Capítulo 1
O final do ano letivo se aproximava, tirei as notas mais altas, fui considerada a aluna mais aplicada da instituição.
O semestre acabou, a formatura do ensino médio chegou, e com ela o tão esperado baile.
Os nossos familiares ficaram orgulhosos de nós três. Fomos aprovadas em várias faculdades, porém, escolhemos estudar na Califórnia. Os meus pais me presentearam com uma linda casa em um condomínio fechado, próximo à faculdade. Os meus sonhos estavam se realizando tão rapidamente, que parecia surreal.
O Dia Do Baile, enfim chegou; passamos a manhã no spá cuidando da beleza.
"Nada podia dá errado", eu pensei.
Escolhemos os nossos looks cuidadosamente, pois era a nossa última noite na cidade. Tereza vestiu um trage curto, bem provocante, na cor vermelho sangue. Escolhi um lindo vestido preto com detalhes prateados, estilo meiga e sensual. O look de Shanice era discreto, ia até o pé na cor dourada. Não era chamativo, porém, a deixou maravilhosa.
Chegamos Ao Local Da Festa, como uma PopStar de Hollywood, todos nos olharam espantados. Éramos as mais bonitas do evento. É incrível a sensação de ser desejada pôr garotos, que outrora me humilharam.
Respirei fundo e seguimos para festa do ano, o salão foi decorado em dourado e preto. Achei extravagante, porém, bem legal, principalmente o lustre no centro da pista de dança, que mudava de cor conforme a música.
Med se aproximou de nós e perguntou:
— Posso tirá-la para dançar? Quero a honra de curtir com a garota mais gata da festa! — exibiu seu sorriso sedutor.
Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Claro que sim! — aceitei o convite.
Med pegou a minha mão, e me conduziu até a pista de dança. Dançamos bem juntinhos, com os rostos colado. Ele me convidou, mas não tirou os olhos de Shanice. Notei que havia um clima de romance no ar, mas fingi demência.
A música "Remix" de New kids On The Block, começou a tocar. A letra condizia com o contexto que eu vivi naquele momento.
Every time she passed us
Cada vez que ela passava por nós
Ever the outcast
Sempre a desprezada
Had no flava
Não tinha graça
But who got the last laugh
Mas quem riu por último?
Hey
Ei
Depois de um tempo dançando, Jones se aproximou de nós dois. Ele vestia um terno azul marinho que realçava a cor dos seus olhos, os cabelos loiros levemente penteados para trás, com a barba bem desenhada.
— Posso roubar essa linda garota? — perguntou. Suas palavras saíram debochadas, era um simples convite, em tom de ameça. Parecia uma bomba nuclear prestes a explodir.
Segurei firme as mãos de Med e respondi ácida:
— Já estou acompanhada, cara! Vai procurar outra.
— Eu quero você! — Ele insistiu.
Percebi que não ia desistir tão fácil.
— Não enche o meu saco! — bradei ao perceber o nervosismo de Med. Ele morria de medo de Jones, não só ele, mas toda a escola.
O ignorei e continuei dançando.
Com brutalidade, ele empurrou Med e perguntou furioso:
— Quem você pensa que é para me esnobar, sua vaca?
— Deixe a Mayli em paz! — Med tentou me defender.
— Cala boca, seu merda, ou... — Jones deu um suspiro profundo e se calou.
— Vá embora, cara — implorei envergonhada, todos os alunos nos olharam e cochicharam entre si.
Senti vontade de morrer.
— Quem você pensa que é? Eu sou o cara mais desejado do colégio, esqueceu? — Jones se gabava, como se fosse uma celebridade.
Revirei os olhos intediada.
— Não me interessa quem você é, ok? Só quero curtir o baile. — Tentei convencê-lo a ir embora, mas ele insistiu em infernizar a minha vida.
Ele respirou fundo e gritou:
— ESSE LUGAR ESTÁ REPLETO DE GAROTAS LOUCAS PARA EXPERIMENTAR MINHA ESSÊNCIA MASCULINA E VOCÊ ME ESNOBANDO?
Sua voz enjoada, fez o meu estômago embrulhar.
— Olha só, galera! Jones tá levando um fora da monstrenga — Rafa zombou de mim.
Fez-se um coral de gargalhadas, olhei ao meu redor, me senti humilhada.
— CHEGA! CHEGA, TA LEGAL? — dei um suspiro cansado.
Fez-se um silêncio perturbador, a música parou, eu era o centro das atenções, da pior maneira, mas eu era.
— Você pode me dá uma chance? Eu mudei. — Disse ele, como um santo imaculado.
Jones se humilhou de um jeito inimaginável. Era o cara mais desejado do colégio, implorando para ficar comigo. Eu sonhei com esse momento a adolescência inteira, contudo, as cenas de nós dois transando no vestiário, vieram forte a minha mente. Ele me fez reviver tudo outra vez.
