Capítulo 4 Fred Mayer
— Obrigado, seu Renan, por favor, me espere aqui até que eu volte — pedi a ele.
— Claro, não sairei daqui sem você.
— Obrigado — falei, descendo do carro e entrei no clube que, realmente estava lotado. Fiquei ali no barzinho conversando com uns amigos que acabei encontrando e observando as garotas. De repente vejo uma garota linda entrar no clube, apenas com umas amigas, e fui até lá, entrei na frente da moça que me olhou assustada.
— Oi, Princesa, podemos conversar? — As amigas piscaram para moça e a deixaram comigo.
— Oi — respondeu meio desconfiada.
— Princesa, eu posso saber seu nome?
— Pode me chamar de Bete.
— Prazer, princesa, sou o Fred. Você quer beber alguma coisa?
— Sim, claro. Pode ser uma cerveja. — Bete não parecia ser nada interessante, no entanto, eu tinha que tentar. Peguei duas cervejas e nos sentamos em uma mesa, tinha que ser direto.
— Bom, vou ser direto e não vou ficar te enrolando. Preciso te fazer uma proposta.
— Como assim direto? O que quer dizer? Que proposta? — respondeu a moça, com as sobrancelhas levantadas em sinal de alerta.
— Você quer se casar comigo? Mas tem que ser agora!
— O quê? Você está zoando com minha cara, né?
— Eu sei que é meio absurdo. Mas estou falando sério, muito sério! — A garota levantou irada da mesa.
— Ah, rapaz! Vai encher o saco de outra, tá achando que sou burra? Vai se ferrar, seu idiota! — Bete saiu me xingando da mesa, eu não tinha muito tempo, então fui chegando em qualquer uma que estava sozinha e fazia a mesma pergunta e sempre ouvia:
‘’Vai se ferrar.’’
‘’Seu idiota, tá pensando que sou o quê?’’
‘’Sai pra lá, cara!’’
‘’Que casar o quê? Você é louco!’’
‘’Vai à merda cara!’’
‘’Imbecil! Tá pensando que sou fácil?’’
— Eu aceito. — Enfim, alguém respondeu o que eu queria ouvir.
— Você aceita o quê, amor? — falou um rapaz se aproximando de mim.
— Me casar com ele, pois você nunca me pede em casamento mesmo. — O cara ficou vermelho de raiva e veio para o meu lado.
— Desculpe, eu a confundi com outra pessoa — falei olhando para o tal rapaz.
— Verdade? — Ele me perguntou.
— Sim, confundi. — Saí dali o mais rápido que pude. No entanto, antes de sair deu para ouvir o rapaz pedindo a namorada em casamento. Pelo menos servi para alguma coisa.
De repente ouço muitas pessoas gritando e batendo palma do outro lado do clube. Curioso, fui ver o que estava acontecendo. E então me deparo com uma garota morena, que usava um vestido longo azul-escuro e seus cabelos estavam presos em um coque meio desmanchado. Talvez, porque estava tão bêbada e dançava tanto, que a deixou assim quase descabelada.
Mas confesso que essa moça estava linda, dançando em cima de uma mesa. E pelo jeito estava totalmente fora de si, se divertindo muito. Então um rapaz se aproximou dela, tentando tirá-la de cima da mesa, porém pelo jeito que a olhava, percebi que eram apenas amigos.
Tive a certeza naquele instante que iria dar certo. Já que assim que garota me viu, também não tirava os olhos de mim. Seu corpo
continuava se movimentando de maneira sensual, fazendo com que todos os homens que estavam próximos, assobiassem e pedissem por mais. Então gritei:
— Vem comigo, princesa... — A moça olhou novamente para o seu amigo. Se fosse mesmo algum namorado, já estaria surtando e a tiraria a força de cima daquela mesa. Sem dizer nada, olhou para mim novamente e pegou a mão que eu estendia para ela, ajudando-a a descer.
