Calmaria
— Vem, porque o Adrian é um grande babaca – Gusta puxou o moreno e o levou para o canto para pegar um taco e o casaco da mesma cor para jogarem em sincronia.
— Eu posso pegar pesado? – Adrian perguntou quando se voltou a Yoshi. — Você disse que ele não se transforma e um dos métodos do nosso alfa é surrar um lobo e forçar sua transformação.
— E você quer que ele se transforme no meio de todo mundo? – Adrian riu de canto.
— Se ele se transformar, temos o nosso jeito de lidar com as coisas desse tipo. – Sorriu novamente dando as costas aos Iakisamoto que se entreolharam e seguiram para se sentarem em algum canto.
A última partida acabou levando um dos times para as finais. Adrian entrou em campo com seu time e todas as garotas das arquibancadas gritaram elétricas pelo time preferido do colégio. Gusta entrou depois com seu time também chamando atenção das garotas. Para ser justo, o time oficial do colégio se dividiu no meio e complementaram com pessoas de fora, então o jogo seria mano a mano, o sangue ia rolar.
Jin ficou atrás de Gusta que ficou de frente para Adrian. Quando o som do apito soou pelo campo, Gusta riu de canto desviando da bola, bem a tempo de Adrian pegá-la quando a mesma caiu, no entanto, no primeiro passo que deu para passar para o lado adversário, Jin passou pelo ruivo jogando-o no chão tão rápido quanto pegou a bola e correu para a trave arremessando a bola com uma força incrível e marcando o primeiro ponto. Yuri e Yoshi levantaram rápidos batendo palmas para Jin que sorriu erguendo o taco. Gusta correu até o moreno o parabenizando, apesar do susto seu time tinha marcado um ponto.
— O que aconteceu? – Yan parou do lado de Adrian que o encarou ainda jogado no chão. — Escorregou? Ou ele te jogou mesmo no chão como todo mundo viu? – Esticou a mão para o ruivo pegar o ajudando a levantar — que força.
— Eu acho que os Iakisamoto mentiram, ele já se transformou, só não lembra, porque ele não pode ter toda essa força e ainda ser humano. – Adrian arrumou o capacete ajustando seu taco entre as palmas de suas mãos. — Eu vou acabar com ele.
— E eu achando que a noite acabaria bem; sem brigas ou confusões, como o alfa ordenou – Yan sussurrou voltando para seu lugar — adoro confusão, ou socar alguém.
— É por isso que você faz parte do meu trisal – Adrian debochou e encarou por debaixo do capacete os olhos negros de Jin. Quanta surra ele precisava levar para seu lobo sair? — Yan, se prepara – mandou, assim que o apito fez seu trabalho, Adrian esqueceu a bola e correu apenas na direção do Jin e o confronto dos corpos resultou a um Jin jogado no chão e Adrian correndo para o gol sabendo que Yan lhe passaria a bola e o placar empataria.
Bingo.
Jin girou na grama tentando respirar, o ar que faltou por alguns segundos e ele se livrou do capacete, suas unhas cravaram na grama, alguma coisa em seu corpo tinha se quebrado, tinha certeza absoluta.
— Jin, você tá legal? – Gusta agachou perto dele para ajuda-lo a levantar, esticou os braços e o Iakisamoto levantou ainda meio tonto e só depois de estar de pé, que ele sentiu o braço doer, doer mais do que precisava. — Consegue jogar ainda? – Perguntou sabendo que depois dele ser derrubado daquela forma, humano nenhum conseguiria ficar de pé. Jin apenas confirmou e foi para seu lugar. Fechou os olhos com força, a quentura de antes, a tontura que sentiu quando estava na moto, piscou mais algumas vezes tentando se manter de pé e focar no jogo, não em Adrian, mas no jogo.