Olhei firme em seus olhos, cheguei perto e falei baixinho:
— Agora é tarde!
— Nunca é tarde para o amor, Mayli! — Eu não o reconheci.
— O que deu em você, em? — cruzei os braços, incrédula.
— Eu te amo! — Ele tentou me enganar.
— Você não ama ninguém, Jones. — Rebati ácida.
— Por que não passa uma borracha no passado, Mayli? Vamos viver uma nova história.
Jones não é o tipo de pessoa que desisti facilmente, eu tinha ciência disso.
— É muito tarde, Jones! Amanhã vou embora para Califórnia com minhas amigas — parece piada, mas eu dei satisfação da minha vida para ele.
— Vai morar na cidade do prazer, da violência e da prostituição? Como assim? — levantou a sobrancelha de modo sardónico.
Revirei os olhos.
— Vou cursar medicina e realizar o meu sonho, cara. — Respondi cheia de orgulho.
— Eu não tenho nenhuma chance? Nem quando vier visitar os seus pais no verão? — questionou com a voz macia, cheio de falsidade.
— Claro que não! Você teve sua oportunidade e a desperdiçou, agora é tarde! — desabafei.
Ele lançou um olhar raivoso.
— Nenhuma garota diz não ao Jones! Te garanto que se arrependerá amargamente.
Ele apertou o meu braço e mordeu os lábios, o sangue escorreu. Como um vampiro sanguinário, saboreou.
Desvencilhe-me do seu aperto e perplexa, retruquei:
— Isso é uma ameaça, Jones? Eu não tenho medo de você!!
O empurrei e caminhei lentamente até o centro do salão. Fiquei com nojo do sangue escorrendo dos seus lábios. Ao lembrar da cena, o meu estômago revirou.
— Não tem medo de mim? Acho que deveria! — murmurou baixinho, porém, escutei cada sílaba proferida.
— Por que Jones apertou o seu braço, Mayli? — perguntou Shan, desconfiada.
— Ele queria ficar comigo, mas não dei a mínima importância; ele ficou furioso — expliquei, revirando os olhos feito a garota do filme o exorcista.
— Jones implorando por uma garota? — Shanice questionou, sarcástica.
— Sim, minha amiga! O cara mais popular do colégio suplicou por uma nova chance — nem eu mesma acreditei no que acabara de acontecer.
— Pera ai! Esse infeliz vai se arrepender de tê-la maltratado, eu juro!! — disse Tereza.
Ela foi até Jones furiosa, como um búfalo selvagem.
— Por que ameaçou a Mayli? — falou tão alto, que todos os alunos e professores ouviram nitidamente.
— Não ameacei, só dei um breve aviso, isso é bem diferente! — ele riu, cinicamente.
Jones acendeu um cigarro, tragou e soprou a fumaça no rosto de Tetê, em seguida, deu uma gargalhada alta. Parecia o demônio fumando charuto.
— Graças a Deus... Amanhã estaremos bem longe de você, seu verme nojento! — Tereza cuspiu as palavras ásperamente.
Percebemos que a baixaria ia dá início novamente, Shanice e eu fomos até os dois e puxamos Tereza para longe de Jones. Voltamos para o centro do salão e dançamos como nunca, foi uma despedida em grande estilo. Às 3:30 da madrugada nos retiramos do local, mas a festa continuou até o dia amanhecer. Minhas amigas e eu precisávamos de um longo descanso antes da viagem.
♡ ♡ ♡
NA MANHÃ SEGUINTE, nossos pais nos acompanharam até o aeroporto. Eles ficaram bem emocionados e prometeram passar as férias de verão conosco. A despedida foi dramática. Foram tantos conselhos, que não consegui ouví-los sem murmurar mentalmente.
O tempo inteiro o senhor Kioto dizia:
— Tomem cuidado com os rapazes californianos, existem boatos que eles são extremamente fogosos! — o velho bradou, preocupado.
— Adoro homens fogosos! — Tetê sussurrou baixinho, mas ninguém ouviu; exceto, Shanice e eu.
Após a despedida, caminhamos em direção ao balcão do check-in. Seguimos para o avião.
Depois de duas horas de viagem, chegamos ao nosso destino. Minha antiga cidade era pacata, agora me via no meio da agitação, e da violência. Meus pais ficaram conosco durante alguns dias.
Conhecemos os lugares mais badalados: bares; restaurantes; cinemas, praias e por último à faculdade.
O dia da matrícula havia chegado, por ser menor de idade, eles me acompanharam. Shanice e Tereza são mais velhas que eu. Depois que assinaram alguns papéis, os meus pais ficaram conosco até o início da semana.
♡ ♡ ♡
NA MANHÃ SEGUINTE, os acompanhamos até o aeroporto. Antes de partirem, me abraçaram com os olhos lacrimejados.
