Capítulo 5
Na manhã seguinte, cheguei cedo no campus; Deivid continuou a me ignorar. Não dei mínima...
O intervalo deu início, minhas amigas e eu fomos comprar alguns petiscos. Sentamos no pátio, com o objetivo de conversar durante o lanche da tarde. Num determinado momento, Gael veio até nós e sentou-se ao meu lado.
— Bom dia, meninas! — cumprimentou no coletivo, porém, os seus olhos me encararam de jeito tão penetrante, que estremeci por dentro.
— Bom dia! — falamos em simultâneo.
— Vamos ao restaurante da esquina depois das aulas? Quero conversar contigo. — Sugeriu, de repente, minhas pernas fraquejaram.
— Claro, Gael! Adoraria — respondi sem demonstrar muita empolgação, mas por dentro, controlei uma emoção sem igual.
— Que bom! — deu um sorriso lindo.
Ficamos juntinhos durante as últimas aulas. Perto do corredor dos atletas,
Shanice me chamou e perguntou:
— Você e o Gael estão juntos? — arrastou-me para entrada do banheiro masculino.
Alguns garotos nos olharam com desejo.
— Não! Ele é só um amigo. — Sussurrei baixinho e revirei os olhos.
— Todos estão comentando sobre vocês dois! — revelou baixinho, com a mão na lateral da boca.
Dei de ombros.
— Eu não ligo, Shan! Não estou nem ai.
Gael apareceu, me despedi de Shanice e
saímos da instituição. Depois que terminamos de comer, voltamos para o campus.
A encontrei no estacionamento a minha espera. Deivid passou por nós duas e nos ignorou completamente. Tereza viu a cena e veio correndo em nossa direção.
— Não falou com você, Mayli? — perguntou e levantou as sobrancelhas de modo sardônico.
— Quem disse?! — Shan entortou o canto da boca, debochada.
— Deixa para lá, meninas! A nosso carona chegou, vamos embora — falei sem paciência.
Cheguei à minha casa, novamente, recebi um telefonema dos meus pais, ficamos conversando pôr horas. Eu senti a falta deles. Uma saudade imensurável tomou conta de mim. Desliguei a ligação.
As meninas e eu resolvemos ir ao shopping fazer umas comprinhas. Tereza e Shanice ficaram eufóricas, compramos várias peças de roupas, sapatos, perfumes e bijuterias. Shan estourou todo o seu cartão de crédito, emprestei parte da minha mesada para ela.
Retornamos ao condomínio mortas de cansaço. Gastamos tanto dinheiro no mesmo dia, que os nossos pais ligaram preocupados. Eles chegaram a pensar que sofremos algum tipo de sequestro, ou fomos assaltadas. Eu nunca havia gasto tanta grana em um único dia.
Fui até o quarto e tomei um longo e relaxante banho. Vesti o roupão e caminhei em direção ao closet. Coloquei uma camisola e desci.
Encontrei as meninas assistindo um filme adulto, Tereza queria ver os atores em cenas picantes e bem reveladoras, eu por outro lado, desejei um longa mais voltado para os assuntos acadêmicos, porém, optei por não dizer nada.
— Essa criatura não tem jeito mesmo. —Murmurei baixinho, ninguém ouviu.
Sentei ao lado delas.
— Sério, Tereza? Tire isso agora! — Shanice murmurou.
— Não! Eu preciso assistir alguma coisa adulta, pois há séculos não tenho uma experiência picante. Estou necessitada — completou dramaticamente.
— E... Você sabe que eu odeio filmes adultos — cruzei os braços, indignada.
"Fala sério!", murmurei mentalmente.
— Você não gosta do melhor da vida, garota. Não existe nada mais gostoso, que uma boa pegada no escurinho —
falou, como uma sexóloga safada.
Em um determinado momento, Tereza chamou o protagonista com adjetivos baixos e deprimentes para enfatizar que o cara era bom de cama. Não pude me conter e desliguei a tevê.
— NINGUÉM MERECE!! — Gritei.
— EI!!! — gritou Tetê. — Logo na melhor parte? — cruzou os braços e continuou: — Esperei para ver essa cena uns dez minutos — disse chateada.
— Aff... Por que não esperou o término da cena? — Shanice questionou cruzando os braços, carrancuda.
— Até tu, Shanice? Estás compactuando com as loucuras de Tetê? — questionei, com perplexidade.
— A situação tá ficando crítica, Mayli! — falou calmamente.