Seu peito doeu mais ainda e o ar pareceu pouco para fazê-lo. Apertou os olhos de novo abaixando a cabeça, ele tinha que se recuperar, ele precisava disso. Quando o juiz voltou a apitar ele só trincou os dentes indo para frente, sua visão estava amarelada e bastou apenas um segundo para ele cruzar com Adrian de novo, mas dessa vez, ele não se deixou abater. Forçou aquele encontro e Adrian caiu primeiro novamente com Jin por cima. Mas não o Jin comum. Com os olhos amarelos, o moreno mostrou as presas rosnando como um… lobo.
Adrian arregalou os olhos e com sua surpresa, Jin se tocou do que estava acontecendo e afastou-se rapidamente se jogando contra grama.
O que era aquilo de novo?
Porque sua pele queimava?
Os dentes, os dentes estavam grandes?
Tirou o capacete sem entender nada, procurou a dor de antes em seu braço, mas ele não existia mais.
Estava acontecendo de novo.
Estava acontecendo de novo.
— Vem aqui – Jin foi erguido de uma vez só e começou a ser arrastado daquele campo sem entender nada. Com a visão de outra cor ele nem sabia mais onde estava, procurou pelo tio, por Yoshi e não encontrou ninguém, ele não conseguia ver nada além do chão e dos pés que tropeçavam um no outro sem conseguir andar direito. Quando parou de andar, foi jogado ao pé de uma arvore e seu sangue esquentou ainda mais, queria destroçar alguma coisa e começaria pela mesma pessoa que o arrastava como animal de dentro da quadra. — Fica calmo!
— Calmo? – Jin não sabia explicar o que acontecia dentro do seu corpo. Tudo estava queimando como se algo surreal fosse sair de dentro de si e isso agoniava, agoniava demais — eu não sei mais o que é ficar calmo. Está queimando.
— Eu sei que está queimando, é por isso que você precisa de um banho gelado. – Jin não entendeu o que queriam dizer até sentir um jato forte contra seu corpo o levando mais para frente, seu rosto bateu contra a árvore caindo para trás de novo e encarou o céu. — Eita! Eu acho que tinha que ser mais fraco.
Jin puxou o ar voltando a respirar normalmente e então sentou procurando saber a origem daquela água e também quem estava o torturando daquela forma. Quando olhou para cima, o primeiro rosto que viu foi o de Yoshi que agachou perto de si.
— Você tá bem?
— Aconteceu de novo – sussurrou e olhou além de Yoshi, além de Yuri mais atrás até chegar aos olhos amarelos de Adrian e um sorriso debochado do mesmo que segurava a mangueira ao lado de uma turma de garotos… e uma garota.
— Me lembro de ter ouvido dos lábios do alfa que não era para ter confusão hoje. – Yan murmurou quando tomou a mangueira de Adrian para jogá-la em qualquer outro lugar — vamos indo devagar, e sumir no mundo antes que o alfa venha e acabe com a nossa raça.
— Não. Não vamos sair daqui, porque o alfa não vai se importar com os próprios métodos que foram escritos e usados por ele – O Romero se aproximou parando bem ao lado de Yoshi que levantou Jin de uma vez por todas — você estava precisando de um banho, gente com febre toma banho, todos nós sabemos – Jin estreitou os olhos, confuso, destorcido, tonto e mesmo assim, ele jurava ter visto o olho daquele homem meio amarelado também — você joga bem.
— A gente não tá pensando no jogo agora. Vamos levar ele – Yoshi o puxou para saírem do local, mas Jin puxou o braço parando em frente á Adrian. Ele não era cego, tinha visto aquela porcaria nos olhos dele. Ele estava queimando, alguma coisa no seu peito o prendeu o ar, ele estava tonto, não tinha mais dores, não tinha mais nada. Ninguém notou que tem algo errado nisso tudo? — Jin.
— Seus olhos ficaram amarelos. Os meus ficam amarelos. Minha visão… e eu não estou doente, eu não estou com febre, eu estou bem – dizia baixo, ainda tonto pelo que acontecia.