Minha mãe falou, com súplica nos olhos:
— Filha, espero que aproveite cada minuto da sua nova vida. Divirta-se, mas não deixe os estudos de lado, ok?
Assinti sem dizer nada.
O meu pai beijou-me na testa e informou:
— Contratamos uma cuidadora do lar, além disso, providenciamos o seu carro, pois não quero que ande de trasporte público! — sua voz saiu enjoada. — Estamos orgulhosos de você, minha querida! — acrescentou, choroso.
O meu novo lar era perfumado, tinha quatro quartos gigantescos com suítes; três salas de visita; sala de cinema; cinco banheiros e uma área externa incrível com piscina. O condomínio parecia uma fortaleza, havia um sistema de segurança super sofisticado, com alarmes, infravermelhos, detectores de movimento e câmeras pôr todos os lados.
Pela manhã, a agência mandou duas empregadas. Uma cozinheira e a faxineira.
Depois daquele dia cansativo, fomos até a piscina. Tereza usava um biquíni minúsculo vermelho, aproveitou para fazer várias selfies. Tiramos algumas fotos, logo depois, ela postou nas redes sociais.
Jones comentou:
Já estou com saudades, Mayli.
Tereza respondeu o seu comentário:
Agora é tarde, seu babaca!
Todos os nossos colegas do terceiro ano comentaram a foto. Meus pais, os de Shanice e Tereza colocaram coraçõezinhos com a frase:
Amo muito vocês!
Meus orgulhos!
♡ ♡ ♡
SEGUNDA-FEIRA CHEGOU. Logo cedo, fomos à faculdade para o nosso primeiro dia de aula.
Foi cheio de surpresas, algumas garotas demonstraram com gestos e olhares que odiaram a nossa presença. Tetê deu de ombros, empinou o nariz com ar de superioridade.
Após o fim da primeira aula, saí da sala e caminhei pelos corredores. Esbarrei em um garoto e acabei caindo no chão feito um saco de batatas. Ergui a visão para vê-lo. Ele era moreno, bem alto e musculoso. O garoto mais gato do campus. Minha opinião é claro. Vestia uma calça jeans preta, rasgada. Camiseta branca e uma jaqueta de couro preta.
Ele me ajudou a levantar e disse:
— Desculpa, menina!
Sua voz era suave, levemente grossa.
— Não... A culpa foi minha — falei sem jeito, esfreguei a nuca.
— Qual é o seu nome? — deu um sorriso de canto, quase tive um mini infarto.
— Mayli! E o seu?
— Deivid!
— Prazer conhecê-lo!
— Igualmente, linda! — piscou um dos olhos.
Tereza apareceu, me cutucou e sugerindo:
— Pega logo, May! Não perca a oportunidade de ser feliz, garota. Ele é uma delícia!
O garoto ficou vermelho e muito constrangido.
— Não liga, Deivid, Tereza é assim mesmo — o adverti, amenizando a situação constrangedora.
Tereza e Shanice ficaram loucas com a beleza do rapaz, eu porém, não me importei. O dia passou rapidamente e no final da tarde fomos embora. Assim que chegamos á nossa casa, elas resolveram encher o meu saco.
— Amigaaaaaa — Tereza exagerou no tom de voz —, o Deivid está muito na sua, aff — acrescentou, com água na boca.
— Tetê tem razão, Mayli! Ele é o pecado na terra — Shanice comentou, puxando a cadeira e sentando.
— Gente, por favor! Parem com isso. Acabei de conhecê-lo e vocês já estão fantasiando? — rosnei, batendo as mãos na lateral do corpo, sem paciência.
— Nós vimos o jeito que ele te olhava! O carinho e o cuidado dele com você, Mayli. Não percebeu isso? — Tereza questionou, com a voz horrorizada e colocou a mão no peito cheia de drama.
— Vocês são doidas, eu hein! — dei-lhes as costas e segui em direção ao primeiro andar — Vou tomar um banho e relaxar. O dia foi cansativo demais — murmurei para ninguém em especial.
— VAMOS À PRAIA AMANHÃ? — gritou Tereza, num tom provocante em forma de ameaça. — VAI QUE CONHEÇO ALGUM HOMEM INTERESSANTE E GOSTOSO. ESTOU MUITO NECESSITADA, SE É QUE ME ENTENDEM!
— Estou entendendo, Tereza! — revirei as orbitas, além do normal. — Amanhã conversaremos melhor sobre o assunto.
Do topo da escada, desejei uma boa noite para elas e fui ao meu quarto. Elas vieram atrás de mim.
— Sonhe com um homem bem gostoso! — falou Tereza, safada.
— Ah ta! — entrei no quarto e fechei a porta.
Tomei um banho longo e demorado. Vesti uma camisola de seda, que ganhei da minha avó Leonor e me joguei na cama como um operário depois do longo dia de trabalho.