Resumo
Mansur Mohamed Al Jain, Sheik árabe, magnata do petróleo. Nádia uma mulher de origem árabe foi prometida em casamento, preparada para isso desde a adolescência. Quando esse dia chega, ela não encara tão bem assim, e espanta seu pretendente, pois ela luta pela sua liberdade de escolha. Surge a proposta de trabalhar para o Sheik Al Jain. O pai de Nádia só permitirá que ela trabalhe com a seguinte condição: que o Sheik arrume um pretendente para Nádia. Nádia acaba se apaixonando pelo Sheik, o homem por trás da realeza. Mas ela entende que seu amor é impossível, já que Mansur é noivo de Raina, e a mãe dele também a lembra constantemente qual é o papel dela na vida do Sheik.
Nádia Najat Nazira
Nádia Najat Nazira
— Querida! Tudo certo. Enfim chegou o dia! —Mamãe disse desligando o telefone. —Seu pai disse que já conversou com a família de Rashid. E hoje à noite ele vem vê-la.
Eu tinha me preparado para esse dia e agora que se tornava realidade, eu não conseguia me alegrar com a notícia. Era difícil para eu aceitar que em pleno século 21, morando na Inglaterra, minha família resistia às mudanças.
Tentei sorrir diante da notícia, mas estava abalada. Eu já me sentia em uma prisão, agora era como se me transferissem para uma jaula apertada, sem poder me movimentar.
Pisquei várias vezes, para não chorar e me levantei do sofá.
—Vou escolher uma roupa para a ocasião.
Com essas falas deixei a sala. Cabisbaixa, fui em direção ao meu quarto, lágrimas inundando meus olhos.
O homem ao qual fui prometida, vi apenas uma única vez em uma festa. Éramos adolescentes ainda e mamãe, discretamente, me mostrou ele. Isso não me empolgou nem um pouco. Ele era bem feio, usava aparelho nos dentes. Não encuquei muito com isso, e segui minha vida. Na época, eu não entendia muito bem da vida, e nem do mundo lá fora. Aceitava tudo sem questionar. Mas conforme fui amadurecendo percebi, que meu horizonte era muito limitado, e que o mundo tinha muito a me oferecer.
Contudo, como boa filha, aceitei ser dirigida pelos meus pais. Eles ditavam desde pequena tudo em minha vida. O que eu deveria vestir, assistir, ler, amigos, lugares, festas. Era natural também que escolhessem para mim um homem de boa índole e de uma boa família para ser meu futuro marido.
Fico pensando agora: E se eu não gostar dele?
Minha opinião teria força, por ser fruto de uma promessa, onde fui preparada para esse momento?
E ele? O que pensava? Em pleno século 21, estaria satisfeito por nossas famílias ditarem nossos futuros?
Tudo indicava que ao longo dos anos, meu prometido assimilara a nossa cultura, e talvez aceitasse isso numa boa. Não parecia algo forçado para ele pelo fato de ele vir me ver, isso só mostrava claramente que a promessa, um dia feita, tinha força e não fora desfeita. Eu precisava conversar com ele sobre isso!
Teríamos chances de ficarmos sozinhos? Ou a visita dele seria assistida pelos meus pais?
Como funcionaria? Como seria?
Eu, por incrível que pareça, nunca perguntei a meus pais sobre esse dia. E sei o porquê fiz isso: Para demonstrar desinteresse, com a esperança de que quando chegasse o momento, eles desistissem da ideia.
O pior de tudo era que em uma dessas festas, conheci um homem que abalou minhas estruturas. Essa era uma triste realidade. Cheia de verdades.
Nos beijamos, suspirei...
Quando ele me beijou, mal pude acreditar que eu permiti tal ato. E o pior, logo na primeira noite que nos conhecemos. Mas foi bom. Isso deu um estalo na minha cabeça, e desde então, tenho pensado nessa noite, e percebi que o casamento arranjado seria uma grande loucura.
Hoje só havia um sentimento dentro de mim, e ele me dizia: não quero me casar com um homem por conveniência, mas quero me casar por amor.
Três anos atrás...
Era aniversário de dezessete anos de Layla Makarin, uma amiga da época do colégio. Ela escolhera a discoteca mais badalada de Londres. Dezenas de jovens, pessoas de nossa cultura e ingleses foram convidados.
Fui acompanhada por minha mãe para variar, já estava acostumada com a presença dela nos lugares que ela achava que seria uma ameaça a minha compostura, ou que me tirasse o foco dos princípios aprendidos.
Saltei do táxi e prendi nervosamente uma mecha dos meus cabelos negros e compridos atrás da orelha. Ao nos aproximarmos da porta principal, apresentamos nossos convites, onde o segurança retirou o cordão para entrarmos. Lembro-me do ambiente, onde todas as mulheres estavam de saltos altos finos e saias bem-comportadas e do outro lado do salão, os rapazes vestidos com seus jeans e camisetas transadas.
Dentro da discoteca escura, uma grande bola metálica pendia no teto. Na pista algumas garotas dançavam, observadas pelos rapazes, tímidos do outro lado. Luzes salpicavam as pessoas na pista de dança de roxo, branco e dourado.
