Capítulo 3
O despertador tocou bem cedinho. Tomei um banho relaxante, escolhi uma calça preta, uma blusa estilo ciganinha. Sentei na beirada da cama e calcei meu tênis azul. O meu cabelo lavado e úmido, deu um ar de tanto faz.
Desci, encontrei as meninas a mesa.
— Hoje tive um sonho cavernoso! — exclamou Tereza, passou a pasta de amendoim lentamente na torrada.
Shan e eu nos entreolhamos, desconfiadas.
— Foi um pesadelo? — questionei, com o cenho franzido, rezei para ser algo bobo e fútil.
Balançou a cabeça, negativamente.
— Aff... Meninas, era algo de outro mundo. Só de lembrar, fico transbordando de prazer — Ela disse e se abanou com as mãos.
— Nem comece! — bradei e bati fortemente a mão na mesa. — Estou comendo, não é hora de baixaria — protestei, revoltada.
Fez biquinho, com os dois pares de âmbar suplicantes.
— Tenho que compartilhar com vocês, amigas— Ela choramigou. — Por favor!!
— Deixa ela falar, May — advertiu Shan. — Se não o nosso dia será um inferno.
Bufei e fiz sinal para que desse andamento ao tal "sonho cavernoso."
— Seja rápida! — resmunguei, preparando meu espírito.
— Ok! — concordou Tereza. — Eu sonhei que fui presa, simplesmente por ser muito gostosa. Antes de ir para cela, os policiais me levaram para uma sala especial, pois passaria por um check-up. Fiquei sozinha no cômodo pôr alguns minutos, quando de repente... — Suspirou feito um touro selvagem —, um deus da brutalidade sufocante adentro na sala e mesmo de calça pude ver sua espada quilométrica...
— Chegue logo nos finalmentes — protestei, sem paciência.
— Calma! — falou Tetê. Continuou: — Minha boca encheu d'água e ordeinei a ele: "Faça o primeiro check-up na minha predadora, pois acho que ela está com defeito." Ele mordeu o lábios pecaminoso e falou: "Vou verificar com meu estrumento especial." Fiquei eufórica e perguntei qual seria o tal instrumento. O homem tirou a roupa e mostrou o corpo atlético bem convidativo. Quase tive um infarto fuminante. O cara me impressou contra a parede brutalmente, num piscar de olhos, fui ao céu do puro prazer. Cheguei a pensar que ele atravessaria o meu corpo, gritei feito louca. Fizemos de tudo, até coisas inimagináveis. Ainda consigo senti-lo dentro de mim, aff. — Mordeu o lábio inferior e o puxou levemente.
— Argh... — exibi uma expressão enojada.
— Que idiota!
— Não vejo novidade alguma, pois vivi sonhando com esses tipos de baixarias todos os dias — Shanice murmurou, revirando as orbitas.
— Faço várias coisas prazerosas, porém, não é todo dia que o deus do prazer visita os meus sonhos. — Tetê falou e bebeu café, placidamente.
Depois de toda baixaria, fomos ao campus.
A instituição é bem organizada, acolhedora e linda. A sacada em mármore e vidro, dava um ar de elegância e bom gosto. Logo na entrada, tinha um jardim com um chafariz espetacular.
Assim que entrei, fui até o armário e peguei alguns materiais para o trabalho sobre Genética.
Tereza seguiu para sala.
Shanice e eu fomos em direção ao corredor, encontramos no meio do caminho Deivid e seu amigo. Um garoto loiro dos olhos claros. Muito bonito.
— Bom dia, Deivid! — cumprimentei, simpática.
— Bom dia! — falou frio, parecia um robô.
Não entendi nada...
Entrei na sala e sentei-me perto da janela. A professora entrou, pediu silêncio e deu início a aula. Ficamos enlouquecidas com a quantidade de exercícios, Shan e eu fizemos tudo. Ela corrigiu e nos parabenizou. O assunto era complicado, contudo, tiramos de letra. No final da aula, eu estava exausta.
Na saída, o amigo de Deivid veio até mim:
— Oi! Boa tarde, Mayli. Sou o Gael, amigo de Deivid.
Gael vestia uma roupa despojada. Seus cabelos eram levemente bagunçados, nele ficou atraente; em qualquer outra pessoa, ficaria ridículo.
— Boa tarde, Gael! — respondi, educadamente.
— Como vai?
— Vou bem! — arqueiou o canto da boca.
— Deseja ir ao meu aniversário esse final de semana? Seria uma honra ter a sua presença! — os dois pares de olhos castanho esverdeado brilhavam feito uma estrela cadente.
Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Obrigada, Gael! Mas não sei, além disso, tenho que estudar. — Fui sincera e tentei não ser grossa.
Ele insistiu no assunto.
— Toma aqui o meu convite, Mayli. Se mudarde ideia, te espero lá, ok? — deu um sorriso esperançoso.
— Não vou prometer nada, mesmo assim obrigada pelo convite. — Segurei o envelope azul e evitei olhá-lo diretamente.
— De nada, linda! — Ele me ofereceu uma piscadela.
Gael segui em direção ao banheiro dos atletas.
Shanice e Tereza vieram até mim, pedi um carro por aplicativo e fomos embora.
Dentro do carro, ficamos conversando sobre várias coisas, contudo, Tetê continuou a falar sobre o sonho erótico. O motorista olhou pelo espelho retrovisor horrorizado. Nós duas ficamos vermelhas de tanta vergonha. Tetê — em contra partida —, não deu a mínima importância.
Chegando á nossa casa, fui até a cozinha, peguei uma garrafa de suco de uva. Tereza veio trás e sentou-se no balcão.
