part 2
3
— Senhorita, preciso que fique quieta.
— Está nervosa? Não acredita em si mesma? Quem é a melhor na flauta? — Rapidamente e jovem se vira atrapalhando novamente em sua arrumação.
— Não vou tocar flauta. A senhorita Kumiko disse que era pequeno demais.
— Hm, então acho que trouxe na hora errada.
— O que é? — Sorridente ela tentava ser mais rápida que as mãos de seu pai.
— Fique quieta para que possam a arrumar. — Imediatamente ela se tornou imóvel.
— O que é papai?
Ele sorri enquanto os cabelos de sua menina são decorados com pingentes e pentes cobertos de jóias floridas. Estava linda em seu quimono vermelho.
— Antes que eu a entregue, quero que saiba de algumas coisas. — Liam continua a olhá-lo ansiosa. — Tome cuidado agora mais do que nunca, mas para frente saberá de coisas que a faram pensar bem quem era sua família, e sim tudo será verdade, mas para toda essa verdade há uma razão.
— Não entendo, papai.
— Ainda não. — Acariciando com o polegar a face rosada de sua menina, o rei a direciona com a outra mão o presente que escondia em suas costas. Uma pequena caixa de madeira, era brilhante, dentro dela uma bela flauta de bambu e um lindo pingente com um dragão branco pendurado.
Pulando da pequena plataforma que se encontrava, Liam agarra seu pai com seus pequenos e finos braços e o agradece limpando os olhos em seguida.
— Liam, independente das coisas que ouvir e ver, eu quero que seja forte e que saiba que eu a amo.
— Senhor, está na hora. — declarou assim que Liam estava disposta a dizer-lhe algo.
Quando finalmente a princesa estava pronta, as criadas se retiraram aliviadas pelo bom e cansativo trabalho.
— Ela não é linda? E a mais bonita de todas!
— Eu conheço essa flauta. Achei que estivesse perdida depois…
— Depois da morte daquela mulher? Então era dela?
— Foi um presente de nossa mãe. Assim como você, Xia adorava a música, era boa em tudo, mas também preferia a flauta.
— Então acho que ela é sua. — Engolindo com dificuldade a criança a estende até a entidade.
— Eu não sou mais vivida, e mesmo que fosse, a flauta apenas funciona com aquela que habita em si o espírito do dragão.
— Então isso quer dizer que eu também não posso tocá-la.
— Eu a segui, segui o brilho do seu coração, meu espírito está ligado a ele por algum motivo. A flauta tem dois lados, o bem eo mal, assim como pode fazer o bem ela também poderá fazer o mal, e se ela está em suas mãos não é porque seu pai a entregou.
— Acho que está na hora! — Disse após ouvir o sino.
— Liam! Tome cuidado com Kumiko.
4
Tudo parecia ir bem até a futura rainha chamar Liam, que no momento saltitava pelo corredor. As palavras de seu pai e daquela entidade que nunca soube o nome borbulhava em sua cabeça a cada passo que dava para mais perto de Kumiko. O sorriso da princesa do reino da serpente se desfez assim que seus olhos observaram a pequena caixa brilhante nas mãos da criança.
— O que é isso? Não combinamos que seria Guzheng? — Liam assente escondendo a caixa sobre suas costas. — Deixe-me ver! — Exigiu puxando um dos braços da criança e a arrancando o objeto.
Após abrir a pequena caixa, um sorriso encantador se forma novamente em seus lábios e dispensando a criança, ela entra imediatamente para seu quarto.
Pétalas de lótus estavam espalhadas sobre os corredores sinalizando por onde a futura rainha passaria. A sala para a execução da cerimônia também já estava pronta… não havia convidados, as pessoas do reino aguardavam do lado de fora a aparição do casal e enquanto isso os soldados e os servos estavam ajoelhados em fileiras esperando pelo grande momento.
Quando finalmente o jiaozi chegou acompanhado de muitos carregadores, todos automaticamente se levantaram fazendo duas grandes fileiras ao lado do extenso tapete vermelho e levando as mãos ao alto onde criaram um túnel de lótus.
Ao som das flautas, o rei caminhou sobre o tapete e aguardou a mão de sua futura esposa.