Liguei a tevê novamente, e coloquei um filme de terror, Tereza murmurou o tempo inteiro, pois — segundo ela —, eu estraguei seu momento de prazer. Bradava feito louca, me deixando nervosa. Para fugir das lamúrias, fui à cozinha e fiz pipoca e sentei-me novamente.
Depois de um tempo, apareceu uma cena de um casal transando no mato, Tetê gritou alto, bem alto. O cachorro do vizinho latiu, quanto mais o dog latia, mas ela gritava.
— AHHHHHH! MEU DEUS! QUE INVEJA — berrou histérica.
— Controle-se, Tetê! Vai chamar atenção dos vizinhos. — A repreendi severamente.
Ela não se importou.
— Foda-se os vizinhos, somos jovens é isso que importa — Tetê retirou a capa de boa menina e se vestiu de garota safada e sem escrúpulos.
— Eu hein! — Bufei indignada.
Assistimos mais dois filmes e fomos dormir.
♡ ♡ ♡
NA MANHÃ DE SÁBADO, decidimos acordar mais tarde. Tive um sonho perfeito, mas Tereza entrou no quarto e jogou água no meu momento mágico.
— Acorda, Mayli! Hoje é o grande dia — disse e abriu as janelas.
— Deixe-me dormir, eu estou morrendo de sono! — coloquei o travesseiro na cabeça, com o objetivo de proteger os meus olhos da claridade.
Ela ligou o rádio bem alto e cantou uma música insuportável, com letras de baixo calão.
— Levanta, amiga! Temos cabeleireiro, manicure e pedicure — avisou e desceu até o chão, rebolando como uma dançarina de funk.
Shanice acordou irritada, entrou no cômodo e perguntou:
— Que barulho é esse? Estou morrendo de sono!
— Meninas sabem que dia é hoje? — Tetê cantarolou.
— EU NÃO ESTOU NEM AI, TEREZA! SAIA DO MEU QUARTO, POR FAVOR! — gritei quase sem voz.
— Marquei um dia de beleza para nós, temos hora marcada — chegou perto de mim. — Levanta logo ou ficarei aqui gritando o dia todo! — Ela puxou o lençol.
Sentei-me na cama com o meu corpo mole, que denunciou o meu estado de espírito.
— Anda, Mayli! Hoje é o dia mais importante de nossas vidas.
— A gente não tinha combinado de dormir até mais tarde hoje — relembrei a elas.
— May, temos compromisso antes da festa. Preciso ficar gostosa de qualquer jeito!— disse Tetê.
— Você e suas loucuras — bufei, revirando as órbitas
— A empregada já preparou o café da manhã! Estou lá em baixo esperando vocês duas — avisou.
— Vou tomar um banho, daqui a pouco eu desço — bradei.
Vesti uma roupa confortável e desci.
— Bom dia, Lúcia! — cumprimentei assim que cheguei à cozinha.
— Bom dia, senhorita Mayli.
— Pode me chamar de May, esqueça o "senhorita." — Fiz aspas, ela sorriu.
— Tereza tá demorando! — falou Shanice, impaciente e conferiu às horas no relógio de pulso.
— Lúcia, você pode avisá-la que nós vamos nos atrasar? — pedi educadamente.
Tereza ouviu tudo e desceu as escadas e gritando:
— VOCÊ NÃO DEVE DÁ INTIMIDADE AOS EMPREGADOS, MAYLI! — cuspiu as palavras com preconceito.
— Pare com isso, Tereza. Não gosto que trate as pessoas com indiferença, ok? — a repreendi.
— Eu odeio esse seu jeito de defensora dos pobres e oprimidos — olhou-me severamente, levantando a sobrancelhas.
— Chega! — Shanice balançou os braços. — Deixem as brigas para depois!
— Não estamos brigando, Shan! Só estou colocando um pouco de juízo na cabecinha da Mayli — Tereza bradou e bebeu uma xícara de café com cinismo.
— Devo agradecê-la por me tratar feito uma criança? Estou crescida e sei cuida muito bem de mim mesma.
O telefone tocou:
— Alô? Mayli, minha filha. Sou eu seu pai — pelo barulho do vento, percebi que dirigia.
— Bom dia! Como o senhor e a mamãe estão? — perguntei, mordendo o pão de queijo.
— Estamos morrendo de saudades, meu
amor! O carro chegou no dia previsto?
— Sim! Obrigada por tudo, pai.
— Você não tem que agradece, filha.