— Você só está meio zonzo, só isso – Yoshi começou de novo o empurrando para saírem dali o mais breve possível. Tinha que levar Jin antes que acontecesse alguma coisa. — Yuri – chamou o Iakisamoto que permanecia olhando para Adrian e seus homens, eles pareciam realmente uma parede e todo aquele poder pairando no ar deixando o clima pesado. — Yuri – Yoshi apareceu ao seu lado empurrando o mais velho para ir embora dali e tomou à frente de Adrian. — Eu disse que podia, mas vocês pegaram pesado de mais, quase o mataram naquele campo e essa porcaria de água gelada?
— Estávamos jogando. Ele caiu, levantou, me derrubou e caiu de novo. Ele quase se transformou. Se eu fizesse isso com um dos lobos, ele se transformaria diante dos olhos de todo mundo. Seu amiguinho tem algum problema. – Yoshi assentiu desviando o olhar — ele tem genes, mas não o suficiente para se tornar um.
— E do que a gente precisa? – Cruzou os braços, começando a ficar irritado — o nosso alfa estava pesquisando, estudando uma forma de ajudá-lo, mas como você percebeu, nós estamos sem alfa de novo.
— Adrian – Aleatoriamente, Aurora surgiu entre os meninos os empurrando para finalmente chegar até o irmão, claro, chamou atenção de Yuri e de Yoshi que desviou para a garota baixinha de olhos esverdeados — Adrian!
— Não se mete. É uma conversa de lobos. – Aurora desviou para o moreno que voltou a encarar Adrian. — O seu garoto tem um problema de transformação e o pior dele é que quando ele despertar, vai estar com fome, tanta fome que se estiver sozinho vai destruir tudo que vir pela frente. – Yoshi deu um passo para trás. — É melhor ele se transformar na nossa frente do que escondido ou na sua casa.
— A gente não pode fazer nada. – rosnou para o outro e todo o resto se afastou, inclusive Yan que ficou na frente de Aurora, afinal, não poderiam iniciar uma briga ali com a garotinha do Adrian ao redor.
— Vocês podem deixar com a gente. Eu sei exatamente do que ele precisa. É bom saber que ele sabe jogar lacrosse, porque ele vai precisar saber pra enfrentar os meus lobos. – Adrian deu as costas voltando a caminhar em direção ao campo.
— É a segunda vez que a gente se encontra e você tem tomado às decisões como se fosse o líder de tudo isso. Vocês queriam tanto esconder o alfa que mantém ele sob o olhar e todos. – Todos os meninos pararam, e não só os meninos, a única garota presente além de Aurora virou primeiro jogando seus cabelos ruivos para o ar e andou até o Iakisamoto.
— Não abra a boca pra falar do alfa. – Mika nunca foi à loba mais controlada daquela alcateia. Somente o mencionar do alfa sendo proferido por pessoas como Yoshi, não a deixava feliz, tão pouco, calma. — Adrian não é o alfa, é só uma porcaria de Beta encrenqueiro que gosta de mexer com os lobinhos amadores – Falou mais séria ainda se aproximando do Iakisamoto que não se movia, não tinha medo de mulheres, — mexer nesse assunto é um fato, e você vai apanhar mais que o bonitinho antes de terminar qualquer frase que meu alfa esteja no meio. – Deixou seu aviso e saiu junto de seus amigos que voltaram a andar de volta pra quadra.
Yoshi encarou todos eles e se moveu para ir embora até encontrar os mesmos olhos esverdeados da garota que chegou depois. O cabelo ruivo tingido para o rosa amarrados para trás e claramente poderiam ver as pontas do laço na cabeça. Eles se encararam por alguns segundos até Adrian puxá-la para segui-los, acabando com o contato visual e toda a confusão ali. O Iakisamoto seguiu de volta pelo caminho que se lembrava de ter vindo e encontrou-se com Yuri e Jin parados no meio da rua, deu uma última olhada para trás e parou ao lado de Jin.
— O que estamos esperando?
— O Riki – Jin respondeu e olhou para o cunhado — não conta pra ele o que aconteceu.
