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O Começo III

Capítulo 3 - O começo III

Bernardo Thomson

-Senhor, madame Lavoisier na linha um.

-Obrigada D. Nalva.

-Alô...

-Alô mestre Thomson... Resolveu sair do exílio?

-Sim e não... Na verdade eu quero informações da Senhora...

Desde o final de semana eu não tiro Camila da cabeça. Já pedi ao Barreto para investigar tudo sobre ela, mas isso leva tempo, eu preciso de mais informações do que eu já sei, o mais urgente possível.

Apesar de ela demonstrar uma certa frieza na sessão, eu gostei do jeito que nossos corpos se encaixaram, fora que ela é uma graça. Toda delicada, feminina, gosta de dor. Enfim, é o meu número. Inteligente! Vocês sabem como é difícil encontrar uma menina inteligente que saiba conversar em meu mundo, principalmente no regime 24/7?

Eu não quero um fantoche... A maioria delas tem o objetivo apenas do sexo, não se interessam por cultura e outros assuntos. Eu não sei de onde saiu essa história de que para encontrar um dominador que as sustente, não precisa malhar o cérebro.

Por isso eu gosto das meninas da Madame. Elas já vêm com uma bagagem cultural que é importante num relacionamento BDSM. Afinal não é só de trepada que um contrato 24/7 sobrevive.

Desculpe o palavreado, mas aqui o bagulho é mais embaixo...

Não sou nenhum pouco delicado nas minhas colocações e vão se acostumando.

-Senhor Thomson? -A Madame fala no telefone.

Merda eu divaguei e acabei esquecendo dela...

-Desculpe Madame... Me distraí... Quero informações sobre uma submissa que fazia parte do internato e não faz mais. Claro que já botei meu investigador no caso, mas eu estou um pouco ansioso para saber de mais detalhes .

-Senhor, eu não posso dar detalhes sobre minhas meninas, se não tiver autorização delas para isso... E se a menina não é mais minha submissa, não tenho essa autorização.

-Achei que ela não sendo mais sua submissa, a Senhora ia facilitar a minha vida.

-Não é ético, senhor!

-Eu só quero o bem dela, madame. Você me conhece, sabe como sou... Não vou prejudicar a menina com as informações que me der... Eu só quero saber onde eu estou pisando...

-Que tal me dizer quem é e eu analiso a questão.

Velha esperta! Quando ela quer, ela é um túmulo... Ela age de acordo com os seus interesses...

-Camila... Loirinha, 1, 60... Cara de anjo... Me disseram que ela ficou no internato até os 19 anos. Seu último dominador foi Dominique Trevisan.

-Sei quem é Senhor! Camila sempre foi muito arisca, nunca considerou o internato como sua casa. Eu ainda consegui segurar ela um pouco mais que dezoito, mas infelizmente ela decidiu seguir sem o internato.

-Por quê?

-Isso é ela que tem que dizer... Não é meu assunto... -Eu suspiro. -Está interessado nela?

- Isso também não é seu assunto, mãos como sou uma pessoa generosa vou te responder...Sim ... Tivemos um jogo no clube da Margô, mas ela não está procurando contrato permanente no momento... Você poderia ser generosa comigo também, não acha? -Dessa vez quem suspira é ela.

-O quê ela disse, não condiz com a verdade. Camila precisa de um contrato permanente, já que sua saúde mental depende disso.

-Porque Madame? -ela fica muda e não fala mais nada por um tempo.-Por favor Madame... Me fale algo... Eu realmente quero ajudar ela...

-Vou te dizer como encontrei Camila e aí o Senhor tira suas próprias conclusões ou espera o investigador fazer o trabalho, porque não há nenhuma informação em sigilo. Eu só posso te dizer o que rolou entre nós, mas sobre a vida dela não posso dizer nada.

-Ok! Fale ...

-Meu segurança a encontrou na avenida Paulista se prostituindo aos 16 anos, para poder se manter em São Paulo, já que veio de outro estado. Eu consegui manter ela comigo até os 19. Consegui fazer com que se cuidasse, com que estudasse... até que não pudesse mais interferir em suas escolhas...

Agora quem fica mudo sou eu...

Prostituição aos 16? O que leva uma menina a fugir de casa e viver nessas condições?

Então o caso é muito mais sério do que eu imaginei.

-Senhor!

