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CAPÍTULO 5 - HELLEN: APRENDA

O homem cheiroso, me disse que seu nome é Alejandro Estavan Castilho. E ele ficava olhando para mim pelo espelho de dentro do carro toda hora. Ele me perguntou se eu estava com fome. E nos levou a um restaurante, quando eu respondi que sim.

Todo o tempo, ele conversava comigo. Parecia que ele não queria falar com o meu papá de jeito nenhum, pois toda vez que meu papá tentava falar, ele o mandava calar a boca. Quando paramos na frente da casa de meu papá, ele mandou que meu papá entrasse, depois ele se virou para mim e me deu um telefone que ele tirou de dentro do bolso da sua jaqueta.

— Eu ia dar esse telefone para outra pessoa. Mas acho que você precisa dele muito mais. Você sabe usar um celular, Hellen?

— Fui eu quem ligou para a emergência, quando mamá passou mal.

— Ótimo, mocinha! - ele sorriu para mim. Seu sorriso era lindo. - Se seu papá tentar colocar a mão em você, você vai apertar o botão de ligação, está bem? É o meu número. Não importa a hora! Eu venho correndo! Agora repete o que você tem que fazer.

— Apertar o botão de ligar se meu papá tentar colocar a mão em mim. - falei olhando nos olhos dele.

— Isso mesmo, mocinha esperta! - ele sorriu de novo para mim. - Mesmo que você não me ligue, amanhã de manhã, bem cedo, eu estarei aqui para buscar vocês, está bem? - assenti para ele. - Se eu tivesse escolha, te levaria hoje, Hellen.

— Senhor Castilho, o senhor acha que ele vai fazer alguma coisa comigo?

— Eu espero que não. Ou ele será um homem morto!

Eu sorri ao ouvir a resposta dele, e ele fez um carinho na minha cabeça. Entrei na casa de meu papá, e dessa vez, aprendi a lição: quando meu papá mandou que eu fosse tomar banho, apesar de querer muito, disse a ele que já havia tomado banho hoje e escondi o celular dentro da calça que eu estava vestindo. Ele nem soube que eu tinha ganho um celular.

Naquela noite, eu tive muito medo de dormir depois de ouvir que meu papá poderia fazer alguma coisa comigo, mesmo sem saber o que seria. Então tentei com todas as minhas forças, ficar acordada, mas eu não consegui, e acabei adormecendo. No meio da noite, uma mulher me acordou, dizendo que foi meu papá quem mandou que me acordasse.

— Já amanheceu? - abri meus olhos devagar, e dei um pulo para trás, quase caindo da cama, quando olhei para ela. - Por que você está pelada? - perguntei quase gritando, com meus olhos arregalados.

Meu papá, que estava sentado com as pernas cruzadas no meio de sua cama, levantou a cabeça do prato que estava em suas mãos, tirou uma nota de dinheiro, que estava enrolada, de dentro do seu nariz, apertou o nariz com força entre dois dedos, e colocou o prato em cima de um banquinho, perto de sua cama. Pude ver que havia um pó branco no prato, e que meu papá também estava sem roupas.

— Você tem que aprender o que você tem que fazer, filha. - ele disse com os olhos meio arregalados e muito brilhantes. - Num vou chegar perto de você, já dei minha palavra e minha palavra num faz curva. Mas você tem que, pelo menos ver, o que você tem que fazer depois que você casar. Então presta atenção, falou?

Ele agarrou o braço da mulher e a jogou na cama, depois ele estava com o piu-piu dele perto das coxas dela. Quando eu percebi o que ele ia fazer, eu fechei bem os meus olhos. Eu sabia que não era para eu ficar olhando para o que ele estava fazendo. Depois de a moça ficar gemendo por um tempo, ouvi um barulho e ela deu um grito, e eu arregalei meus olhos, assustada. Ela estava deitada de barriga na cama, e ele estava com o piu-piu no bumbum dela. Eu fechei bem meus olhos de novo, e tampei meus ouvidos.

Eu tremia muito, e estava com muito medo. Mas eu não chorei. Achei que não deveria chorar na frente daquele homem que minha certidão de nascimento dizia ser meu papá. Tinha certeza que os papás do Pablo não estavam fazendo isso na frente dele.

Quando meu papá perguntou se eu tinha entendido o que era para fazer, eu respondi que sim, e ele disse que era isso que se fazia no casamento e que eu já poderia dormir de novo. Quando eles entraram no banheiro juntos, eu peguei o celular para mandar uma mensagem para o único número que tinha nele.

“...”

“...”

“...”

