Os Betas
Diante de sua mãe, Adrian tentava não rir de todas as loucuras que ela dizia. Mas apesar de parecer tão ruim no momento atual, horas atrás foi tão engraçado que se segurou mais de uma vez pra não rir do lobinho que rolava molhado pelo chão.
— Uma noite apenas. Uma única noite sem confusão foi o que todo mundo pediu, Adrian, e é a única coisa também que você não consegue fazer. – Bradou a mulher parada do outro lado da mesa, brava com sangue nos olhos — você com certeza é um mal criado que merece pelo menos uma surra de qualquer pessoa que possa dar.
— Ah, por favor, chega dessa palhaçada. Ninguém brigou se é isso que você tá aí frescando. – Revirou os olhos encontrando sua irmã do outro lado, assustada com os gritos da mulher, mas não deixaria os gritos dela a impedir de comer seu pudim de leite. — O menino não se transforma e você sabe mais do que ninguém como os alfas tratam esses babacas que não tem força nem pra se transformar.
— Isso não quer dizer que você tenha que socar e maltratá-lo. – Anabela deu as costas andando pela cozinha e parou ao lado de Aurora, chamando sua atenção — Você concorda em machucar uma pessoa inocente que está ali sem saber nem que existe esse lado sobrenatural?
— Se ele é um lobo e precisa se transformar, os métodos são de menos. Ele só precisa de inspiração. – Aurora sorriu meiga, mas Anabela não gostou da sua resposta, nem um pouco.
— Você mais do que ninguém sabe que mesmo que nasça numa família de lobos NEM SEMPRE VOCÊ TERÁ FORÇA, OU GÊNES O SUFICIENTE PARA SE TORNAR UM.
— Não grita com minha irmã – Adrian levantou do outro lado, enfurecido e andou até a mãe a afastando de Aurora — O alfa não devia ter poupado você, ele devia ter te matado junto com o papai. Dois seres insuportáveis que estavam no mundo somente para fazer o mal. Se livrar da metade dele não deixou ninguém feliz. Talvez se ele soubesse a droga de mãe que você seria, tinha rasgado sua garganta e deixando seu corpo aberto na floresta pros animais comerem, do mesmo jeito que ele fez com Antony, o seu amor.
— Ele teve seus motivos. – respondeu ainda, deixando Adrian mais impressionado com a frieza naquela mulher — Antony teve seus motivos para fazer o que fez, e eu estava ao seu lado, eu o apoiava porque ele sabia ser um alfa de verdade.
— Anabela, já chega – Aurora levantou cortando aquela conversa — Você pode me odiar o quanto for, mas isso não vai trazer o papai de volta. Eu não tenho nada haver com suas decisões. Eu era só uma criança, na verdade ainda sou uma criança, e nas escolhas de adultos tão poderosos, não me meto.
Falou calma e doce como todas as vezes que abria a boca, deixando um beijo estalado na bochecha de Adrian e subiu para seu quarto querendo apenas ter um momento de paz.
Na cozinha Adrian encarou sua mãe por mais alguns minutos e deu as costas pegando seu casaco.
— Eu vou sair. E não se aproxima dela, porque se você tentar matar a minha irmã de novo eu acabo contigo. Ela pode até não ter forças para te machucar, mas eu tenho e eu não vou pegar leve eu vou te destruir te partir ao meio, nela você não toca de novo. – Deu seu aviso para a mulher que continuava parada no meio da sala e saiu.
Depois de toda aquela confusão, a única coisa que o fazia perder mais ainda a cabeça, era uma mensagem de Lívia o chamando até sua casa.
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Em um momento daquela madrugada, os olhos esverdeados de Aurora Romero se abriram abruptamente. Seu corpo levantou da cama com passadas rápidas até o despertador e desligando antes do mesmo gritar pelo quarto. Suspirou tranquilamente indo até seu guarda-roupa buscar um maior casado que pudesse encontrar e uma calça para vestir. Colocando de qualquer jeito ela saiu do quarto descendo as escadas, parou na sala procurando qualquer ruído, de um lado para o outro, não encontrou. Correu para a cozinha saindo na porta pequena, a florestava estava nem a sua frente, abaixou para calçar as botas de Adrian jogadas por ali e começou a caminhar.