-Estou aqui madame, só fiquei um pouco chocado!

-Eu imagino! Ela está bem? Soube que seu relacionamento com Dominique havia terminado, mas nunca mais a vi.

-Ela parece estar bem sim... Pelo menos me pareceu normal...

-Senhor Thomson quero que saiba que gosto muito da Camila e que se dependesse de mim ela estaria aqui até hoje, mas como ela foi obrigada a ficar sob meus cuidados na época, acredito que tenha tomado ojeriza de mim. Ela é uma boa menina ... Tem um coração lindo, e espero realmente que o senhor se interesse por ela. Eu ficaria muito tranquila em saber que ela está sob os seus cuidados.

-Isso só depende dela madame. E ela não parece estar muito animada com isso...

-Camila tem uma história de vida triste... Precisou de muita terapia, mas tem coisas que não somem de uma hora para outra.

-Entendi... Ela já era viciada em dor nesta época?- Ela mas uma vez fica em silêncio e não fala nada.-Qual é madame... Eu joguei com ela... Eu tenho experiência suficiente para perceber quando uma submissa é dependente da dor ou não... O que a senhora me dizer não é novidade para mim...

Ela suspira no telefone.

-Sim... Quando a encontrei ela se mutilava, não sabia lidar com isso. A terapia a ajudou bastante!!! E quando ela foi embora, foi a única coisa que ela me agradeceu por ter feito por ela... -ela fala magoada.

Mas que mal agradecida. A mulher tira ela das ruas, a proíbe de se prostituir e de algo pior... e ainda trata a Madame desta forma?

-Sinto muito madame!

-Eu sinceramente não me importo. Aconteceram coisas com ela que me fazem compreender o seu modo de agir... Eu realmente estou feliz por ela ter achado alguém como o senhor. Confesso que fiquei preocupada, quando soube que ela havia virado submissa de Dominique. Mas como disse ... Eu não podia fazer nada... Que bom que ele não a quebrou, novamente...

Então quer dizer que ela foi quebrada?

Senti sinceridade por parte da Madame. Ela me fez enxergar as coisas com outros olhos.

Eu não sou idiota. Sei que aconteceu algo grave para que uma pessoa precise da dor física para aliviar a dor constante, que tem dentro de si. Porque é assim que acontece...

E tem a ver com o escuro! Lembro que seus olhos mudaram de cor quando disse que não tolerava o escuro.

O que será que aconteceu com você Camila?

-Obrigada madame pelas informações.

-Estou às ordens Senhor! E se ela aceitar um contrato, me avise... Meu coração vai ficar aliviado em saber que vocês estão juntos.

-Obrigada pela estima. Até...

-Até...

Desligo o telefone e me escoro na minha cadeira. Estou no consultório, nos intervalos da consulta.

Então quer dizer que você tem uma história triste, Camilinha???

Uma história triste que eu vou adorar desvendar.

******************

Algumas semanas depois.

-Dr. Bernardo?!?!

Olho para a porta e vejo o Barreto, entrando na sala de minha casa. Estou sentado no sofá com um copo de whisky na mão.

Eu preciso dessa bebida para me relaxar!

Nunca fiquei tão ansioso pela presença dele. Quando ele me ligou mais cedo, me dizendo que tinha conseguido reunir todas as informações que eu havia pedido a ele, eu me senti aliviado.

Enfim eu estava pronto, para ir atrás de Camila.

Essas semanas que se passaram, conversamos um pouco pelo whatsapp, mas eu não voltei a vê-la. Queria ter certeza que ela era inofensiva para mim e para minha família, antes de fazer qualquer coisa.

Todas as nossas submissas, eram passadas por investigação.

Nossas famílias eram muito poderosas para correr riscos desnecessários.

No caso de Camila, eu mandei fazer uma investigação bem completa, por causa das informações que madame havia me dito. Quero estar preparado quando eu for a sua caça.

Para mim é uma caça!

Quero ela na minha cama ... disponível para mim... Na minha gaiola a hora que eu quiser... E isso não é uma opção... É uma certeza...

Eu só preciso pressionar nos locais certos. Saber dos pontos fracos... Estudar sua vida… E saber exatamente por onde eu posso começar na captura deste passarinho.

Estou empenhado nisso!

Barreto se senta na minha frente e me dá uma pasta bem sério.

-É muito ruim?

