Capítulo 6
Capítulo 6
Quatro meses depois da sua chegada à casa de Nikolas, Jéssyca estava ocupada ajudando-o a empacotar todas as suas coisas. A notícia da situação financeira do amigo havia sido um choque para ela. Nikolas, que sempre foi tão estável e bem-sucedido em seus empreendimentos, agora estava prestes a recomeçar em um novo lugar, com praticamente nada além das roupas que vestia.
Como ele saiu da faculdade a pouco tempo e fazia poucos meses que trabalhava numa agência de advocacia, ainda não tinha adquirido uma agenda de clientes, por isso seu desespero quando o dono faleceu e os filhos resolveram se desfazer da agência.
Suas economias não eram tão grandes ao ponto de ficar desempregado por muito tempo. A fazenda de seu pai, localizada no interior, parecia ser a solução temporária para Nikolas enquanto procurava um novo emprego.
Enquanto Jéssyca ajudava a embalar os pertences de Nikolas, ela não podia deixar de se preocupar com ele. Embora tivesse aceitado com gratidão a oferta de morar em sua casa e cuidar de seu filho, agora estava claro que Nikolas também precisava de apoio. Ela queria ajudar de alguma forma, mas não sabia por onde começar.
— Nikolas, você sabe que pode contar comigo, certo? — disse Jéssyca, olhando preocupada para o amigo enquanto fechava uma caixa com alguns pertences dele.
Nikolas sorriu agradecido:
— Eu sei, Jéssyca. Você tem sido uma excelente amiga. Não sei o que teria feito sem você.
Ela assentiu, sentindo-se grata por ter Nikolas em sua vida também.
— Estamos juntos nessa, amigo. Vamos superar essas divergências em nossas vidas.
Enquanto continuavam a empacotar as coisas, Nikolas começou a se lembrar dos bons momentos que passou naquela casa. Os momentos que compartilhou com Jéssyca e seu filho, Robson, haviam sido preciosos. Era uma pena ter que deixar aquele lugar, mas ele sabia que precisava encontrar uma maneira de se reerguer.
Quando finalmente terminaram de empacotar, eles olharam ao redor para se despedir da casa que tinha sido o lar de Nikolas nos últimos meses.
— Vamos para a fazenda do meu pai amanhã cedo — Nikolas disse, quebrando o silêncio. — Lá, terei mais tempo para encontrar um novo emprego e recomeçar.
Jéssyca assentiu, determinada a continuar apoiando seu amigo. Eles trocaram sorrisos e ficaram em silêncio por mais um tempo até Jéssyca ficar séria.
— Acredito que seu pai não vai gostar muito de você ter uma babá grávida, que nem ao menos sabe quem é o pai do próprio filho — ela comenta, com preocupação evidente em sua voz.
Nikolas, no entanto, tentou tranquilizá-la:
— Meu pai é novão, a mente dele é bem aberta. Tenho certeza de que vai entender a situação.
Jéssyca suspirou, desejando que as coisas realmente fossem tão simples quanto Nikolas estava fazendo parecer. Ela era grata pelo apoio dele, mas não podia deixar de se preocupar com as possíveis complicações que poderiam surgir.
— Você se preocupa demais, linda — Nikolas disse, notando a expressão preocupada dela.
Ela preferiu se calar naquele momento. Afinal, ele era seu patrão, e não queria tornar as coisas mais difíceis para ele do que já eram.
No fim da semana, eles partiram para a fazenda, chamada de Luz Eterna. No caminho, Jéssyca sentia uma apreensão crescente. Como seria o pai de Nikolas? O que ele pensaria sobre a presença dela e a situação de estar grávida sem conhecer o pai da criança?
"— Espero que Nikolas esteja certo. Não quero ter problemas com o pai dele."
Enquanto faziam uma viagem de uma hora de carro até a fazenda, Jéssyca continuava pensando no pai do amigo. Se ele era bruto, se era calmo, rígido, grosso... tantas coisas para pensar. Na verdade, deveria esperar as coisas acontecerem, mas sinceramente estava muito ansiosa para conhecer o tal senhor.
Como ele seria? Igual ao Nikolas? Loiro de olhos castanhos claros?
— Nik, você é mais parecido com seu pai ou sua mãe?
— Tenho um pouco de cada, mas pelo que dizem, sou mais parecido com minha mãe. Meu pai tem cabelos e olhos negros como o petróleo, e a pele dele é muito bronzeada por causa do sol. Nada a ver comigo — disse, sorrindo em seguida.
— Então o Robson é mais parecido com seu pai.
— Sim, meu filho parece filho do meu pai.
Ela parou de falar por alguns minutos e voltou a sentir como se estivesse com borboletas no estômago.
— Estamos chegando — ele disse e olhou pelo retrovisor, vendo o filho dormindo no banco de trás, no assento elevado.
— Essa semana ele teve muitas tarefas na escola, está exausto.
— Esse é o meu garoto.
— Nik, e a mãe dele?
— Ele só tem pai, a mãe o abandonou.
— Sinto muito. Talvez um dia você encontre alguém que goste tanto de você quanto do seu filho.
— Estou sozinho desde que ela me deixou e pretendo continuar assim enquanto o meu filho morar comigo. Não quero substituir a mãe dele, talvez até encontre alguém pior do que ela — disse, amargurado, com o olhar distante.
— Não diga isso, existem muitas pessoas boas nesse mundo.
— Sim, existem. O que é difícil é encontrá-las.
Jéssyca ficou triste pelo comentário do amigo. Pelo visto, a mãe do garoto o decepcionou além da conta. Preferiu ficar calada ao voltar a tocar no assunto, ele estava na defensiva, não era bom para ele e o Robson podia acordar e ouvir a conversa.
Por conta disso, acabou voltando a pensar no pai do amigo. Passa a mão na barriga como uma forma de proteção e demonstração de afeto. Vai completar seis meses de gravidez, e a cada dia sentia mais cansaço e calor, já que estavam no verão. De acordo com Nikolas, a noite na fazenda ficava fresca e agradável. Disse que ela conseguiria voltar a dormir normalmente.
Assim ela esperava, pois ficar sem dormir era exaustivo.
Eles chegaram, Nikolas foi o primeiro a descer do carro. Jéssyca ficou para acordar Robson.
— E aí, Nikolas, voltando para casa? — disse Roberto, um dos peões.
— Mais ou menos, vou ficar aqui por um tempo.
Roberto percebeu um movimento a mais e observou Jéssyca se aproximar.
— Rapaz, que bela dama você trouxe para cá, hein, garanhão!
Antes que Nikolas pudesse dizer qualquer coisa, Jéssyca se aproximou, fazendo Roberto se calar e ficar boquiaberto. Ele estava embasbacado, olhando para a beleza dela.
— Bom dia. — Jéssyca cumprimentou, sem perceber os olhares curiosos do peão.
— Bom dia, moça. — disse Roberto, tirando o chapéu, depois olhou para a barriga dela e, em seguida, para Nikolas.
— Onde vamos ficar? — Jéssyca perguntou, ainda alheia aos olhares curiosos do peão.
— No casarão. — Nikolas respondeu. — Com licença, Roberto, vou levar Jéssyca para se instalar.
— Claro, chefe. Vai lá. — Roberto respondeu, ainda um pouco atordoado pela presença de Jéssyca.