Capítulo 3
Alisson Smith
Assim que me sentei na cadeira e abri o e-mail, lá estava uma lista de coisas que eu deveria fazer. Ir na casa dele quando fosse necessário, que absurdo é esse? Eu não seria uma secretária, e sim uma escrava. E sinceramente, eu não tinha esse tempo ocioso. Mas se eu negasse, seria demitida. E isso é algo que não pode acontecer.
Podia muito bem pedir ajuda aos meus amigos. Mas não, eu não vou. Preciso caminhar com minhas próprias pernas. Quando eu pensei nessa frase, pensei que fosse no sentido figurado. E como se o destino tivesse me ouvido.
Lemi, meu novo chefe, pediu que eu tirasse cópias de alguns documentos importantes, fizesse algumas ligações para agendar reuniões e também fui incumbida de buscar uma encomenda na farmácia do outro quarteirão. Tudo isso antes mesmo do horário do almoço.
Corri de um lado para o outro, como uma louca com esses saltos que estão me matando, pois o sapato é da minha amiga, tentando cumprir todas as tarefas com agilidade e eficiência.
No entanto, cada vez que eu voltava para minha mesa para tentar me concentrar em outras atividades, Lemi me pedia para fazer algo novo. Era como se eu não conseguisse ter tempo para respirar. Ele está parado na porta da sala dele e caminha até rápido demais para alguém que usa uma bengala.
"Preciso que faça uma coisa."
"Ah, de novo não! Será que ele está se vingando de mim?" Resmungo baixinho.
"Disse alguma coisa?"
"Não, senhor. Só me deu uma tosse", finjo tossir.
Faltavam alguns minutos para a hora do almoço, eu pensei que poderia ter um momento de descanso. Mas Lemi me pediu para buscar comida japonesa para ele. Mais uma tarefa adicionada à lista que parecia não ter fim.
"Pegue este cartão", ele joga na minha mesa "Ele ficará com você para cobrir as minhas despesas. Agora vá buscar o meu almoço." Eu acabei de vir de lá e passei praticamente na frente do restaurante que estava cheio. "Vá logo e não demore, tenho uma reunião depois do almoço."
"Claro, sem problemas, já estou indo", respondi com um sorriso forçado. Eu não queria mostrar o quanto eu estava irritada.
Enquanto eu saía para buscar o almoço, uma sensação de frustração e cansaço me atingiu. Eu mal tinha conseguido fazer alguma coisa da maldita lista que ele havia me passado. Como eu poderia ser eficiente se ele continuava me dando novas tarefas a todo momento?
Ao chegar no restaurante, uma fila enorme para fazer o pedido, e pelo jeito iria demorar um bom tempo ali. Respirei fundo e me esforcei para manter a calma. Até que chegou a minha vez, e o meu pedido foi perdido, e fizeram a comida de algumas pessoas na minha frente, só viram o erro quando eu reclamei.
Sai do restaurante, praticamente correndo, e quando estava na frente da empresa ao atravessar a rua o salto do sapato enroscou e eu quase caí, derrubando as sacolas no chão, o salto quebrou e tive que voltar com o sapato na mão.
Subi pelo elevador com o almoço japonês em uma mão e o sapato na outra, mas quando fui bater na porta do escritório dele. Berna que estava saindo da outra sala me diz:
"Ele saiu faz uns dez minutos."
"Eu não acredito que aquele cretino me fez ir buscar a comida dele e simplesmente saiu para almoçar fora." Meus olhos parecem querer pular para fora de tanta raiva.
"Ele está te testando, eu acho?" Foi uma pergunta. "Calma amiga, respira é assim mesmo. John, o meu chefe também fez algumas coisas idiotas comigo, e tive vontade de matá-lo, mas depois ele foi gentil."
"Se eu não me demitir até o fim do dia."
"Você sabe que pode vir morar comigo. Pelo menos não pagaria aluguel e eu teria companhia", Berna me fala.
"Obrigada, mas não posso aceitar. Eu preciso me virar sozinha, sabe que não posso te colocar em perigo"
"Vamos comer comida japonesa?" Ela me convida e eu digo que não, pois não posso gastar, mas ela olhou para o pacote em cima da minha mesa. "Vamos sim, já temos um prato esperando."
"Mas não podemos…"
"Claro que podemos, ele não vai se lembrar dessa comida quando voltar."
Depois de um almoço movimentado, finalmente consegui me concentrar e terminar a imensa lista de tarefas que Lemi havia me passado. Foi um alívio poder trabalhar com tranquilidade, mas confesso que não conseguia tirar da cabeça a imagem de Lemi.
Próximo ao fim do expediente, o elevador da presidência se abriu, e lá estava ele, o homem mais lindo que eu já havia visto em toda a minha vida. E a bengala que agora ele usava o deixava ainda mais charmoso. Meu coração disparou enquanto o observava caminhar com confiança, seu olhar fixo em algum ponto no fim do corredor. Eu não podia negar, ele exalava poder e elegância.
"Você pode vir até a minha sala," ele me disse, e eu prontamente peguei uma agenda e uma caneta antes de correr atrás dele. Meu coração estava acelerado.
Já dentro da sua sala, Lemi estava sentado, com os cotovelos apoiados na mesa, me encarando de forma intensa. Ele me passou alguns trabalhos e eu anotei tudo. Ele disse que eu podia ir.
"Alisson?" Ele me chama quando estou de costas, será que tinha esquecido de me dizer alguma coisa.
"Sim, senhor."
"Você sempre teve o cabelo loiro?" Eu não posso acreditar que ele está me perguntando isso.
"Sim, desde a adolescência," respondi com um sorriso cuidadosamente ensaiado. "O senhor vai precisar de mais alguma coisa? Posso ir embora?"
"Não, pode ir embora. Eu não vou mais precisar de você." E eu saí de lá o mais rápido que pude.
Arrumei as minhas coisas e seguimos para o elevador, que subia pacientemente. Berna estava comigo, pois nosso expediente já havia terminado.
"Quando o Luca vai voltar?" Ela me pergunta, procurando seu celular em sua bolsa.
Ouvimos um limpar de garganta e Lemi estava atrás de nós, mesmo com a bengala, ele não fez sequer o mínimo barulho. As portas se abriram e nós três entramos na caixa metálica. Berna vê que seu telefone não está lá, e me olha com tristeza.
"Vou buscar meu celular. Ele ficou em minha mesa." Fico segurando a porta, mas Lemi se movimenta rapidamente e aperta o botão para que o elevador desça.
Ele se aproxima de mim como uma fera que quer devorar sua presa, o olhar possessivo dele me deixa tonta, o perfume entra em minhas narinas e encosto o corpo na parede gelada.
"Quem é Luca?"