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capítulo 5

Giulia

A enorme casa de dois andares, piso escuro e detalhes em madeira era bonita, entretanto não deveríamos estar nela. Eu não queria dormir embaixo de um teto luxuoso, onde um Mitolli poderia entrar a qualquer momento.

Dante sabia como mudar o jogo para o seu lado, e eu não seria a idiota de antes, que caiu no seu charme. O meu objetivo era me livrar dos homens que só me machucaram.

Nina já estava mais quieta. Ela nem se importava mais com as mudanças de ares às quais era forçada graças à perseguição do meu pai.

Nada era só "uma coisa" com esses mafiosos, sempre tiravam uma parte de nós. E, dessa vez, eu estava tentando mudar o rumo da minha vida. O melhor para a minha filha era ficar longe de Drakoy e dos homens que já tinham nos ferido.

A noite foi longa. A menina de cabelos claros dormiu como um anjo ao meu lado, na grande cama macia de lençóis brancos.

Assim que amanheceu, eu não sabia o que fazer. Não queria ficar mais do que meio segundo longe da minha filha. O medo me cercava, sendo ao lado de Marcos Santini ou de Dante Mitolli. O homem que um dia achei que me amava, jogou-me na jaula de uma fera assassina para morrer e queria se justificar como um super-herói que faz escolhas baseadas no bem de todos.

Desde o começo, eu sabia dos riscos. Isso também era culpa minha. Dante era um mafioso, um assassino manipulador e frio. Sempre soubemos que o Mitolli mais velho era o que mais se sujava nas negociações, aquele que protegia os irmãos e que sempre escolhia a família acima de tudo.

Não faço ideia do porquê me iludi tanto, se sabia que ele me largaria na primeira esquina que visse.

Da janela do quarto em que dormimos, vi os homens altamente armados andando ao redor da casa. Eles pareciam simples seguranças protegendo a família de um ricaço qualquer. Todavia, não éramos família alguma de Dante, e ele não era um mero empresário.

Até o ano passado, as suspeitas eram de que eles eram envolvidos com o tráfico. Algo que percorria as bocas alheias. E depois do ataque, todos tivemos a confirmação, mas como o governo não era um dos mais corretos do mundo, com uma boa quantia no bolso, deixava passar algumas coisas. A questão ali era que os Mitolli eram uma das famílias mais influentes, ricas e perigosas do país. E meu pai não seria tão idiota a ponto de correr até mim no momento.

Certo, eu não deveria estar me sentindo mais protegida por estar com ele. Sabia que estava longe disso. Porém, pelo menos, poderia deixar Nina dormir calmamente, sabendo que não sairíamos correndo de um lugar escuro e sujo todas as vezes que eu visse um dos homens do meu pai na rua.

Desci as escadas, sem saber muito o que fazer naquele meio tempo entre deixar Dante resolver aquele meu problema e estar em uma casa desconhecida rodeada de caras fortemente armados.

Pensei mesmo que ficaria livre do Mitolli, mas lá estava ele, esperando por mim no meio da sala e olhando pela janela, ereto, sério, como era de costume.

— Teve uma boa noite? — questionou-me, ainda olhando para fora. Mas isso durou pouco, pois ele logo me encarou sem tirar de seu rosto aquele olhar de superioridade. — Estou aqui apenas para saber como está. — Veio em minha direção.

Pensei que não adiantaria ficar brigando com ele. Isso deixaria a minha filha agitada, e eu não queria que ela sentisse os efeitos do meu ódio pelo seu pai.

— Eu trouxe uma pessoa para te ajudar. Ela estará à sua disposição para o que precisar.

— Quero que resolva isso o mais breve possível. — Desviei meu olhar do seu. Eu preferia me concentrar em Nina, que estava em meus braços, do que no homem que eu queria muito não amar. — Não quero ficar mais do que o necessário aqui.

— Giulia, acho que temos muito o que conversar sobre isso, mas sei que agora o meu foco deve ser resolver as pontas soltas.

Votei a encará-lo, mas ele estava olhando para a menina nos meus braços, que mordia as próprias mãozinhas. Por sorte, estava alheia à situação. Eu esperava que ela não se lembrasse de todos esses problemas. Meu desejo era criá-la de uma forma diferente da minha.

— Margarida está na cozinha, preparando o café da manhã. Voltarei quando tudo estiver resolvido.

Franzi o cenho, achando estranha a forma como ele observava Nina. Estava assustado, pensei eu. Não consegui entender. Na verdade, eu quase nunca o entendia.

Quando Dante percebeu que já estava tempo demais a olhando, pigarreou e saiu da nossa frente.

Lá no fundo, eu queria que ele gostasse da nossa filha. Tudo bem que ele era um mafioso miserável, que me largou, que me fez sofrer e que, apesar das suas boas ações, eu quisesse levá-la para bem longe dele, porém ele era o seu pai e, em algum momento no futuro, ela me perguntaria sobre ele. Eu não queria que minha menina me odiasse por, simplesmente, tê-la arrastado para bem longe de Dante só porque eu o odiava.

Eu o observei indo embora todo nervoso e apressado. Fiquei olhando pela janela até depois do seu carro sair e não conseguir vê-lo mais. Segurei Nina forte, sentindo um grande aperto no peito.

É claro que eu o odiava. Era o mínimo que eu poderia sentir depois de tudo. No entanto, eu não era tão tola. Dentro de mim ainda existia a menina apaixonada que se entregou ao homem mais velho, encantou-se pelo seu charme e, ilusoriamente, pensou que seria dele para sempre.

Seus esforços mexiam com a minha cabeça e sentimentos. Ele estava fazendo aquilo por dever ou por, de alguma maneira, gostar de mim?

Dante já era bem mais maduro que eu e nunca tinha assumido um relacionamento. Eu sabia que ele era um homem que não ficava sozinho na cama por mais que dois ou três dias, e só isso bastava para o meu ciúme e raiva despertarem, porque pensei que, no meio tempo em que ficamos longe um do outro, ele se deitou com outras.

Balancei a cabeça, tentando, assim, livrar-me desses pensamentos destrutivos. Não me levaria a lugar algum ficar pensando nessa possibilidade. Afinal, eu nunca mais cairia na sua lábia, e ele não era de ficar só.

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