Os rapazes ficaram loucos de raiva, me vaiando por ter tirado a moça, afinal, ela estava dando um show e tanto. Segurando a mão dela, saímos às pressas do lugar, mas deu para ouvir o amigo gritando para que ela voltasse. A garota, ou não ouviu, ou nem ligou e, quando me virei para dizer que nós estávamos saindo, do nada ela me beijou e eu fiquei completamente sem reação. Tá certo, a garota era linda e eu queria me casar com ela por motivos nada nobres. Um casamento de conveniência, mais para mim do que para ela e romance não entrava na questão!
Poderia me aproveitar, como sempre fiz com toda garota que fiquei. Posso não sentir muito orgulho da minha pessoa, mas me sinto orgulhoso em dizer que nunca me aproveitei de uma garota bêbada, pelo menos não no sentido sexual. Mas, até mesmo um canalha como eu tinha seus princípios e eu não me aproveitaria de alguém naquele estado, e de alguma maneira, aquela mulher havia conseguido mexer um pouco comigo. Sei lá, aquela moça deveria estar afogando as mágoas, pois ela não tinha cara de quem costumava beber e muito menos dar show em mesas de clubes.
Eu só precisava usá-la mesmo para me casar, e pensar nisso, dessa forma, me fez ficar mal por alguns instantes. Só que eu não poderia reclamar do modo como ela estava me beijando, pois me deixou completamente excitado. Tentei resistir, porém, o desejo foi mais forte, então correspondi ao beijo com muita vontade, que estava delicioso e envolvente. Por um momento me fez esquecer o meu propósito e apenas aproveitar o momento. O som de um gemido baixo, não sei se dela ou meu, me tirou da névoa sensual em que me encontrava, lembrando-me do porquê de estarmos ali. Por um momento me senti desprezível pelo que estava fazendo, mas lembrando da minha situação, deixei a culpa de lado. Afinal, ninguém sairia ferido, pelo menos não fisicamente.
Percebi o quanto ela estava bêbada, ao ouvir que não falava coisa com coisa. Ainda me beijando, peguei-a no colo, ela mal conseguia andar naquele estado. No mesmo instante afastou seus lábios dos meus perguntando onde estávamos indo, apenas disse que iríamos dar uma volta e a levei para fora, onde o carro com o motorista da minha mãe aguardava.
Quando saímos do Clube, Renan estava esperando por mim. Assim que me viu, desceu do carro e correu para abrir a porta, vendo que estava com uma moça nos braços. Entreguei a moça a ele que a colocou no banco de trás sem perguntar nada. Em seguida, entrei, me sentando ao dela.
— Você está bem? — perguntei ao me sentar. A sua cara não estava das melhores e parecia que estava começando a passar mal.
— Sim... Estou! — Como ela estava bêbada, tive que pedir que prestasse atenção no que eu iria falar, ainda assim sua mente parecia viajar por conta do álcool.
— Sim, estou prestando.
Não sabia como falar que iríamos nos casar naquela noite, não fazia ideia de como ela reagiria. Se estivesse sóbria, com certeza ficaria louca da vida, mas com o efeito do álcool... Era completamente impossível prever. E isso me deixava apavorado, mesmo com medo de sua reação, eu tinha que tentar. Era minha última chance. A única chance.
— Você vai se casar comigo agora, tudo o que tem que fazer é assinar um documento... — A moça pareceu não me entender. Sua expressão confusa me fez ficar ainda mais apreensivo.
— Casar sim, eu vou me casar um dia, mas tô... tô sozinha, no.… no momento — disse passando seu dedo no meu rosto, fazendo-me arrepiar.
Nunca vi uma garota tão linda! Sua beleza era diferente; uma morena de lábios perfeitos, olhos azuis, uma pele linda, bronzeada e macia. Dava para sentir o quanto era cheirosa, pelo menos quando não abria a boca para falar, seu hálito era puro álcool.
