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O Começo IV

Camila Coelho

" - Quietinha filhinha, não queremos acordar a sua mamãe.

Eu choramingo no colo dele.

Ele cheira a cigarro e a bebida. E toda vez é assim. Ele chega sorrateiro no meu quarto, apaga o meu abajur e me põe em seu colo.

-Está toda molhadinha neném, será que fez xixi na calça, deixa o papai ver..."

Eu acordo gritando e soluçando...

Não... Outro pesadelo não.

Eu tinha conseguido ficar um tempo sem eles, mas Dominique trouxe o inferno para a minha vida novamente.

Tiro a coberta e me levanto. Meu coração está acelerado e minha camisola gruda em meu corpo. Eu estou toda molhada de suor.

Me levanto com dificuldade e minha vista escurece. Me escorei na parede e espero a tontura passar.

Esses pesadelos mexem com o meu psicológico e com o meu corpo.

Há dias que não durmo direito...

Estou cansada e me sentindo morta por dentro.

Eu preciso jogar.

Eu preciso…

Pensei que fosse jogar mais vezes com o mestre Bernardo, mas desde que jogamos naquele dia, ele não me fez mais nenhuma proposta.

Nos falamos muito pelo whatsapp. Era fácil conversar com ele e sempre tínhamos assunto. Era bom ter um amigo, há tempos que não tinha nenhum. Tinha muitos conhecidos e colegas, mas nenhum amigo íntimo. E ele era muito cativante! Fofoqueiro também... Nesses poucos dias eu já sabia de detalhes sobre a sua vida, sua família e seus irmãos. Só podia ser fofoqueiro, porque uma pessoa como ele se abriria tão facilmente, para uma pessoa estranha.

Já eu... Não consegui contar nada a ele, mesmo ele se esforçando para descobrir.

Eu queria que ele me chamasse para um jogo novamente, pois dentro da etiqueta do BDSM, o convite tinha que vir dele.

A verdade é que eu já estava começando a me desesperar... Se não jogasse ia começar a querer fazer coisas que eu não podia fazer, e eu sei que se eu entrasse nessa novamente seria difícil de sair.

Vou para o banheiro, tiro a camisola e entro no chuveiro frio. Preciso sentir, para esquecer a dor dentro de mim…

A água está muito fria, principalmente nesse frio que anda fazendo em São Paulo. Parece que tem pedras de gelo caindo nas minhas costas, mas isso é mais reconfortante do que um banho quente.

Aconchego só me faria despencar no abismo..E eu não quero despencar no abismo.

Deixo a água escorrer por alguns minutos e depois desligo o chuveiro e começo a me enxugar. Olho para o espelho de corpo inteiro que tenho no banheiro.

Às marcas que Bernardo deixou em minha bunda, já sumiram a bastante tempo. Meu corpo está branco, quase transparente. Sem nenhuma marca. Tenho olheiras profundas, denunciando minhas noites mal dormidas. Meus olhos estão sem vida!

-Eu preciso jogar... Eu preciso jogar...-murmuro olhando para o meu reflexo.

Eu preciso me equilibrar, e só consigo jogando.

- Amanhã será um novo dia! Você consegue! -Murmuro mais uma vez para o meu reflexo.

Vou para o closet pegar uma camisa larga e ponho no meu corpo. Seco bem o cabelo e faço um coque.

Procuro um analgésico para minha enxaqueca e deitei novamente na cama..

Amanhã eu preciso ir ao clube. Não vou mais esperar pelo Bernardo... Não dá...

***************

Acordo sobressaltada com meu telefone gritando no criado mudo. Ponho a mão na vista, já que a luz do abajur me incomoda.

Viro em direção ao barulho e tateio o criado mudo procurando o celular

Acho e atendo.

-Alô.

-Oi passarinho…

Aquela voz... Aquele apelido...

Bernardo...Mas o que ele está me ligando? Ele nunca ligou…

-Bom dia mestre!

-Boa tarde Camila, já são 13 h. Estava dormindo?

Levanto- me sentando na cama e tomando um gole de água.

