Capítulo 4 — Indefesa
Luiza
Will Ferrari! Então era esse o nome do homem que estava à minha procura?
O peruano quarto mal tinha espaços para locomoção, não havia luz e o cheiro estava terrível. Eu queria dormir e acordar disso tudo, mas já não há mais voltas, as freiras não fizeram nada para impedir. Nunca me disseram nada sobre quem era minha mãe,e agora eu terei que descobrir isso sozinha. Eu já não tinha mais nada que me lembrasse dela, agora eu só tinha que lutar pela minha, mas ainda precisava saber como.
A porta de ferro estava rangendo e em seguida a porta em que eu estava por dentro também foi aberta.
— Tá tudo bem aí? — O mesmo homem que me trouxe perguntava enquanto me via caída no chão, no meio dos insetos e da sujeira em que estava o local.
Respondi balançando a cabeça e apoiando as mãos nos joelhos para levantar, mas tive meu corpo arremessado contra a porta de metal por um chute em minha barriga, o que me fez gemer de dor e cuspir sangue.
— Você até que aguenta muita coisa! Mas me conta: como aquelas velhas conseguiram esconder você de mim por todos esses anos? — O velho Ferrari perguntava apertando meu rosto de forma brusca, enquanto o outro homem se mantinha de pé ao meu lado.
— Eu não faço a mínima ideia do porquê estou aqui. Seria um prazer saber o porquê estou apanhando! — Disse com a mão na barriga, tentando não perder as forças quando ele desferiu um tapa contra o meu rosto, o que fez com que minha boca cortasse e eu cuspisse sangue mais uma vez.
— Está aqui porque a sua mãe acabou com a minha vida e eu agora vou acabar com a sua, já que não tenho como fazer isso com ela, farei com você!
Cada tapa que eu recebia, caia no chão e já estava ficando sem forças. Quando passei a mão no rosto senti que estava inchado e eu já não tinha mais forças para nada, nem mesmo para falar. Senti algo quente molhar as minhas pernas e foi então que eu percebi que eu também estava menstruada, só não tinha levantado ainda. O velho segurou meus cabelos e me forçou a olhar pra ele, enquanto socava o meu estômago sem dar pausas.
— Pai, eu acho que já chega! Se continuar assim vai acabar matando ela. — Finalmente o homem falou alguma coisa e não foi surpresa alguma saber que são pai e filhos.
— O que foi? Está com pena da vadia agora? Quer foder com ela antes que eu acabe com a vida dela de uma vez por todas? — Will Ferrari gritava enquanto me mantinha com a cabeça levantada pelos cabelos. — Você tem sorte que eu tenho nojo de mulheres imundas, caso contrário iria te foder aqui mesmo até que você morresse, sua imunda. — Por fim ele cuspiu em meu rosto e foi embora.
Eu queria chorar; gritar; berrar pra ver se minha dor iria embora, mas eu já não tinha forças nem mesmo para me manter acordada, foi então que eu acabei adormecendo em meio a toda sujeira, como se eu fosse ninguém…
Kalil
— Por que fala com tanta ignorância quando se trata de minhas perguntas? — Perguntava seguindo meu pai pelos corredores. — Saiba que se eu soubesse que era pra fazer esse tipo de coisa não teria aceito o seu pedido nojento e pode ter certeza, esse foi o último.
— Então você agora se importa com indigentes? Porque é isso que aquela vadia é, assim como a sua mãe foi um dia, ela também será e antes que esse mal se procrie, é melhor cortá-lo pela raiz antes que se prolifere.
— Eu não vou deixar o senhor matar aquela mulher, Sr. Ferrari. — Então ele parou de andar e virou-se para mim. — Eu não saí daqui pra quase matar freiras e trazê-la para morrer aqui. Não me importa o que o senhor teve com a mãe dela, o que importa é que ela não é a mãe e isso não é problema seu.
— Não vai me dizer que está apaixonado por aquela vadia? Ou… vai me dizer que você fodeu com ela antes de trazê-la até mim? Isso não é a sua cara, Kalil. Portanto, não queria me fazer de idiota e passar por cima das minhas ordens.
— Pois sabe bem que não manda em mim. Eu vou tirar ela daquela sala agora e quero ver quem vai me impedir. Eu não tão desgraçado ao ponto de foder com a vida de alguém por mero capricho seu. Temos o mesmo instinto e o senhor sabe, eu vou enfrentar você até o meu último suspiro. — O gelado do metal de uma arma estava refrescando a minha nuca e por certa parte isso era bom. — Ou o senhor mandar esse merda tirar esse caralho da minha cabeça, ou ele não vai ter mais vida depois que eu sair daqui.
Antes que eu pudesse voltar até onde estava a garota, olhei bem fundo nos olhos do meu e lhe dei um último recado.
— Se continuar querendo me matar eu não vou ter escolhas a não ser revidar, meu pai. — Sorri de forma irônica e voltei até a garagem, onde a vi com os olhos ainda abertos, mas quase sem vida.
Carreguei ela em meus braços e a levei até um quartinho onde os homens feridos ficavam quando meu pai os torturava. Tinha um colchão, luz e água, o necessário para sobreviver, mas eu vou deixá-la aqui, até porque se ela está nessa situação a culpa é minha e de mais ninguém.
— Me deixe morrer! Vai estra me ajudando, sabia? — Seu pedido tinha lágrimas junto, seu rosto machucado e todo ensanguentado me fizeram calar a porra da boca e pela primeira vez agir em prol a vida de alguém que eu não conhecia.
— Eu não vou te deixar morrer porque essa porra toda é culpa minha. Por isso, tenho que te manter viva para que você ainda possa me mandar eu ir me ferrar. — Sorri ladino e vi seus olhos fecharem.