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Seis

William Blackwell

Hoje é um dia atípico e mesmo com tudo que está acontecendo comigo, não posso falhar como pai.

Tenho uma linda garotinha de treze anos de um romance da época da faculdade, ela é meu mundo e tento fazer tudo que posso para ser o melhor pai possível. Embora tenhamos guarda compartilhada, vejo minha menina nas férias e alguns feriados, admito que, as vezes, sinto sua falta.

Mas jamais tiraria uma filha de sua mãe, mesmo que ela fosse impulsiva.

Minha menina sempre pede para morar comigo, mas não quero uma guerra na justiça e sei como isso mexeria com ela.

Jamais deixaria que ela passasse por isso.

Ela ainda é nova e tem muito a viver pela frente, quando chegar a hora e ela entender tudo isso e mesmo assim quiser morar comigo, entrarei em um acordo com a mãe dela. Mesmo que ela seja difícil e não concorde muito com isso.

Sei disso porque já tentei duas vezes.

Vejo o nome dela piscar em meu telefone, coloco a xícara de café na mesa e atendo a videochamada.

— Bom dia, bonequinha. — Vejo que ela está vestida para ir à escola.

— Bom dia, papai. Pedi para mamãe me deixar ir visitar você. Queria ir ao casamento do tio Nicholas, mas ela disse que não me quer perto da biscate da futura esposa dele.

Arregalo os olhos.

Como ela diz algo assim para minha princesinha?

Depois terei uma conversa séria com ela.

— Filha, não deve usar a palavra biscate, por favor. Além disso, sua mãe tem razão, não deve perder aula por algo tão trivial.

Ela sorri sapeca.

— Desculpa, papai — diz docemente, mas posso jurar que a mãe dela diz que é verdade.

Reviro os olhos enquanto ela ri e tomo um gole de café.

— Pai, quando vai me apresentar a sua noiva?

Quase me engasgo com sua pergunta.

— Quem te contou isso? — pergunto curioso.

— A vovó. Ela disse que logo terei mais uma mãe e que ela parece ser uma boa moça, mas isso sou eu que decido.

Sorrio fraco, pois, não era para envolver Mariana nisso. Terei uma longa conversa com minha mãe depois.

— Tenho que ir para a escola, a van está quase chegando... Eu te amo muito, papai, te ligo mais tarde para contar como foi meu dia.

Mando alguns beijos antes dela desligar.

Ela sempre desejou que arrumasse uma outra mãe para ela e agora que a minha mãe contou sobre minha “noiva” vai ser impossível tirar as ideias e planos que ela fará.

Termino o café e vou para meu quarto. Começo a pensar sobre o dia de ontem e como conheci uma mulher decidida e dona de si.

Ela não tem papas na língua e faz o que deseja.

Por mais que estamos nesse contrato por apenas quatro dias, confesso que o cheiro da sua pele ainda está impregnado em mim, leite com morango.

Seu gosto também, tendo em vista que seu beijo é saboroso demais e isso é um pecado.

Fico deitado na cama pensando.

Como será ficar no mesmo quarto de hotel por quatro noites sem poder tocá-la intimamente?

Ontem foi difícil ficar com ela naquele quarto de hotel.

Não a trouxe para casa, pois, não costumo trazer mulher qualquer a não ser minha filha para minha casa, é meu lugar sagrado.

Pensando em tudo, decido que a sedução será uma arma perigosa e fatal.

Enquanto mexo no celular, recebo uma mensagem de um número desconhecido e, ao notar o nome na mensagem, vejo que é Stephany.

Como ela tem meu número?

Bom, não sei, e isso é uma incógnita, já que é meu número pessoal e poucos têm.

Ela me dá bom dia e diz que deve salvar seu contato como amor e um coração vermelho ao lado. Mesmo sendo clichê será uma prova irrefutável.

Desligo o celular e após colocar um terno para ir trabalhar, começo a me preparar para a encenação de mais tarde.

Tenho mania de acordar cedo e aproveito para adiantar tudo que preciso para poder me ausentar por quatro dias.

A manhã passa ligeira e com ela reuniões incansáveis, além de delegação de trabalho a todos os que não foram convidados para o casamento.

Minha ex-noiva gosta de glamour, ou seja, somente os ricos foram convidados.

Combino de me encontrar com minha noiva na frente do apartamento dela, conversamos mais um pouco na hora do almoço para nos conhecer mais e para que a noite nada dê errado.

A tarde passa mais rápido ainda e parece que nada do que faço está bom o suficiente, pode ser o nervosismo excessivo que tenho com a hora se aproximando.

