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CAPÍTULO 04

Visto a calça do pijama e decido ir atrás de comida, já que é tarde e eu estou com fome. Desço as escadas e não noto sinal de vida na casa, agradecendo por isso. Vou até a cozinha. Como o caminho está difícil devido à penumbra de merda, tropeço, batendo um dedo.

— Merda do caralho! — Esmurro o balcão da ilha e xingo mentalmente quem apagou a droga da luz.

Vou até a geladeira com meu dedo latejando, quando minha cabeça é acertada por algo que não é sólido, nem macio, mas consistente o suficiente para me machucar. Ainda sem ver quem é a pessoa, levo uma mão ao seu pescoço.

— Se for um fantasma, juro que nunca mais o jogarei água benta. Eu juro. — sua voz macia soou temerosa.

Incrédulo com o que ouvi, estico o outro braço e acendo a luz. Aqui está a razão da minha insônia fazendo o sinal da cruz sem parar, com os olhos fechados.

— Layla!

Ela leva as mãos ao rosto, parecendo assustada.

— Eu sabia que o diabo viria me buscar, só não sabia que tinha a voz da razão da minha libido. Juro que foi sem querer que quebrei aquela coisa que levava os santos. Ai, meu pai! Bem que o nonno avisou que o capeta vem com a voz de quem mais pensamos. — Sem abrir os olhos, volta a fazer o sinal da cruz.

Espremo os lábios para não gargalhar.

— Sou eu, a razão viva da sua libido. — afirmei cheio de orgulho, satisfeito com tal descoberta.

Não posso querê-la diante da desgraça que fiz com minha vida, mas acontece que ela é meu imã, e perto dela sou fraco e controlador.

Layla abre seus delicados dedos que estavam apertando sua linda e doce face, olha por entre eles, tira as mãos do rosto e apalpa meu corpo. Seguro suas mãos, provando uma vibração vinda direto do inferno, a fim de me eletrocutar. Já ela age diferente. A pequena menina geme e eu posso sentir sua respiração mais ofegante.

Levo um susto quando ela solta as minhas mãos como uma esguia e leva as dela ao rosto novamente ao reparar na minha face. Em seguida, aponta o dedo na minha direção.

— Desculpe! Achei que fosse o capiroto. O meu nonno disse que se eu não pagar os santos que quebrei um dia desses, as pragas das ex-mulheres dele vão vir em forma de diabo para me cobrar o que quebrei e esqueci de pagar.

Eu a olho incrédulo.

— Acredita nesse tipo de coisa? — Percebo que a maldita está usando apenas uma minúscula roupa de dormir.

Eu poderia enfiar meu pau nela a noite toda só por vê-la tão linda. Sua blusinha deixa seus seios provocantes e a alcinha caída em seus ombros é insinuante. A parte de baixo é curta, nada justa e abaixo do umbigo. Isso é sensual. Meus olhos admiram o seu corpo que ficou praticamente nu para mim. Seus cabelos são tão lindos quanto eu lembrava.

Atordoado, levo as mãos à testa.

— Que caralho fez com minha testa? — Estou sentindo dor.

— Tudo tem uma explicação plausível. — Sorri como uma criança marota. — Como eu estava explicando, acreditei que você fosse um fantasma. Não vou falar que pensei que fosse um demônio, porque vocês, Pasini, já são conhecidos por serem isso. E, pelo que eu saiba, não têm rabos. Chifres, eu já não sei. — Ergue as mãos em um sinal de defesa. — Com medo, acertei sua testa com uma roda de queijo.

— Fez o quê? — perguntei indignado.

— A culpa foi sua por me assustar. Eu podia ter tido um infarto. — dramatizou.

— Por acaso é cardíaca? — Ignoro o fato de ela ter me culpado.

— Não mesmo. — disse com convicção.

— Então, não encha! — Estou irritado com a dor que sinto.

— Não gosta de mim porque sou da Beijo da Morte? — indagou insegura.

— É cega?

Eu queria dizer que mesmo que tenha a visto uma única vez, ela tem uma força estranha sobre mim, que não a tirei da minha cabeça em dois meses e que ela tem se tornado uma busca para mim. Mas acontece que, talvez, eu esteja noivo e os patriarcas não permitam que eu coloque grandes acordos em risco para apenas poder satisfazer o meu pau. Então, tento parecer indiferente.

