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CAPÍTULO 6

A presença de Azrael era como uma sombra que pairava sobre mim, e a sensação de que ele podia aparecer a qualquer momento me deixava inquieta.

Mas, enquanto eu estava ali, sozinha com meus pensamentos, uma coisa ficou clara: Eu não podia continuar assim, à mercê dos caprichos de um anjo obsessor.

Não podia permitir que ele continuasse a me controlar, a me aterrorizar. Eu precisava reagir, descobrir mais sobre ele e, de alguma forma, encontrar uma maneira de impedi-lo.

No dia seguinte, após uma noite de sono conturbada, decidi que precisava visitar minha avó novamente.

Ela sempre foi uma mulher sábia, conhecedora das antigas tradições e lendas que cercavam nossa família.

Se alguém pudesse me ajudar a entender o que estava acontecendo, seria ela.

A caminhada até a casa da minha avó foi rápida, mas cada passo parecia ser guiado por uma determinação nova, como se o próprio ato de me mover em direção a ela já fosse um desafio contra Azrael.

Ao chegar, ela me recebeu com um sorriso acolhedor, mas a preocupação em seus olhos não passou despercebida.

— Ayla, minha querida, o que te traz aqui tão cedo?

Ela perguntou, me conduzindo até a sala.

Me sentei ao lado dela, e o peso do que eu precisava contar começou a se formar em minha mente.

Eu sabia que não podia esconder nada, não se quisesse realmente entender e enfrentar o que estava acontecendo.

— Vó, eu preciso da sua ajuda.

Comecei, a voz mais firme do que eu esperava.

— O anjo está tendo ainda mais poder sobre mim, e eu não estou sabendo lidar com isso.

Os olhos da minha avó se estreitaram, e ela ficou em silêncio por um momento, absorvendo minhas palavras.

Então, ela se levantou e foi até uma estante cheia de livros antigos, alguns empoeirados e claramente pouco manuseados.

— Um anjo obsessor, foi o que você me disse?

Ela perguntou, folheando um dos volumes. — Como falei pra você da última vez, você precisa se manter forte, mas prometi ajudá-la, e é isso o que vou fazer, está na hora de falar o que ainda não falei.

Eu já ouvi falar de seres assim, mas nunca imaginei que um deles pudesse se aproximar de alguém da nossa família.

— Porque a senhora não me disse isso antes?

— Porque quando não acontece com a nossa família, tudo só são histórias, mas agora está acontecendo com você, e é necessário uma investigação minuciosa sobre isso.

Passamos horas vasculhando os livros antigos, alguns escritos à mão por nossos antepassados, e outros repletos de lendas e mitos que pareciam se perder na linha do tempo.

À medida que avançávamos em nossa pesquisa, uma sensação de medo começou a tomar conta de mim.

As descrições de anjos obsessores eram perturbadoras, seres que se alimentavam da pureza, que tomavam como suas, as almas que eles corrompiam.

Finalmente, minha avó parou em uma página, seus olhos arregalados de espanto e preocupação.

— Aqui está...

Ela disse, a voz quase um sussurro. "Quando um anjo obsessor de fato penetra uma virgem, o elo entre eles é selado para sempre. Ela se torna dele, não só em corpo, mas em alma, eternamente ligada ao seu poder sombrio. Nenhuma oração ou ritual pode romper esse vínculo."

Meu coração disparou ao ouvir aquelas palavras, e um frio se instalou no meu estômago.

Aquilo era pior do que qualquer coisa que eu pudesse ter imaginado.

Não era apenas minha pureza física que estava em jogo, mas minha alma, minha liberdade, minha própria existência.

— Vó...

Murmurei, tentando processar a informação.

— O que isso significa? Como podemos impedir isso?

Ela fechou o livro lentamente, a expressão dela refletindo o mesmo medo que eu sentia.

— Ayla, eu não sei se podemos impedir algo assim.

Admitiu, com tristeza na voz.

— Mas você precisa ser forte, resistir a ele com todas as suas forças.

Qualquer sinal de fraqueza pode ser usado contra você. Talvez haja alguma outra forma, algum detalhe que ainda não conhecemos... mas precisamos continuar a procurar.

Eu assenti, embora o medo estivesse começando a se transformar em desespero.

Sabia que o tempo não estava ao nosso lado, e que Azrael voltaria, talvez mais determinado do que nunca.

