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Capítulo 2

Penélope

(...)

Chega a ser incrível como a vida da gente pode mudar de uma hora para a outra, vivemos dependentes das atitudes de outras pessoas e isso nos tornam frágeis.

— Tudo bem, mãe, é claro que eu vou ir embora com a senhora, vou aproveitar a sua companhia enquanto eu ainda posso — sorrio e seguro a sua mãe, deixando um beijo em sua face à seguir.

Quando eu penso que nada pode piorar, eu aprendo que nada é tão ruim assim.

Eu já confessei que eu sou egoísta, e eu sei que tudo o que aconteceu na vida do meu pai não foi culpa dele... mas por que isso também deve afetar à mim e a minha mãe?

O meu pai, desde que se casou com a minha mãe viveu a angustiante busca pelo filho perdido, o meu irmão William, e felizmente depois de quase trinta anos o encontrou, foi o motivo de festa em toda Marlenout, e acredite, depois do meu pai ninguém ficou mais feliz do que eu com esse acontecido! O meu querido e charmoso irmão é uma benção para mim, tenho longas e maravilhosas conversas com ele e isso me faz ter esperanças de que talvez eu consiga criar um vínculo com o meu futuro esposo, pois William cresceu criado por um casal de criminosos que o incentivavam a roubar e se aproveitar de quem pudesse, não teve nenhum afeto na infância, e mesmo assim ele está se encontrando e se mostrando um bom homem apesar de ter a natureza rebelde, eu o admiro. E, Deus me perdoe por eu se quer pensar uma coisa dessa, mas tudo ficaria bem, se os acontecimentos tivessem parado por aí...

— Penélope, não faça esse semblante tristoso para a sua mãe, eu sei que tudo isso é muito ruim, mas tudo ficará bem, para mim e para você! — minha corajosa mãe sorri, apertando as minhas bochechas.

Estamos partindo de Marlenout para Nêmesis, o reino onde a minha mãe nasceu, pois aqui não há mais nada pra ela.... não depois que a felecida rainha de Marlenout a mãe do meu irmão William voltou dos mortos. Sim, depois de décadas ao lado do meu pai, apoiando-o e tentando conquistar o coração dele, minha mãe o perdeu para um fantasma. Ok, estou muito errada em dizer dessa forma, afinal, a pobre rainha Hadassa nos últimos vinte e poucos anos esteve aprisionada em um quarto escuro sendo torturada de todas as formas possíveis, quando todo mundo acreditava que os ossos dela estavam debaixo da terra, onde haviam enterrado-a, a verdade é que o meu pai e a rainha Hadassa foram vítimas das armações de uma mulher do mal, e todo mundo sofreu com isso... a diferença é que que agora todo mundo está feliz, menos a minha mãe.

E é isso, por isso estou revoltada, e não é culpa de ninguém além da Daisi, eu sei que cada um tem a sua verdade, mas isso não é o suficiente para arrancar esse sentimento amargo de mim.

(...)

Estamos prestes a embarcar no navio que nos levará até Kahabe e assim seguirmos viagem até Nêmesis, a hora da despedida não é nenhum pouco fácil. Sinto-me como se estivesse me despedindo de mim mesma, de quem eu era, de quem eu fui desde que nasci e quem agora eu não mais serei. De qualquer forma, em breve eu partiria daqui para Kahabe quando me casasse, mas seria tudo mais fácil se houvessem apenas lembranças boas.

Depois de ter me despedido de algumas amigas e da minha avó, chegou a vez de me despedir do meu irmão:

— Logo vamos nos ver de novo, acredito que eu não vou me livrar tão fácil de você — brinco enquanto o abraço, mas meu coração está apertadinho por dentro.

— Não, eu não vou permitir tal feito — rebate afastando-me, me encara com um semblante fechado.

Sinto-o apreensivel, sinto todos apreensiveis, nem mesmo o meu pai parece estar totalmente feliz.

— Pai, não pense que eu não estou feliz por vocês, eu estou, só sinto pena da minha mãe... devo acompanhá-la e...

— Cuide dela, princesa, me perdoe por não tê-lo feito direito... — meu pai me abraça com os olhos marejados, aperta-me contra o seu peito e nesse gesto eu consigo sentir todo o remorso que ele sente — filha, perdoe-me por não ser o melhor pai, mas saiba que você é tudo para mim, um dia você vai entender que a vida não é como a gente espera.

— Eu já aprendi isso, pai, eu entendo, em breve nos veremos novamente e não se preocupe com a minha mãe, ela vai ficar bem — beijo-o com pressa e sem olhar para mais ninguém eu caminho em passos apressados para embarcar, sendo seguida pela minha serva.

Quando já estou no navio, olho pela última vez para o lugar onde cresci, os pássaros rodeiam as rochas, a brisa balança as árvores ao longe e a ponta do castelo pode ser vista lá em cima... sorrio enquanto lágrimas molham o meu rosto.

Adeus, minha querida Marlenout.

Desço para o quarto onde ficarei com a minha mãe durante a viagem, e aqui quero ficar até estar completamente rodeada pelas águas.

— Ah, mãe, a senhora já está aí?! Posso lhe fazer companhia?

— Deite-se comigo, afinal, dividiremos este aposento — sorriu dando tapinhas convidativos sob a cama.

— Mãe, acho que eu não estou me sentindo muito bem — digo de repente, segurando-me para não cair, pois uma tontura acompanhada de náuseas tomaram conta da minha cabeça e do meu estômago.

— A senhorita deseja que eu chame o médica? — a serva pergunta atrás de mim.

— Eu. Acho. Que. Não. Vai. Ser

Necessário — argumentei e em seguida vomitei involuntáriamemte sob o meu vestido.

— Chame o médico, se apresse! — minha mãe disse vindo ao meu socorro.

Essa viagem não vai ser nada fácil, entretanto, pelo menos o mal estar do meu corpo vai nos distrair dos nossos demônios sentimentais.

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