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Por que eu não falei a verdade para meus pais?

Mais tarde eu e ela estávamos em frente a uma loja olhando um vestido na vitrine.

— Esse é maravilhoso. Se o Sheik gostou de você com aquele vestido, com esse ele vai amar.

Era impressão minha, ou agora minha mãe achava que eu poderia ousar mais para agradar o sheik?

— Lembre-se de papai. O vestido não pode ser muito ousado.

Ela pareceu cair em si.

—Não, claro que não.

Eu experimentei o vestido. Era lindo, moldava-se perfeitamente ao meu corpo, revelando minhas formas de forma sutil, nada vulgar. Era um clássico tubinho um pouco à cinturado e decote quadrado.

A cor era de um amarelo fosco, que valorizava a cor da minha pele morena e a cor de meus cabelos. Mamãe comprou também um sobretudo creme, para eu usar em cima do vestido, pois toda noite costumava esfriar.

Ela comprou um vestido preto, que também realçava sua beleza. Dentro dele mamãe rejuvenesceu uns dez anos.

Fizemos nossas unhas e cabelos em um salão de beleza. Em casa eu faria uma maquiagem leve, aquela que me valorizava e não me transformava.

Quando deu o horário, ambas estávamos prontas.

Meu pai quando nos viu, suspirou:

—Minhas princesas.

Meu pai estava muito bem também. Com seus cinquenta anos, ele tinha pouco cabelos brancos, e aparentava muito menos. Estava vestido com seu melhor terno, um cinza chumbo, camisa branca e gravata cinza claro.

— Está lindo papai!

— Lindas, estão vocês!

Capítulo 5

E lá fomos nós. Eu apreensiva e nervosa. Minha mãe e meu pai sonhadores. Que Allah me ajude! Agora eles iam enfrentar o verdadeiro motivo do convite. Eu estava ferrada!

Quando chegamos ao endereço, eles exclamavam palavras de admiração. Logo que nos identificamos, os portões foram abertos para alegria de meu pai, que abriu um grande sorriso para a minha mãe. Então eu vi o gesto dele apertar as mãos dela e isso me deixou mais nervosa.

Ah Allah! Espero que o Senhor me tire dessa enrascada!

Estacionamos na entrada, onde o homem de roupas engraçadas se dirigiu até nós e abriu a porta do carro. Então, fomos recebidos pelo homem gordo que nos levou a uma sala dos sofás floridos. A medida que o tempo passava, mais nervosa eu ficava e por isso quando me sentei no sofá, não conseguia deixar de balançar uma de minhas pernas.

Mamãe se irritou.

— Habibi. Pare! Você está me deixando mais nervosa!

Tirei o casaco, pois meu corpo parecia um vulcão em erupção. Tinha deixado meus cabelos soltos e para me acalmar, peguei uma mecha e fiquei enrolando nos dedos. Meu pai parecia impaciente também, pois ficou pouco tempo sentado, e agora circulava pela sala observando os quadros e as obras de artes.

Logo vi a porta se abrir e um homem anunciar.

—Vossa Majestade, o Sheik Mansur Mohamed Al Jain, está em uma ligação e daqui a pouco irá atendê-los.

Eu suspirei nervosa e me levantei. Fui até uma janela que tinha como vista uma grande e belíssima piscina iluminada. Depois de um tempo, ouvi a porta se abrir e o Sheik Mansur Al Jain surgir. Sua imponência naquele terno preto me fez tremer na base e senti um arrepio na nuca.

Alto, ombros largos, os cabelos negros brilhantes muito bem penteados para trás e aqueles olhos negros, lindos, grandes e expressivos.

Precisava aparentar calma.

Mas como se meus pais agora o olhavam como se ele fosse meu pretendente?

Nossos olhos se encontraram e depois passaram avaliativos pelo meu corpo. Foi tudo muito rápido, mas o suficiente para me deixar mais nervosa. A analogia que fiz era de um falcão à espreita da presa. Seus olhos então se direcionaram aos meus pais e ele deu um leve sorriso de boas-vindas. Papai e mamãe se levantaram e fizeram uma leve mesura, ambos sorrindo.

Eu não sorri. Eu quase chorei!

Que loucura que eu fiz!

Ele ergueu as mãos e disse para meus pais.

— Tesbah ala kheir.

— Tesbah ala kheir. —Eles responderam "boa noite" em coro.

Eu sorri de um jeito nervoso e me adiantei, os apresentando.

