Capítulo 3 Fred Mayer
— Fred, seu pai morreu já faz dois meses e você não se casou ainda, daqui um dia o contrato vai vencer e a empresa do seu pai vai ficar para o gerente. Ele deixou bem claro no testamento que a empresa passa a ser sua somente se você se casar, mas o prazo que ele deu termina daqui um dia e você ainda não se casou. Sabe o que isso significa, não é?
— Mãe, eu não sei porque meu pai deixou isso no testamento, se eu nunca gostei de trabalhar. — ‘’O que meu pai estava pensando? Que iria me consertar?‘’, pensei enquanto terminava de tomar meu café.
— Filho, seu pai se preocupava muito com você, por isso fez esse testamento. Você não quis nem terminar os estudos, sempre viveu de mesada — argumentou minha mãe, ajudando dona Lurdinha, a cozinheira da casa, a tirar as coisas da mesa, já que havíamos terminado nosso café.
— Se preocupava comigo? Ele me botou para fora de casa e depois tirou minha mesada, eu tive que morar com um amigo e para sobreviver, tive até que vender meu carro que a senhora me deu e comprei um carro mais barato para não andar a pé. Tem certeza que ele se importava comigo? — perguntei me levantado da mesa já bastante irritado com essa conversa.
— Fred, você não entendeu! Tudo que ele fez foi para você criar juízo e procurar um emprego. Mas isso você nunca fez! — respondeu me olhando sério, como se o errado fosse eu, e não meu pai que me deixou essa loucura no testamento.
— Não, mãe, eu não entendo. Para vocês, deixou bens e dinheiro e eu, para ter o que deveria ser meu, tenho que me casar e assumir a empresa. ISSO NÃO É JUSTO! — gritei me afastando dela.
— Filho, ele só queria seu bem.
— Mãe, eu não quero mais falar sobre isso, estou indo embora — resmunguei, saindo pela porta da sala e não a deixei falar mais nada, visto que eu já estava bastante nervoso. Não queria discutir ainda mais com minha mãe.
Fui para minha casa, quer dizer, para casa do meu amigo Ian, onde moro no momento. Como já tinha escurecido há um tempo, quando cheguei ao apartamento, ele já se encontrava lá.
— Fred, que cara é essa? — Eu ainda não tinha contado nada para ninguém sobre a doideira do meu pai e seu testamento, mas como o Ian era advogado, quem sabe ele não poderia me ajudar?
— Cara, eu estou com um baita problemão. Tem como você me ajudar? Como você é advogado e tal... — Juntei minhas mãos e apertei uma na outra, enquanto olhava apreensivo para meu amigo. Essa era minha única solução, se ele não tivesse um conselho bom, ninguém mais teria!
— Ih, Fred! O que está pegando agora? — Sentei à mesa com Ian e então comecei a contar tudo. Claro que rapidamente ele já tinha uma solução na ponta da língua para me dar.
— Fred, é muito fácil resolver isso! Se case e fique mais ou menos um ano casado, depois é só vender a empresa do seu pai e aí você investe em alguma coisa que dê muito dinheiro. Ah, mas antes de investir, pede o divórcio.
— É uma ótima ideia... — Olhei para ele apreensivo, é claro que ele iria me dar uma bronca por eu ser sempre enrolado e deixar tudo para o último instante, mas esse detalhe era muito importante... — Mas agora já é tarde demais, tenho só mais um dia para arrumar alguém para me casar.
— O quê? Como assim, Fred?! E você só me conta isso agora? — Ele me olhou com um tom de reprovação e balançou a cabeça. — Tá, tudo bem, deixa eu pensar... Bom, tenho um amigo que trabalha no cartório, posso ligar para ele e vejo se ele pode ajeitar a papelada para você se casar o mais rápido possível, tipo hoje. Desde que você consiga uma noiva.
— Você faria isso por mim, Ian?
— Claro que sim! — Ian pegou o telefone e digitou alguns números. — Mas nós precisamos colocar no papel que a tal moça que casar com você precisará ficar casada por um ano — Ele falou enquanto esperava alguém atender. Eu comecei a pensar em mil possibilidades até me dar conta que meu amigo estava ao telefone com alguém do cartório, me deu até um arrepio pelo corpo. Eu, casado! Nunca me imaginei com uma aliança no dedo.
