CAPÍTULO 05
New York
MIA
Minha cabeça continuava latejando. As palavras que ouvi daquela que sempre pensei que fosse a minha mãe, se reproduziam em minha cabeça como se fosse um mantra. Sempre busquei dar o meu melhor, até porque acreditava que eles só me tratavam daquela forma já que eu fazia tudo errado. Embora cansada por passar a tarde toda sob o sol escaldante, eu acordava cedo para ir para escola e sempre me esforcei para ter as melhores notas, quando chegava o final de semana acreditava que poderia descansar, no entanto, eles sempre diziam que precisávamos do dinheiro por isso em vez de ir só na parte da tarde eu trabalhava os dois turnos.
Nunca passei fome, porém, jamais me foi permitido ter nenhum brinquedo e ainda lembro-me da primeira vez que minhas mãos seguraram uma boneca. Enquanto todos brincavam, eu não desgrudei um só minuto do brinquedo da Alicia, e foi através da minha amiga que pude experimentar a sensação de como era ter algo que para alguns, era somente um objeto, mas que para mim, significava muito. Ela passou a levar todos os dias e assim pude brincar. Contudo, apesar de toda falta de carinho eu era feliz por ter uma família, entretanto, tudo foi uma mentira já que não passo de uma órfã que nem os próprios pais quiseram e muito menos aqueles que só esperavam o momento certo para se livrar de mim.
Não posso prever o futuro, mas nunca irei aceitar que meu corpo sirva de mercadoria. Acabei por perder a noção do tempo que passou. Meus olhos já estavam ardendo de tanto chorar, o barulho de uma melodia ressoava no espaço e pelo visto a pessoa que aquela mulher se referiu deve ter se convencido que não poderia me obrigar a nada. Deixei as lamentações de lado e era hora de me levantar para sair desse lugar, eu que até então estava com a cabeça abaixada, assim que um estrondo se fez presente, levantei a minha cabeça a fim de verificar o motivo de tal barulho. Meu coração parou de bater por uns segundos, um desconforto subiu pela minha garganta e com isso ela se fechou de imediato, assim que meus olhos encararam o homem que estava com uma expressão aterrorizante no rosto. O maxilar estava rígido, suas pupilas dilatadas, as veias do pescoço estavam saltando e os seus olhos avermelhados de ódio.
LORENZO
Passei boa parte da viagem grudado no meu notebook. Dessa forma consegui resolver boa parte dos assuntos que estavam pendentes para hoje. Quando enfim pisei em solo americano os meus homens já estavam me aguardando.
Ao contrário das ruas de Nápoles. O povo desde lugar pareciam ter um formigueiro em casa, pois as ruas estavam sempre com um enorme fluxo tanto de pedestres como de veículos. Antes de deixar a Itália coloquei Pietro sendo auxiliado por Dante, à frente de tudo. Mesmo que meu irmão sempre tenha usufruído de todas as regalias que o dinheiro é capaz de proporcionar, ele sempre se mostrou indiferente com os assuntos da máfia, pois ao contrário do que fez comigo, o velho Enrico sempre fez de tudo pelo seu filho amado fazendo vistas grossas para tudo que ele aprontava. Contudo, chegou o momento de ele fazer jus ao sobrenome que carrega e ao contrário do meu pai, farei dele um homem de verdade.
No entanto, mesmo se mostrando um irresponsável, ele é o único em que posso confiar para ficar à frente dos negócios. Não por ser meu irmão e ter o sangue dos Santoro correndo em suas veias, mas por ver através dos seus olhos um brilho que há muitos anos deixou de existir nos meus olhos. Deixo os pensamentos de lado assim que o carro se aproximou do desvio que dava acesso à praça e bastou um comando para que o homem à frente do volante seguisse adiante. Quando passamos pelo local meus olhos foram direcionados para o lugar onde há anos conheci a dona dos olhos que jamais saíram das minhas lembranças, embora tão bonita ela ainda era uma fedelha. Eu cresci ouvindo em todos os anos de treinamento que somente uma coisa jamais era permitida em nossa organização e apesar de todas as atividades ilícitas, para mexer com o tráfico humano, todas as “vítimas” deveriam ser maiores de idade.
A Luxuries, vem por anos dando lucros incalculáveis a nossa família, porém, todas as mulheres que fazem parte da maior casa de luxo do país, são maiores de idade. Algumas vieram pelo pagamento de alguma dívida já que os malditos que tinham por pai com medo da morte entregavam a própria filha como forma de pagamento. Outras pela ganância, por querer faturar uma boa quantia em um lugar que o poder e a luxúria são predominantes.