—Esse é meu pai, Mustafá e minha mãe, Salma.

Mansur sorriu aberto para eles.

—É um prazer conhecer os pais da senhorita Nazira.

—O prazer é nosso. Ficamos muito felizes quando nossa pequena nos contou do interesse de vossa majestade em desposá-la. —Meu pai disse com simplicidade tão grande, que eu fiquei quase em choque.

Allaaaaaaaaaaaaaah!

Nãooooooooooooooooooooo!

Senti meu rosto quente, e meus olhos imediatamente procuram os do Sheik para ver sua reação. Quando ele olhou para mim, não havia compaixão nos olhos negros dele, nenhuma bondade. Seus olhos eram tão frios, que eu me senti impotente, abalada, desconfortável.

Eu tinha que reagir!

— Papai na verdade...

Ele me interrompeu.

—Sentem-se!

Vi meus pais se sentarem. Eu estava meio atordoada e mesmo com a autoridade em sua voz, não consegui me mover do lugar. Ele disse seco:

—Sente-se senhorita Nazira.

Eu me sentei ao lado de minha mãe. Meu pai estava ao do lado esquerdo dela. O Sheik ocupou o sofá à frente de nós. Ele disse com um sorriso para meu pai:

— Gostaria que antes de conversarmos a respeito das minhas intenções com sua filha, que passássemos momentos descontraídos.

Ele não esclareceu o mal-entendido, e pelo visto até que isso acontecesse ia ser uma tortura para mim. Nessa hora ele me olhou de maneira bem fria, e eu fui invadida pelo remorso. Tudo veio como uma explosão de sentimentos confusos.

Por que eu não falei a verdade para meus pais?

Por que esperei que tudo se resolvesse aqui?

Por que não fui mais forte?

Mansur iniciou a conversa, mudou de assunto habilidosamente. Eu e mamãe ficamos quietas, apenas observando meu pai e o Sheik Mansur conversarem. Falaram de tudo um pouco. De negócios principalmente. Sabíamos de nossas posições quando um homem árabe conversava com outro. Nós só tínhamos direito a falar, apenas se fôssemos incluídas na conversa.

E eles continuaram, abordaram vários tipos de assunto, desde a alta da gasolina até do país materno. De vez em quando o Sheik perguntava algo para mamãe, que foi bem comedida nas respostas. Por um momento pensei na minha ousadia de interromper Fadir no jantar de ontem e dirigir a palavra ao Sheik.

Logo uma espécie de mordomo anunciou que o jantar estava pronto. Caminhamos silenciosos, seguindo o sheik até aquela belíssima sala de jantar. Meu pai exibia no rosto uma grande felicidade. Eu nunca o vi tão feliz.

O Jantar para mim foi tenso ante à expectativa do que viria a acontecer quando meu pai descobrisse o real motivo da presença deles nesse jantar.

Empurrei o salmão assado para dentro de meu corpo e mastiguei tomando cuidado para não me engasgar, pois minha garganta parecia fechada pelo nervosismo. Reparei que o Sheik estava pensativo e para meu nervosismo aumentar, de vez em quando eu sentia os olhos dele sobre mim.

Quando findou o jantar, ele nos levou para uma sala diferente da vez anterior. Era um lugar muito relaxante. Tinha uma linda cascata artificial que saía de uma rocha, entre trepadeiras verde-escuras e caia em um pequeno lago cheio de carpas coloridas.

Sentamos todos em um grande sofá marrom, muito confortável, o Sheik se sentou à nossa frente.

— Sua filha me disse de sua grande preocupação que ela se case com um homem árabe.

Meu pai me lançou um olhar carinhoso e sorriu para mim. Eu sorri de volta para ele, um sorriso nervoso e voltei meus olhos para o Sheik. Lutei contra a sensação desconfortável quando nossos olhos se encontraram. Ele estudava todo o meu rosto, talvez me preparando para o que ia dizer. Senti um frio no estômago.

Meu pai o olhava com seriedade e disse em um tom muito sério:

— Não quero que Nádia se envolva com nenhum homem ocidental, por isso, a preparei desde que ela era uma criança para se casar com um homem de nossa linhagem. — Enquanto ouvia meu pai dizer cada palavra eu apertava as mãos no colo, e mais e mais crescia meu nervosismo. — Eu não medi esforços para que ela fosse à mulher que é hoje. De tudo ela sabe um pouco. Será uma ótima esposa.

Allah! Não aguentei mais. Precisava acabar com aquele mal-entendido!

—Papai...

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