Quando dá dezesseis horas, me despeço de Julie dizendo que ela manda na empresa até retornar e ela ainda tem a ousadia de dizer que irá tentar não falir.

Quase desisto do casamento, mas repenso ao lembrar do dinheiro gasto com a noiva falsa.

No caminho até minha casa me deparo com uma loja de sex shop e resolvo pôr em prática a sedução reversa. Compro um presentinho para minha amada noiva e peço para que não coloquem na sacola, mas em uma caixa toda preta com laço dourado.

A maioria dos homens, gostam de presentear a dama que os acompanha com joias, roupas e até mesmo lingeries...

E eu, não sou uma exceção, mas meu foco no momento é o que todos os homens querem quando presenteiam com algo assim.

Não será uma transa qualquer, a quero rendida e entregue em meus braços, ardendo de desejo.

Ao ver a calcinha de renda normal, não se imagina que pode provocar estímulos que excitam. É o que ela pensará ao usar a calcinha que escolhi, que não há nada de mais com ela, pois, me lembro que o vestido que escolhi para esta noite não permite o uso de sutiã e é uma boa desculpa.

Será uma noite interessante!

Pego o controle da calcinha e guardo no bolso.

Peço que entreguem imediatamente em seu quarto de hotel e escrevo palavras sutis no cartão preto:

"Use esta noite."

Saio da loja e dirijo até minha casa.

Moro no centro do estado de Nova York, em uma casa grande com tudo que preciso. Vivo com um certo luxo e tenho a maior sala com eletrônicos de toda a cidade.

Subo a escada e vou direto para o banho, tendo em vista que preciso me arrumar com certa urgência.

Estou atrasado devido a parada que fiz na loja.

Tomo um banho rápido, em seguida visto um smoking preto, uma das exigências, e a gravata combinando com o vestido da acompanhante. Demoro para achar uma cor creme que combina com o vestido que escolhi para ela usar.

Ao terminar de pentear o cabelo, passo o perfume amadeirado e saio em direção ao carro.

Rapidamente vou em direção ao hotel da minha doce noiva e levo em meu bolso interno, o controle da calcinha.

***

Chego no hotel que ela está hospedada às dezoito horas em ponto e quando abro a porta do passageiro, perco o ar ao ver a bela dama, descendo a escada.

Engulo em seco quando ela se aproxima e me encara com um ar irônico.

Só me dou conta que estou paralisado quando ela sussurra:

— Estou usando o presente que mandou.

Sorrio e espero que ela se acomode no banco passageiro. Dou a volta e entro no carro dando a partida em seguida.

— Que bom, pois, a noite será longa e muito quente! — Percebo a surpresa em seu olhar.

— Estudamos mais um pouco sobre sua família, acredito que qualquer detalhe conta para creditar nosso noivado, querido.

Mal sabe os planos que tenho para ela.

Conversamos a viagem toda sobre gostos, o que um gosta e o que o outro não gosta. Conto que haverá um garçom servindo as mesas e detalho o menu. Acabo descobrindo que ela não gosta de nada que vá pimenta, não toma refrigerante, bebe socialmente e só se for champanhe, suave e doce. Uísque esporadicamente, além de nada azedo e sem gosto. Além de não gostar de ostras, embora seja afrodisíaco.

Minha mãe tem contato com o pessoal do Times, eles vão cobrir todo o casamento, sou de uma família tradicional e todos querem saber mais sobre o luxuoso casamento de quatro dias.

— Preferia um casamento simples, poderia ser apenas os dois, sem muita pompa e algo íntimo.

Eu me surpreendo com sua confissão.

— Mas nunca terei isso, no meu trabalho, amor é um dos sete pecados.

Ela possui o mesmo pensamento que o meu sobre casamento.

— Aprecio algo simples também, nunca gostei dos holofotes e, pelo visto, nem você.

Seu sorriso genuíno me deixa desconcertado.

— Mas você pode escolher a mulher que quiser e ser feliz com ela.

Pode até ser verdade, mas a que amei partiu meu coração e não deixarei outra fazer o mesmo.

— Poderia facilmente ter qualquer uma, mas a única que quis me trocou pelo meu irmão, ainda teve a ousadia de me convidar para a festa e de quebra ainda serei obrigado a ser padrinho.

Quando finalmente chegamos, o silêncio se instaura e tivemos que esperar em uma fila por aproximadamente dez minutos.

Posso ver a impaciência de Stephany quanto a demora, já notei que ela é como eu, não tolera atrasos.

