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4. Você aceita?

Isabella Maziero

Isabella saiu correndo do escritório. Não tinha prestado atenção na casa e nem queria. Na verdade, só queria fugir daquele lugar e sair de perto daquelas pessoas.

Ela ouviu a voz da mãe atrás dela.

"Filha, por favor, me escute."

"Saia de perto de mim, eu vou embora desse lugar cheio de loucos," Isabella respondeu, enquanto corria pelo corredor da casa, que tinha o piso de mármore. Quadros dos antepassados dos Rossi adornavam as paredes, testemunhando o drama familiar que se desenrolava.

"Isabella, não seja egoísta. Sabe que precisamos deste casamento."

"Mamãe, não me venha dizer o que preciso fazer. Eu não vou me casar com aquele homem que está naquele escritório para que você e meu tio se deem bem."

"Nós precisamos da grana dele. Eu e seu tio não temos para onde ir."

"Se virem, mamãe."

"Você estragou nossa vida anos atrás. Deixou seu noivo e foi embora. A culpa do que aconteceu com Paola é sua. Minha pequena garota se perdeu; a necessidade fez com que ela fizesse coisas..." A mãe estava abalada, mas não deixava de ferir. "Você foi culpada do que aconteceu com sua irmã."

"Eu? Vocês acabaram com a vida de vocês e com a de Paola. Não me responsabilize pelos erros de vocês. Vou embora daqui."

Isabella começou a andar rapidamente, com a mãe em seu encalço. O ambiente ao redor parecia sufocante, com paredes altas, corredores longos e escadarias que mais pareciam labirintos. O luxo da casa contrastava brutalmente com a miséria emocional que Isabella sentia.

"Vai fazer o mesmo com sua prima Carolina?" Aquelas palavras fizeram Isabella parar bruscamente.

"O que você está tentando, mamãe? Me chantagear?"

"Seu tio vai vender Carolina, e não vai ser para um marido. Ele me disse que, se tiver que vender a casa, Carolina passará por um leilão em alguma boate. Se é que me entende."

"Ele não vai fazer isso, você está blefando."

"Você duvida mesmo que seu tio venda a filha dele por dinheiro, da forma mais asquerosa? Volte lá, Isabella, e salve sua prima. Carolina não merece se tornar uma meretriz."

Isabella não olhou mais para a mãe. Ela sabia que o tio era capaz de tudo, e se a mãe estava falando, era porque o tio realmente faria isso com Carolina. As palavras da mãe ecoaram em sua mente, enchendo-a de desespero e pavor.

Ela voltou a caminhar, mais devagar agora, tentando digerir tudo o que tinha acabado de ouvir. O peso da responsabilidade a esmagava. Cada passo parecia mais difícil que o anterior, mas ela sabia que não podia permitir que Carolina pagasse o preço pelos erros dos outros.

Com lágrimas nos olhos e o coração apertado, Isabella se virou e começou a caminhar de volta para o escritório. Sabia que estava caminhando para uma prisão, mas pelo menos seria uma prisão que escolheria para salvar alguém que amava.

Marcos estava sentado em sua cadeira imponente, observando o tio de Isabella servir um uísque, como se já estivesse em sua casa. O ambiente carregava uma tensão palpável, como se cada detalhe do escritório luxuoso refletisse a gravidade da situação.

"Quero falar com você," disse Isabella, com a mãe logo atrás dela.

"Sabia que você ia retomar o juízo, Isabella. E não ia fugir desta vez," comentou o tio de Isabella com um sorriso frio. “Não vai fugir desta vez, não é,” o sorriso agora era vitorioso.

“Tire esse homem daqui, ou não respondo por mim.”

"Saiam, quero ver o que Isabella tem a dizer," ele ordenou. O tio de Isabella e sua mãe saíram, e Marcos se levantou para fechar a porta, deixando Isabella sozinha com ele.