Eu e minha mãe logo fomos recebidas por Layla que nos direcionou a uma mesa. Olhei para mamãe, para ver sua reação, e fiquei feliz pois, até então, ela parecia não implicar com o ambiente.
Logo Layla me convidou para dançar, olhei minha mãe, pedindo sua autorização, onde ela assentiu com um leve aceno de cabeça. Sorri para ela feliz e segui Layla até a pista de dança, onde sacudimos nossos corpos ao som de Elvis Presley, Don't be cruel.
Dancei tanto que meus pés começaram a doer, me afastei até o bar e peguei uma garrafinha de refrigerante com um canudo. Com ele nas mãos, caminhei pelo labirinto de pessoas em direção a minha mesa. No percurso meus olhos focalizaram a figura de um homem. Tinha vários rapazes lá, mas ele era diferente. Ele era maduro.
Ele destoava lugar diante daqueles rapazes sem graça. Não consegui deixar de reparar na linda jaqueta de couro preta que ele usava, que combinava perfeitamente com sua calça preta bem ajustada, que se adequava perfeitamente aos seus quadris e revelava suas pernas fortes. A camisa semiaberta revelava pelos negros, onde pendia um cordão dourado. A cabeleira negra era bem penteada para trás. O queixo quadrado, voluntarioso.
Quando nossos olhos se encontraram, senti meu corpo estremecer. Nessa hora ele sorriu para mim, um sorriso torto. Me senti corar e desviei meu olhar, só então percebi que, desde que eu o avistei, não consegui tirar meus olhos dele. Ainda me sentido observada, me dirigi a minha mesa. Mamãe conversava com a mãe de Layla, estava tranquila. Num impulso, me virei e segui outra direção e fui para uma região mais afastada do salão.
Nessa hora um garçom me ofereceu um canapé. Eu peguei um e distraída o consumi com o meu refrigerante. Layla, nessa hora, veio acompanhada com uma amiga.
—Nádia, quero te apresentar Carla Évora.
Carla Évora, era com certeza de origem hispânica, pois tinha feições de uma típica mulher latina. Linda! Com aqueles olhos grandes, o cabelo longo castanho.
Sorri para ela.
—Prazer em te conhecer.
Layla falou no meu ouvido.
— Ela trouxe um presentinho para animar nossa festa.
Vi Carla tirar de dentro da bolsa três vidrinhos e me deu um. Eu ergui minhas sobrancelhas e perguntei curiosa.
—O que é?
—Experimenta, e veja que delícia. —Carla me falou animada.
Eu as vi virando o vidrinho, consumindo todo o líquido transparente. E abri o meu, fiz o mesmo. Na hora senti minha garganta esquentar e tossi um pouco. Não era só minha garganta, mas meu corpo inteiro pegou fogo e eu senti uma leve torpeza.
— Nossa! O que é isso?
—Isso se chama vodca. É bom, né?
—Não posso dizer que gostei, nos deixa com uma sensação estranha.
Carla pegou outro e me ofereceu novamente, eu rejeitei, Layla aceitou. Depois delas consumirem outro vidrinho, me convidaram.
— Vem, vamos dançar. — Layla comentou com Carla. — Mais tarde tocará músicas lentas, as coisas irão esquentar.
Eu sabia que estava ali quase por um milagre e dançar colada a um rapaz, isso não aconteceria. Jamais minha mãe permitiria isso, mesmo porque, eu estava sendo separada desde a adolescência para um casamento arranjado. Dei de ombros. Meus sentimentos estavam amortecidos, talvez por causa da bebida, pois tinha certeza que, se não tivesse bebido, estaria triste por não poder fazer minhas escolhas.
De cabeça erguida não me deixei abater e as segui até o salão novamente. Dançamos nós três curtindo a música disco que tocava. Quando as luzes escureceram, entendi que a hora dos rapazes convidarem as garotas para dançar coladinho havia chegado. Afastei-me do salão e me dirigi ao banheiro. Quase de imediato, fui interceptada no corredor pelo homem que eu tinha visto. Ele havia tirado a jaqueta e foi difícil não notar a camisa branca que ressaltava os cabelos escuros, a pele bronzeada, o rosto bonito da linhagem do meu povo.
Ele sorriu para mim.
— Dança comigo?
Eu fiquei sem fala por um momento. Sentindo meu coração agitado no peito. "Era o medo do desconhecido."
Fui sincera.
— Desculpe-me, mas não posso aceitar.
Quando disse aquelas palavras, a realidade desabou sobre mim. Fiquei triste em negar o convite.
—Por quê?
Eu desviei meus olhos dos dele, mas sentia seus lindos olhos negros sobre mim esperando uma resposta.
— Eu... —Eu levantei o olhar e vi seus olhos correrem por todo meu rosto.
Ele me cortou:
—É só uma dança.
Eu direcionei o olhar para a mesa de minha mãe e não a vi. Ele percebeu minha atitude.
—Quem você procura?
Eu o fitei.
—Ninguém. —Depois de uma pausa eu disse: —Tudo bem. Eu aceito.
Ele sorriu sedutor, me senti estranha nessa hora e um pouco arrependida. Ele me via como um desafio? Uma conquista?