Olhando no pequeno relógio no pulso, notou que faltava pouco para o primeiro dia de aula e menos ainda para o sol raiar cobrindo os telhados das casas bonitas e bem feitas do Norte. Entrou na floresta pisando na terra firme e quase se atola na primeira lama que encontrou. Deixou um xingamento olhando para todos os lados. Caminhou por mais alguns minutos até parar diante de um tronco de arvore cortado. Andou até ele tocando nas flores que estavam crescendo ao redor. Procurou as iniciais de todos os seus amigos, marcadas com uma faca ou garras… Passou os dedos por cima das suas e sorriu de relance.
Virou devagar esperando pacientemente ele aparecer em sua grande e enorme forma de lobo alaranjado que de pé, era bem maior que Aurora. Na verdade qualquer um era mais alto que Aurora que media um metro e meio. Ela tocou em seu pelo gostoso deslizando até a pata, jogou a capa que havia trazido no chão e virou para voltar ao tronco, analisando as inicias e encarou a sua novamente, ela devia está louca quando fez o pacto com aquele monte de lobo besta.
— Me ouviu chegar? – A voz grossa de Fabricio era eletrizante a penetrando fortemente. Sentou-se no tronco o assistindo se aproximar e não perdeu tempo em abraça-la forte e depositar um gracioso beijo em sua cabeça.
— Senti seu cheiro. – respondeu ao vê-lo sentar ao seu lado e assentir ajustando a capa — Como foi no acampamento militar?
— Foi péssimo. Não sirvo pra andar com uma arma no meu ombro e marchando como um mocinho rico. – Aurora juntou as mãos e virou para Fabricio encarando os fios loiros caindo em seus ombros.
— Você não veio aqui primeiro, não é? – Fabricio olhou pra frente procurando fugir daquela conversa, mas não conseguiria esconder nada de Aurora, mesmo que quisesse. Ela era sua melhor amiga, a única pessoa que o entendia perfeitamente em tantos níveis que nem precisava falar nada.
— Minhas malas ainda estão no carro do meu pai. Eu corri pra casa dela. Estou morrendo de saudade, eu queria seu abraço, seu cheiro, eu quero voltar com ela. Eu fui muito estupido, eu gritei com ela na frente de todo mundo como um troglodita, o homem das cavernas como ela mesma disse. Mas eu amo tanto ela, Aurora. – Aurora tocou em seu ombro — Eu pulei como um louco na sua varanda e a vi entre as cortinas seu corpo estava espalhado na cama vestindo a camisola laranja, aquela que eu mais amo, eu ia entrar, ela estava me esperando… mas eu senti um cheiro diferente… entre os lençóis dela. Eu ri de me mesmo. Sou um babaca.
— Você não é babaca, só tem que aprender a se controlar – Fabricio a encarou com os olhos estreitos e desconfiados. — Digo… Você não precisa ser sempre um lobo.
— Não. – Soou forte — e por que com o Adrian? – Aurora cruzou os braços fazendo bico e desviou o olhar — por que o meu melhor amigo?
— Adrian e Lívia têm brigado diariamente. E quando você foi embora a Raíza começou há passar mais tempo comigo e sempre chorava no meu colo dizendo que tinha muita saudade de você, e tudo mais. – Fabricio riu um pouco — Lembro-me de ter saído com o Gusta e o Yan para o cinema e quando cheguei, eles estavam transando na minha cama. – Fabricio se surpreendeu. — Isso mesmo, uma cena de horror.
— Ah, a virgem Maria viu duas pessoas transando. Oh… - bateu no ombro da garota que o bateu de volta — tá, entendi, estou querendo zoar com sua cara, mas isso veio como uma estaca no meu coração. – Os dois riram — Como eu posso conquista-la de novo?
— Você não precisa conquistar ela, Raíza te ama. Vocês são suas metades. – ele ficou calado por um tempo, pensativo. – Tenho que te contar várias coisas novas. Tem uma nova família aqui no Norte e o um lobo não transformado. A família Iakisamoto perdeu seu alpha em uma disputa por território e eles fugiram pra cá. Querem ajuda… A ajuda do alpha pra uma vingança. Mas primeiro, parece que vocês precisam fazer o mais novo se transformar.