Isabella ficou parada, olhando fixamente para um ponto no chão, tentando encontrar forças para enfrentar aquele homem.

“Eu não queria me casar com você, Marcos. Se você pensar melhor e…”

"Você não era a minha opção para um casamento. Você não faz meu tipo. Eu aceito esse acordo de casamento, mas serei breve e direto: não vou me apaixonar por você. Você será minha esposa e me dará um herdeiro, mas não teremos um casamento convencional. Você não pode ficar andando atrás de homem por aí; tenho um nome a zelar. Eu não serei fiel a você, mas serei discreto. Vou dar uma pensão a você e tudo que precisa. Já a dívida de sua irmã ficará comigo, caso você não cumpra sua parte irei cobrá-la sem dó e nem piedade. Vou pedir que meu advogado prepare os papéis e, daqui a uma hora, estaremos casados."

"Uma hora? Como assim?" Isabella perguntou, incrédula.

"É o tempo do advogado arrumar as coisas. Eu já volto." Marcos saiu do escritório, nem mesmo dando tempo para Isabella expressar suas próprias exigências, o que a deixou totalmente irritada.

Isabella sentia-se de mãos atadas. Poderia se casar e ficar por um tempo com esse homem, depois se divorciar. A madrugada estava chegando e ela estava exausta. Sentou-se em um sofá no escritório, colocou a cabeça entre as mãos e deixou as lágrimas caírem. Estava perdida; iria se casar em alguns minutos e sua vida estaria nas mãos de um homem que mal conhecia.

Depois de tanto chorar, Isabella adormeceu. Foi acordada pela voz de Marcos.

"Isabella? Isabella?”

"O que foi?" Ela estava sonolenta e com os olhos inchados de tanto chorar.

"Acorde, nós vamos nos casar."

"Nos casar agora?"

"O que você quer? Um padre, uma igreja decorada e uma festa?"

"Não, eu só... Onde estão os papéis?"

"Estão aqui. O juiz está online e vamos nos casar."

Isabella se levantou, passou a mão pelos cabelos e respirou fundo. Ela iria se casar. Logo ela, que jurou nunca fazer isso, depois de ser prometida a um homem que não conhecia e que tinha o quádruplo da sua idade. Agora, com seus trinta anos, seria a esposa de outro desconhecido. Graças à sua família perfeita. A mulher estava usando pijama de coraçõezinhos, e sentada provavelmente na sala de jantar de sua casa, atrás um quadro dela e de sua família. Ela disse boa noite, mas Marcos não deixou que ela prosseguisse.

"Senhora juíza, se puder ser breve. Nós dois já sabemos que vamos nos casar e estamos de acordo com isso," disse Marcos, impaciente.

"Bom, já que vocês sabem o que querem... Isabella, aceita Marcos como seu esposo?" A juíza perguntou. Isabella olhou para o homem à sua frente e, com a voz quase trêmula, falou:

"Sim, eu aceito."

"Marcos, aceita Isabella..."

"Sim. Estamos casados?"

"Sim, estão casados." A juíza respondeu. "Podem assinar os papéis e eu acredito que a frase do beijo não precisa ser dita."

“Você quer ser beijada, Isabella?” ela negou com a cabeça.

"Tenha uma boa noite." A juíza se despediu e Marcos desligou a ligação.

"Enfim casados, Isabella," disse Marcos, olhando para ela com um sorriso que misturava triunfo e indiferença.

Isabella assinou os papéis com mãos trêmulas. Seus olhos, ainda inchados, refletiam tristeza e resignação. Ela sentia que havia perdido uma parte de si naquela noite, mas, ao mesmo tempo, uma pequena chama de esperança se acendia em seu coração. Talvez, de alguma forma, ela conseguisse proteger Carolina, que era uma adolescente inocente, e talvez encontrasse uma saída para aquela situação.

“Agora vá tomar um banho, você está horrível,” as palavras cortaram o coração de Isabella.

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