— Não. — Leva as mãos à barriga e começa a rir.

— Qual a graça? — Sinto-me ainda mais irritado.

— Ficou com o queijo desenhado na testa. — Gargalha.

Levo as mãos ao local, sentindo dor.

— Não acredito que fez isso comigo.

— Acredite: foi melhor do que ter tido uns tostões jogados contra seu corpo. — disse com mágoa.

— Achei que fosse uma prostituta. — expliquei.

Ela abre e fecha a boca.

— Sente-se aí, na bancada! Vou cuidar de você. — Abre a geladeira.

— Está brincando, né? — questionei indignado.

— Não. Por quê? — Pega gelo e ervilhas congeladas.

— Sou bem maior do que você. Se eu me sentar em cima da ilha, seu rosto vai ficar na altura do meu umbigo.

— E bem perto do perigo. — completou em voz alta como se falasse consigo mesma.

— Acha que sou um perigo? — Tento entender o que ouvi.

— Alonso... — Não termina a frase.

Ouvir sua voz doce dizer o meu nome fez o meu peito saltar. Então, lembro-me de Luca e Fred falando sobre esse assunto e atribuindo isso ao fato de estarem apaixonados pelas suas esposas. Não é possível. Eu a vi uma única vez. Foi um encontro forte em que a tive em meus braços.

Chacoalho a cabeça, sentindo dor. Olho-a e a noto gesticulando para que eu me sente na cadeira que ela arrastou até o meu lado. Eu me sento. Não deveria, mas meu imã está aqui, linda e...

— Está cortando o queijo? — perguntei incrédulo.

Ela ri.

— Está achando que queijo é só para bater em assombração? — Ri novamente.

— Por acaso, eu sou assombração? — questionei indignado.

— Seria uma bela assombração. — respondeu sem rodeios. Depois cora e abaixa os olhos.

— Venha aqui, Layla! — Ela me obedece e eu seguro sua cintura, dando um sorriso ao ver sua pele se arrepiar. — Faça o que pretendia fazer! — Estou a desejando montada em mim.

Ela fica com os seios próximos ao meu rosto, pega o gelo e o coloca no local ferido, segurando-o com uma mão e comendo o bendito queijo com a outra.

— Quer? — ofereceu-me um pedaço dele.

— Quero. — Eu queria dizer não, mas, por um instante, só desejei aproveitar o momento. Sei que o dia de amanhã pode mudar tudo.

Ela leva com delicadeza o queijo oferecido até a minha boca, deixando algumas migalhas caírem dentro de sua blusa. Eu, sem conseguir segurar mais meu desejo insano, mordisco seus seios por cima do tecido.

— Não pode. — falou cheia de luxúria.

— Você me quer como eu a quero. Posso ver isso. — falei sem hesitar.

— Não gosta de mim. Não posso ficar com quem sente repulsa ao me ver.

Não lhe digo que não tenho repulsa por ela, que a quero e que a farei ser minha neste instante, mesmo sabendo o preço a pagar por ir para a cama com uma casta.

Suspiro, pensando nas responsabilidades.

— Quer vinho? — Tiro as mãos dela da minha face e pego uma boa garrafa de vinho. — Pegue as taças! — ordenei.

— Não posso beber. — respondeu acanhada.

— Por que não? É menor de idade? — Abro a garrafa.

— Não posso porque vinho acaba com minha timidez e uma Layla bem devassa surge.

— Fique bem longe deles! — ordenei às pressas.

— Ficarei. Pelo menos até ter um namorado. — Coloca o gelo na própria testa.

— Nada de ter namorado! Ouviu? — Sem pensar no que estou fazendo, levo uma das mãos ao seu pulso e o aperto com ira.

Ela não recua. Pelo contrário. Apenas me puxa para um beijo que eu não nego. Libero seu punho para a envolver em meus braços e enrosco nossas línguas. A garota mostra sua falta de experiência. Eu, que sempre gostei de mulheres bem experientes, estou amando ter essa menina que mal sabe beijar, aqui, perdida nos meus braços. Eu a beijo com tesão, com fome, com saudade e com ira pelo que ouvi.

Layla deveria ser minha.

