolhida, por quê?

— Sim, ele beija bem. Foi muito bom e ele tem uma pegada quente, mas é um mauricinho que pensa que pode ter tudo que quiser... O jogo de sedução é a melhor parte, fazê-lo estremecer e desejar mais e mais, será interessante nesses quatro dias que teremos juntos.

As portas do elevador abrem, caminhamos até as portas de vidro e entramos. Os técnicos vão ligar os monitores para preparar uma empresa falsa para mim, afinal precisa ser real.

— Roger me mandou uma mensagem onde contou que o amigo tinha acabado de entrar em contato e que queria a melhor. Sei que temos muitas meninas maravilhosas, mas é um pedido especial de um amigo e velho cliente. Pensei muito, resolvi ligar e me encontrar com ele. Algo em sua voz me fez sentir um certo desespero, misto com insegurança.

Willian é um cliente, mas nem por isso deixará de ser bonito e sedutor, uma combinação perigosamente fatal.

— Chefinha, você não sai com clientes há anos e sei que prefere comandar. Se esse cliente é importante para o Roger então é para nós e vamos tornar tudo perfeito — Eliza diz animada.

— Preciso de uma agência de modelo famosa, renome e tudo que a torne o mais real possível. Não pode haver falhas e se for preciso criamos um ramal só para tirar dúvidas.

Poderia escolher qualquer ramo, mas como trabalho com um ramo diferente, moda é o que mais se aproxima do que faço em certos pontos.

— O nome pode ser Glamour, acho que é um bom nome. Passe para nossos designers e peça três modelos de logo. Depois podemos focar em um site, revista, notícias e um perfil no Instagram sobre nossa marca. — Delego algumas funções e depois vou para a minha sala com Eliza e Esteban.

Precisamos definir algumas estratégias para que nada dê errado.

Eles serão meus olhos e ouvidos enquanto estiver fora.

Sempre temos duas equipes de apoio para todos os contratados, alguns são tão simples que nem precisam, mas quando se trata de pessoas mais ricas precisa ser perfeito e o mais real possível.

Nosso cliente é tão complexo e há algo nele que mexe comigo. Por isso, quero que tudo seja completamente a altura do que poderemos fazer.

Acredito que ele mexeu com o meu ego de tal forma que quero tornar o mais agradável possível cada momento.

Mas algo me diz que resistir ao seu charme será difícil demais.

Como a ex-noiva desperdiçou um homem daquele?

Jamais saberei.