— Cadê a minha mãe? — quis saber, como uma criança assustada. No fundo eu senti a falta dela. — Diz a mamãe que mais tarde eu ligo, quero falar com ela.
— Sua mãe foi ao dentista, filha. Assim que retornar darei o seu recado — avisou ele. — Tereza e Shanice como estão? — perguntou preocupado.
No fundo, ele sabe que Tetê é o demônio das travessuras. Diria que ela é idêntica a Loki, o Deus da mitologia Nórdica.
— Mal nenhum alcança essas duas, pai. Principalmente com Tereza.
Neste momento, elas tomaram o telefone da minha mão e foram conversando com ele.
— Meninas, vou lá em cima, e já volto — avisei e subi os degraus rapidamente.
— Traga as nossas coisas, Mayli! — Tereza me fez de empregada.
— DIGA AO MEU PAI QUE O AMO MUITO! — gritei ao entrar no corredor do primeiro andar.
— ESTÁ BEM, ESTÁ BEM! VOU DÁ O RECADO, MAS... ANDA LOGO!! — Tetê gritou estressada. Parecia uma noiva na véspera do casamento.
— Você está muito desesperada, Tereza! Sossega o facho — ouvi Shanice, reclamando.
— Vou sossegar quando estiver gostosa pra caramba, tá legal?!
Quinze minutos depois, eu desci, fomos para garagem. Antes de entrar no veículo, Shanice perguntou:
— Posso dirigir, Mayli? Por favor! — pediu em súplicas.
— Claro que sim, Shanice! Toma a chave — joguei para ela, que pegou no ar.
— Vamos logo, meninas! — Tetê disse e conferiu o look no vidro do carro.
— Lá vamos nós — murmurei tom de deboche.
Shan sorriu, Tetê; porém, não deu a mínima.
Demorou cerca de trinta minutos até chegarmos ao lugar marcado. O estacionamento era bonito, extremamente bonito e organizado.
Seguimos para recepção.
— Bom dia! Temos hora marcada — disse Tereza, com ar de superioridade.
— Bom dia! Irei conferir os nomes de vocês — falou e conferiu alguma coisa no computador. — Ok! Podem aguardar na recepção, daqui a pouco vocês serão atendidas.
Meia hora depois, os profissionais nos chamaram para lavar os cabelos. Logo depois a manicure e pedicure vieram nos atender.
— Mayli, o seu cabelo está muito grande! Por que não corta um pouco? — sugeriu Tetê.
— Não quero! Só vou cortar as pontinhas quebradas e ressecadas — respondi um pouco ácida e conferi o cumprimento no espelho.
Realmente Tetê tinha razão, estava abaixo das nádegas, mas não cortei.
— Eu quero um corte repicado, do tipo extravagante, pois odeio cara de religiosa da idade média! — Tetê disparou, me encarando através do espelho. Suas palavras saíram cheias de indiretas.
— A indireta não funcionou, pois o cabelo é meu, e vou deixá-lo do tamanho que eu quiser — rosnei no modo desafiador.
— E você, Shanice? Vai querer algum corte específico? — indaguei, mudando de assunto.
— Sim! Quero cortar um pouco, deixar no meio das costas.
— Ah... Que legal, Shanice! Afinal de contas, cabelo cresce — Tetê se meteu na conversa.
— Não quero muito longo, nem muito curto, entendeu? — disse Shanice, acariciando os cabelos.
— Pode deixar! — a profissional respondeu e pegou a tesoura na gaveta.
Passamos a manhã inteira no estabelecimento, saímos às 2:30h da tarde.
Fomos ao restaurante. Meu estômago roncava mais que bicho selvagem atrás da sua presa.
— Seu cabelo ficou incrível, Tereza — Shanice comentou e conferiu o cardápio.
Eu fingi demência.
— Obrigada, Shan! — Ela agradeceu, como se fosse a mulher mais linda do mundo. O seu ar de superioridade era perceptível a olho nu.
O resultado foi bem satisfatório, apesar do cansaço e das horas que ficamos no salão de beleza. Minhas amigas e eu, estávamos incríveis.. Naquele momento, eu refletir que cuidar da aparência trouxe um sentimento de confiança e autoestima em mim.
— Hoje eu vou botar pra quebrar — falou Tereza empolgada além do normal.
Terminamos a refeição e fomos embora.
Chegando ao condomínio, fui direto para o meu quarto, a fadiga chegou e com ela o sono. Shanice veio atrás.
— May! Não esqueça que a maquiadora chega daqui à 1h — Ela avisou.
— Ok! — respondi, bocejando.