Capítulo 2
Ele não olha para mim.
E eu não me importo. Ou pelo menos é o que digo a mim mesmo.
O relógio na parede marcava as horas em meio ao silêncio pesado, cada segundo se arrastando como uma eternidade. Sentei-me rigidamente no sofá cor de creme no escritório do meu pai, com o cheiro de seus charutos pairando no ar.
Mamãe estava sentada ao meu lado, com as mãos bem dobradas no colo e uma expressão ilegível.
Emilio encostou-se casualmente na parede, com os braços cruzados sobre o peito, embora a tensão em sua mandíbula revelasse seu aborrecimento por ter sido convocado para lá também.
-Pode me explicar o que é tão urgente? -A voz de Emilio era aguda, cortando o silêncio como uma espada.
Papai, sentado atrás de sua grande mesa de carvalho, ignorou o tom de voz. Seus olhos escuros olhavam para nós dois com um olhar de comando. "Vou direto ao ponto", disse ele, sua voz firme, mas firme. "É hora de consolidar nossas alianças e não há melhor maneira do que por meio do casamento.
Meu estômago se revirou. Casamento. Essa única palavra sugou todo o ar da sala.
Olhei para mamãe, esperando ver algum tipo de reação, algum sinal de que aquilo era uma piada de mau gosto. Ela permaneceu imóvel, com o olhar fixo no chão. É claro que ela sabia. Ela sempre soube.
Você não pode estar falando sério", Emilio gritou, empurrando-se contra a parede. Sua postura protetora se intensificou como uma tempestade que se aproximava e, pela primeira vez, não me importei com seu temperamento.
O Papa levantou a mão para silenciá-lo. "Esse não é um assunto para debate. A família Hona tem se aliado à família Romano há gerações. Essa união garantirá nosso domínio, não apenas na Itália, mas em toda a Europa."
União. A palavra me atingiu como um tapa na cara. Minha boca ficou seca, mas me forcei a falar. "Então, quando você diz união, está se referindo a mim. Minha voz era baixa, mas aguda, tremendo com uma fúria mal contida.
O olhar de papai fixou-se no meu: "Sim. Você se casará com Vincent Romano Romano".
A sala pareceu se inclinar e as bordas da minha visão ficaram embaçadas. Levantei-me do sofá com um solavanco e o farfalhar suave do meu vestido preencheu o silêncio.
-Você não pode fazer isso! -Não sou um peão para ser usado como moeda de troca em seus jogos de poder!
Mamãe estremeceu com a minha explosão, mas não disse nada. Emilio, no entanto, se aproximou, com as mãos cerradas em punhos.
"Ele tem razão, papai. Este não é o século XIX. Você não pode se casar com ela como se fosse sua propriedade".
Papai se levantou, sua presença imponente lançando uma longa sombra sobre a sala. -Chega! -Sua voz rugiu, silenciando nós dois. Não se trata de sentimentos. Trata-se de dever, seu dever para com essa maldita família. A decisão já foi tomada.
Senti-me sufocar, o peso de suas palavras me pressionando. -Dever? -Gaguejei, com a voz trêmula. E quanto à minha vida? Minhas escolhas?
-Sua escolha é irrelevante", disse papai com frieza, como se meus protestos não passassem de uma inconveniência.
Lágrimas picaram meus olhos, mas eu me recusei a deixá-las cair. Voltei-me para mamãe em desespero. "Mamãe, por favor. Diga alguma coisa. Você não pode deixá-lo fazer isso."
Seus lábios se entreabriram, mas nenhuma palavra saiu. Finalmente, ela murmurou: "Bella, seu pai só quer o melhor para você, minha querida".
Assenti com rigidez, sentindo o peso da situação recair sobre mim. Não olhei para meu pai. Meu peito doía. Não conseguia respirar.
Saí correndo do escritório. O barulho dos meus saltos no piso de mármore ecoou no silêncio do corredor. Meu coração batia forte em meus ouvidos e a raiva, a impotência e o medo se misturavam em uma névoa de emoções.
Os passos de Emilio vinham logo atrás. -Bella, espere. -Sua voz era suave, mas urgente.
Eu não parei. Não queria parar. Cerrei os punhos e continuei andando, sem me importar para onde estava indo. Eu só precisava me afastar dele, daquela casa sufocante, do futuro que eles estavam planejando para mim.
-Bella, por favor. -A voz de Emilio estava mais próxima agora, sua mão tocando gentilmente meu ombro. Deixe-me ajudá-la. Você não precisa passar por isso sozinha.
Virei-me para encará-lo, com as lágrimas finalmente transbordando. "Não há nada que você possa fazer, Emilio. Isso já está decidido. Eles já decidiram minha vida por mim.
Ele me abraçou com força e me deu um abraço familiar que me ajudou a ficar firme. "Não vou deixar que eles façam isso com você, Bella. Nós encontraremos uma solução. Não vou deixar você passar por isso sozinha".
Eu me agarrei a ele, precisando do conforto que ele oferecia, embora no fundo eu soubesse que nada poderia mudar o que estava por vir.
Mas, por enquanto, nesse momento, Emilio era minha âncora. Ele sempre foi, e eu não tinha certeza de como lidaria com a situação sem ele.
Enquanto estávamos ali, no silêncio do corredor, senti um pequeno lampejo de esperança, embora tênue, sabendo que pelo menos eu não estava sozinha. E, por enquanto, isso era tudo o que eu tinha.
O cheiro de couro e papel preenchia o escritório mal iluminado; o peso do contrato diante de mim quase me sufocava.
Passei os dedos pelas bordas do documento grosso, com suas páginas nítidas e cada palavra cuidadosamente escolhida. A tinta ainda estava fresca, mas eu já podia sentir as consequências da decisão que havia tomado.
Sentei-me à minha grande escrivaninha de mogno, a mesma que havia sido passada de geração em geração nas mãos de Romano, o legado da minha família. Eu havia crescido sentado ali, aprendendo sobre deveres, poder e as maneiras do mundo. Foi naquela mesa que meu destino foi forjado. E agora, enquanto olhava para o contrato de casamento, não conseguia afastar a sensação de que tudo pelo que eu havia trabalhado estava valendo a pena.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo suave clique da porta se fechando atrás de mim. Matteo entrou na sala e sua atitude despreocupada de sempre foi substituída por uma mais séria, embora o brilho brincalhão em seus olhos permanecesse intacto.
-Você vai mesmo fazer isso? -perguntou ele, encostado no batente da porta.