Mas eu sou um homem que nunca me amarraria em ninguém, mesmo tendo tanta beleza. Gostava mesmo de aproveitar, curtir a vida sem me prender a ninguém e não ter responsabilidades, só estava nessa pelo dinheiro que herdaria quando vendesse a empresa do meu pai.
— Você vai se casar hoje. Presta atenção! — a garota parecia tão distante e distraída que me fazia duvidar desse plano louco de me casar esta noite. Isso só podia ser coisa de doido, ou de um homem desesperado, como era o meu caso.
— Tô... tô prestando — respondeu, me olhando com aqueles lindos olhos azuis.
— Tudo o que tem que fazer é apenas assinar um papel, entendeu? — Essa garota ficava muito engraçada bêbada, já que sempre respondia muito mole e estava sempre sorrindo feito boba.’
— Assinar papel, tendi. — Não consegui prestar atenção no percurso que o carro fez do clube até o apartamento, pois estava ocupado prestando atenção nela. Nesta moça linda que caiu no meu colo, literalmente, salvando minha pele, ou melhor, minha herança. Percebi que havíamos chegado, quando o carro parou e pela postura dela, percebi que também notou que o carro havia estacionado, pois já estava se precipitando para fora, mesmo estando sem condições de se manter em pé sozinha.
— Chegamos? Estou com muito sono... — A garota falou bocejando e me abraçando. — Você é muito bonito! — Ela estava me olhando de um jeito engraçado novamente e passando suas mãos em meu rosto.
— Você não esqueceu que tem que assinar um papel, certo? — Eu precisava ter certeza que, apesar de alcoolizada, ela entendesse, já que seu estado me deixava em dúvida.
— Assinar papel — repetia a moça, uma e outra vez, como se estivesse memorizando, enquanto eu ajudava-a descer do carro e então entramos no prédio, com ela observando tudo com desconfiança.
— Eu não moro aqui! — exclamou me olhando com os olhos arregalados
— Eu sei que não, você só vai assinar um papel e depois te levo para sua casa. Qual seu nome? — Precisava saber o nome dela, antes de chegar ao apartamento. Bom, ainda não eram onze horas, mas faltava pouco, então pelo menos o nome dela eu tinha que saber.
— Meu nome?
— Sim, seu nome, princesa! Como se chama? — Eu ainda a ajudava andar, estava tão mole que se eu a soltasse cairia no chão.
— Sophia — pronunciou quase em um sussurro.
— Então, Sophia, mais uma vez peço que preste atenção no que vou falar. — Estava com muito medo que não desse certo. Sophia parecia distante, como se estivesse com a mente em outro lugar.
— Estou... prestando. Você é tão lindo! — A moça falava pendurada em meu pescoço. Esperava que desse tudo certo e que ela realmente estivesse prestando atenção, mesmo estando no estado em que se encontrava. “Tomara que essa garota não me decepcione. Vou ser confiante, tudo vai acabar bem.”
— Sophia, para e me ouça!
— Sim, senhor — Ela respondeu, levando a mão até a testa, como se eu fosse um sargento. Foi até engraçado, vê-la neste estado batendo continência.
— Vamos entrar e você vai falar que é minha noiva, tudo bem?
— Noiva, não sou noiva não, estou solteira. — Ela não entendeu o que falei... Então tentei de novo. Esperava que desta vez entendesse.
— Presta atenção, olha para mim. — Sophia olhava para todos os lados, menos para mim, até eu dizer seu nome. Aí me olhou de um jeito que me deixou até sem graça. É muito difícil eu ficar sem graça, mas essa moça tem me desconcertado desde que coloquei meus olhos nela.
— Estou... olhando. Nossa você é lindo — respondeu sorrindo para mim. Até parecia feliz, apesar do seu estado.
— Sophia...
— Quê?
— Vamos fingir que somos noivos, é uma brincadeira, entendeu?
— Tendi, sou sua noiva! — Agora parecia ter entendido.
