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Capítulo 6 – Surpresa

Fomos escoltadas pelo corredor ornamentado em direção ao jardim do castelo, onde o príncipe Tyler nos aguardava. As batidas de meu coração pareciam mais altas do que nunca, e minha mente estava em um turbilhão. Minha imaginação criava cenas terríveis de aves sendo sacrificadas em um tiro ao alvo cruel. A única experiência que eu tinha com caça era pegar frutas das árvores em Thalassia, e isso não me preparou para enfrentar a perspectiva de ver animais sendo mortos.

Ao chegarmos ao jardim, uma brisa suave acariciou meu rosto, mas eu mal percebi. Meus olhos estavam fixos na cena diante de nós. Várias aves coloridas estavam presas em poleiros improvisados, a uma distância considerável. Um homem de aparência experiente segurava um arco e flecha, enquanto outro segurava uma ave de presa.

O príncipe Tyler, com sua postura elegante, olhou para nós com um sorriso confiante. As outras princesas, cujos nomes eu ainda não conhecia, pareciam intrigadas e animadas com a perspectiva do evento. Fui pega de surpresa pela naturalidade com que pareciam aceitar a situação. Será que todas as damas reais estavam acostumadas com essa prática?

"Princesas, permitam-me apresentar-lhes o mestre arqueiro do reino, Lord Bartholomew." O príncipe Tyler fez uma breve reverência ao homem que segurava o arco, que retribuiu com um aceno de cabeça.

"É um prazer conhecê-las, senhoritas." Lord Bartholomew tinha uma voz calma e uma expressão séria, mas seus olhos transmitiam um profundo respeito pelas aves que estavam prestes a ser alvo de nosso entretenimento.

As outras princesas assentiram com entusiasmo e trocaram olhares empolgados. Eu, por outro lado, permaneci tensa e inquieta. Meus olhos encontraram os das aves indefesas e senti um arrepio percorrer minha espinha. Eu me via no lugar delas.

O príncipe Tyler, sempre atento, notou meu desconforto. Ele se aproximou de mim com um sorriso, mas seus olhos estavam carregados de curiosidade.

"Princesa Penélope, algo a perturba?" Sua voz era suave, quase como um sussurro, mas eu podia sentir o peso de suas palavras.

Tentei manter minha expressão indiferente, como as outras princesas, mas não consegui evitar que minha voz traísse minhas emoções. "Não, não é nada." menti e seu sorriso se abriu ainda mais.

"Seus pés ainda doem?" colo ele sabia sobre aquilo. Fiquei chocada ao avaliar sua expressão.

"Eu estou bem, alteza. Não precisa se preocupar." tentei afastá-lo, mas aquilo pareceu instigá-lo.

Ele assentiu lentamente, mantendo os olhos fixos nos meus. "Quer dar um passeio?" meus pelos se arrepiaram e neguei.

"Não senhor, quero assistir ao desempenho do Lord." Uma das princesas que olhava nossa interação se aproximou e falou docemente com o príncipe.

"Eu adoraria um passeio." seus olhos me avaliaram com desdém e o Tyler estendeu o braço a ela, se afastando de mim.

Senti um alívio momentâneo se apoderou do meu corpo e voltei minha atenção ao que o homem fazia. Uma após outra, as aves eram abatidas e todos a sua volta o aplaudiam com entusiasmo. Meu estomago se revirava com aquilo e me virei para sair daquele lugar deprimente.

"Acho melhor repensar sua escolha." A segunda princesa, que nos acompanhava, segurou meu braço. "Se sair, voltará para casa." ela me soltou. "Na verdade, acho que quero que isso ocorra, então saia daqui sua fracote." ela gargalhou em meu rosto e me afastei correndo.

Minhas mãos seguravam minhas saias para que eu não tropeçasse e corri para o lugar mais longe que pude, até achar uma biblioteca escondida no fundo, de um corretor.

Entrei empurrando as enormes portas e as fechei, tentando não denunciar minha presença. Fui em direção a uma poltrona mais próxima e me sentei nela, deixando meu rosto se abaixar em direção as minhas pernas.

Em minha mente, Thalassia era um lugar horrível para se viver, mas agora, vendo Kingswood, eu tinha certeza de que o inferno na terra era aqui.

Com o coração descompassado voltei a pensar em um plano de fuga daquele lugar, mesmo que me custasse a vida caso fosse pega. Era melhor correr o risco do que ficar cercada por aquelas pessoas insensíveis e miseráveis.

