Capítulo 7
Capítulo 7
Ruan acordou antes do amanhecer, como era seu costume, e se preparou para mais um dia de trabalho na fazenda. Tomou o desjejum com todos na área gourmet. Assim como muitos fazendeiros, fazia questão de oferecer moradia e alimento, além do salário, para seus funcionários. A exceção era o final de semana, quando os peões descansavam, e nesse período se alimentavam na cidade, já que o cozinheiro ficava de folga.
Mesmo trabalhando ao lado de seus peões e do Capataz, sua mente não conseguia evitar voltar para Jéssyca. Meses se passaram, e ele não a encontrou.
Sua mente estava tão perturbada que, nesse tempo, nem foi visitar o filho. Seu amigo detetive esteve internado no hospital por meses devido a um acidente de carro, e Ruan não confiava em mais ninguém para realizar essa busca, então aguardou sua recuperação.
Há poucos dias, ele forneceu tudo o que seu amigo precisava para iniciar a busca. A cada dia que passava sem saber o paradeiro dela, sua mente ficava mais fria, a ponto de acreditar que jamais a encontraria.
A parte boa de tudo isso era que seu filho disse que iria se mudar hoje para a fazenda por ter perdido o emprego. Olhando para o relógio no pulso, percebeu que já estava perto do horário em que seu filho chegaria, e suspirou, feliz e ansioso pela chegada do filho e do neto.
***
Dentro da casa, Jéssyca ficou encantada com a atmosfera rústica e aconchegante.
— Nossa, aqui é lindo.
— Papai tem bom gosto — Nikolas respondeu, guiando-os pela casa.
Robson, impaciente, vinha logo atrás, ansioso para ver o avô.
— Papai, quero ver o vovô.
— Calma, bonitão. Ele está trabalhando.
Nikolas levou-os a um quarto bem decorado.
— Está tudo tão limpo e arrumado, parece que me esperavam.
— É verdade. Sinta-se à vontade. Eu vou levar o Robson para o quarto. Assim você terá mais tempo para si e para descansar um pouco antes do almoço.
— Como assim? E o Robson?
— Ele gosta de passar o tempo com os peões durante o dia. Assim, você terá mais descanso.
— Tudo bem, estou me sentindo um pouco cansada mesmo.
Nikolas abraçou Jéssyca com carinho, desejando poder ter sentimentos românticos por ela, mas sabia que a amizade era o limite.
***
Enquanto isso, na colheita, Roberto chegou tagarelando para o patrão.
— Patrão, o Nikolas chegou com uma mulher muito bonita.
— É a babá. — Ruan respondeu, sem muito interesse, observando as árvores frutíferas.
— Babá? Eles estão esperando um filho, acho que ela deixou de ser babá.
Ruan franziu a testa, intrigado.
— Você tem certeza de que a moça está grávida?
— Ela tem uma barriga de grávida linda, patrão.
— Nikolas não me disse nada.
— Pode ser que seja uma surpresa, um netinho a caminho.
— É, pode ser.
Ruan retomou suas tarefas, mas sua mente estava em outro lugar. Enquanto escutava o celular tocando, pegou-o e viu na tela que era seu amigo detetive. Riu, pois havia acabado de pensar nele.
— Pensei que não ligaria nunca.
— Bom dia para você também, Ruan. Essa mulher faz um efeito tão grande em sua mente que você esqueceu os modos?
— Diga logo o que eu preciso saber — disse impaciente.
— Eu a encontrei. Esteve debaixo do seu nariz esse tempo todo.
— Como assim? Onde ela está?
— Só vou te contar quando concordar em tomar um café comigo. Acho que temos muito a conversar.
Ruan concordou e combinaram de se encontrar em um café próximo à fazenda. Ele sentiu um turbilhão de emoções. Finalmente, poderia ter notícias de Jéssyca.
Ao chegar no café, encontrou o detetive sentado em uma mesa ao ar livre, aguardando-o. Ruan cumprimentou-o sentando em sua frente.
— Ela esteve morando com o seu filho o tempo todo.
— Você está tentando me dizer que meu filho e ela estão envolvidos? — perguntou com o cenho franzido.
— Eu não sei, mas é capaz, porque ela está grávida.
A notícia o atingiu como um soco no estômago. Seu filho e Jéssyca estavam juntos esse tempo todo, e ele não fazia ideia.
— O que? Grávida?
— Eu sinto muito. Trouxe uma foto que tirei dela ontem. Quer confirmar? Talvez possa ser outra pessoa.
— Deixe-me ver.
O detetive deslizou uma foto cuidadosamente retirada de um envelope e a entregou a Ruan. Seus olhos se encheram de lágrimas quando viu Jéssyca na imagem, claramente grávida. Era ela, não havia dúvidas.
— É ela... é Jéssyca. Meu Deus, eu não sabia. — Ruan murmurou, a voz embargada pela emoção.
O detetive assentiu com compreensão.
— Eu entendo que isso seja um choque. Mas agora que você sabe, a escolha é sua se quer contar a eles ou não.
Ruan assentiu, a revelação de que seu filho estava envolvido com Jéssyca e que teria um neto era um peso enorme em seus ombros. Parecia até piada essa situação.
— Obrigado por me encontrar e trazer essas notícias. Vou pensar em com calma.
— Faça isso.
O detetive concordou, e os dois se despediram. Ruan retornou à fazenda com a cabeça repleta de pensamentos, uma mistura de ansiedade e apreensão sobre como tudo isso afetaria sua vida. Sua mente estava repleta de perguntas sem respostas, e ele sabia que a conversa com seu filho seria inevitável, mais cedo ou mais tarde.
Sem perder mais tempo, ele seguiu diretamente para a plantação, aproveitando o restante do dia para trabalhar e se distrair com as tarefas na fazenda.
Quando finalmente decidiu ir até a casa principal, sua mente estava fervilhando. O filho havia mencionado que a moça que cuidava de seu neto também iria morar com eles na fazenda. Isso significava que ela estava em sua casa naquele exato momento.
Com o coração acelerado, Ruan se aproximou da casa, determinado a enfrentar a situação de frente e conversar com seu filho.
Parou diante da porta do casarão, sentindo seu coração bater descontroladamente. Precisava se acalmar antes de mais nada. Suspirou várias vezes, apesar de ter mais de 40 anos, sentia-se como um jovem apaixonado, confuso sobre o que fazer.
Na verdade, ele sabia o que queria, mas a notícia de que Jéssyca poderia estar envolvida com seu filho o havia atingido de uma forma devastadora, tornando até difícil respirar tamanha era a sua angústia.