— Adoro socar os outros – Fabricio riu maligno — prefiro socar ele a meu melhor amigo.
— AURORA – em um grito de desespero Adrian apareceu entre os galhos empurrando cada um e parou em frente aos dois. Aurora respirou fundo pelo susto e riu quando encarou o irmão — quer me matar? Eu vim da casa da Lívia correndo porque você não estava na cama.
— Como você sabe que eu não estava na cama? – Adrian olhou dela para Fabricio e riu.
— Porque da casa da Lívia não da pra sentir seu cheiro, e eu senti – ele parou entre os dois e sorriu para Fabricio — Só uma vez. Eu há deixei muito tempo com o Yan eu estava com saudade.
— Você não deixou nada. – Aurora levantou ficando em cima do tronco olhando para os dois — ela estava com ele porque queria. E você – virou para Fabricio o chutando para fora do tronco — Não vai dormir com a Lívia, vocês tem que parar de ficar dormindo com todas as garotas do colégio.
— A gente não dorme com todas as garotas do colégio. Eu não dormi com nenhuma garota além da Raíza. Ela foi à única. – Cruzou os braços olhando para Adrian da cabeça aos pés.
— Que? Eu não durmo com as garotas do colégio. Eu transaria com a capitã das lideres do torcida, mas ela é a minha irmã – Os dois se encararam. — E se a Lívia não existisse, eu só pegaria as lobas, elas não têm limite, estão sempre querendo mais e mais, são tão… - ele parou de falar quando encarou Aurora de braços cruzados e uma expressão de nojo. — Tão legais. Né?
— Yan – Aurora suspirou o nome do ruivo que se aproximava a passos lentos, os olhos quase fechados — eu não estava esperando nenhum de vocês dois. Vim receber Fabricio como meu melhor amigo.
— E eu vim aclamar a alpha da minha vida, ê… – Yan parou ao lado dos outros dois — ô poderosa deusa – bocejou — tenho que ir para o colégio, minha mãe acha que eu vou crescer e sair do Norte pra algum lugar e me tornar um médico.
— Isso é muito legal. – Aurora disse animada, mas claramente aquilo não era o que o ruivo queria — mas você pode ficar aqui e ser enterrado pela floresta como o resto dos lobos quando morrer. Como você desejar.
— O sol nasceu, embora eu não esteja vendo ele – Yan começou, bocejando novamente. — O que a gente faz com o moleque?
— Por que você está tão cansado? – Yan, pela primeira vez na conversa abriu mais os olhos encarando Aurora, sinceramente, seu silêncio para Aurora era como lhe obrigar a ver uma cena de pornô — transformem Jin Iakisamoto em um lobo.
— Você decorou bem o nome dele, pelo visto – Adrian disse olhando atentamente para a irmã — não precisa ficar perto dele. Eu dou meu jeito. Meu trisal está de volta.
— Achei que seu trisal fosse você a Lívia e a Raíza – Yan falou ganhando o olhar de todo mundo, principalmente de Fabricio que revirou os olhos dando um último beijo no rosto de Aurora e sumiu entre as árvores.
— Eu não sei como vocês ainda são melhores amigos. Se uma das garotas dormissem com o garoto que eu gosto eu a mataria – foi sincera.
— Primeiramente… somos Betas de uma loba alpha que merece nosso respeito, nossa guarda, nossas vidas. Você vem em primeiro lugar na nossa vida não importa o resto – Aurora cruzou os braços e assentiu para Adrian. — Outra coisa… Quem é o garoto que você gosta?
— É só pra saber? – Yan estralou os dedos interessado na conversa.
Aurora os encarou por um momento e correu rápido os deixando pra trás.
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— Jin. Jin. Jin. Jin. Jin. Jin. Jin. Jin. Jin. JIN!
— Cala a boca! – Ele abriu a porta de uma vez encarando Riki que sorriu de canto mordendo os lábios. — O que é?
— Vou te levar para o colégio. – Ajeitou a jaqueta dando um sorriso. — Vamos?