Kumiko estava grandiosa, o longo vestido vermelho e as joias espalhadas por seus cabelos e resto do corpo, a deixavam mais bela do que já era. Levando sua mão ao encontro da do rei, Kumiko sai em grande confiança e caminha com postura até o palco.
Tudo parecia está indo bem e como o planejado, mas algo inapropriado para o momento estava se aproximando com rapidez e agilidade.
5
Com o término da cerimônia, e tudo corrido bem, era a hora de comemorar com o povo e Liam já aguardava o casal para a sua apresentação. Enquanto sentia seus dedos soarem e seu corpo se enrijecer, o povo grita vida longa à rainha enquanto essa caminha agarrada com seu marido sobre o salão em direção a parte mais alta do mesmo. Subindo uma longa escadaria escondida no canto do salão bem iluminado e decorado, Kumiko lança um olhar em direção a criança que abaixa sua cabeça delineando seus dedos pelas cordas.
Após sentir dois dedos a tocarem o ombro, Liam respirou fundo e posicionou seus dedos. O cheiro das flores a acalmava, mas ainda assim ela se imaginava só trancada em seu enorme quarto. Com um intenso arrepio na espinha, a criança começa a tocar e os profissionais apenas a seguem na mesma melodia, a música era relaxante e lenta, era perfeita para que o povo lá embaixo aproveitasse.
— Eu disse que ela era perfeita. — Anunciou o rei em um sussurro.
— Sim, para uma criança. — Retrucou levando as mãos um cálice. — Acha que ela está bem? Ela tocou uma nota errada.
— Ela está bem. — Declarou a olhando discretamente.
Enquanto as notas eram emitidas através de seus dedos, Liam observava uma enorme sombra ir em sua direção. Tinha longas e enormes asas e uma cauda maior ainda, parecia haver espinhos e também chamas. Talvez pudesse ser um demônio, já que dragões não eram vistos no reino, ou talvez fosse um e estivesse em busca de algo. Liam respirou fundo forçando seus pequenos olhos e voltando a melodia.
Novamente o arrepio sobe por seu corpo pequeno, porém dessa vez ao ver aquela enorme sombra subir por suas vestes. Estava em cima dela e não a causava exatamente nada além de confusão. Quando finalmente Liam viu garras sobre suas mãos, e tocou notas erradas uma atrás da outra, aquilo que parecia inofensivo grita a fazendo levar as mãos sobre os ouvidos e ver em silêncio as cordas de seu instrumento serem arrebenta, mas o pior foi a sensação de sentir aquele grandioso ser tomar seu corpo.
Por alguns milésimos seu corpo se manteve imóvel, e sua alma vagou até que finalmente recobrou sua consciência. Olhando para as cordas e sentindo envergonhada por seus erros e os olhares sobre seus ombros, a criança correu descendo as escadas e escapando do salão.
— Aonde vai? — Perguntou Kumiko levando sua bebida a boca.
— Minha filha precisa de mim.
— Sabe do seu dever, e o que prometeu. — Em silêncio Li bo sentou-se ao lado de sua esposa e permaneceu até o fim do dia.
6
Passado-se algumas horas a criança bate sobre a porta de seu pai, mas sua madrasta a recebe e tapá o tronco de Li bo sobre a cama assim que a criança o encara.
— Ele ainda está descansando, a festa o deixou exausto. — Informou olhando rapidamente para trás e retornando com um de seus belos sorrisos. — Deveria ter ficado até o final, não íamos fazer nada só porque tocou algumas notas erradas e danificou as cordas do instrumento.
— É… eu… me desculpe. — Pediu abaixando a cabeça.
— Tudo bem, eu deveria ter acreditado quando disse que ainda não sabia tocá-lo bem. Mas era só isso? Veio se desculpar ou quer algo mais?
— É… e-u, eu vim pegar a flauta… A senhorita poderia me entregar?
— Ah claro, a flauta. Você pode vir depois? Não estou lembrada de onde a coloquei.
Sem que pudesse a questionar, Liam aceita e a observa fechar a porta em seguida.
“ Muitas vezes deixamos de fazer o que gostamos para agradar a outros.”