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capítulo 4

Dante

Isso não pode estar acontecendo, deve ser algum engano ou sonho louco.

Giulia foi a única pessoa em toda a minha miserável vida que realmente amei. Amor era uma palavra forte para ser usada por mim. A última mulher que, algum dia, pôde me amar minimamente, morreu em um trágico acidente. A minha mãe não era de sangue. Essa era uma prostituta drogada que fez da minha existência, aos cinco anos de idade, um inferno.

Nunca tive sorte para o amor ou uma família normal. Não que eu estivesse reclamando da minha vida com meus irmãos. Se não fosse por Paola, eu nunca teria uma família por quem lutar. Aquela mulher não me odiou por ser um bastardo do seu marido, ela me defendia e me amava. E era punida por isso. Meu pai era um tirano, filho da puta.

Sempre disse a mim mesmo que nunca amaria ninguém, que eu não seria o escolhido e que alguém jamais me amaria de verdade. Então, em uma noite estrelada e fria, Giulia apareceu. Seus cabelos loiros estavam soltos e uma mecha caía sobre o seu rosto. Seu sorriso era doce, o vestido tomara que caia era de tirar o fôlego e o rosado das suas bochechas me deixou encantado.

Nenhuma mulher jamais havia me tirado da realidade nem me chamado a atenção como ela. E eu sabia, naquele momento, que deveria deixar aquela bobagem de atração ir para o inferno e seguir em frente.

Puta merda! Eu não consegui. Meu instinto me dizia a todo tempo que seria errado, que eu me daria mal, porém optei por ouvir o meu pau idiota e acabei em uma armadilha. Não pensei que me apegaria ou que me apaixonaria pela doce Giulia Santini.

A menina era prometida a um babaca qualquer. Matar o imbecil foi um ato exagerado, no entanto foi ele quem me provocou. E quando ele descobriu sobre nós, a única forma de calar a sua boca foi, simplesmente, calando-o para sempre.

Cometi erros após erros por conta dessa paixão, então Michael chegou à Drakoy e destruiu a minha paz. Meu irmão precisava de mim e eu não poderia levar Giulia para o meio desse furacão. Achei que fosse a ideia mais lógica. Evitei usar o meu coração, contudo acabei perdendo tudo.

Ajudar minha família era o meu dever e decidi escolhê-la em vez do que eu realmente queria, e passei a pagar por essa escolha todos os dias.

E, naquele instante, eu sabia que, além do ódio de Giulia, eu tinha uma filha, uma criança que fazia parte de mim e do amor que eu sentia por ela. Eu não sabia se tinha mais medo de ser pai ou do que Marcos poderia fazer com essa criança.

Sua mãe não me perdoaria tão facilmente e eu entendia que teria que lidar com isso, todavia, no momento, o meu único objetivo era levá-las para um lugar seguro. Foi dureza convencer Giulia. Eu não poderia ajudá-la se ela não baixasse a guarda, porém não poderia, simplesmente, levá-la embora com a minha recém-descoberta filha.

Meu celular tocou no bolso. Como se eu já não tivesse problemas demais, Lorenzo ligou para mim na pior hora.

— Algum problema? — perguntei, sério, pensando que usar a minha raiva não seria legal.

— Onde você está? — Diferentemente de mim, meu irmão não era tão delicado.

— Tentando resolver algo pessoal. Não me diga que ateou fogo no escritório, pois só isso explicaria toda a sua urgência e irritação.

— Não estou para brincadeiras, irmão.

— Não estou brincando. Na verdade, estou tentando ser cordial — expliquei, ficando ainda mais furioso, olhando as horas e vendo que Giulia estava atrasada.

Bem que eu deveria ter ido com a mulher. Mas nos últimos meses, ela tinha se tornado bem teimosa e raivosa. Com razão.

— Se não se importa, vou desligar. Estou resolvendo um problema pessoal e não quero me estressar mais do que já estou estressado.

— Temos que conversar.

— Temos sempre que conversar. Mas, como toda vez corro atrás de você para resolver as coisas, acho que, agora, você pode entender que tenho algo bem mais importante que seus chiliques. — Desliguei a chamada antes que ele me importunasse mais.

Achei que teria que ir atrás dela, mas logo vi o carro escuro se aproximando de mim. Ela estava em um lugar que, se não fosse seguro, eu faria ser, colocando lá homens armados até os dentes.

Confesso que estava nervoso, e não sabia quando tinha sido a última vez em que estive assim.

De forma alguma, eu a teria deixado se soubesse dessa filha. Não me imaginava como pai e sempre estive certo de que as únicas crianças com quem eu trocaria afeto seriam os meus sobrinhos. Nunca fui um Mitolli verdadeiramente dito. O bastardo só foi assumido um Mitolli depois que o don Mitolli e sua esposa morreram. Perdi minha mãe querida antes que ela me visse como um dos seus.

