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capítulo 3

Giulia

Dias atuais

Meu plano só ia até a parte em que eu o encontrava, e ponto final. Eu sabia que os meus sentimentos pelo babaca iriam aflorar. Gostaria muito de ser aquela pessoa que sabe bem como esconder o que sente ou que o olharia como um simples idiota que me abandonou do nada.

Entretanto, estar no mesmo lugar que Dante era difícil. Todas as vezes que estivemos juntos vinham, a todo tempo, à minha cabeça, torturando-me e fazendo com que minha guarda, a casca dura que tentei formar em torno de mim, desse uma quebrada bem na hora que eu deveria ser a durona.

Dante estava nervoso, era bem visível. O que era estranho e surpreendente para mim, pois eram poucas as vezes que o víamos tendo algum tipo de sentimento que não fosse arrogância ou raiva.

Foque, Giulia. Não pode fraquejar. Não se envolva emocionalmente, fale o que veio falar, peça o mínimo de coisas e saia.

— Por que está aqui vestindo isso? — ele finalmente disse algo, usando um tom enojado e raivoso. Bem, não era difícil odiar esse homem, bastava ele ser o Dante de sempre. — O quê...? Por quê...?

— Não me deu muitas opções. — Tentei não o olhar, sentindo raiva, algo que eu estava tentando alimentar por todas as merdas que tinham acontecido comigo nos últimos meses. — Sabe quantas vezes tentei falar com você? — Ele franziu o cenho. — Os idiotas que o cercam sempre me expulsavam, sempre me mandavam embora com o rabo entre as pernas. E se eu não precisasse muito, se fosse só a minha cabeça em risco aqui, nunca que me sujeitaria a isso, nunca que voltaria a ver esse seu rosto.

— Do que está falando? — Pareceu incrédulo. — Quando? Quem está com você e por que...?

— Vou ser direta — eu o interrompi. — Preciso sair desta cidade; deste país, se possível. É só isso que vim pedir. Você me deve isso, pois é culpa sua.

— Giulia...

— Não quero ouvir nada que não seja sobre o que vim pedir — alertei-o.

Por mais incrível que parecesse, ele demonstrava estar triste, nervoso e irritado. Tudo ao mesmo tempo. Ele tirou o seu blazer e o estendeu em minha direção.

— Vista isso. — Dante não me olhou. Era como se não quisesse me ver praticamente nua com aquelas roupas vulgares que as garçonetes da boate vestiam.

Hipocrisia, eu diria, pois aquele lugar fazia parte da rede de casas noturnas da sua família. E pensando em como ele me usou, não parecia que ele me respeitava o bastante.

— Você vai me dizer exatamente o que está acontecendo, então vou resolver.

Peguei a peça de roupa com tanta raiva, que poderia rasgá-la, mas até eu estava odiando a forma vulgar como estava vestida.

— Olha, não quero mais do que pedi — novamente expliquei. — Se não tivesse entrado na minha vida e feito uma bagunça, meu pai não estaria tentando me botar no inferno. Não que eu esteja no céu agora.

— Marcos? — Finalmente me olhou nos olhos. — Eu o procurei. Procurei por você...

— Me poupe! — Revirei os olhos.

Então Dante, surpreendendo-me da pior forma, avançou em mim, pondo-me contra a parede e me olhando nos olhos com raiva.

Eu já o tinha visto furioso, só que nunca havia sentido tanto medo quanto naquele instante.

— Olhe aqui, menina, eu não sou de brincar. — Eu diria algo bem irônico se minha língua não estivesse presa dentro da boca. Temia piorar a situação. — Cometi muitos erros, e uns sem volta. — Aos poucos a força que ele colocava para me pôr contra a parede foi se dissipando. — Muitos motivos me levaram a deixá-la naquele dia. Sofri para caralho. A única coisa que eu gostava, que eu queria, depois de anos nessa merda, tive que abrir mão.

— Você me deixou para morrer — finalmente falei. — Achou que meu pai não descobriria? Ainda mais...

— Eu não sabia que duraria tanto tempo. Não queria levá-la para o meio daquela merda. Eles queriam a minha cabeça e minha família precisava de mim.

— Eu precisei de você — falei, furiosa. Estava quase perdendo as paredes que me protegiam dele.

Senti uma angústia terrível, uma vontade de deixar as lágrimas, que achei terem acabado depois de tudo que já chorei, caírem.

— Ele soube no dia que você se foi, que me deixou para trás.

— Eu não queria isso. — Ele tentou me beijar, porém virei o rosto. — Precisei resolver esse problema. Eu voltaria para você, iria tirá-la daquela casa e você seria minha. Mas quando voltei, já não estava mais lá.

Eu o olhei, incrédula, reunindo a raiva que tanto tinha dele por tudo que sofri naquela época. Empurrei-o para longe, achando ridículo ele me dizer tudo isso.

— Quer saber por que fui embora? — Encarei seus olhos escuros com tanta raiva, que poderia bater nesse filho da mãe. — Você me deixou, mas ainda estava lá. Eu estava grávida. Uma hora ele descobriria, e eu sabia que me mataria por isso, por tê-lo traído.

— O quê?! — ele disse, surpreso.

— Então, não pude mais esconder dele. Ele me bateu o mais forte possível, achando que, assim, poderia matar aquela criança dentro de mim. Ele me levaria para uma clínica e a tiraria da minha barriga, então fugi.

— O que você disse? — Enfureceu-se.

— Foi o que ouviu. — Nem percebi que estava peitando Dante, que era mais alto e forte.

Ele me fitou, quase incrédulo e raivoso. E eu não me importei, só queria jogar tudo para fora.

— Ele ainda está atrás de mim. Não paro mais que uma semana em um lugar. Ele quer matar a minha filha porque você é o pai dela, e a mim, por ter me deitado com você. Ficou claro por que quero ir embora desta cidade?

— Tenho uma filha?

— Não se preocupe — respondi, irônica. — Depois que me tirar daqui, não vai ter que se preocupar com isso.

— Por que não me procurou antes? — Sacudiu-me, furioso. — Eu tenho uma filha e não sabia.

— Se não se lembra, você me deixou para trás, meu pai está me perseguindo e seus seguranças me queriam longe de você.

— Onde está a criança?

Ouvi-lo falar assim dela me deixou furiosa.

— Faça o que estou pedindo. É só isso que quero.

— Quer minha ajuda? — Dessa vez, ele parecia assustador. Seu olhar escureceu e meu braço estava até doendo, sentindo seus dedos apertarem a minha carne. — Você vai ter. Mas quero ver a menina. Vou levá-las para um lugar seguro.

— O nome dela é Nina, e você não vai tocar na minha filha. — Soltei-me, puxando o braço.

— A menina é minha filha, é meu sangue. Ninguém, muito menos Marcos, nem outro, vai machucar o meu sangue. Você pode me odiar pelo que fiz, mas ela é minha filha e eu tenho o direito de vê-la, de protegê-la.

— Não precisa fazer essa performance de bom pai — ironizei. — No fim das contas, você só foi o cara com quem transei e que a concebeu.

— Não. No fim das contas, sou o pai dela. E eu não vou ser como o meu, que me desprezou.

— Está me dizendo que quer assumir a Nina? Não seja bobo.

— Onde está a menina? — questionou de novo. — Vou levá-las para um lugar seguro.

— Não existe um lugar seguro perto de você.

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