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6. Jogadores

Isabella Maziero

Isabella tomou coragem depois de várias horas sentada na grama do jardim, encostada em uma árvore, e ter levado algumas mordidas de formiga. Mas qualquer coisa era melhor para ela do que ficar dentro daquela casa.

A casa era muito bonita, a piscina grande, o muro cheio de folhagens e algumas flores perdidas deixavam aquele espaço perfeito. As cadeiras brancas e espreguiçadeiras vazias faziam a casa parecer um cenário de novela, só que sem personagens.

Ela caminhou descalça pela grama até chegar à porta dos fundos. Ainda vestia a camisa de Marcos. As portas brancas da casa deixavam tudo tão lindo; a casa era espetacular.

Assim que Isabella entrou na casa, um pequeno corredor a levou até a cozinha, onde ouviu pessoas conversando. Ela então parou e ouviu o que eles estavam dizendo.

"Ele se casou ontem à noite. Eu mal pude acreditar," era a voz de Ximena.

"Mas pelo jeito a noite de núpcias não foi bem-sucedida, pois ele foi para o clube e só saiu de lá quando estava caindo de bêbado. Eu mesmo o trouxe."

"Não sei por que ele casou com aquela... mulherzinha. Se fosse para se casar com uma pobretona, deveria ter se casado comigo."

"Ah, Ximena, você gosta dele, não é mesmo?"

"Sempre fui apaixonada por ele, não é segredo para ninguém."

“Ele é um homem rico, nunca vai olhar para pessoas como nós.”

Isabella ouvia a conversa dos dois. Não era bem-vinda ali, era como se fosse uma estátua, onde todos passavam e a olhavam. Alguns a achavam bonita e outros sem graça, mas ela sempre estaria ali, imutável. Pessoas iam e vinham de sua vida, e Isabella permanecia estagnada, esperando o seu "felizes para sempre". Mesmo tendo certeza de que isso nunca aconteceria, era como se fosse amaldiçoada.

Ela sentiu um aperto no peito. A verdade estava ali, crua e dolorosa. Voltou sobre seus passos, atravessando o jardim até a porta da frente. Ela entraria naquela casa e seria a dona da sua história. Não deixaria que ninguém a fizesse de coadjuvante novamente; ela seria a personagem principal, mesmo sabendo que seu final poderia ser infeliz. Deixaria de ser uma estátua.

Isabella sentiu o gelado do mármore nos pés. Olhou para sua nova casa e decidiu ir para o quarto. Tinha que matar seus leões diariamente e tinha que começar naquele dia. Ela era uma guerreira.

Ao chegar na porta do quarto, entrou sem bater e encontrou Marcos usando apenas uma toalha. Ele se assustou, assim como ela.

"Me desculpe, pensei que você... é que você estava dormindo quando eu saí do quarto e pensei que você ainda estivesse na cama."

"Entre, eu tenho que me acostumar com você aqui," Isabella se sentiu uma estátua novamente, até que ele perguntou. "Nós dois transamos?"

"Não, você chegou bêbado e desmaiou na cama," Marcos nem sequer ficou com vergonha pela cena que havia feito na noite passada.

"Que bom, não me lembro de muita coisa."

"Podemos dormir em quartos separados, assim eu não ocupo o seu espaço e cada um pode ter sua privacidade."

"Pode ficar no quarto e na casa. Eu não venho para cá, moro no centro no meu apartamento. Não vou ficar aqui,” ela ainda não sabia se gostava ou não disso.

Ele foi até o closet e deixou a toalha cair no chão. Isabella olhou para o traseiro dele, que era muito bonito. Marcos tinha uns quarenta anos, um rosto bonito e alguns cabelos grisalhos, mas aquele homem era perfeito.

Isabella sentiu o corpo responder a ele. Ela não conseguia tirar os olhos dele, observou atentamente enquanto ele se vestia, incapaz de se desprender da imagem à sua frente, até que ele se virou e a pegou em flagrante.

"Gosta do que vê, Isabella?"

"Eu estou contando seus defeitos, querido marido, por isso não consegui parar de olhar," ela não daria o braço a torcer.

Segundos depois, ele estava na frente dela. Como ele tinha chegado tão perto tão rápido?

"E quantos defeitos eu tenho, Isabella? Vamos, me diga."

Ela não sabia o que dizer ao marido que estava tão perto. A boca dele se aproximou do seu pescoço. Isabella deu um passo para trás, encostando suas costas na parede, sem ter para onde fugir.

"Diga, Isabella, quais são os meus defeitos?" Ela engoliu seco. O que diria a ele, quando não conseguia tirar os olhos do corpo bonito dele?

O nariz dele não encostou em sua pele, mas estava tão perto que ela podia sentir o quente da respiração subindo até chegar em sua orelha. Apenas o vapor da respiração dele fazia seu corpo sentir um comichão. Como ela desejava que ele a tocasse.

"Fale, Isabella," insistiu ele, a voz baixa e provocante. "Quais são os meus defeitos?"

Ela fechou os olhos, tentando reunir forças. Sentia-se dividida entre o desejo e a raiva, entre o impulso de se entregar e a necessidade de manter o controle.

"Seu maior defeito," murmurou ela finalmente, "é achar que pode me manipular tão facilmente."

Marcos sorriu, um sorriso que misturava desafio e desejo.

"Talvez você tenha razão," ele disse, recuando um pouco. "Mas não se engane, Isabella. Eu também sou um jogador e este jogo está apenas começando."

Isabella manteve o olhar firme, determinada a não deixar que ele visse a vulnerabilidade em seus olhos.

"Veremos quem é o mais forte," respondeu ela, sentindo a coragem crescer dentro de si. "E eu não vou perder, sou uma ótima jogadora."

Marcos chegou tão perto, ela pensou que ele fosse beijá-la e ela queria aquele beijo, o calor do corpo dele se distanciou, e ele sorriu para ela antes de sair do quarto, deixando Isabella sozinha com seus pensamentos e suas emoções conflitantes. Ela sabia que a batalha estava apenas começando, mas estava pronta para enfrentá-la, custasse o que custasse.

Ela jogou o corpo na cama macia e pegou o travesseiro, pressionando-o contra o rosto antes de gritar. O som abafado expressava toda a frustração e confusão que sentia. Estava se odiando por ter gostado do atrevimento do marido. Naquele momento, ela só queria que ele voltasse ao quarto e a tocasse, deixando-se levar pelo desejo que tanto a atormentava.

“Marcos Rossi, eu te odeio,” murmurou entre dentes, sabendo que era uma mentira que repetia para si mesma, tentando se convencer de algo que seu coração já começava a questionar.

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