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Capítulo 2

Acordei com o sol no meu rosto, olhei às horas no celular: eram 7:20 da manhã. Levantei, fiz minhas higienes e desci para tomar café. Encontrei Tetê comendo biscoitos de canela. Coloquei o meu lanche e sentei ao seu lado à mesa.

— Bom dia, dona Lúcia! — cumprimentei a cozinheira.

— Bom dia, minha menina! — devolveu, com um sorriu.

Ela é idosa, baixinha, cabelos brancos, ondulados, olhos claros.

— Iai? Vamos à praia hoje? — perguntou Tereza. Mordeu com vontade o sanduíche de peito de frango.

Bebi um gole do copo de suco natural e respondi:

— Sim.

Ela jogou os cabelos ruivos para trás.

— Que bom! Quero transar com os caras e experimentar novas essenciais — falou, descaradamente.

Revirei os olhos.

— Você é doida! — falei rindo.

Ela deu de ombros.

Terminamos a refeição, fomos nos arrumar. Escolhi um biquíni franzidinho preto, coloquei um short jeans e uma regata. Voltei ao andar de baixo e fiquei a espera das meninas.

Chegamos à praia, era um dia de domingo e o ambiente estava lotado. Procurei um local bem reservado, mas Tereza e Shanice queriam se exibir para os garotos supergatinhos. Caminhamos no calçadão da orla, paramos defronte a um quiosque. Pedimos uma água de coco e alguns petiscos. O garçom se virou e veio entregar os pedidos.

Quando olhei para ele, vi que era Deivid.

— Oi! Você trabalha aqui? — perguntei, surpresa por encontrá-lo novamente.

— Sim, Mayli! — Ele confirmou e nos entregou as nossas bebidas. — O meu pai é o dono do quiosque — revelou.

— Que legal, Deivid! — meu sorriso alcançou os olhos. — Fico feliz por você.

— Obrigado! — agradeceu, tímidamente. — Tchau! Amanhã a gente se vê na faculdade. — passou a mão no cabelo cor de café.

Esse gesto simples, fez a fragrância do seu corpo caramelado preencher o meu ofato. Amadeirado, marcante, quente e sensual.

— Tá bom! Beijos, até mais! — disse eu.

Tentei não me embreagar naquele cheiro delicioso.

Saimos do quiosque e seguimos em direção ao mar, sentamos na areia da praia. Encontramos um ótimo lugar.

Em um determinado momento, Tereza riu dissimulada. Virou em minha direção, com os olhos semicerrados e perguntou:

— Mudou de ideia sobre namorar o Deivid?

Franzi o cenho.

— Mudei de ideia por quê?

Eu nem sabia que tinha pensado nisso...

— Você é uma das garotas mais ricas da Universidade e ele é um pobretão herdeiro do quiosque! — zombou, gesticulando com as mãos.

Fechei a cara.

— Isso foi a coisa mais preconceituosa que já ouvi em toda a minha vida! — murmurei.

— Realmente ela está certa, Mayli! Seus pais ficariam enlouquecidos se soubessem que está se envolvendo com um vendedor de praia. — Shan concordou com Tetê, enquanto passava o protetor solar nos braços.

— Até você, Shanice? Eu não tenho nenhum interesse nele, mas se um dia vier a ter, as condições sociais não seriam um problema! — deixei bem claro. — Vamos mudar de assunto?— tomei um pouco de água de coco e observei o mar.

As ondas tocaram a areia como um amante falando juras de amor. A paz reina nesse lugar...

— No momento, estou muito envolvida com os meus estudos e isso já está dando muita dor de cabeça. — disse eu, depois de um tempo.

Ficamos até às 4h da tarde. Tereza entrou no mar, demorou um pouco. Fomos procurá-la, estava próxima das pedras com um cara, loiro, alto e musculoso.

— TEREZA! JÁ ESTÁ NA HORA, TEMOS QUE IR AGORA — gritei, fazendo um megafone com as mãos.

— Oi, meninas! — cantarolou sorridente. — Venham aqui, quero apresentar o Beto, meu mais novo amiguinho — fez um biquinho safado.

Mesmo sem vontade, fomos até ela.

— É um prazer conhecê-lo! — Shanice e eu falamos em simultâneo, sem muito empolgação.

— Mulher! Chamei o táxi e ele já chegou!— avisei em tom de ameaça.

— Está bem, meninas! — suspirou, depois revirou os olhos. — Só vou terminar uma coisa que acabei de começar, ok? Vão indo na frente — fez um gesto com a mão, como quem dizia "chispem daqui."

Deixamos eles sozinhos e ficamos a sua espera em frente do carro, o motorista não gostou de ficar esperando por ela. Depois de trinta minutos, Tereza veio até nós mordendo os lábios discaradamente.

— Só Deus para ter misericórdia dessa criatura! — bradei, indignada.

Chegamos à nossa casa, pedimos uma pizza e fizemos pipoca. Coloquei um filme de terror.

Durante a sessão, Shanice perguntou:

— Quem é o seu mais novo amiguinho, Tereza? — inclinou um pouco para frente e olhou na direção dela, que estava na outra ponta do sofá.

— Beto é nosso amigo de classe, mas vou logo avisando que estou pegando e pegando muito... — respirou profundamente —, até ficar assada ao extremo!

— Aff... Mal chegamos e você já está passando o rodo nos nossos colegas de classe? — questionei, desanimada.

Ninguém merece.

— É o cara mais sensual da nossa sala, é o puro suco. Não vou deixá-lo escapar de jeito nenhum. — Fechou um dos punho determinada, com um olhar predatório.

— Espero que seja o único, pois não quero morar no prostíbulo! — Shanice retrucou, séria e fria.

— Já conferiu a conta bancária, amiga? — questionei irônica, levantando as sobrancelhas.

— Não entendi a irônica, May! — inclinou levemente a cabeça na minha direção, sinicamente.

— Você entendeu sim! — rebati dura. — Às duas não humilharam o Deivid por ser pobre? — apontei um dedo acusatório para ambas.

— A pobreza não é o defeito único dele, May! E sim, o fato de está a fim da garota mais gata e mais rica da Universidade! — disse Tereza, como se já não fosse óbvio.

— Gente, por favor! Parem de falar assim. Odeio quando usam minhas condições financeiras, com o propósito de humilhar as outras pessoas!!

— Desculpa, May! Prometemos não fazer mais isso, né Tereza? — Shan lançou um olhar de mil láminas afiadas na direção dela.

Tereza deslisou um pouco mais no sofá, pegou um punhado de pipoca e levou a boca.

— Sim. Sim — fez um gesto indiferente com a mão e deu de ombro tranquilamente. — Quando os seus pais descobrirem vai ser o inferno na terra. Espero que esteja preparada, Mayli!! — bradou Tereza, enquanto observava as cenas do filme.

O longa terminou. Colocamos as tarefas em dias, os exercícios e os trabalhos da faculdade, por esse motivo, ficamos acordadas até mais tarde.

Durante esse tempo, meus pais ligaram avisando que o meu carro chegaria na próxima terça-feira. Pulamos de alegria, rolou até uma dancinha ridícula.

— PUTA MERDA! SÓ FALTAVA O CARRO PARA A NOSSA VIDA DE CACHORRAS DÁ INÍCIO — Tereza gritou, pulando em cima da minha cama.

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