— Chegamos, chefe!
O som da voz do meu motorista me arrancou dos meus devaneios. Instantes depois, sai do veículo e pela quantidade de carros a casa estava lotada. Em passos precisos andei em direção à porta principal e já dava para ouvir o som vindo do ambiente, assim como alguns sussurros. Depois que passei pelas portas duplas, observei o cenário adiante.
O lugar parecia àquelas festas de carnaval que existe no Brasil, os homens por sua vez estavam muito diferentes do habitual e totalmente entregues a luxúria se esbaldando de bebidas e rodeados por mulheres. Meu olhar foi em direção a um grupinho em particular e logo avistei o milionário Ricardo Miller, que ao contrário dos demais tinha uma expressão fechada de quem estava insatisfeito, mas assim que estava indo ao seu encontro a voz da mulher que surgiu em minha frente se fez presente.
— Boa noite, chefe. Temos um problema e por esse motivo Ricardo está insatisfeito. Já havia informado que hoje teríamos uma novata, no entanto, ela se negou a tomar banho e sair do quarto. Ainda confrontou-me dizendo que não iria sair daquele lugar, como já estava previsto a vinda dela desde que o seu pai nos avisou e não tínhamos ordens para toc...
Eu nem deixei que a mulher terminasse de concluir suas palavras. O sangue em minhas veias estavam borbulhando tamanho era fúria que tomou conta do meu corpo. Passos rápidos foram dados e como em piscar de olhos parei em frente à porta, com um movimento brusco escancarei-a e ao ver a imagem à minha frente o calor intenso me envolveu por completo, eu podia sentir que meu rosto todo estava se contorcendo, meus olhos estavam queimando, flamejantes, mas antes que eu tentasse fazer qualquer movimento a infeliz que estava encolhida no chão levantou a cabeça e o que vi diante de mim, fez tremores percorrerem por todo o meu corpo. Não...Não, ela não pode ser a filha daqueles dois malditos traidores.
Meus olhos escuros encontraram aquelas órbitas azul-brilhantes. O medo estava transparente em seu olhar, porém, assim que dei um passo à frente a mulher de corpo frágil ficou de pé.
— Tire a roupa agora! — ordenei sem paciência.
No instante que o som da minha voz repercutiu no espaço um ódio descomunal me envolveu por completo assim que a maldita atrevida retrucou a minha ordem.
— Não! Eu vou dizer novamente eu não per...
Avancei em sua direção como se fosse algo sobrenatural, meu punho encontrou sua mandíbula antes que ela terminasse a última palavra. Sua cabeça foi jogada para trás e ela cambaleou enquanto o sangue jorrava entre seus lábios, minhas mãos alcançaram o seu corpo antes que ela caísse ao encontro do chão, em seguida a lancei em cima da cama.
Os olhos que por anos ficaram em meio as minhas lembranças agora espelhavam o puro medo, com uma movimentação precisa minhas mãos arrancaram a sua roupa e os gritos da mulher tanto de dor como de medo ressoaram por todos os cantos do ambiente.
— Na... Não, por favor — implorou desesperada.
Aproximei minha boca da sua e passei a língua pelo sangue que havia próximo a sua cavidade bucal. Ela não parava de espernear como se aquilo fosse me deter, fiz uma trilha com a minha língua, passando pelo seu pescoço até minha atenção ficar presa naqueles seios que foram feitos na medida certa para minha boca.
Na primeira sugada a mulher começou a gritar ainda mais alto, enquanto eu vibrava por dentro ao ver seu desespero, porém, um pensamento surgiu em minha cabeça e imediatamente me afastei. Levei segundos para analisar cada polegada do seu corpo despido e a certeza de que irei fazê-la minha novamente se fez presente.
— Poderia agora mesmo te foder até que você não conseguisse mais sentir suas pernas, mas tenho outros planos e preciso que continue virgem. Mas da próxima vez que você questionar uma ordem minha, eu vou dar um tiro em sua boca. Agora tome um banho que vou mandar alguém trazer algo para você vestir.
Movi-me em direção a porta, com uma única certeza: que farei de cada segundo da vida dessa desgraçada um verdadeiro inferno. E nada melhor que tê-la presa numa gaiola chamada casamento.