— Eu tenho moto. A mamãe disse que eu podia ir sozinho. E vou. Porque eu não quero ter que olhar pra sua cara. – Passou por ele seguindo pelo corredor e desceu às pequenas escadas que davam acesso a sala.
— Mas eu quero levar você. É seu primeiro dia numa escola nova em anos, pelo amor de Deus. Quero fazer isso porque sou seu irmão mais velho.
— Eu tenho dezessete anos e não quero você me seguindo pelo resto dos meus dias nessa cidade gelada que é insuportável – foi rude ao encarar e dizer tudo aquilo para o irmão que cruzou os braços — eu não quero sua ajuda.
— Você nem deve saber onde é a escola. - Avisou querendo a todo custo que ele cedesse logo, mas conhecia bem o sangue que corria nas veias do outro, teimosia era seu maior defeito.
— Tenho celular e GPs – ajeitou a jaqueta de couro negro nos ombros e pegou as chaves da moto junto do capacete. — Não precisa me seguir.
— E você vai sozinho?
— Eu tenho um amigo, - Riki se surpreendeu e foi se aproximando — conheci ontem à noite e eu tenho que falar com ele assim que chegar lá.
— Ah você tem um amigo? – Se sentiu ofendido — E você por acaso vai me dizer quem é? Porque eu sou o seu melhor amigo, meu querido irmão. E ninguém vai tomar esse lugar. – Jin abriu a porta e virou para o irmão.
— Não sou mais criança. A gente se mudou do nada. Não tenho mais o meu avô. Ficam acontecendo coisas estranhas com meu corpo que ninguém quer acreditar. Minha vista fica mudando de cor, meus olhos ficam amarelos, igual os olhos de Adrian Romero – Riki arregalou os olhos dando alguns passos para trás — ele é meu amigo, e eu vou atrás de falar com ele.
Bateu a porta de uma vez fazendo o moreno dar um pulo pelo barulho.
Riki revirou os olhos voltando a subir as escadas até seu quarto e bateu a porta igual ao irmão mais novo. Seus olhos caíram sobre a cama e não foi nada gentil em puxar os lençóis de uma vez descobrindo o outro corpo e começou a pular em cima dela até Yoshi acordar.
— Passei a noite vigiando o Jin queria poder dormir mais um pouco, se você deixar. – Olhou para o marido em pé em cima da cama e se arrastou até sentar — o que foi?
— Jin tem um amigo novo na cidade em que acabamos de chegar sem nem mesmo ter seu primeiro dia de aula.
— Que bom. Posso dormir?
— O amigo dele é Adrian Romero – Yoshi continuou a olhar para o homem sem entender nada — O mesmo carinha que você se sentiu atraído.
— Riki eu não me senti atraído pelo Beta do alpha, você ficou maluco? – Riki sentou direito na cama encarando o outro. — Não acredito que isso vai deixar você maluco? É ciúme? Do Jin, de mim, pelo amor de Deus, ninguém vai te trocar por ninguém principalmente eu. Então para de enlouquecer.
Riki ficou o encarando por mais alguns segundos e desviou para a janela encarando a floresta atrás da casa e o sol que não nasceria nunca mais naquela cidade pequena, e pelo visto, mais fria que o coração do Jin.
— Não estou com ciúme de você – disse calmamente — Estou preocupado com o Jin, ele não se transforma, e se fizer isso sozinho pode acabar matando alguém. E se ele matar alguém o alpha pode matar o meu irmão, e eu nem sei quem é esse alpha. Eu só estou preocupado. Eu não tinha essas coisas quando Raiden estava vivo, ele cuidava de tudo. A gente o perdeu e ele era um homem forte, Jin nem sabe que é um lobo, pode ser uma isca fácil.
— Você pediu ajuda para transformarem o Jin, o Adrian vai fazer isso acontecer e deixa o garoto, ele recebe ordens diretas do alpha.
— Ah, então eu vou segui-lo – Riki desceu da cama dando um riso diabólico — Se ele recebe ordens diretas do alpha, isso quer dizer que em algum momento eles vão se encontrar. – Yoshi deitou na cama se cobrindo até a cabeça, não iria discutir com Riki, ele que fizesse o que desejasse.