Capítulo 5
Lemi Murabak
Seu sorriso ao me ver era enigmático, despertando em mim uma mistura de curiosidade e preocupação. Intrigado, me aproximei o mais rápido que pude, com a minha bengala batendo no chão.
"Lemi, quanto tempo?" Ela já estava na minha frente.
"Aisha, você está diferente", fui pego de surpresa.
"Gostou?" Ela passa a mão nos cabelos. "Mudei um pouco, estava precisando ficar mais bonita."
"Você já era bonita, mas agora está linda. Mas, imagino que você não tenha vindo até aqui para me mostrar seu cabelo novo", ainda estava confuso com sua presença ali. "Aconteceu alguma coisa?"
"Se você atendesse o maldito telefone, eu não precisaria deixar meu marido e meus filhos para vir atrás de você."
Aisha, minha amada irmã. Já faz mais de dois anos que eu fui embora, depois de tudo o que aconteceu naquele maldito dia, deixei todos distantes da minha vida. Mas algo estava acontecendo? E aquilo me preocupou.
"E por que você veio atrás de mim?"
Sem esperar uma resposta, ela abriu a porta do carro e me chamou para entrar. Antes de entrar, notei Alisson observando a cena, enquanto permanecia no mesmo lugar onde a deixei quando vi minha irmã na porta de entrada da empresa. Meus lábios se moveram em um pequeno sorriso ao vê-la ainda me observando.
"Quem é a moça?"
"Que moça?"
"Não se faça de bobo, Lemi Murabak."
"Não sei do que está falando. Agora me fale, o que você está fazendo aqui?" Ela coloca o carro em movimento. "O que é tão urgente, Aisha?"
"Eu não vim aqui só para mostrar meu cabelo loiro para você, irmãozinho", ela deu um sorriso sem graça. "Vim trazer uma notícia para você sobre nosso pai."
"Aisha, eu já disse para você que não vou voltar. Avise o papai que eu não estou preparado para voltar…"
"Cale a boca e me escute!" Ela grita. "Nosso pai está doente e tem pouco tempo. Na verdade, não sabemos quanto tempo ele tem. Ele quer te ver, Lemi."
Nosso pai está doente e com pouco tempo de vida. Aquelas palavras foram um choque para mim, pois, até então, eu não estava ciente da gravidade da situação. Aisha, preocupada com meu comportamento distante e meu silêncio com os outros, decidiu vir me buscar para que pudéssemos ter um momento de conversa.
Cada palavra que saía de sua boca fazia meu peito apertar-se ainda mais. Sentimentos de culpa e tristeza tomaram conta de mim. Como pude me distanciar tanto de minha própria família? Por que me isolei a ponto de não atender as ligações? Estava me sentindo completamente impotente diante daquela situação.
"Lemi, nosso pai precisa de nós", disse ela com voz suave. "Vamos voltar para casa e cuidar dele juntos. Vamos enfrentar tudo isso juntos, meu irmão."
"Até quando vamos continuar passando por todas essas tragédias?" Eu observo a estrada enquanto minha irmã dirige. "Eu pensei que tudo iria acabar depois daquele dia. Tantas coisas aconteceram, eu não aguento mais viver assim. Eu só não quero mais viver isso."
"Lemi, somos filhos de um homem muito poderoso. Nosso irmão agora também é um homem poderoso e você, por mais que queira negar isso, também é."
"Eu não quero essa vida, já tenho dinheiro suficiente para viver até o fim da minha vida. Essa merda toda de poder não faz parte de mim."
"O poder te escolhe, Lemi, acha que nosso irmão quis ser um Sheik? Claro que não, se ele pudesse, iria viver a vida como você pode fazer. Mas não, ele não teve a mesma chance que você."
"Eu vou com você visitar nosso pai e depois vou voltar para minha vida, para o meu mundo."
As palavras de Aisha ecoaram em minha mente, trazendo um misto de angústia e raiva. Levantei-me da cama, um soluço escapando de meu peito apertado. Peguei uma mala vazia e comecei a jogar roupas e pertences. Era como se cada objeto que eu colocava dentro da mala aliviasse um pouco o peso que carregava em meu coração.
Aisha me observava silenciosamente, permitindo-me libertar da dor acumulada. Quando terminei, ela se aproximou e me abraçou com força, oferecendo o consolo que tanto precisava. Seus corações batiam em uníssono, compartilhando a tristeza e o medo que nos invadia.
"Estaremos juntos nessa, Lemi", sussurrou Aisha. "Eu prometo que faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para ajudar nosso pai."
No aeroporto, encontramos o avião da família já à nossa espera. Aisha segurou a minha mão, recordando-me do quanto éramos amigos. Juntos, embarcamos na aeronave, prontos para enfrentar os desafios que estavam por vir.
Meus monstros internos começaram a se agitar intensamente, sufocando-me com a dor e a incerteza. Aisha sabia que eu precisava de espaço para enfrentar meus próprios demônios. Ela se abaixou e beijou o topo da minha cabeça, então se sentou numa poltrona longe da minha.
"Vou cochilar, Lemi. Caso queira conversar…"
"Não, eu não vou querer conversar."
"Caso queira, eu estou aqui."
Sentado no avião, os sentimentos de medo e tristeza me envolviam enquanto eu embarcava nessa jornada de volta para casa. A ideia de perder meu pai era algo terrível demais para suportar, e a lembrança de sua secretária, Alisson, de alguma forma encontrou um espaço em minha mente tumultuada.
Lembrei-me de como ela me observava na frente da empresa, ajeitando os óculos, como se estivesse tentando decifrar para onde eu estava indo com a loira bonita, que ela não tinha ideia de quem era. Sorri pela sua curiosidade. Eu não quero me envolver com ela, mas ela me envolve de uma forma que não consigo controlar. O que Alisson está fazendo comigo? Aquela feiticeira está entrando na minha mente e eu não sei como parar.
Respirei fundo, prometendo a mim mesmo que faria o possível para enfrentar essa situação o mais rápido possível. Mas agora é hora de encarar a minha realidade, deixar o meu passado que me atormentava para trás e concentrar-me no momento presente. Eu estava voltando para casa depois de dois anos, para a minha família.