-Eu acordei de madrugada com enxaqueca. Tomei o remédio e acabei dormindo demais.

-Está melhor?

-Sim mestre... Sem dor. Acho que o corpo só queria um descanso.

-Que bom! Estou ligando pra te chamar pra jantar em minha casa. Às 20 h, se aceitar mandarei um segurança te buscar.

Dou um suspiro no telefone. Graças a Deus, não precisarei ir ao clube.

-Claro que aceito mestre. O que devo vestir…

-O que quiser... Se quiser vir sem nada, não vou me importar.. - eu sorrio... Garanto que eu também não vou me importar...- Tem algo que você não coma?

-Não Senhor, sou boa de garfo.

-Ok! Te espero então às 20h.

Tenha um bom dia passarinho.

-O mestre também.

Desligo o telefone e suspiro, rindo ao mesmo tempo... Estou animada! Só espero que seja tão especial como foi o primeiro jogo.

Me levanto, porque agora me deu até fome!

*****************

Como ele disse, às 20h um Pajero preto buzinou na porta de minha casa. Escolhi para ir ao jantar uma pantalona branca, e uma blusa vermelha de mangas compridas. Faz frio em São Paulo. Pus uma bota de cano curto com um salto bem alto e deixei meu cabelo solto. Fiz uma maquiagem básica.

Agora estou dentro do carro e o Daniel, que é o segurança que veio me buscar, para na frente de uma casa enorme num condomínio luxuoso nos Jardins.

Uma casa muito moderna , dessas que parecem uma caixa com janelões de blindex, com um jardim bonito na frente.

Luxo, requinte e modernidade resumem bem o que vejo. Ele abre a porta do carro para mim e eu saio com sua ajuda. Ele sai andando em direção a porta da frente e pede para eu seguir ele. Essas portas têm mais de três metros de altura. Eu nunca achei que uma casa combinaria tanto com o seu dono como está. Combina... E muito…

Ele toca a campainha.

Bernardo abre a porta vestindo apenas uma calça jeans, com os cabelos molhados e despenteados e descalço. Daniel sai da vista e ele me olha.

-Boa noite passarinho... Desculpe os trajes, mas não deu tempo de eu me arrumar antes que você chegasse. Entre…

Ele vira de costas e sai andando na frente. Aquela bunda perfeita que se encaixa tão bem na calça jeans.

Que homem, meu senhores! Que homem!

-Fique à vontade, vou por uma camisa e já volto.

Ele sobe os degraus da escada de dois em dois e eu fico sozinha na sala.

Vejo o ambiente. Tudo muito claro. Paredes claras, sofá claro, móveis brancos. É uma sala enorme, cheia de poltronas confortáveis. No canto vejo uma ilha de mármore branco e armários denunciando ser uma cozinha. O cheiro bom vem de lá... Será que é ele que está cozinhando?

A escada que ele subiu está no canto posterior e deve dar para os quartos. A casa é cheia de janelões de blindex que vão quase até o chão. Vejo por uma dessas janelas que na parte de trás há uma piscina e uma outra construção. O lugar é lindo, digno de uma revista de arquitetura. Mas também não vejo nada pessoal. Nada que fale um pouco sobre o dono do lugar. Pelo menos aqui não.

Ele volta com uma camisa de malha azul e ainda descalço, com os cabelos devidamente penteados.

-Espero que você goste de macarrão... -Diz andando para a cozinha. Eu vou atrás dele…

-Adoro. O mestre que fez o jantar?

-Sim, minha especialidade... Macarrão aos quatro queijos.

-Eu amo...

-Que bom!

Ele abre uma adega climatizada e tira uma garrafa de vinho de lá de dentro já aberta, enchendo duas taças.

-Bem vinda a minha casa. -fala estendendo a taça para mim e batendo a sua na minha, fazendo um brinde.

-Sua casa é linda!

-Obrigada, ela ficou do jeito que eu queria…

-Foi você que a planejou?