— Eu não minto pro Riki – foi claro e o menor riu batendo uma das luvas no peito dele, achando graça de tudo ao seu redor inclusive da expressão confusa.
— Tá vendo esses buracos? Essa porcaria de luva estava inteira quando eu coloquei. ALGUMA COISA ACONTECEU NAQUELE CAMPO E VOCÊS NÃO VÃO DIZER QUE FOI UM SONHO. – Gritou ali mesmo deixando os mais velhos sem palavras e quando viu que nenhum deles ia fazer alguma coisa, correu para longe e nem se importou quando seu nome foi chamado. Ele só queria fugir.
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— Um banho de água fria? – Akira repetiu devagar andando pela sala de um lado para o outro. — Queremos que ele se transforme, se queriam tanto apressar a transformação, por que não deixaram que seguisse até o final?
— Por que estávamos no meio de um campo de lacrosse em frente a tantas pessoas que eu nem sei contar direito – Yuri também estava inquieto de um lado para o outro querendo mais do que ninguém entender Adrian e toda sua alcateia — Eles vivem aqui como se nada e nem ninguém pudesse os atingir, são como reis e seguem as regras de um alfa que nem eles talvez conheçam. Eles são ferozes e completamente… incompreensíveis. Seus cheiros são fortes, eles são… fortes - parou em frente a Akira que o encarou esperando por algo mais — Yoshi tem razão quando diz que a presença deles tem algo mais.
— Nós viemos para essa cidade em busca de vingança, - Riki se pronunciou pela primeira vez, seus olhos em reflexo com as chamas da lareira — Só que a gente tá nos esquecendo do detalhe mais importante dessa família. Raiden sempre nos ensinou que família vem em primeiro lugar e por isso ele se sacrificou ali, morrendo para que a gente tivesse mais tempo. Antes de voltarmos para nos vingar, precisamos nos fortalecer, ganhar a confiança desses lobos, e principalmente, ajudar o Jin a se transformar. – Ele levantou encarando todos da sala, principalmente Iori no canto, parada. Ela com certeza era a pessoa que mais sofria com toda essa historia, com medo de perder seus filhos, seu marido, todos. — Nós estamos acabados. Mas vamos nos reerguer com ajuda desses adolescentes idiotas que estão brincando de lobo.
Yoshi abriu a porta chamando atenção e deu passagem para Jin entrar primeiro. Depois de correr tanto pela floresta sem rumo e direção, acabou voltando para o mesmo lugar do evento e não encontrando uma alma perdida se quer além de Yoshi que o esperava ainda com certas esperanças de que ele voltaria, e acertou em cheio. Jin olhou para todos e parou na sua mãe que se aproximava rapidamente.
— Não fuja mais desse jeito, o que quer? Nos matar? – abraçou o garoto que sorriu de canto. Sua cabeça estava rodando inúmeras cenas, repetindo tudo que aconteceu naquele campo, estava queimando, e sabia que dentro de si algo não humano crescia, mas ele ainda podia dar um abraço e confortar sua mãe. — Quer alguma coisa? Um banho quente? Um chocolate quente? Eu arrumei seu quarto, e lençóis grossos. – falava enquanto o tocava por inteiro procurando ferimentos ou algo parecido.
— Iori – Ela não parou de procurar até encontrar um pequeno arranhão em sua mão, não era nada, nem mesmo sangue saia. Encarou Jin e virou para o marido que a tinha chamado — Ele está bem, só quer descansar já que conheceu metade dos colegas de escola. – Jin fez careta.
— Cidade nova, escola nova. As aulas começam na segunda – Riki disse sem sair do lugar. O Norte é frio. Ele odiava o frio.
Jin por um momento pensou em surtar de vez, mas se todo aquele pessoal estaria na mesma escola, isso queria dizer que Adrian estaria também, e como ninguém naquela casa iria lhe dizer ou acreditar em tudo que passava na sua mente, ele iria direito para Adrian, e o enfrentaria com tudo que tinha dentro de si, seja lá o que fosse aquilo.