-Péssimo Doutor! Eu quero resolver isso e espero que o Senhor me dê essa oportunidade.

Olho para ele sem entender sua indignação. Merda! Então o negócio é sério... Muito sério...

******************

Eu jogo o copo cheio de whisky na parede... De tanta raiva que eu sinto.

-Me diz que esse infeliz está morto.

-Não... está vivo... Vivendo como se nada tivesse acontecido.

Pego outro copo no bar e jogo no mesmo lugar.

-Eu vou matar esse disgraçado!

-Não precisa... Eu vou resolver para o doutor!! Sou pago para manter vocês seguros... Eu não vou admitir que uma corja dessa, fique no mesmo ambiente que vocês. -Pego a garrafa de whisky e ele tira da minha mão.-Se acalme, daqui a pouco os rapazes vão invadir a casa.

Merda!

Meu peito arde!

De indignação!

De raiva!

De frustração!

Nunca me senti tão impotente! A gente sempre ouve de vez em quando histórias parecidas, mas nunca nos envolvemos de verdade com elas.

Quando você pára pra pensar que isso realmente existe, nos damos conta de como o ser humano é cruel.

Suspiro e me sento no sofá.

-Eu preciso pensar Barreto... E a mãe?

-Morreu a dois anos atrás...

Menos mau... Pelo menos uma não está viva, pra eu ter que resolver com as minhas próprias mãos.

Me levanto do sofá, e vou para a janela da frente, olhando o jardim da minha casa.

-Ele fez isso com outras, Barreto?!?

-Oficialmente não... Mas há boatos...

-O que mais você descobriu?

-Que a história que a Madame contou, é verídica. Descobri também porque ela terminou com o antigo dominador.

-Por quê?

-A menina tem medo do escuro, ele a trancou por um tempo no quarto escuro e deu ordens para os empregados não tirarem ela de lá. A arrumadeira falou que foi horrível. Dava pra ouvir os lamentos dela da cozinha. Quando ela foi liberada, ela devolveu a coleira e o ameaçou denunciar a polícia e a comunidade BDSM. Contratou um advogado, conseguiu o testemunho da arrumadeira, em troca de uma indenização gorda. O contrato tinha uma cláusula, em que se ele não cumprisse com tudo pré determinado, ela receberia uma bolada. E foi assim que aconteceu. Com esta fortuna ela comprou o prédio em que mora.

-Esperta! Nenhum dos empregados o denunciou quando ela pediu ajuda?

-Acharam que fazia parte do jogo!

Inferno! E quantas outras devem ter passado pelo mesmo problema? Esse cara tinha que ser denunciado à comunidade. E eu me encarregarei disso.

-Talvez por isso ela não queira aceitar o contrato comigo. Porque não precisa de dinheiro...

-Provavelmente... O que ela tem dá pra viver tranquilamente a vida toda, se não esbanjar.

-E ele... Se conformou com isso?

-Parece que sim, ele nem ao menos brigou pelo processo. Só deu o que ela queria. Talvez por medo das ameaças dela.

-É... Talvez...- passo a mão pelo meu cabelo mais uma vez.

Estou me sentindo frustrado com o que Barreto descobriu, me sentindo de mãos atadas, querendo esmurrar alguém.

-Eu sei como o senhor está se sentindo, eu também me senti assim quando soube, mas te prometo que vou resolver isso... Eu não sei como ainda... Mas vou desfiar a vida desse filho da puta de todos os jeitos, e vou descobrir como trancafiar ele na cadeia da forma que deve ser.

-Com todos os presos sabendo do seu passado Barreto... Não quero menos que isso...

-Com todos os presos sabendo...

-Eu quero que ele sofra Barreto...

-Ele vai sofrer... Eu te prometo... Se não precisar mais de mim, preciso ir... O senhor Arthur já mandou mensagem perguntando aonde estou.

-Barreto, não conte para ninguém.

-Não contarei Senhor! Pode ficar tranquilo. Qualquer coisa me mande mensagem.

-Ok! Obrigada!

Ele confirma com a cabeça e sai da minha casa.

Eu preciso pensar bem no que vou fazer daqui por diante.

Pensar muito bem...

Ela precisa me contar isso por livre e espontânea vontade. Não dá para começar uma relação bdsm com omissão de fatos e mentiras.

E por isso eu preciso montar uma boa estratégia para me aproximar dela.

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