A conversa foi longa, mas pela cara do Ian, parecia que nosso plano daria certo. Alguns segundos depois, ele desligou o telefone parecendo animado.
— Fred, tudo resolvido, ele ainda está no cartório, mas vai cobrar por isso. Vai preparar a papelada como falei e te encontra esta noite as vinte três horas, é o único horário que ele pode.
— Mas Ian, onde vou encontrar uma moça tão rapidamente? E aonde vamos nos encontrar para assinar os papeis?
— Fred, vocês vão se encontrar aqui, já que vou sair com a Lívia e vamos passar a noite juntos, então pode ficar à vontade. Só precisa arrumar alguém para organizar essa bagunça que está neste apartamento. Bom, quanto à moça; vai ter uma festa no Country Club, se eu fosse você, tentava arrumar alguém por lá, vai estar lotado e soube que muitos formandos estão comemorando lá hoje, então pode ser sua chance, quem sabe não encontra uma louca!
— Pode crer, cara! Tinha me esquecido dessa festa... O local perfeito! Vou ligar para o César, aproveito e peço o motorista emprestado. — Foi o que eu fiz, peguei o celular e liguei para o César, que é o mordomo da minha mãe, e combinei tudo, expliquei como eu queria que organizasse o apartamento.
Seu César entendeu direitinho e prometeu que chegaria às sete da noite. Depois de falar com ele, liguei para minha mãe, e expliquei que precisava do seu motorista. Ela pediu que eu esperasse, e foi falar com ele, que logo retornou dizendo que o seu Renan chegaria às oito horas da noite.
No entanto, curiosa como sempre foi, ela quis saber o motivo pelo qual eu precisava dele, apenas disse que ainda era segredo, mas que logo ela saberia e iria gostar muito da novidade.
— Fred, se prepara que amanhã você vai acordar casado! — Ele me lançou aquele olhar de “hoje à noite promete” enquanto esfregava uma mão na outra.
— Ian, só tem um problema!
— Além de não ter uma noiva, que outro problema você tem?
— Se eu encontrar uma noiva, não tenho as alianças!
— Bom, isso não é problema. Tenho as alianças que comprei com intenção de pedir a Lívia em casamento, mas como não é para hoje, você fica com elas e me paga depois.
— Ian, você está sendo um amigão. No entanto, não sei quando poderei te pagar, com certeza o serviço do cartório não será barato.
— Claro que pode! Porém, nada de me enrolar, viu, seu Fred?
Ian era 2 anos mais velho que eu. Tinha trinta e eu vinte e oito anos, fazia cinco anos que namorava a Lívia e já estava na hora desse pedido acontecer, porém estava muito grato por tudo o que ele estava fazendo por mim e essa realmente era a minha última chance! Ian sempre foi um bom amigo, diferente de mim, que sempre criei problemas para ele, por ser como era. “Folgado,’’ como sempre diz.
— Nunca faria isso contigo, você é meu camarada e sou muito grato pela ajuda que está me dando.
— Tá certo então, Fred, vou me arrumar, a Lívia já deve estar me esperando. Boa sorte para você — Ele falou terminando de beber sua água, pegando alguns papeis na mesa e foi para seu quarto todo animado.
Minutos depois, estava sozinho e tão ansioso com toda essa história que não conseguia nem jantar e como tomei café com minha mãe à tarde, não estava com fome. Logo o César chegou a todo vapor organizando o apartamento como pedi.
— Fred, o motorista acabou de chegar — César me avisou batendo na porta do meu quarto.
— Obrigado, já estou indo — agradeci e saí deixando César terminando seu serviço. Fui direto para o Clube, conferi no meu bolso, se a caixinha com as alianças estavam comigo e, graças a Deus, não tinha me esquecido delas. Agora, o mais importante, achar um dedo para colocar esta aliança!
— Chegamos ao clube — avisou Renan, o motorista, notando que eu estava com os pensamentos distantes.