-Não... Eu sou brilhante, mas nem tanto! Dei a ideia para a arquiteta e ela fez do jeito que eu queria. E o mais importante... É toda ecológica.

Eu sorrio.

-Tipo recolhimento de água de chuva…

-Energia solar e etc... Gosto dessas coisas que o dinheiro pode comprar.

-E quem não gosta?? -Eu sorrio...- O mestre me surpreendeu, achei que teria uma cozinheira.

-E tenho... Mas nessa hora ela já foi embora... É só eu e você... E também porque queria impressionar, e como faria isso se eu não te entupir de macarrão feito por mim!? -Eu começo a rir e beberico um pouco do vinho. -Depois de jantarmos te mostro o resto da casa...

Ele começa a aprontar os pratos.Na ilha há dois lugares postos para o jantar. Ele leva jeito para a cozinha. Com movimentos calculados e precisos. Ele leva os dois pratos para os lugares postos. Eu deixo minha bolsa em cima de uma poltrona e volto para a ilha me sentando no lugar que ele me indica e botando a taça a minha frente.

Ele enche ela novamente e a sua, e se senta ao meu lado.

-Prove…

Eu sorrio e pego o garfo pegando uma porção do macarrão e comendo.

Ele me olhou em expectativa. Eu não falo nada... Pego o guardanapo e limpo minha boca séria…

-Para de enrolar e fala que foi o melhor macarrão que você comeu em toda a sua vida.

Eu gargalho!

-É um dos melhores, pode ser?

-Sinceridade... Gosto disso... Então... -ele come um pouco e fecha os olhos saboreando a comida.- Está muito bom!

-Tenho que concordar…

Se ele já era lindo na boate , imagine agora... Ele é perfeito! Esses olhos azuis escuros nas extremidades e quase transparentes no centro, diferente do meu que são de um tom só. Esse cabelo que quando está na luz são loiros e tem apenas alguns fios vermelhos. Essa barba por fazer que o deixa com cara de homem. Esse corpo perfeito que se vestisse um saco de lixo, continuaria perfeito. Mãos longas e grandes. Aquelas mãos devem amassar ou massagear um corpo, como nenhuma outra... Ele é fascinante e ao mesmo tempo sexy. Brincalhão e nem parece um dominador sado masoquista. Ele é muito bem humorado para um...

Mas como não devemos julgar as pessoas pela capa, deixarei para tirar minhas próprias impressões daqui um tempo. Comemos em silêncio por um tempo, quando estamos terminando ele diz:

-Pensou na minha proposta?

Que proposta. Ele não me fez nenhuma proposta.

-Não entendi…

-A proposta que fiz para você ser minha submissa…

Na verdade não foi uma proposta, ele ofereceu e eu recusei prontamente.

Eu abri a boca para começar a fazer meu discurso ensaiado e ele levanta a mão, negando com a cabeça ... Eu me calo no mesmo momento.

-Me poupe deste discurso de que não é saudável emendar um contrato no outro. Esse não é o verdadeiro motivo. E eu sou um ótimo dominador para perceber isso…

Como dizer a ele que eu não estou pronta? Não quero me abrir para mais um dominador e ele utilizar meus pontos fracos contra mim um dia.

Não tenho estrutura para passar por isso novamente. Eu me destruiria.

-Eu preferia não conversar sobre isso... Pelo menos por enquanto não…

Fico desanimada. A oportunidade que eu tinha de aplacar as minhas dores com o jogo foi por água abaixo. Eu com certeza terei que ir ao clube.

-Nós precisamos conversar sobre isso... O jogo foi especial e eu quero você na minha cama. Podemos negociar um contrato vantajoso para você…

-Mestre, obrigado pela jantar... Mas eu preciso ir…

Me levanto da bancada e vou pegar a minha bolsa quando ele segura a minha mão. Prendendo minhas costas em seu peito e suas mãos em minha cintura…

-Desculpe... Você não quer falar sobre isso... Não precisamos falar... Ok? O que você quer fazer?