Comecei a escrever várias vezes, mas apaguei tudo o que escrevi. Não sabia o que falar para o homem cheiroso. Antes eu queria que ele chegasse logo, mas nessa altura, já não sabia se queria que ele fosse me buscar. Eu tinha ficado feliz quando ele disse que se meu papá tocasse em mim, ele iria morrer. Mas e se o homem cheiroso fosse fazer comigo o que meu papá fez com a mulher? Então eu não poderia ligar ou mandar mensagem para ele. Eu teria que fugir!

Escondi o celular de novo, pensando em como eu faria para achar a casa do Pablo, afinal seus papás gostavam de mim e, enquanto eu estava com eles, senti que eles não me fariam mal nenhum. Mas eu também senti isso com o homem cheiroso, ontem à noite.

Me virei para o lado da parede, quando ouvi que a mulher e meu papá estavam abrindo a porta do banheiro, e em pouco tempo, ouvi que eles estavam roncando. Tinham dormido. Havia uma luz fraca no ambiente, que vinha de um abajur perto da cama dele. Me levantei e fui até minha mala, abri o bolso menor dela e vi que minha certidão de nascimento não estava mais lá… minha mamá sempre disse que eu nunca deveria sair sem um documento.

Olhei à minha volta e vi as roupas do meu papá jogadas num canto. Desviei meu olhar para a cama, por instinto; eles continuavam dormindo. Caminhei até as roupas dele, e chacoalhei suas calças pelas pernas, para ver o que caía de dentro dos bolsos. Uma faca com a parte de metal escondida, fez um barulhão quando caiu no chão.

— O que você está fazendo, filha? - ele perguntou sem levantar a cabeça.

— Eu estava indo no banheiro e tropecei. - senti meu rosto ficar quente, quando falei a mentira, mas ele voltou a roncar, então tudo bem... acho.

Suspirei de alívio e continuei procurando minha certidão. Vasculhei nos poucos móveis que havia na casa. Não me preocupei com a bagunça que eu estava fazendo, afinal, aquele lugar já era muito mais do que bagunçado. E eu não conseguia me acostumar com o cheiro ruim dali.

Comecei a pedir ao papá do Céu que me ajudasse, como minha mamá havia me ensinado e, ao lembrar dela novamente, senti as lágrimas se formando em meus olhos. Respirei fundo. Eu não iria chorar naquele lugar. Se ele acordasse e me visse chorando, eu nunca iria me perdoar pois, e se ele tentasse me abraçar para tentar me consolar? Eu não queria aquele homem me abraçando, de jeito nenhum! Eu não tinha gostado dele, desde que ouvi sua primeira palavra, enquanto eu estava na sala atrás da assistente social, na casa de acolhimento e, se isso for pecado, eu infelizmente pequei.

Procurei minha certidão por um pouquinho mais de tempo. Eu não sabia que horas eram, naquele momento, não sabia que horas ele tinha mandado me acordar e não sabia por quanto tempo eu estive procurando meu documento. Mas, de repente, ouvi uma batida forte na porta. Arregalei meus olhos e corri para a minha cama, me sentindo um pouco assustada. Deitei e fechei meus olhos, virada para a parede.

A pessoa do lado de fora, bateu mais uma vez, e agora chamou o nome do meu papá também. Reconheci a voz do homem cheiroso. Eu não sabia se deveria ficar feliz ou apavorada naquele momento, e experimentei um misto das duas emoções.

— Já vai.

Meu papá resmungou, e ouvi o barulho dele se levantar e vestir alguma coisa.

— Mais rápido, Hernandes. Não tenho o dia todo para te esperar!

Ele parecia estar sem paciência. Quando a porta foi aberta, ele entrou e veio direto até mim. Senti sua mão em minha cabeça e o cheiro de seu perfume gostoso, diferente do que ele usava na noite anterior, enquanto ele perguntava ao meu papá se ele havia me tocado.

— Ele não me tocou, senhor Castilho. - respondi baixinho.

— Você tem certeza, Hellen? - ele me perguntou depois de me levantar e me fazer olhar em seus olhos.

— Sim, senhor.

— Viu? Eu sou um homem de palavra. - ouvi ele dizer, sem olhar para ele.

— Você pode ter cumprido a sua palavra, Hernandes. Mas está muito longe de ser um homem! - eu o vi olhar feio para o meu papá. Depois ele me olhou com um sorriso. - Vá ao banheiro, faça o que tem que fazer e vamos embora, está bem?

Assenti e corri para o banheiro. Mais uma vez, parecia que ele era um homem bom, mas também senti que eu poderia estar enganada. Pois achei que meu papá seria bom para mim, mas acabei percebendo que ele só queria ganhar dinheiro, me vendendo para um homem rico.

Em dez minutos, estávamos saindo. Eu, meu papá e o homem cheiroso.

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