CAPITULO 4
Dias atuais...
LORENZO
Novamente acordo em um sobressalto. Meu coração estava acelerado. Estremeci, de repente, com frio e somente um lugar poderia fazer com que os demônios do passado me deixassem em paz.
Tentando freneticamente ignorar a sensação de desconforto, me levantei e depois de alguns passos, parei em frente a parede. Levei uma de minhas mãos até o concreto e assim que a parede se moveu adentrei ao cômodo e logo comecei a descer a escada.
A cada passo era como se eu tivesse me arrastando, prolongando o momento de chegar ao meu destino, assim como os pesadelos que assolavam minha mente, desde que matei aquele infeliz. Depois do dia que marcou a minha vida para sempre e despertou por completo algo diabólico que habitava dentro de mim, perdi as contas de quantas pessoas já havia assassinado, pois quanto mais eu matava mais ansiava por enviar uma maior quantidade de almas ao inferno, porém, eu me lembraria da imagem daquele que foi o primeiro para o resto da minha vida.
Deixo os devaneios de lado assim que parei à frente da porta do pior lugar do mundo. Aquele onde você só sairá vivo se lutar contra os seus piores medos e se caso se entregue ao momento de lucidez só terá um único destino, a morte. Meus demônios logo se manifestaram no momento que a porta do próprio inferno foi aberta."Room 101".
Manhattan – Distrito de New York.
Dia do aniversário de 18 anos de Mia.
MIA
Meus olhos se abriram quando ouvi vozes através da porta do meu quarto. Um único pensamento surgiu em minha cabeça e com ele um sorriso largo tomou conta da minha face. Será que finalmente eles se lembraram que hoje é o meu aniversário?
Movida pela minha curiosidade, corri para o banheiro e minutos depois já tinha feito minha higiene matinal e trocado de roupa. Deixei o quarto rumo à sala e assim que entrei no ambiente, alguns pares de olhos escuros olharam em minha direção mais no momento que o som da voz da minha mãe preencheu todo o cômodo. Por uma fração de segundos a minha respiração falhou, parecia que o tempo havia parado e nada se movia.
— Aqui está ela, pode levar essa imprestável. — Ela soltou uma risada diabólica que ecoou pelas paredes do ambiente.
Nada daquilo fazia sentido. Mil pensamentos se fizeram presentes e antes que o meu cérebro tentasse encontrar as respostas, pois esperava desesperadamente que tudo isso fosse apenas um sonho ruim, dois dos homens se moveram e caminharem em minha direção. Eu senti como se todo o sangue do meu corpo tivesse sido drenado, causando arrepios em todo o meu ser.
Não me dando chance de reagir, senti quando as mãos ásperas de um deles segurou firme o meu braço e um grito devastador escapou entre meus lábios.
— Nãooooooooo — supliquei desesperada.
Quando a mulher a quem sempre amei apesar de toda crueldade que vem demostrando comigo, ouviu o som do ruído, deu alguns passos enquanto o homem intensificou o contato contra o meu corpo, sendo assim comecei a me debater pedindo para ele me soltar.
— Mãe eu não fiz nada — justificava já com os olhos cheios de lágrimas, mas ela se deteve ao ficar à minha frente. Encontramos os nossos olhares, seus olhos esverdeados fixos nos meus e tudo que via dentro deles era um ódio que jamais havia percebido.
— Nunca mais eu terei que ouvir a sua voz irritante e olhar para o seu maldito rosto. Por dezoito anos tive que suportar você e hoje eu estou livre desse tormento. Eu não sou a sua mãe, não somos os seus pais e você não passa de uma órfã, é simplesmente um nada.
Lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto o som daquelas palavras me atingiram como se tivesse cravado algo no meu peito. Tanto ela quanto o meu pai pareciam ter ganhado na loteria, tamanho era a felicidade estampada em suas expressões e quando enfim sair do estado catatônico que me encontrava, notei algo perfurando a minha pele e fui envolvida por uma escuridão sem-fim.
Escutei alguns barulhos, meu corpo estava dolorido e meus olhos pareciam grudados, mal consegui entreabri-los.
Respiro fundo e abro os meus olhos bem devagar e minha cabeça dolorida começa a latejar e a vista enevoada. As lembranças recentes surgem me causando uma sensação de mal-estar no estômago e o medo cruza minha mente. De imediato meus olhos se abriram por completo e assim que tentei me levantar, senti todo o meu corpo dolorido, mas toda minha atenção se voltou para as mulheres à minha frente e principalmente para o som da voz de uma delas que reverberou no ar.
— Bem-vinda a Luxuries.
— Eu quero sair desse lugar! — disse firme.
— Você precisa ficar calmar e fazer tudo que mandarem. Daqui a pouco todas devem tomar banho e estar arrumadas, pois à noite aqui nesse lugar é uma criança.
Engoli em seco. E não precisava ser muito esperta para saber onde eu estava, já que o nome do ambiente e o jeito como estavam vestidas me deram a confirmação. Embora a minha vida não tenha passado de uma mentira eu não vou ficar aqui, para isso eles terão que me matar.
Horas depois...
Toda uma movimentação acontecia a minha volta. O som de várias vozes se fizeram presentes, no entanto, permaneci sentada no chão, encolhida, enquanto as mulheres andavam de um lado para o outro. O cheiro de diversas fragrâncias impregnavam o lugar assim como a multiplicidade de cores se fizeram presentes. O brilho e o luxo em excesso predominavam o recinto, mas logo minha atenção se voltou para uma mulher, que possui cerca de uns cinquenta anos, que surgiu no meu campo de visão.
— O que você está esperando para se arrumar?
— Se deseja tanto isso, terão que fazer a força. Pois não pertenço a esse lugar e não vou sair daqui.
Sua expressão que era uma máscara fria, logo deu lugar a um largo sorriso e novamente o som da sua voz repercutiu.
— Pobre criança. Quero todas vocês em cinco minutos no hall, já você não será comigo que terá que mostrar toda essa determinação e sim com o seu pior pesadelo.
Fiquei desorientada diante de suas palavras. Ela caminhou em direção à porta e depois de alguns instantes, no lugar que antes estava lotado, fiquei sozinha. Encolhi-me ainda mais e somente um pensamento se repetia em minha cabeça.
"Seja quem for a pessoa que ela se referiu, ele e nem ninguém poderá me obrigar a nada."