— Nossa... May! Você está tão calada, aconteceu alguma coisa? — perguntou Tereza, especulativa.
— Hoje Deivid me tratou com frieza — falei, pensativa.
Ela mordeu um pedaço do biscoito de chocolate.
— Dê graças a Deus, Mayli! Deve ter percebido que você não é a garota certa para ele.
— É vem você com essa conversa de novo! — bufei alto.
— É verdade, Tereza! Deivid mal olhou para ela hoje. — Shan pegou meu copo de suco e tomou um gole.
— Vamos mudar de assunto? Por favor! Esquece esse cara! — disse eu, sem paciência.
— Acho que o final de semana promete! —disse Shanice, empolgada como uma cartomante.
— Por quê? — Tetê questionou, cheia de fogo.
— O amigo dele dará uma festa nesse final de semana e me convidou, mas eu não quero ir.
— Você disse que vamos, né? — Shanice ficou mais eufórica que Tetê.
— Claro que não! — dei um suspiro cansado e continuei: — Inventei uma desculpa qualquer — fiz um gesto com o pulso.
— Como assim a gente não vai? — a voz de Tetê saiu tensa, como a corda de um piano. — Tenho um mês nessa cidade. Estou na seca desde que subordinei o professor de matemática.
— Aff! Nem começa com a melancolia. — Rebati, sem paciência.
— Preciso de emoção, curtição e muita essência masculina escorrendo pelo MEU CORPO!! — enfatizou alto "meu corpo!!"
— E os nossos estudos? Não podemos deixá-los em segundo plano! A festa a gente deixa para depois. — disse eu, firme na minha decisão.
— May, você é comportada de mais! Shanice e eu precisamos, ou melhor, necessitamos de um homem, minha amiga! — retrucou Tetê, com o indicador levantado. — A situação está ficando crítica.
— O convite está aquí. — Entreguei a elas. — Vocês duas podem ir se quiserem.
— PELO AMOR DE DEUS, MAYLI!! — gritou ela, como um porco demoníaco. — Não faz isso conosco, nenhuma festa tem graça sem a sua presença.
Meu celular tocou, abri a bolsa, peguei e atendi:
— Alô? — escutei uma voz masculina.
— Alô! Quem é? — perguntei, com o cenho franzido.
— Sou eu, Mayli! Gael.
— Oi, Gael! — levantei as sobrancelhas, surpresa. — Tudo bem?
Tereza fez uma cara safada e seu sorrisinho diabólico cresceu ainda mais.
Shan riu da cara dela.
— Sim! E você? — tomei outro gole do suco.
— Estou bem! — respondeu ele. — Liguei para perguntar se você vem a minha festa — sua anciedade era latente.
— Eu ainda não sei, só posso te responder na sexta-feira! — informei, indecisa. — Estou com a matéria atrasada, se conseguir colocar em dias, minhas amigas e eu iremos.
Tereza ao ouvi tais palavras, levantou do banco e rebolou feito uma cachorra no cio.
Revirei os olhos, ao vê-la fazendo jestos obsenos.
— Certo! — a voz dele saiu num tom baixo de desapontamento. — Tomara que consiga.
— Tá bom! Tchau, Gael. Beijos.
— Tchau! Mayli. Tenha uma boa noite.
Desliguei a chamada e deixei o celular sobre o balcão.
— O Gael te ligou? Mais... Isso está ficando melhor do que eu pensava!
— Deixa de sonhar, Shanice! Ele só perguntou se irei ao seu aniversário e nada mais — resmunguei, de cara fechada.
— O garoto está muito na sua! — disse Tereza, soltou um gemido estrodante.
— Mas... Eu não estou nem ai! Não quero pensar em relacionamento agora.
— A vida é muito injusta mesmo! Shanice e eu aqui na seca, sem bebe água há séculos, pedindo aos Deuses um homem para chamar de nosso, e você pagando de difícil. — Tetê andou de um lado para o outro, inconformada.
— Que drama! — murmurei.
— Precisamos supri as nossas necessidades carnais — falou, e deu um suspiro revoltado. — Enquanto isso, está chovendo na sua horta e você nem liga.... Por que meu Deus?! — caiu de joelhos no chão com as mãos erguidas, dramaticamente.
— Deixa de lamúria, Tereza! Tudo só acontece no momento certo, sem desespero, ok? — a repreendi.
— Mas eu estou desesperada, mulher! Desde o dia que cheguei na Califórnia, não apareceu ninguém que fosse capaz de arrancar de mim gemidos e suspiros de prazer.
— O problema é seu — dei de ombro, tranquilamente.
— Preciso arrumar um namorado, ouviu bem? — Ela segurou o meu braço de um jeito ameaçador.
— Idaí? Eu não tenho nada a ver com isso.
—Tentei fugir do assunto e dela, mas ela veio atrás de mim.
— Se você não for ao aniversário de Gael, eu vou fazer da sua vida um inferno! — Ela me ameaçou, como um bicho selvagem.
— Isso é uma ameaça? — cruzei os braços de um jeito afrontoso.
— Entenda como quiser, Mayli! — Tetê estava disposta a tudo para satisfazer os seus caprichos.
— Essa festa é uma grande oportunidade de conhecermos novos horizontes e espandirmos o nosso ciclo de amizade — choramigou Shan.
Revirei os olhos além do normal.
— Meninas, vamos terminar os exercícios da faculdade?
— Você tem razão, Mayli — concordou Shanice.
Shanice e eu voltamos para as atividades acadêmicas, Tetê, porém, foi vascular as redes sociais dos garotos.