Eu agradecia ao meu irmão, que sempre foi fiel a mim, apesar do seu temperamento e de estar constantemente querendo comer a minha carne.

Não fazia ideia de como lidaria com aquilo, sabendo da existência da criança. Sei que prometi ajudá-la, e não era um bobo, não iria fugir dessa responsabilidade.

Apesar do seu ódio por mim, meus sentimentos por Giulia eram reais e bem vivos em meu ser ainda.

Como ela me perdoaria depois de tudo que a fiz passar?

Eu estava tentando me enganar, só que a ver saindo do carro com uma menina em seus braços me fez cair de cara no chão. Ter uma filha era uma responsabilidade enorme, contudo esse não era o problema. O problema era que eu tinha essa parte frágil, essa pessoinha minúscula e indefesa que foi perseguida por minha culpa.

Eu sempre estava estragando as coisas, e fiz isso com alguém que eu nem sabia que existia, que nem podia se defender. O pior era saber o que aquele filho da puta fez com sua mãe.

— Por um acaso, estou sendo presa por você? — Giulia me perguntou.

Seus olhos azuis estavam transmitindo tanta fúria, que eu poderia apostar que ela me mataria se pudesse. Ela me odiava, estava escrito no seu rosto. Para piorar, eu também me odiava. Cometi um erro, e esse erro custou o meu amor e a sua vida. Por minha culpa, Giulia sofreu, e eu deveria pagar por isso.

— É para a sua proteção. Não a estou prendendo — justifiquei-me, desviando-me do seu olhar assassino. — Este lugar estará repleto de homens armados. Ninguém aqui está autorizado a deixar alguém entrar que não seja eu ou de minha extrema confiança.

— Não quero um lugar para ficar, quero ir para bem longe desta cidade, para bem longe de você.

— Entre, por favor. Devemos conversar lá dentro. — Afastei-me dela, dando espaço para que ela passasse.

Sentindo um enorme ódio de mim, Giulia passou na minha frente o mais rápido que pôde.

Eu ainda não sabia como me sentia em relação a tudo aquilo. Quando encarei suas costas, a menina de bochechas rosadas sorriu em seus braços.

Seria ruim eu dizer que tentei fingir que ela não existe, por sentir que isso me machuca como uma faca no meu peito?

Pondo toda essa emoção para o mais fundo e para a mais escura parte de mim, entrei na casa de dois andares, que ficava em um condomínio particular. Não dava para eu as levar à mansão dos Mitolli. Lá não era mais só a minha casa e poucos sabiam da minha aventura. Além disso, eu acreditava que a loira teimosa não aceitaria, de forma alguma, ir comigo.

— Acho que temos muito o que conversar e resolver, Giulia.

— Não temos nada mais para dizer um ao outro.

A menina, que deveria ter uns cinco meses, começava a ficar inquieta. E isso me perturbou. Não que eu não gostasse de crianças, só não estava conseguindo lidar com a minha criança.

— Você tem todo o direito de me odiar.

— Nisso concordamos.

— Mas está em perigo. Sinto muito por tudo isso. Acredite, eu sei que causei um estrago na sua vida. A culpa foi toda minha.

— Não me venha com esse papo.

Deus, ela realmente me odiava. Nada restou daquela garota doce que conheci. Eu a destruí e nem sabia do estrago que havia deixado.

— Só, por favor, me ajude a sair — pediu.

Não posso fazer isso — eu fui direto e ela me olhou, surpresa. — Fique calma. Não vou deixar que aquele verme a machuque.

— O que quer de mim, Dante?

— Não tenho direito nenhum de lhe pedir nada, muito menos que me perdoe.

— Eu não faria isso.

— Só que essa criança é minha filha. — Então, as duas ficaram inquietas. A bebê estava a ponto de chorar por sentir que as coisas estavam mudando entre nós. — Giulia, eu não sei como mudar essa situação. Não tenho como voltar ao passado e não adianta, simplesmente, eu tirar você desta cidade. Além do mais, ela é minha filha. É meu dever proteger vocês duas.

— Não tem dever algum aqui. — Irritou-se. — Pode ser o pai dela em algum nível, mas quero que ela cresça longe de você e desta cidade.

— Seria o mais correto para a menina — acabei concordando.

— O nome dela é Nina! — A fúria nas suas palavras fez a criança chorar de vez.

— Ótimo. Você fica com a Nina aqui e eu vou resolver tudo. Mas não vão deixar este país tão cedo. — Saí.

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