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Capítulo 3 — Diamante em posse

Kalil

A igreja estava próxima, alguns metros andando e eu chegaria lá rápido. As pessoas me olhavam como se eu fosse algo estranho, cidade pequena! As crianças corriam para perto dos seus pais ao me verem, sem dúvidas esse pessoal ainda dão daqueles que acreditam que mulher viraria mula se casasse com o padre!

Meu pai me ligava sem parar, mas eu estava na missão que ele me mandou.

Havia muitas barracas com bugigangas penduradas e expostas para a venda. Todas elas ocupadas por moças ou pessoas ainda jovens.

— Bom dia, Sra. Pode me dizer para que lado fica a igreja? — Perguntei a uma senhora que mais parecia uma cigana.

— Para esquerda, lhe aconselho a escolher o lado que mais lhe traga amor, suas vestes e seu tom de voz, não diz nada. — Ela sorriu e foi embora. Continuei andando até chegar na pequena igreja, onde as freiras estavam brincando de ciranda com algumas crianças.

— Com licença, vocês conhecem essa moça? — Mostrei a foto de Luíza e ela se entre olharam e responderam que não.

Luiza

Havia acabado de voltar para a igreja, onde estava passando pano no mármore, quando ouvi alguém cochilando não muito longe.

— Ele veio atrás dela, o que iremos fazer agora? — Uma das freiras falava muito baixo e por eu estar em uma parte reservada demais, não era fácil de me ver.

— Deixe isso comigo, ninguém dirá nada, eu mesma irei conversar com ela. Aliás, vocês a viram? — Madri perguntava e eu engolia em seco.

Meu corpo automaticamente paralisou por alguns segundos, mas alguma coisa dentro de mim me dizia para correr, pois o perigo estava próximo. Peguei o pano com o balde de água e saí sem fazer barulho e deixando tudo limpo, assim não corre o risco de deixar pistas.

Estava me vestindo para jantar quando a Madri bateu a porta pedindo passagem.

— Pode entrar, Madri! — Disse engolindo em seco, pois nunca fecho a porta e desta vez ela sabe que eu estou sentindo algo.

— Filha, eu te peço que me ouça. Preciso que siga com Maria amanhã antes do Sol nascer. Você está em perigo, não deixaremos nada acontecer com você.

— Madri, eu já sou uma mulher, já sou adulta e agora chegou a hora de encarar minha realidade. A senhora sabe que jamais quis ser freira, eu amo vocês e tudo que fizeram por mim. Há mais alguma coisa que minha mãe tenha feito e que a senhora me esconde? Eu nunca fui tola, Madri. — Vi ela ficar pasmem e sem reação. Estalei os dedos e ela piscou vagarosamente até voltar ao normal.

— Mas… mas como assim não é inocente?

— Não foi isso que eu quis dizer. Disse que eu sei que há alguma história por trás de como eu vim parar aqui. Ninguém mora em um convento por nada.

— Tudo bem, lhe direi tudo que for preciso agir… — Antes dela completar sua frase, os estilhaços de vidros que vinha da janela me acertaram e acertam a Madri também.

Me joguei no chão e Madri suplicou para que eu fugisse, mas não deu tempo nem mesmo de cruzar a porta. Estarei em uma pilha de músculos, até que bonito, mas ele segurava uma arma e estava com uma foto na mão. Uma foto minha! A forma como nossos olhares se cruzaram foi estranho, meu corpo se arrepiou, senti uma sensação de culpa sobre mim e não queria que ninguém ali se machucasse por minha causa. Se é a mim que ele quer, é a mim que ele terá. Levantei ajeitando o cabelo atrás da orelha, enquanto via outras pessoas mascaradas rendendo as freiras, as pondo de joelhos enquanto mantinham armas mirando em suas cabeças.

— Só irei perguntar mais uma vez! Quem é Luiza Hansel? — Seus olhos miravam os meus, quase sem fôlego eu o encarei de volta.

— Sou eu! Não faça mal a nenhuma delas, se me quer, eu irei com você. — Disse com um nó preso na garganta, não sei de onde tirei forças, mas falei.

Caminhando para fora da igreja, com duas pessoas caminhando uma de cada lado meu, o homem de quase dois metros e movido por músculos caminhava rápido e calado. Estava sem nenhuma emoção no momento, na verdade eu estava muito triste e… eu só queria saber o porquê de esconderem segredos de mim, que pelo tom de voz da conversa, era algo muito importante.

(...)

Kalil

Eu estava fazendo uma das coisas que menos gostava, não gostava de mexer com o pessoal da fé. Mas não estava fazendo nada demais e, além disso, era meu trabalho. A noviça se manteve em silêncio todo o caminho, sem choro e sem tagarelar, o que confesso que me assustou.

— Tá tudo bem? — Perguntei olhando ela pelo retrovisor.

— Sim! — Sua resposta foi fria assim como seu olhar direcionado a mim.

Meu pai estava no mesmo hotel que eu, por algum motivo ele não me disse o porquê de tanto interesse nela, nem a mesma parecia raciocinar as coisas muito bem. Chegamos no hotel e meu pai já estava nos esperando em seu quarto.

Will Ferrari

Sem alardes meu filho chegou com a garota, seu rosto muito parecido com o da sua mãe e se não tivesse acontecido tantas coisas, poderia jurar que ambas seriam a mesma pessoa.

— Luiza Hansel? — Seus olhos negros era idênticos ao da sua mãe. Senti o nervosismo tomar conta de mim, como se eu estivesse vivendo novamente alguma cena do passado. — Não sei se já te disseram, mas você é idêntica a ela e…

O silêncio se fez presente e Kalil também.

— Meu filho, mais uma vez fez um trabalho impecável, agora preciso que se retire e nos deixe a sós. — Kalil se retirou e a noviça se manteve de pé, me olhando como quem estivesse me desafiando, ela é o retrato vivo de Margô. Sinto que terei boas noites de prazer com ela ao meu lado, ela é silenciosa do jeito que eu gosto. Espero que não seja traíra igual sua mãe ou terá o mesmo destino trágico que o seu.

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