Capítulo 5
Penélope
Enquanto eu estou em meu antigo aposento me preparando para a cerimônia, estou refletindo sobre o meu misterioso noivo ao me olhar no espelho sob o vestido branco enfeitado com pequenos botões de rosa prateadas, eu esperava vê-lo antes de caminhar até o altar rumo à nossa ligação eterna. Estar de volta ao Palácio onde cresci não foi tão doloroso como eu imaginei porque mantive os meus pensamentos preocupados em estar apresentável para o príncipe e em vê-lo, mas tudo o que eu consegui foi descobrir que ele passou a tarde toda se afogando de tanto álcool, eu sei que esse é um costume dos homens guerreiros, mas se tratando do dia do casamento dele isso condiz muito com a sua reputação de frio. Prevejo dias difíceis em minha vida...
Sorrio com a possibilidade de eu chegar de frente à ele e quando o sacerdote perguntar se eu o aceito, eu dizer não... Ou se quando o sacerdote perguntar se tem alguém contra a união entrar um cavalheiro correndo sem fôlego declarando amor por mim, implorando para quer eu não me case e o siga pelo mundo para procurarmos pela nossa felicidade um no outro...
Dou uma pequena gargalhada, minha serva me olha com curiosidade, de certo como está confusa quanto ao meu humor instável hoje: hora com olhos assustados, hora com lábios sorridentes.
Por mais que pra onde eu olhe existam barreiras, acho que no fundo eu sou como a minha mãe, não é nisso que eu acredito, e nem era isso que eu queria, mas concluo que é esse o caminho que me poderá me levar à Felicidade. Se pode existir uma chance de nascer o amor entre dois estranhos que nunca se viram antes, eu farei de tudo para aproveitá-la.
- Perfeito, alteza, está graciosa como uma flor da manhã - a serva comentou depois de terminar de prender parte do véu em meu cabelo.
- Não acha que está exageradamente grande? - questiono olhando-me no espelho e me sentindo como se eu estivesse presa dentro de uma teia de aranha.
- Na minha humilde opinião, não, alteza, mas se vossa alteza desejar, podemos experimentar o mais pequeno, - mostrou-me o pedaço de véu em suas mãos, sugerindo-me uma opção.
- Ah, não sei não, acho que vou usar esse aqui mesmo, talvez o suspense de me ver por completo o deixe em minhas mãos, pelo menos nos primeiros momentos prenderei a atenção dele em mim - brinco com a serva que começou a rir do meu comentário.
- Vossa alteza é uma companhia demasiada agradável, de certo que terá a atenção de vosso esposo em todos os momentos, o príncipe Arthuro comerá em suas mãos, alteza - assegurou-me com um sorriso confiante
- Obrigada, Frere, você é que está sendo gentil, esbanjando gentileza, na verdade - assim que eu conclui a minha frase a serva começou a beijar as minhas mãos.
- Vossa alteza está belíssima, não é gentileza, só estou sendo verdadeira.
Sinto-me surpresa com tanta demonstração de afeto da parte dela para comigo, eu realmente pensei que ela me odiasse por ter que me servir, me acompanhar e me ajudar em tudo... Será que ela tem vida própria?
- Frere, acho que eu nunca agradeci por tudo o que você faz por mim, - olhei-a pelo espelho à nossa frente.
- Servir-te é o meu maior prazer, alteza, ao contrário disso eu estaria jogada em algum canto servindo alguma senhora mau humorada, ou estaria sendo vendida como prostituta para piratas e contrabandistas, seria levada para longe daqui e nunca mais veria a minha família - fico chocada com a calma em que ela me explicou isso.
- Que horror, Frere, não diga algo tão bárbaro assim - tento espantar esses pensamentos, - não existem essas coisas em Marlenout, nosso reino é tranquilo, não diga tolices, Frere.
- A senhorita está inocente quanto a realidade fora dos muros do castelo, acho que nem mesmo o próprio rei está por dentro, mas sempre foi assim e sempre será assim, não se preocupe com isso, só saiba que eu me sinto uma felizarda e grata por estar aqui.
Apenas aceno positivamente, realmente não sei muito o que acontece nesse mundo lá fora... Será que eu também deveria me sentir grata pelo meu destino?
(...)
Fui a segunda noiva a ir de encontro com o seu noivo, o meu irmão William já recebeu a princesa Lívia e agora aqui estou eu, travada de frente para o homem de cabelos claros levemente bagunçados, totalmente desinteressado em tentar olhar para os meus olhos. Não sei como eu consegui caminhar até aqui, na verdade eu não entendo como eu vim parar aqui, já que a minha última lembrança era de estar sorrindo nervosa para o longo tapete estendido diante de mim só aguardando a minha passagem, a única regra para essa celebração é o sorriso constante, entretanto o príncipe parece não conhecer essa regra... além de não me dirigir o olhar em nenhum momento até agora, parece também não prestar atenção em nenhuma das palavras que o sacerdote fala. Ele é alto e másculo, seu semblante firme não parece pertencer a um homem que faz alguma coisa contra a sua própria vontade, ao contrário disso apesar de não parecer interessado consigo quase apalpar o sentimento de orgulho dele ao estar aqui. Confuso, muito confuso.
Que tipo de homem é o príncipe Arthuro? Essa é a pergunta que eu quis saber desde que fui comunicada do meu noivado, e agora que ele está lado à lado comigo a única coisa que eu consegui descobrir em relação a ele foi mais uma dúvida: que tipo de relação ele espera ter comigo?
Já ficou muito claro para mim que ele parece ser do tipo que não se importa com a opinião de uma mulher, do tipo que só se sentiria realizado se só tivesse filhos homens... Eu realmente pensei que houvesse uma chance... Tudo o que eu queria era ter uma família de verdade, não uma família de fachada igual a que o meu pai formava com a minha mãe, mas um esposo e uma esposa que verdadeiramente se amam, assim como a minha avó Hadassa conta que era com o casamento dela e do meu falecido avô, o rei William... contudo, depois dessa decepção que estou sofrendo nessa exato momento, a única coisa que eu posso esperar desse príncipe Arthuro é a minha honra, pelo menos aos olhos das outras pessoas, sim, aos olhos dos outros eu certamente sou a mulher mais sortuda de todos os reinos por estar desposando o grande e belo príncipe Arthuro... mas nada me tira a vontade de viver um grande amor e construir uma linda e feliz família, isso é tudo o que eu quero do príncipe Arthuro, não importa o quão importante e exclusivo ele acredita que seja, não quero nada mais e nada menos que o amor dele.