— Isso, Sophia, você é minha noiva.
— Sou sua noiva. — Céus, graças a Deus, finalmente ela havia entendido. Fiquei aliviado. No entanto, ficava repetindo isso, como se estivesse com medo de esquecer, como se fosse um mantra. Chegamos à portaria e entramos.
— Boa noite, senhor Mayer — cumprimentou o porteiro nos olhando. Sophia andou em sua direção e ficou repetindo que era minha noiva. Puxei-a pelo braço de forma possessiva, assustando o pobre rapaz, que nunca me viu entrar com uma garota ali.
— Senhor? A moça está bem? — perguntou o porteiro me olhando preocupado, por causa da situação que ela se encontrava.
— Sim, está. Só bebeu um pouco a mais — respondi me afastando, indo em direção ao elevador. Sophia parecia cada vez pior, ajudei-a entrar no elevador, mal entramos, ela colocou a mão na boca e mudou de cor, percebi que ela não estava nada bem.
— O que foi, Sophia?
— Não estou me sentindo bem — resmungou no momento em que a porta do elevador se abriu e mais que depressa ela saiu dali.
— Estou melhor agora. — Com minha ajuda chegamos ao meu apartamento, bati na porta e então o seu César abriu.
— Sou a noiva dele! — Sophia disparou quando viu seu César e rapidamente agarrou meu pescoço, fingindo mesmo ser minha noiva. Neste momento fiquei aliviado, percebendo que a farsa enfim daria certo.
— Por que demorou, senhor Mayer? — perguntou preocupado.
— Foi difícil encontrar uma garota que topasse.
— Do que vocês estão falando? — perguntou Sophia, ainda agarrada em meu pescoço.
— Bom, senhor, pelo menos a moça é linda! — Ele falou olhando para Sophia que ainda estava agarrada em mim.
— Sophia é meu nome — afirmou toda animada e sorridente,
— Vem, Sophia, vamos sentar um pouco. — Já não aguentava mais ela agarrada no meu pescoço, estava realmente muito desconfortável. Esperava que Sophia não fosse assim grudenta enquanto sóbria como era quando estava bêbada. A mulher parecia um coala! Senhor, ninguém merece!
— Não, está bom aqui. Você é tão cheiroso — disse, enquanto cheirava o meu pescoço, o que me fez arrepiar na hora e acordando o meu amiguinho embaixo.
Ela mexia comigo e como mexia! Mas não me aproveitaria de uma mulher bêbada, isso nunca, por mais canalha que eu fosse.
— César, só consegui trazer esta garota, porque está completamente bêbada.
— Não estouuu... bêbada viuuu. — Quando Sophia terminou de falar alguém bateu na porta, só podia ser o rapaz do cartório.
— Senhor, acho que eles chegaram!
— Atenda, por favor enquanto vou colocá-la sentada. — Foi difícil tirá-la do meu pescoço. Quando tirava uma mão, ela colocava a outra. Foi trabalhoso fazê-la se desgrudar de mim, mas consegui, depois de um pouco de insistência.
— Sophia, se comporta agora, tenta fingir que está bem e não esquece: você é minha noiva — falei olhando-a seriamente sem desviar meu olhar para que ela entendesse.
— Estou bem e sou sua noiva — Ela respondeu assim que os senhores entraram no apartamento. Estava tão nervoso que fui logo perguntando sobre a papelada, com medo que eles percebessem que algo estava errado ali. Errado não, mas estranho!
— Trouxeram o documento?
— Sim, está aqui! — respondeu o funcionário do cartório com uma cara séria.
Aproximei-me dos dois e sem mais delongas, perguntei quanto sairia toda a papelada. Assim que informaram o valor, tirei a carteira do bolso e, conferindo o dinheiro, entreguei a quantia que pediram.
Um deles pegou o dinheiro e guardou em uma pasta e logo em seguida olharam para Sophia que, mesmo bêbada, tentava se comportar.