Quando chega a nossa vez, ela exclama.

— Finalmente!

Saio do carro e abro a porta para ela, que sai graciosamente e segura em meu braço.

Entrego a chave ao manobrista.

— Não arranhe, por favor! — peço.

Guio a bela dama pela escadaria e há muitos fotógrafos. Meus olhos correm para o seu dedo e vejo a aliança, ela não esqueceu esse detalhe importante.

— Acha uma boa ideia tirarmos foto aqui? — pergunta docemente e paramos diante de alguns repórteres que estão à direita.

Ela é muito fotogênica e ficará linda nas páginas do Times.

— Sim, somos noivos, lembra?

Ela ri do meu comentário e fazemos uma pausa para as fotos, logo em seguida entramos no hall do hotel.

— Boa noite, senhores, espero que a estadia seja agradável — uma moça simpática diz. — Seu nome, senhor?

— Willian Blackwell, acompanhado da minha noiva, Stephany Miller.

Ela procura nosso nome e pega uma chave em cima do sofá, entregando em minhas mãos.

— Essa é a chave da suíte do casal, por favor, me acompanhem.

Ela nos leva ao elevador e aperta o último andar. O elevador sobe e, rapidamente, entramos no ambiente festivo repleto de flores e ornamentos do noivado.

— Sua mãe caprichou! — Stephany sussurra surpresa.

Não contei que foi minha mãe, mas aí lembro que ela possui contatos, olhos e ouvidos em todos os lugares.

— Mamãe sempre teve bom gosto para festas.

Somos interrompidos por um gritinho frenético da minha mãe se aproximando.

— MEU BEBÊ!

Minha mãe tem o dom de me matar de vergonha na frente dos outros!

Na sua visão, nunca crescerei.

— E essa linda moça ao seu lado, é ela? — diz eufórica, enquanto beija meu rosto e depois abraça Stephany. Em seguida ela pega a mão da minha noiva e avalia o anel.

— Esta é Stephany Miller, minha linda noiva e amor da minha vida! — Por um segundo, eu até mesmo acredito que estou apaixonado por ela pela forma como afirmo.

— É um lindo anel, minha filha, assim como as joias que ornam seu belíssimo corpo... É modelo?

Raramente a vi corada, mas diante de elogios ela o faz graciosamente e sem notar.

— Não, dona Chrystine... — diz e acaba sendo interrompida por minha mãe.

— Dona, não, pode me chamar de mãe ou sogrinha linda.

Mamãe está muito empolgada, mais ainda do que no dia em que apresentei minha ex.

— Mas se não é modelo, no que trabalha? — Mamãe é direta e prende nossos braços entre os seus, nos puxando até o bar.

— Sou dona de uma agência de modelos que seu filho implantou softwares.

Dona Chrystine parece encantada com minha “noiva” e não sei ao certo se isso é algo bom.

— Então combina com meu bebê. Ele ama tecnologia e agora posso ver porque escondeu sua noiva de nós. Ela é linda e doce, além é claro, inteligente. Ao contrário das acéfalas que trazia para me conhecer.

Reviro os olhos com seu comentário desnecessário.

— Só precisam ficar três horas e meia no evento, às dezenove horas será o brinde de noivado, em seguida o jantar e por fim, teremos o pedido oficial e a dança.

— Está bem, mamãe. — Olho para o garçom e peço: — Dois uísques e um champanhe doce para minha noiva.

— Contém mais sobre como se conheceram! — Minha mãe me olha e sei que é um teste, ainda mais que nunca apresentei a mulher ao meu lado.

— A história é engraçada, sogra, aprendi com minha mãe que quando um homem deseja algo que não pode ter, quanto mais o atentamos, mais ele quer. E fiz exatamente isso... Nada como levar um belo não.

Mamãe começa a rir, pois, é a primeira vez que trago uma mulher que não idolatra seu filho amado.

— Quando nos conhecemos, em um jantar de negócios entre nossas empresas, ele tentou me levar para uma esticada. Seu filho é muito insistente. Após instalar os softwares na empresa, ele mandava flores, convites para eventos e até joias... Mas sempre devolvia, afinal quero um companheiro e não um homem que não seja bom o suficiente para dividir comigo a vida.

Minha mãe está completamente encantada com a sinceridade de Stephany, tanto que pisca para mim, e sussurra dizendo que aprova minha escolha e que dá a sua benção.

Admito que isso é algo raro.

Realmente Stephany possui a voz doce e melodiosa que encanta qualquer pessoa.

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