Meus pés começaram a queimar em brasa, e levantei o meu vestido para olhá-los. Levantei o pé direito e o apoiei em meu joelho retirando a sapatilha. A meia branca estava carmim, e lentamente a retirei para ver o estrago que a corrida tinha acrescentado aos meu pé.

"Droga." sussurrei, ao ver as bolhas da noite anterior rompidas e ensanguentadas. Meu pé estava em brasa, e após a retirada da meia, ficou ainda mais latente.

Puxei meu outro pé e fiz o mesmo processo, avaliando que este estava ainda pior que o anterior. Estiquei os dois a minha frente, sabendo que não iria muito longe por alguns dias.

"Pelo visto eles não estão tão bem quanto havia me dito." me levantei em um salto, engolindo um grito de desespero.

"Alteza," mantive a postura erguida, tentando não chorar.

"Sente-se." sua voz era firme e autoritária. "Agora." me soltei na poltrona e levantei meus pés do chão, mordendo o lábio com força para não gritar de dor. " Os apoie aqui." o príncipe trouxe uma banqueta e apoiou debaixo dos meus tornozelos.

"Obrigada," falei sem jeito.

"Como conseguiu deixá-los assim?" O homem estava ajoelhado a minha frente, examinando atentamente meus pés. "Sabia que isso pode infeccionar?" seus olhos se voltaram para mim.

"Como disse ontem, os sapatos eram novos e..."

"Deveria solicitar a sua dama que os usa-se antes de cansá-los." confirmei com a cabeça. "Não saia daqui." o homem se levantou as pressas e saiu da biblioteca, deixando a porta escancarada.

Pensei em me levantar e voltar para o meu quarto, mas só de imaginar pousar meus pés no chão, gemi de desespero.

Alguns minutos se passaram e o príncipe voltou com ataduras, uma bacia e um frasco com um líquido dourado.

"O que está fazendo?" me assustei quando ele voltou a se aproximar de meus pés.

"Cuidando disso para você." me assombrei com sua fala e puxei meus pés de seu alcance.

"Não preciso de seus cuidados." ele me encarou de forma sombria e se levantou vindo em minha direção e apoiando ambas as mãos nos braços da poltrona.

"Isso não é um pedido, princesa." engoli em seco. "Estou dizendo que vou fazer isso e a senhorita vai se manter calma e estática." concordei com a cabeça, com medo do que ele faria se eu não o obedecesse.

Meus pés voltaram a banqueta e ele colocou a bacia embaixo de minhas pernas. "Coloque seus pés aí dentro. Tem uma mistura de ervas que vai acalmar as feridas." olhei sem entender. Aquilo parecia inofensivo, mas quem me garantia?

"Está com medo da dor?" ele me olhou sério e neguei com a cabeça. "Então do que tem medo?" não respondi afundando os pés na água verde ao mesmo tempo.

Meus pés queimaram feito brasa, antes de a dor começar a ceder. Meus olhos verteram em água, mas o príncipe não ligou, seu foco era apenas ver a reação dos meus pés.

"Me dê seu pé direito." o levantei devagar e ele com habilidade o envolveu em uma toalha de linho branca, o secando gentilmente. Em seguida pegou o pote com líquido dourado e esfregou o líquido no meu pé, me fazendo gemer.

"O que é isso?" o cheiro doce me lembrava alguma coisa, mas eu não conseguia identificar.

"Mel real." ele falou e meus lábios se abriram. " Descobri que esse mel, que é utilizado apenas para alimentar a abelha rainha, tem propriedades curativas, muito maiores do que os comuns. Continuei a olhá-lo sem entender nada.

Em seguida, ele passou uma bandagem de algodão por meus pés e pediu o outro refazendo todo o processo.

"Não deve ficar de pé por muito tempo, e aconselho a usar sapatos confortáveis, até que todas as feridas se cicatrizem." ele afastou os utensílios e me encarou. "O quê?" ele se levantou colocando as mãos no bolso.

"O que você é? Um médico?" observei meus pés enfaixados de forma hábil.

"Um entusiasta." ele sorriu e virou de costas. "Ah, quase me esqueci. Parabéns..."

"Pelo quê?" falei sem entender.

"Por conquistar mais um mês em meu reino, já mandei mensagem ao seu pai." ele saiu fechando as portas da biblioteca me deixando estarrecida com sua fala.

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