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Capítulo 7 – Conflito

Voltei para o meu quarto andando nos calcanhares, pois eram o único lugar que não tinha nenhuma lesão. Demorei muito e tive que parar várias vezes para descanar. Aquele infeliz nem para me ajudar a chegar ao meu quarto.

"Oh santo Deus. O que aconteceu com seus pés, menina?" Lady Isobel entrou por baixo do meu braço e me levou até a cama, posicionando uma almofada abaixo deles.

"Seus maravilhosos sapatos." bufei irritada vendo o desespero da mulher.

"Mas você sempre os usou, o que será que está diferente?" fiz uma careta de desgosto. Penélope tinha o pé menor que o meu, mas ninguém se importou com isso.

"Não sei, mas jogue todos fora. Não vou colocar mais nenhum. Mande um sapateiro vir até fabricar novos." Se eles queriam que eu me passasse por Penélope, usaria alguns dos benefícios que a função me dava.

"Tem certeza disso, alteza? Seu pai me disse que deveria utilizar tudo o que estava nos baús." fechei os olhos.

"Eu não vou colocá-los em meus pés." me virei mais para encará-la. "Façamos o seguinte, ficarei aqui dentro do quarto até o dia de ir embora, assim não precisarei usar sapatos." sorri cinicamente e a mulher ficou apavorada.

"A senhorita foi convidada para uma permanência mais longa. Como não sairá do quarto?" cruzei os braços e voltei a me recostar nos travesseiros.

"Não sairei. Com isso ainda evito ter que olhar para aquele… " Dei um gritinho exasperado.

"Princesa Penélope, vou tentar arrumar algo que possa calçar, sem ferir os seus pés."

"Obrigada." falei fechando os olhos e tentando não sentir as pontadas de dor que ainda sentia.

Fiquei em meu quarto durante o dia e a tarde toda, tentando descansar meus pés. Lady Isobel trouxe algumas bandagens e um par de sapatos mais confortáveis, mas eu recusei, insistindo que não colocaria nada em meus pés tão cedo.

A noite caiu sobre o castelo, e a escuridão trouxe um tipo de conforto que me permitiu esquecer, mesmo que por um instante, a confusão em que estava mergulhada. Deitada em minha cama, olhava para o teto e pensava em como minha vida tinha ficado tão complicada.

Fui retirada de meus devaneios quando ouvi um som suave de passos se aproximando. A porta do meu quarto se abriu, e meu coração saltou quando vi o príncipe Tyler entrar. Ele estava vestindo roupas escuras e elegantes, que contrastavam com sua pele clara e seus olhos intensos.

"Boa noite, Princesa Penélope," ele disse com um sorriso enigmático enquanto se aproximava da minha cama. "Espero que esteja se sentindo melhor."

"Boa noite, Alteza," respondi com uma voz tensa, tentando ignorar a surpresa de vê-lo em meu quarto. "Meus pés estão um pouco melhores, obrigada por perguntar."

Ele assentiu e se aproximou ainda mais, olhando para minhas bandagens nos pés. "Vejo que seguiu minhas recomendações."

Eu me senti um pouco desconcertada por sua preocupação. "Não tive escolha."

Ele se aproximou ainda mais, sentando-se na beira da minha cama. "De qualquer forma, mais dois ou três dias, serão o suficiente para que as feridas se fechem."

Seu olhar intenso estava fixo em mim, e eu me perguntei o que ele estava pensando. Era difícil acreditar que ele era o mesmo príncipe que eu tinha visto mais cedo no jardim, participando do tiro ao alvo das aves. Havia uma intensidade em sua expressão agora, algo que eu não esperava de alguém da realeza sobre assuntos médicos.

"Obrigada, Alteza," murmurei, me sentindo um pouco inquieta sob seu olhar penetrante.

"Posso lhe fazer uma pergunta, Princesa Penélope?" ele perguntou, mantendo sua voz baixa.

"Claro, Alteza."

Ele inclinou-se um pouco mais perto de mim, me fazendo afundar ainda mais nas almoçadas para permanecer distante. "Por que está aqui?"

Engoli em seco, sentindo-me exposta sob seu olhar perspicaz. "Por que você me convidou."

Ele assentiu, como se entendesse. "Só por isso? Você quer ser a próxima rainha de Kingswood e atendeu ao meu chamado." Ele se levantou e me avaliou por mais alguns instantes.

Fiquei surpresa com sua pergunta, mas respondi com honestidade. "Você sabe que princesas não podem escolher o que desejam fazer. Meu pai me pediu e eu vim, atendendo ao seu convite."

Seus olhos analisaram meu rosto e ele voltou a se sentar. "Se pudesse escolher, o que faria?"

Pensei por alguns instantes, tentando não denunciar quem eu era de verdade. "Eu seria livre." Falei de uma vez, percebendo que mais nada se encaixaria no que eu queria dizer.

"E o que significa liberdade?" seu olhar se tornou ainda mais intenso.

"Poder escolher o que eu quiser. Poder vestir o que eu quiser." nossos olhos se voltaram para os meus pés. "Ser dona de mim mesma." Levei a mão ao rosto tentando esconder minha expressão. "Me desculpe alteza, tenho certeza que não era isso que queria ouvir."

Senti a cama se mover e ele se levantar. Suas mãos alcançaram as minhas e as tiraram de meu rosto.

"Vá até minha sala amanhã, quero trocar as bandagens dos seus pés." fique hipnotizada com seus olhos tão perto dos meus. Eu conseguia ver os desenhos de suas íris, tão singulares.

"Eu..." não consegui responder e apenas confirmei com a cabeça.

Voltei a minha atenção para a janela após a saída do príncipe. A noite estava escura lá fora, e as estrelas cintilavam no céu. A brisa fresca que entrava pelo vidro me trouxe um breve alívio das preocupações que me assolavam. Minha mente estava repleta de pensamentos sobre o Príncipe Tyler e suas atitudes aparentemente contraditórias.

Ele havia me surpreendido, indo de um homem cruel que participava do tiro ao alvo das aves para alguém atencioso, cuidando dos meus pés feridos. Eu não conseguia entender o que ele realmente queria de mim. Será que estava tentando me ganhar para algum propósito oculto? Ou estava apenas sendo gentil por algum motivo que eu não conseguia entender?

A ideia de fugir voltou a se enraizar em minha mente. Eu não podia confiar em ninguém em Kingswood, e minha única esperança era escapar desse lugar. Eu não pertencia a esse mundo de realeza e tradições, e não queria ser forçada a viver uma vida que não era minha.

Decidi que precisava encontrar uma maneira de fugir e ganhar a liberdade que eu tanto queria.

Com cuidado, comecei a planejar minha fuga, sabendo que seria uma tarefa árdua e perigosa. Mas eu estava disposta a arriscar, pois a ideia de ser livre e dona de meu próprio destino era irresistível.

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