5. Madrugada de núpcias
Isabella Maziero
Isabella não sabia nem mesmo para onde ir. As paredes daquele lugar imenso pareciam crescer à sua volta, sufocando suas esperanças. O coração acelerado dela ecoava nos corredores frios da mansão. Marcos Rossi, seu novo marido, estava ao seu lado, mas parecia tão distante quanto um estranho. E ele era um estranho. O nome dela agora carregava o sobrenome dele, uma mudança que ela nem teve a chance de questionar.
"Vou morar aqui?" A pergunta saiu antes que ela pudesse se conter, a voz dela era uma mistura de curiosidade e medo.
Marcos respondeu de forma direta e impassível, "Sim, você vai morar aqui."
Ele saiu do escritório e foi até uma das muitas salas da casa, deixando Isabella para trás, perdida em seus pensamentos. O ambiente era uma estranha combinação de sofás brancos modernos e móveis antigos, tudo luxuosamente decorado, mas com uma frieza que arrepiava a alma.
A voz de Marcos interrompeu seu devaneio, trazendo-a de volta à realidade. Ele chamou alguém, e logo a mulher que estava no escritório mais cedo apareceu, mesmo sendo madrugada.
"Ximena, esta é minha esposa. Ela agora vai morar nesta casa."
Os olhos de Ximena se estreitaram, a descrença era evidente em seu rosto. "O senhor se casou com essa daí?"
Marcos não hesitou, sua voz era firme. "Como já lhe disse, ela é a senhora Rossi. Leve-a para o meu quarto."
A incredulidade foi mútua. Isabella e Ximena falaram ao mesmo tempo, "Para o seu quarto?"
Marcos olhou para ambas com a mesma frieza. "Acredito que as duas entenderam o que eu disse, já que disseram o mesmo que eu."
O pânico tomou conta de Isabella. Ela tentou argumentar, a voz dela tremendo. "Eu... eu não quero ficar no mesmo quarto que você."
“Estamos casados agora. Achei que já tinha entendido.”
Ele a observou com olhos inabaláveis, deixando claro que a decisão já estava tomada. Isabella sentiu uma onda de desespero. Eles teriam uma vida conjugal? Ela sabia que ele queria um herdeiro, mas será que viveriam juntos? Aquela seria a noite de núpcias deles?
Ximena se aproximou, seu olhar era uma mistura de pena e desaprovação. "Venha, senhora Rossi, vou lhe mostrar o seu quarto."
Isabella seguiu a mulher, cada passo dela ecoando a incerteza do futuro que a aguardava. Ao entrar no quarto, ela se deparou com um ambiente grandioso, mas tão frio quanto o resto da casa. A cama, enorme e decorada com lençóis de seda, parecia um trono de solidão.
Isabella se sentou na beirada da cama, o coração apertado. Ela olhou para a porta, esperando que Marcos entrasse a qualquer momento, mas ao mesmo tempo desejando que ele nunca viesse. As lágrimas começaram a cair silenciosamente, misturando-se ao luxo frio do lugar.
Isabella olhou para o banheiro e sentiu a necessidade urgente de um banho. Estava suja, e a roupa molhada pela chuva havia secado em seu corpo, agora úmida e desconfortável. Ao se ver no espelho, a imagem refletida era de uma mulher com o cabelo bagunçado, os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar. Realmente, ela estava horrível. Como Marcos Rossi tinha lhe dito.
O dia tinha sido devastador. Primeiro, o funeral da irmã, e agora, casada com um homem que mal conhecia, apenas para evitar o peso das dívidas que não eram dela. Tudo parecia um pesadelo sem fim.
Ao tirar a camiseta, ela pensou que enfim seu corpo iria relaxar, mas Isabella ouviu um barulho vindo de fora. Com uma toalha de banho branca em mãos, correu até a janela, cobrindo seu corpo. O carro de Marcos ligado e um dos homens segurava a porta para ele. O marido olhou para a janela onde ela estava, mas Isabella não queria ser vista. Ela deu um passo para trás, observando enquanto ele entrava no carro e saía cantando pneus.
Parte dela se sentiu aliviada por ele ter ido embora, mas outra parte estava chateada. Era estranho sentir-se assim, como não forçou a sentir alívio pelo marido ter ido embora.
Voltou ao banheiro e encontrou uma banheira. Fazia tanto tempo que não tomava um banho quente e relaxante, a última vez, tinha sido na casa onde morava. Agora que estava sozinha, e tinha aquela casa somente para ela, Isabella decidiu aproveitar a oportunidade.
A água quente era um bálsamo para seu corpo gelado pela chuva. O calor e o aconchego a envolveram, e Isabella, exausta, acabou pegando no sono.
De repente, Paolla estava ali, na frente dela, olhando-a atentamente. Tudo parecia tão real. Isabella tentou segurar a mão da irmã, mas não conseguia alcançá-la. Cada vez mais, Paolla se distanciava até desaparecer completamente. Isabella tentou gritar, mas não conseguia. A sensação de água entrando em seu nariz a despertou abruptamente. O rosto estava quase submerso na água. Ela saiu da banheira rapidamente e entrou no box, abrindo o chuveiro e deixando a água tirar o sabão que estava no corpo.
O cansaço a dominava. Voltou ao quarto, mas não tinha nenhuma roupa para vestir. Foi até o closet e pegou uma camisa de Marcos. O cheiro dele a envolveu, trazendo uma estranha sensação de conforto. Deitou-se na cama e, em poucos minutos, estava dormindo profundamente.
A solidão e o cansaço a venceram naquela noite, enquanto sonhos perturbadores misturavam-se ao aroma familiar do marido. Isabella, perdida em sua tristeza, dormiu na esperança de que, ao acordar, a dor fosse um pouco mais suportável.
“Isabella,” alguém estava chamando seu nome. “Isabella. Acorde, é a nossa noite de núpcias, honre sua parte de esposa.”
Era Marcos que estava ali, chamando o nome dela e cambaleando. Os primeiros raios de sol já atravessavam a janela, levando um susto ao ver o homem caindo na cama ao seu lado. O cheiro forte de bebida que ele exalava fez com que ela se sentisse enjoada. O que ele estava pensando em fazer?
"Não posso acreditar que me casei com um alcoólatra," murmurou, tentando afastar o desconforto.
Marcos, com a voz arrastada e resmungante, respondeu: "Eu não sou alcoólatra, só não queria ter me casado com você."
Ele se virou para o outro lado, adormecendo quase instantaneamente. Isabella ficou olhando para ele, a mente cheia de perguntas e incertezas. Onde ela havia se metido? Aquela situação parecia cada vez mais insuportável.
Ela se levantou silenciosamente, tentando evitar qualquer movimento que pudesse acordá-lo. Sentia-se presa em um pesadelo que parecia não ter fim. A tristeza e a desolação a envolviam, enquanto olhava para o homem que agora era seu marido, mas que parecia mais um desconhecido.
Isabella saiu do quarto, sentindo um nó na garganta. Precisava de um momento para respirar, para tentar entender como sua vida havia chegado àquele ponto. Caminhou pela casa silenciosamente, os olhos cheios de lágrimas que ela lutava para conter.
O sol da manhã iluminava os corredores da mansão, mas para Isabella, tudo parecia envolto em sombras. Ela sabia que precisava ser forte, mas naquele momento, sentia-se mais perdida do que nunca.
“Por que, meu Deus.”