Mas uma coisa era certa: Eu não cederia sem lutar. Ele poderia ser um anjo com poderes além da minha compreensão, mas eu ainda tinha minha vontade, minha força, e o amor da minha família.

E eu usaria cada uma dessas coisas para lutar contra ele.

Quando saí da casa da minha avó, o céu já estava tingido pelos tons quentes do pôr do sol, e uma leve brisa anunciava a chegada da noite.

O caminho de volta para casa, que normalmente eu percorria com tranquilidade, parecia mais sombrio à medida que a luz do dia se desvanecia.

O medo das revelações que descobrimos ainda pesava sobre mim, mas eu tentava manter a calma, forçando-me a acreditar que conseguiria superar isso.

À medida que a escuridão crescia, os sons ao meu redor pareciam se amplificar.

Os grilos cantavam incessantemente, e o farfalhar das folhas nas árvores parecia mais ameaçador do que nunca.

Foi então que, sem qualquer aviso, senti uma presença familiar e arrepiante.

Meu corpo ficou tenso, e meus passos hesitaram.

Olhei ao redor, mas não vi nada, apenas sombras alongadas e a trilha quase deserta. Então, um vento forte conhecido balançou as folhas das árvores, e eu ouvi a voz dele, suave, mas cheia de uma ameaça que me gelou por dentro.

— Ayla...

A voz de Azrael sussurrou através da escuridão, como se estivesse em todos os lugares ao mesmo tempo.

— Pensa que pode me afastar? Que conversando com sua avó vai conseguir me impedir?

De repente, ele apareceu diante de mim, saindo das sombras como se tivesse se materializado do próprio ar.

Suas asas estavam parcialmente abertas, a escuridão ao redor dele parecia ganhar vida própria, engolindo os últimos vestígios de luz do dia.

Seu olhar, cheio de uma possessividade sombria, me prendia no lugar, como se eu estivesse enraizada no chão.

— Você acha que pode me esconder seus pensamentos?

Ele continuou, dando um passo em minha direção.

— Eu vejo tudo, Ayla.

Sinto suas dúvidas, seu medo... e cada uma dessas fraquezas me fortalece. Eu me alimento disso.

A escuridão ao nosso redor parecia se intensificar, como se o mundo estivesse desaparecendo, deixando apenas nós dois naquele vazio opressor.

Tentei me mover, dizer algo, mas estava paralisada pela presença dele, incapaz de reagir.

De repente, senti a mão dele deslizar para dentro do meu vestido, os dedos frios e firmes encontrando o tecido da minha calcinha.

O toque era ao mesmo tempo sedutor e aterrorizante, uma invasão que fez meu corpo tremer.

— Essa luta é inútil, Ayla.

Ele sussurrou perto do meu ouvido, os lábios quase tocando minha pele.

— Você pode correr, mas eu sempre estarei lá, observando, esperando... e me alimentando de cada desejo que desperto em você.

O pânico tomou conta de mim, e naquele momento, minha paralisia se quebrou.

Com um grito de desespero, consegui me soltar do controle dele, e sem olhar para trás, comecei a correr.

As sombras ao meu redor pareciam querer me engolir, mas eu continuei correndo, sentindo a presença dele cada vez mais distante, mas ainda assim, sempre ali.

Meus pés quase tropeçaram nas pedras e raízes do caminho, e meu coração batia descontroladamente, como se estivesse tentando escapar do meu peito.

Quando finalmente avistei as luzes da minha casa, me forcei a correr ainda mais rápido, como se a segurança estivesse apenas a poucos metros de distância.

Cheguei à porta ofegante, o medo ainda pulsando em minhas veias, e entrei em casa, fechando a porta atrás de mim com força.

Meus pais estavam na sala, e ao me verem naquele estado, se levantaram alarmados.

— Ayla, o que aconteceu?

Minha mãe perguntou, correndo em minha direção, o rosto cheio de preocupação.

Eu mal conseguia falar, o pânico ainda estava tomando conta de mim, mas consegui balbuciar.

— Nada... Eu só... precisei correr... de volta para casa.

Foi a única coisa que consegui dizer, tentando desesperadamente esconder o terror que ainda sentia.

Eles não pareciam convencidos, mas antes que pudessem questionar mais, subi as escadas rapidamente, me trancando no quarto.

Lá, me encostei na porta, respirando fundo, tentando recuperar o controle. Mas sabia que Azrael estava certo. Ele estava sempre ali, nas sombras, esperando... e eu precisava ser mais forte do que nunca para resistir a ele.

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