Ela geme contra meus lábios e eu vou ao ápice do desejo. Meus braços apertam mais ao seu redor. Sinto os nossos corpos estremecerem juntos quando suas pequenas mãos passeiam pelo meu peito. Massageio seus cabelos, deixando-a excitada aparentemente, e depois coloco a outra mão dentro da sua intimidade. É minha vez de gemer, sentindo-a toda molhada.

Selo nosso beijo e percebo seu sorriso contra meus lábios. Também reparo no seu olhar. Seus lindos olhos brilham quando me fitam e eu não entendo o porquê.

— Eu estava com saudade disso. — confessou com alegria.

— Eu também estava. — Dou um beijo casto em seus lábios.

Ela observa o volume nas minhas calças que está esfregando no abdômen dela.

— Sabe que é pervertido, né? — indagou com as bochechas coradas.

— A culpa é sua. — Passo o polegar entre seus seios. — Ainda irei beber vinho bem aqui no meio. Depois vou descer até aqui. — Desço minha mão até sua intimidade ensopadinha e faço círculos com um dedo no seu grelinho gostoso. Layla está prontinha para gemer para mim. — Vou me embebedar bem aqui, nessa delícia... — Afasto-me dela quando ouço o meu pai.

— Quem está aí? — perguntou curioso.

— Somos nós, papà. — Abro a garrafa de vinho e pego as duas taças.

Ele entra no cômodo sorrindo quando vê Layla. Nitidamente, gosta dela e a aprovaria como nora. Já Nivea, ele vai odiar.

Olhando bem minha testa, questiona:

— O que houve com você?

— A nossa hóspede achou que eu fosse um fantasma.

Ele a olha abismado.

— Ah! Foi só um pequeno engano. — Ela dá de ombros. — E já aviso que vou dormir com a luz acesa, agarrada à bíblia.

Fico perplexo.

— Tem uma bíblia? — Estou sem acreditar.

— Tenho sim. Mas acabei de me lembrar que esqueci uma das minhas bagagens em casa, justamente a que continha minha bíblia. Vocês têm uma para me emprestar?

— Não somos religiosos. — papà explicou.

Ela coça a cabeça e depois nos olha.

— É a casa dos demônios Pasini. O que eu esperava? — disse inconformada.

Dou risada, encaro meu pai e o vejo feliz por me ver rindo pela primeira vez depois da morte da minha mãe. Nós três ficamos rindo. Layla é engraçada e o mais divertido nela é que a maioria das coisas que diz, é natural. Ameaçou a mim e ao meu pai, dizendo que se acordar à noite e o corredor estiver escuro, vai “descer” a vassoura no primeiro que aparecer. E quando ele perguntou que tipo de mafiosa bate nos outros de vassoura, ela respondeu que é do tipo que tem medo de fantasmas e agulhas.

Nós conversamos durante um tempo e, quando dou por mim, Layla está dormindo debruçada por cima do balcão frio. Eu a pego nos braços, mesmo com meu papà olhando tudo, e a levo até a suíte que ela está ocupando. Por algum motivo, fico louco para lhe levar até a minha, mas acontece que, de acordo com as leis Pasini, só a futura senhora pode dormir nos aposentos do capo. Assim, acabo recobrando o juízo e a deixando bem acomodada em sua cama.

Observo vários baús em seu closet, deixo a luz acesa e volto à minha suíte. Eu quero rir. Na certa, sendo filha de quem é, Layla já tirou vidas, mas ainda sente medo de fantasmas.

Já no meu quarto, olho pelo espelho a minha testa marcada por ela. Se tivesse sido qualquer outra pessoa, a esta hora já estaria morta, mas como foi a mulher que invadiu meus pensamentos e não saiu mais...

Sem alternativa, deito-me na cama e rolo nela até amanhecer. O dia clareia e eu ainda luto para tirar a linda mulher de olhos azuis da minha cabeça, só que já perdi essa batalha.

Faço minhas higienes matinais e corro até o quarto onde a deixei. Quero vê-la. Sinto a necessidade de ver a mulher que é meu imã.

Abro a porta com cuidado, e nada dela. Entro no cômodo sem fazer barulho e a procuro por todos os lugares, porém não a encontro. É quando reparo novamente nos baús pretos. Eles são antigos e suas fechaduras são o símbolo da Beijo da Morte. Notavelmente, esse brasão é feito de ouro maciço. Olho-os sem entender e cheiro suas roupas muito bem arrumadas nos cabides e gavetas.

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