Capítulo 3
No jardim sento em um banco olhando as belas flores. Sempre sendo bem cuidadas. Tão lindas. Tinha cores e tamanhos diferentes. Eu fico perdida só de olhar para elas. Não sei dizer qual é minha preferida. Era de costume ter todas as manhã flores novas em nossos quartos, mas aos meus 12 anos eu pedi para que não colocasse mais.
Eu gosto de vê-las aqui. No ar livre, com as outras e não em um vaso. Em um vaso eu via como se elas estivessem presas e longe de sua família. Uma das jardineiras acena para mim, eu sorri e acenei de volta. Às vezes eu gosto de ajudar no jardim, mas infelizmente não tenho uma mão muito boa para isso.
- Você é muito querida aqui. - Dou um pequeno salto fazendo Aaron sorrir. – Eu não queria te assustar.
Volto a olhar para as flores. O que ele faz aqui? Eu praticamente fico estátua sem dizer uma palavra.
- Agora você não tem comida na boca. – Sua voz é levemente grave. – Vamos conversar.
Arregalo meus olhos. Eu fui pega. Talvez fosse óbvio minhas intenções, não que eu quisesse realmente esconder.
- Desculpe.
Não queria me desculpar. Saiu mais rápido do que pensei. Aaron senta do meu lado, ele tem um cheiro bom, não era preciso chegar muito perto para sentir. A brisa do vento que passa pela gente me faz sentir seu cheiro melhor. Sigo com vontade de revirar os olhos. Por que estou tão fissurada no cheiro dele?
- Não precisa se preocupar. – De canto de olho vejo um leve sorriso nos seus lábios. – Eu estou preparado para lidar com seu jeito.
Olho para o chão.
- Alguns diriam ser rebeldia.
Meu pai e meu irmão diriam isso. Senti a tristeza novamente. Não queria me sentir assim, sempre escuto isso. Eu deveria estar acostumada e não está sendo chorona desse jeito. Pouco importa o que pensam de mim.
- Depende do jeito que é visto. – Aaron olhou para além das montanhas. – Todo mundo tem sua rebeldia.
Volto a olhar para as flores, erguendo minha cabeça. Eu não vou chorar!
- Você disse que está preparado. – Evito o deboche na minha voz. – Então alguém falou sobre mim.
Aaron me olha e sorri.
- Não vou revelar minhas fontes.
Revirei os olhos.
- Eu não sou da realeza. – Confessei. – Sou uma plebeia. Casar comigo, vai manchar o sangue da sua família.
Eu não mentir. A família real me adotou. Não tenho nenhum pingo de sangue real. A minha aldeia foi incendiada quando eu tinha 5 anos. Umas horas depois meu pai apareceu com carruagens e seus soldados. Erick estava com ele. Erick me achou. Eu fui a única sobrevivente, até hoje não sei como consegui sobreviver àquele massacre, mas aqui estou. Tornei-me a mais nova princesa de Bermaty.
Alguns amando e outros odiando.
- Se me contou isso com intenção de cancelar o casamento. Eu sinto muito, mas não vai acontecer. – Aaron inclina o corpo para trás e se apoia nas mãos. Agora olhando para o céu. – Eu já sei dessa história e mesmo assim aceito me casar.
- Mas eu não aceito! – Me exaltei.
Acabei chamando a atenção de algumas pessoas. Aaron não se mexeu.
- Qual é o seu medo, Elena?
Agora em pé dou um sorriso debochado. Sinto vontade de rir, ele acha mesmo que vou contar a ele. Eu não o conheço.
- Não vou dizer a um estranho.
- Não sou um estranho. – Ele aperta os olhos em minha direção. – Sua família me conhece.
- Mas eu não!
Talvez eu tenha visto ele alguma vez, mas não me recordo.
- Se você não desse um jeito de fugir do castelo todo santo dia, a gente já teria se conhecido. – A acusação em sua voz é nítida.
Então ele já esteve aqui.
- Não me importo. Sinto muito, mas não quero me casar, príncipe Aaron. – Ajeitei meu vestido e segurei minhas mãos em frente ao corpo. – Você é um príncipe muito bonito, príncipe Aaron. Tenho certeza que vai encontrar uma bela esposa.
Príncipe Aaron é lindo. Todas as camponesas do seu reino devem cair de amores por ele. Igual as daqui fazem com meu irmão. As princesas então... Mas meu caso é diferente. Deixar esse lugar me assusta. Não quero viver minha vida com um desconhecido. Não quero deixar minha amiga aqui. O canto se sua boca se repuxa para o lado. Seus lábios levemente rosados são um contraste para sua pele bronzeada.
Minha pele tem um bronze, mas diferente dele é pelo excesso de sol.
- Fico encantado com o elogio, princesa Elena. – Você sempre fica nervosa com facilidade ou a minha beleza causa isso?
Ele está brincando comigo?
- Você está me ouvindo? – Suplico. – Não quero me casar.
Aaron volta a olhar para o céu.
- Pode não querer casar comigo e vou negar o casamento se quiser. – Sorri cheia de esperança. – Mas tem outros na fila. Você não vai casar comigo, mas será com outro. - Toda a esperança foi embora. Ele fica sério. – Não quero te assustar. Conner é o próximo na lista e ele não é quem diz ser. – Olho para Aaron com mais atenção. – Seu irmão vai tentar evitar que se case com ele, mas se ele não fizer igual a mim, negar o casamento. Não terá outro jeito. Você casará querendo ou não.
Príncipe Aaron não parecia estar brincando. Sinto as lágrimas querendo vir. Se ele não queria me assustar, ele falhou miseravelmente. Olhei para o céu tentando evitar minhas lágrimas. Agora não, por favor. Aaron levanta ficando na minha frente. Não olho para ele. Aaron estendeu a mão e enxugou minha lágrima. Estou chorando?
- Eu entendo o seu lado, Elena. – Ele enxugou outra lágrima. – Não estou casando porque quero. Infelizmente são tradições que devemos seguir.
Olho para ele e Aaron retribuí o olhar. Seu rosto está neutro, seu olhar é intenso.
- Obrigada.
Obrigada, pela sinceridade. Obrigada, por não me achar rebelde. Obrigada. É claro que não descarto que tudo isso pode ser uma farsa. Ele pode está fingindo ser quem não é, e pode ser igual a todos os outros. Aaron é lindo e fácil de se apaixonar fisicamente, mas não vai me ter fácil assim.
Deve ter outra forma e ninguém quer me dizer.