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Capítulo 4 Deivid

Dentro do carro, Gael não conseguiu conter a sua admiração por Mayli. Parecia encantado, ou sobre algum tipo de lavagem cerebral.

— Uau! Que garota espetacular. — Falou facinado, parecia ter descoberto Atlântida de Plantão.

Toda aquela conversa me deixou louco de ciúmes, porém, contive os meus impulsos e tentei não transparecer.

— Que houve contigo, Deivid? Parece distante — perguntou, com os olhos fixos na estrada.

A movimentação do trânsito era intensa naquela hora.

"Pelo visto, meus esforços para não transparecer meus sentimentos, foram em vão", pensei.

— Nada, não aconteceu nada — respondi friamente.

Ele tossiu de leve — mesmo não vendo seu rosto —, percebi que contraiu o cenho, desconfiado.

— Você vai ao meu aniversário no final de semana, Deivid? — parou no sinal vermelho. — Vai ser legal, cara — olhou-me por cima do ombro.

 

— Acho que não irei, Gael! — coçei o queixo, com a boca numa linha reta. — Vou ajudar meu pai no quiosque, porém, desejo-lhe um feliz aniversário, meu amigo — falei suavemente, mas por dentro eu morria de tristeza.

 

— Conversa com o seu pai, pede um dia de folga! — pisou no acelerador e virou na bifurcação. — Por favor!! — acrescentou em suplica.

— Não sei, cara — segurei um suspiro. — Todo final de semana é complicado. Você sabe como é! — tentei fugir pela tangente.

— Corta essa, Deivid. Você ficou duas semanas na minha casa de praia. Não custa nada fazer isso pelo seu melhor amigo! — protestou, carrancudo.

Gael parecia uma criança mimada, implorando por doce.

Ele pegou o celular, ligou para Mayli e colocou no viva-voz. Meu coração bateu tão forte, que pude senti-lo nos movimentos do tecido da minha camisa.

— Boa tarde, Gael! Como vai? — Ela perguntou, com a voz suave.

Ao ouvi essas palavras, minha respiração ficou ofegante. Fiquei como um adolescente descobrindo o primeiro amor pela primeira vez.

Eles conversaram com tanta intimidade, que pareciam se conhecerem há séculos. Minutos depois, ele desligou a ligação para meu alívio.

— Se não for ao meu aniversário, irá se arrepender, Deivid!! — rosnou ameaçadoramente, sem olhar para mim.

— Vou tentar, porém, não garanto nada. — Respondi e olhei a vista pela janela do carro.

— Você adora festas, bebidas e mulheres, o que houve com o garanhão do campus? — zombou ele.

— Nem eu mesmo sei, Gael — foi tudo que balbuciei.

Caíque fez uma chamada de vídeo e — eufórico —, falou:

— CARAMBA!!! Vocês viram as novatas? Estou louco pela garota oriental. Que mulher! Estou gamado na pele, cabelo e sotaque daquela Deusa — tomou um gole da cerveja e continuou: — Ela é a sétima maravilhosa do mundo!! — bradou, como se estivesse comemorando um gol de placa.

— AFF... Não exagere, Caíque! Não vi nada demais — comentei sem graça.

— Você ficou louco, Deivid? Mayli e Shanice são um furacão da beleza. Onde passa deixa marca! — Caíque retrucou, com tanta empolgação, que Gael ficou com ciúmes.

— Chega! Chega, ok? Tire o olhos da Mayli! Eu vi primeiro — Ele disse, sombrio.

Pietro tomou o aparelho da mão de Caíque e deixou bem claro:

— Ninguém encosta na ruiva. Aquela mulher será minha, tá legal? — lançou um olhar de mil lâminas afiadas.

— Ruiva? Que ruiva? — Gael perguntou, curioso.

— O nome dela é Tereza — disse eu.

Voltei a observar a paisagem.

Não quis que meus amigos vissem a minha cara enfezada.

— Como sabe o nome dela, Deivid? — Pietro ficou desconfiado.

— É minha colega de classe — falei, tirei o celular do bolso e olhei algumas mensagens.

— Ah.... Sim! — suspirou aliviado.

"Mal sabia que a fama da garota corria nos quatros cantos do campus", pensei.

— Capricha na festa, Gael, pois quero muita curtição, sexo e bebidas, ok? — Pietro falou alto. Parecia um louco. — Convidou as garotas mais gostosas da faculdade, né?

— Claro! Principalmente a Mayli — Ele rebateu rindo, cheio de orgulho.

— TÁ BEM, TÁ BEM!!! — gritei estressado.

— O que houve, Deivid? Por que ficou nervoso? — Gael perguntou, assustado.

— Vocês só falam das meninas, não aguento mais!! — bufei e bati as mãos nas minhas pernas.

Gael, virou na esquina e seguiu em direção ao Clube dos Machos Eufóricos.

— Por que mudou a trajetória, cara? — perguntei furioso.

Tudo que eu mais queria era um banho gelado, o meu corpo inteiro esquentou.

— Vamos ao Clube dos Machos Eufóricos, preciso curti um pouco. — Respondeu sem olhar para mim.

— AFF... Você sabe que tenho compromisso, meu pai ficará furioso, Gael — o repreendi, quase avançando no pescoço dele.

Ele simplesmente sorriu e continuou seguindo em direção á casa de show.

♡ ♡ ♡

Chegamos. O local estava lotado de mulheres. De longe, avistei Caíque e Pietro ao lado de duas garotas. Uma loira, alta e magra, que vestia um vestido curto e bem decotado. A morena encorpada, usava calça jeans e blusa preta. Ela cochichou algo no ouvido de Pietro, ele deu um sorrisinho discarado.

Nos aproximamos e comprimentamos o pessoal. Caíque ofereceu uma garrafa de cerveja, eu aceite. Gael, porém recusou.

A música "DJ Got Us Fallin' In Love" começou a tocar, todos seguiram em direção ao centro do salão, exceto eu, que sentei ao lado do balcão. Charlotte apareceu e sentou-se ao meu lado. É uma linda morena, alta dos cabelos castanhos como chocolate.

— Oi, tudo bem? — perguntou e bebeu um gole de cerveja.

— Oi, Charlotte! Como vai? — questionei, olhando o nada.

Meus pensamentos escorriam em direção a novata. Seus cabelos como o trigo banhado pelo sol e aqueles olhos.... Nossa senhora!

— Aconteceu alguma coisa? Parece perdido — Ela acendeu um cigarro e o levou a boca carnuda, de maneira sexy.

— Impressão sua, Charlotte! — retruquei, com a expressão distante e reservada. — Estou ótimo! — acrescentei, bebendo um gole de cerveja.

O celular tocou, o meu pai fez uma chamada de vídeo, furioso, gritou:

— QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO? POR QUE NÃO VEIO AO TRABALHO? — Ele berrava, como um soldado prestes a capturar um suspeito.

— Calma, pai!! — afastei um pouco o aparelho antes que meus tímpanos fossem para Nárnia. — Estou indo, tá legal? — tentei acalmá-lo.

— Você tá na farra? E o quiosque como fica? — as veias da sua testa alteradas, denuciavam o seu estado de eufória e decepção.

Envergonhado, desliguei a chamada. Paguei a conta, beijei Charlotte na testa e fui embora.

O trabalho e as obrigações, me esperavam.

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