Capítulo 4
Lemi Murabak
"Quem é Luca?" A raiva toma conta de mim.
"Eu não lhe devo…", ela perde totalmente o foco quando eu aproximo o meu nariz do seu pescoço, mas não o toco.
"Explicação?" Eu termino a frase que ela começou e sussurro no ouvido dela. "Tenha em mente, senhorita Smith, que seu tempo agora é meu. Quando aceitou ser minha secretária, assinou um contrato com o diabo."
"Não me disseram nada disso, senhor Murabak" sua respiração está descontrolada.
"Mas eu estou falando que o seu tempo será todo meu e terá que ficar à minha disposição. Sempre. Entendeu? Ou quer ser demitida?" Nossos corpos têm somente proximidade, mas não encosto nela.
"Não me disseram que eu seria assediada, no primeiro dia de trabalho."
"E não está sendo" me distancio dela. "Só estou deixando claro que você é minha… Secretária" falo a última palavra bem devagar para que ela entenda, pois eu estava realmente passando dos limites. E se continuasse não sei a que ponto chegaria.
Quando decidi vir para Londres, eu não imaginava que as coisas sairiam do meu controle, ainda mais no primeiro dia de trabalho. Essa feiticeira me fez ficar louco por ela desde o momento que pisei na empresa e a vi naquele maldito elevador.
Depois de tanto tempo sem me envolver com ninguém, a única mulher que tinha feito aquilo comigo, ficou no meu passado junto com tudo de ruim que havia me acontecido e não podia levá-la ao inferno que passei. Eu não podia. Hoje carrego uma bengala de lembrança daquele dia infernal.
Essa mulher, Alisson Smith. É como se eu a conhecesse, mas não me lembro de onde, eu me lembraria dela, os cabelos, os óculos, o olhar e a boca carnuda, tenho vontade de prová-los a todo momento. Tivemos uma conexão desde o momento que colocamos os olhos um no outro. Quando a vi, pensei que fosse alguém que foi importante para mim, mas não, não era ela. A primeira coisa que fiz depois de quase atacá-la no elevador, foi verificar a ficha dela.
Eu estive trabalhando esse tempo todo depois do acidente em casa, era eu quem cuidava da parte jurídica da empresa. Éramos quatro sócios, além de mim John, Hassan e Aslan. Eu também tinha uma pequena parte da empresa que pertencia ao meu irmão, e antes do acidente cuidava dos assuntos de Kudsi, mas depois eu não fui mais para lá e também me desliguei das partes jurídicas.
Alisson Smith, trinta anos, solteira e inglesa. Cursou contabilidade, e por que colocaram essa mulher para ser a minha secretária? Ela não se encaixava no perfil, seria ela protegida de alguém? Nem mesmo John sabia quem ela era, quando liguei perguntando, ele foi categórico: "Não tenho ideia de quem seja, mas devem ter colocado alguém com experiência."
Aquilo me deixou intrigado. Quando estava trabalhando em home office tinha acesso às câmeras, mas nunca percebi essa mulher. Onde ela estava esse tempo todo.
Recebi uma mensagem de Aslan, enquanto estava na reunião com a investidora gostosa, mas não retornei, pois meu irmão vive me enchendo de mensagens. A mulher estava curiosa para saber o porquê da bengala, e aquilo me deixou irritado, pois todas as vezes que toco nesse assunto me enxergam como um herói. Sentem pena e depois o heroísmo toma conta delas.
"O que acha de irmos para um lugar mais tranquilo?" ela diz apertando a minha coxa.
"Não será possível" me levanto de súbito e merda eu deveria ter trazido a secretária, não estaria passando por isso.
"Um drink, talvez."
"Eu tenho que voltar para a empresa. Foi um dia produtivo e nossa parceria será um sucesso", digo querendo sair o mais rápido dali, pois a mulher está se levantando.
"Eu queria que ele fosse mais produtivo e que nós dois pudéssemos comemorar o nosso sucesso", mas eu já estava a caminho da porta, "Meu apartamento é aqui próximo e…"
"Não costumo misturar trabalho com prazer", espero que ela entenda desta vez, odeio ter que repetir a minha decisão de não transar com qualquer uma.
"Abra uma exceção, vou fazer valer a pena."
"Tenha uma boa noite" saio de lá o mais rápido que posso.
Desde o acidente, não tenho relações com qualquer mulher, se fosse uma outra época eu até poderia aproveitar a noite, e tirar aquela maldita secretária da minha mente. Mas tenho receio que me olhem com pena depois de ter ficado como fiquei, então quando tenho minhas necessidades de homem prefiro pagar por alguém que não vai me ver como um aleijado.
Eu deveria ter ido para casa e dar aquele dia por encerrado, mas eu voltei a empresa. Precisava vê-la, em minutos acabei me tornando um cara viciado na mulher que trabalhava para mim. Ela é atraente demais, algo me faz querer ficar ao lado dela como um louco.
Já era tarde e tive sorte, ela ainda estava em sua mesa, ficou corada quando me viu e era nítido que ela tinha uma certa timidez que deixava com vontade de colocá-la naquela mesa e beijar cada parte do seu corpo.
Fingi estar trabalhando e não louco para tê-la, que loucura era aquela, prometi a mim mesmo que não faria mais isso, de querer tanto uma mulher e ser capaz de fazer loucura. Assim que ela disse que iria para casa eu a segui, e lá estava ela parada no elevador junto de Berna? As duas eram amigas?
Ao ouvir o nome do homem ser pronunciado, eu fiquei louco de raiva. Afinal, quem era Luca? Ela não podia ser de ninguém e ela não vai ser.
O meu telefone toca e vejo na tela o número do meu irmão, e mais uma vez desligo. E fico com raiva, por que ele insiste em me procurar, não quero proximidade com a minha família, será que é tão difícil entender isso?
Pego Alisson olhando para o meu telefone, que estava em minhas mãos, dou um leve sorriso, ela estava querendo saber quem estava falando comigo? Ela volta o rosto para frente e finge não ter olhado. Eu envio rapidamente uma mensagem para ela, vou enchê-la de trabalho. Se ela pensa que vai se divertir hoje está enganada. Assim que o elevador pára e nós dois saímos, ela para de se movimentar e eu continuo andando com minha bengala.
"Você não vem?" Pergunto a ela.
"Não senhor, vou esperar por Berna."
"Você já olhou seu e-mail, senhorita Smith? Imagino que tenha trabalho a fazer", eu havia enviado a ela um email para que fizesse um contrato e algumas pesquisas.
"Não tinha nenhum trabalho e olhei no email antes de sair e até perguntei para o senhor se eu podia ir embora", eu vou até a porta da frente da empresa e ela vem atrás de mim como uma louca falando.
"O encontro com seu namorado terá que ser adiado, quero tudo pronto em minha mesa amanhã de manhã. Entendido, senhorita Smith."
"Espera aí. Namorado? Do que você está falando…" mas eu não ouço o que Alisson está me falando, pois vejo uma mulher me esperando.
Ela está encostada em seu carro de luxo, e muito diferente da última vez que tinha visto. Desço as escadas, escuto a voz de Alisson atrás de mim, mas preciso falar com aquela mulher que está ali na minha frente, sei que para ela ter vindo até aqui, algo estava acontecendo.