Eu fecho meus olhos e respiro seu cheiro tão perto de mim, aquelas mãos me apertando a minha cintura…

-Eu quero trepar mestre... Duro, forte, doloroso!!! Eu quero esquecer…

-O que você quer esquecer Camila?

Ele sussurra em meu ouvido…

-A merda que um dia foi a minha vida...

Ele me vira para ele, me segura em seu colo de frente para ele e começa a me levar para fora da casa, beijando minha boca, mordendo chupando meu lábio e minha língua. Vejo ele abrir uma porta de vidro e ligar luzes...

Quando sinto a luz abro meus olhos e ele me põe no chão.

Estou numa sala de jogos. Na verdade parece mais um calabouço. Paredes todas de pedra. Ganchos em todos os lados... Apetrechos para bdsm expostos... Uma gaiola enorme no canto... Meu coração começa a bater forte...

Que lugar magnífico! Parece uma prisão de tortura de um castelo medieval.

-Então quer dizer que meu passarinho quer trepar…

Ele fala atrás de mim ainda segurando minha cintura com uma mão e a outra vai para o meu pescoço apertando ali…

-Sim mestre!

-Eu vou te dar isso passarinho, mas lembra da regra?

-Sim, só termina quando você disser que terminou e eu terei que te dar o que você quiser em troca…

-E eu quero que quando terminarmos você seja sincera comigo e responda todas as minhas perguntas, mesmo que elas sejam difíceis. Pode fazer isso?

Eu balancei a cabeça dizendo não…

Ele aperta a minha garganta com aquelas mãos enormes. Com um movimento ele pode quebrar o meu pescoço. Eu tenho consciência disso, mas eu sei que ele não fará. Como tenho certeza? Eu só sei...

Ele tira meu ar por alguns segundos e depois diminui o apertão…

-Estou esperando a sua resposta passarinho... Aceita o acordo?

Eu balancei a cabeça dizendo não. Quer irritar um dominador, não responda com palavras... A maioria deles odeia esse comportamento.

Meu corpo começa a entrar num frenesi só com a perspectiva de que ele aperte meu pescoço novamente. Não respondo, não porque não quero responder, e sim porque eu quero que ele aperte novamente.

Ele faz o que desejo, apertando um pouco mais do que a primeira vez e soltando…

Eu começo a respirar com dificuldade dessa vez.

-Ainda espero uma resposta…

Continuo negando com a cabeça e ele aperta de novo, dessa vez enfiando a mão dentro da minha pantalona e apertando meu clitóris. Eu grito em resposta...meus pulmões protestam, sinto que meu rosto fica vermelho.... Quando solta eu engasgo um pouco e ele continua tocando meu clitóris , respiro com dificuldade e gemo ao mesmo tempo.

Ele não solta a minha cintura...Continuo cativa encostada nele, sem poder me desvencilhar de seus toques.

-Responde Camila, com palavras…

Ele fala raivoso agora!!!

Quando quase estou chegando lá com os seus toques ele para e me vira de frente, botando o dedo que estava nas minhas partes íntimas na minha boca…

-Eu chupo e ele volta para lá…

-Ainda quer trepar Camila?

-Sim mestre…

-Então me responde se aceita o meu jogo…

Ele me penetra com os dedos e eu grito me sentindo invadida por três dedos grossos e sem nenhuma preparação.

-Me responde passarinho…

Ele lambe a minha boca, aumentando o vai e vem com os dedos…

-Sim mestre, eu faço tudo o que você quiser …

-Tudo…

-Tudo…

Falo desesperada, doida de vontade de gozar, de sentir aquelas mãos no meu pescoço me privando do ar, de sentir suas mãos brutas batendo na minha bunda…

Ohhh Inferno, se eu não tomar cuidado eu vou ficar viciada nesse homem …

Ele me solta e se afasta com um sorrisinho no rosto e diz…

-Quero você nua agora, enquanto eu preparo as coisas…

Vira as costas com os dedos que estavam dentro de mim na boca, e sai…

E eu fico parada no meio do quarto, com dificuldade de respirar, com minha roupa toda revirada e minha vagina queimando e babando como nunca esteve…

Céus….

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